Aquelas palavras fizeram Kenji titubear, ele nunca havia matado ninguém e não esperava que aquela fosse a primeira vez. Mesmo assustado, ele foi atender o pedido de Ajak.

    Se aproximando do homem caído, Kenji tenta erguer a espada para desferir o golpe final mas hesita.

    Drax agarra a mão de Kenji com firmeza, os dedos escamosos e frios envolvendo os do rapaz. Seus olhos selvagens encaravam Kenji como se o julgassem, uma mistura de impaciência e algo próximo a desaprovação.

    Com um movimento brusco, ele posicionou a espada que Kenji segurava diretamente contra o pescoço do inimigo caído, o fio da lâmina pressionando a pele pálida.

    Kenji hesitou. Seus dedos tremiam, o coração disparado ecoando em seus ouvidos. Ele sabia o que Drax queria que ele fizesse, mas a ideia de tirar uma vida era demais.

    Ele tentou recuar, afastar a lâmina, mas o lagarto não permitiu. Com uma força implacável, Drax pressionou mais ainda a mão de Kenji, forçando-o a manter a espada em posição.

    — Faça! — a voz de Drax era grave, quase como um rosnado. Não havia piedade em seu tom, apenas uma ordem clara.

    Kenji tentou protestar, balbuciando palavras confusas de resistência, mas Drax não tinha paciência para ouvir. Vendo a hesitação persistir, ele aplicou mais pressão, forçando a mão de Kenji a descer com força.

    O fio da espada cortou a pele do inimigo, que soltou um último e breve gemido antes de o sangue jorrar, quente e abundante, pelo chão da floresta. A lâmina atravessou o pescoço, e o corpo logo ficou inerte.

    A sensação do metal cortando carne ainda reverberava em seus dedos, como se cada fibra de seu ser estivesse marcada pelo ato.

    Eles agiam de forma diferente num campo de batalha, mal pareciam que estavam discutindo sobre sereias e assuntos triviais há minutos atrás.

    — Eles eram amadores, dava pra perceber isso de longe, não foram discretos o suficiente para um ataque surpresa. — disse Ajak.

    — Um bando de otários, isso sim. Quem é o louco que atacaria um grupo como a gente. — completou Craig.

    Ajak começa a limpar o sangue em seu corpo. Drax e Craig fazem uma pilha com os corpos, e em seguida cada um carrega consigo um corpo.

    — Já temos nosso lanche! Hehe — disse Craig.

    Kenji ficou atordoado, era uma cena muito difícil de esquecer, porém da mesma forma que ele consegue fazer isso com outras coisas ele tenta aos poucos ir esquecendo daquilo, mas não foi uma tarefa fácil, sua memória estava fresca, a carne e o cheiro de sangue também.

    Kenji vomita.

    “Merda, merda, merda. Quanta gente morta em um só ataque… a Isha deveria ter me avisado sobre isso, uma preparação mental seria de ótima ajuda agora.”

    — Deveríamos ter pegado mais leve, mas logo você se acostuma. Vamos sair da floresta, pode acontecer outra emboscada! — exclamou Ajak.

    Kenji limpa sua boca e tenta caminhar atrás deles, mas seus passos eram lentos, ele ainda tentava absorver toda aquela situação. Ele se encontra distante da realidade, pois o que tinha visto, foi um grande choque.

    O grupo seguiu em frente, deixando para trás a densidade da floresta. A luz do dia ainda banhava a paisagem, filtrando-se suavemente pelas nuvens no céu.

    Quando encontraram um pequeno lago de águas calmas e cristalinas, decidiram fazer uma pausa. O local era silencioso, com o som da água corrente proporcionando um raro momento de paz.

    Sem dizer muito, cada um se acomodou à sua maneira, aproveitando o breve descanso antes de retomarem a jornada.

    Kenji vai direto lavar o rosto, e aproveitando, para pra beber um pouco de água.

    — Vocês sempre fazem isso?

    — Hã?! Você pergunta sobre isso? — diz Drax apontando para os corpos que trouxeram. — Quase sempre. Quer dizer… quando a gente sente fome acaba acontecendo.

    Kenji sentiu um aperto no estômago com a ideia de que eles pudessem se alimentar dos homens mortos, aquilo o enoja profundamente.

    Seu rosto empalideceu, e ele desviou o olhar, tentando afastar os pensamentos que surgiam. Por mais que tentasse compreender a lógica daquele mundo, certos limites ainda o chocavam.

    — Eu perguntei se vocês sempre matam as pessoas?

    Ajak sentou em uma pedra e encarou Kenji que ainda estava próximo da água.

    — Num campo de batalha todo inimigo ataca para matar, se não matarmos, morreremos. É muito simples. Vai ter outras situações que não será preciso matar, mas nesse caso foi necessário, e você vai ter que aprender isso.

    — Todas as vezes que eu saía pra explorar, nunca precisei lutar nem matar ninguém. E-eu acho que não consigo continuar…

    Os répteis caem na gargalhada.

    — Não se preocupe garoto, com a gente aqui você vai aprender tudo que precisa — disse Craig. — Primeiro, você não deveria ir direto pra água, vai que ela está envenenada, ou alguém te ataca de surpresa. — Craig começa a andar até a água e dá um mergulho.

    — Porque ele fez isso? — perguntou Kenji.

    Por ser semelhante a um jacaré, Craig parecia estar completamente em seu habitat natural. Movia-se com facilidade na água, quase silencioso, seus olhos atentos à superfície e aos arredores.

    Aquilo já era um hábito em suas jornadas — sempre que o grupo passava por áreas com rios, lagos ou mares, Craig se adiantava para fazer o reconhecimento subaquático.

    Era seu jeito de contribuir, e ele parecia genuinamente confortável naquele papel, como se a água fosse uma extensão de si mesmo.

    — Entre a gente ele é o único que prefere fazer isso todas as vezes que vê um lago ou rio. Ele mergulha e vê se na água está tudo ok, se não seremos atacados, ou se é para tomar cuidado. — respondeu Ajak.

    Logo, Craig emergiu das águas calmas, caminhando pesadamente até a margem com alguns peixes presos em suas garras. Sacudiu o excesso de água do corpo e se aproximou do grupo que ainda descansava em terra firme.

    Com um sorriso orgulhoso, jogou os peixes no chão diante deles.

    — Tudo limpo! Eu poderia facilmente ficar nesse lago para sempre.

    — E porque não faz isso idiota? — questiona Drax.

    — Porque não é da sua conta! Agora me deixe em paz, a hora da comida é sagrada! Hahaha.

    Mais uma vez ambos caem na gargalhada.

    — Tudo bem, tudo bem, vamos comer.

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