Os três ficam parados em silêncio se encarando. Kenji engole seco, tentou procurar o que falar para Isha mas não conseguiu.

    Isha estava segurando dois pratos um em cada mão, eles tinham uma sopa cheia de carne e legumes. Inicialmente ela tomou aquele choque ao ouvir as declarações, porém não esboçou reação.

    — Eu trouxe sopa! Eu já comi, podem comer! — ela diz, pondo os pratos sob a mesa.

    — I-isha… Quando você chegou? — perguntou Liam.

    — Enquanto vocês estavam com os olhos fechados bem concentrados, não me viram chegar. — ela responde sorrindo como sempre.

    — O-o que você ouvi… — Kenji tentou perguntar mesmo nervoso mas foi interrompido.

    — Ouvi o suficiente, mas não vamos discutir isso agora, temos uma guerra pra acontecer e isso é mais importante no momento. Venham, comam!

    Liam se apressa e senta na cadeira para se deliciar com a sopa ali presente. Kenji fica hesitante e vai até a mesa desconfiado, com certa lentidão.

    — A sopa está muito boa, Isha! — disse Liam tirando todo aquele clima pesado.

    Kenji ainda nervoso toma a sopa com cautela, não faz nenhum movimento exagerado e permanece em silêncio.

    — Fico feliz que tenha gostado! — disse Isha esboçando um sorriso leve e meio sem jeito.

    “Ouviu o suficiente? O que isso quer dizer? Ela não quer falar sobre isso agora pelo menos, pode me dar um tempo para pensar no que fazer.” Pensou Kenji.

    Mesmo saboreando aquela sopa em sua frente, seus pensamentos estavam acelerados, ele não conseguia digerir aquela situação perfeitamente e nem a sopa.

    Liam percebe o nervosismo e ansiedade do garoto porém não fala nada, já disse tudo que tinha pra falar.

    “Isso agora é entre ele e ela, não posso mais interferir. Já fui invasivo demais.” Pensou Liam.

    Aquela situação sufocava Kenji, não imaginou que seria tão confrontado em relação aos seus erros.

    “Porque ela não fala nada? Porque eu não falo nada? O que eu tô fazendo?… Eu preciso sair daqui!”

    Kenji deixa a sopa pela metade, não conseguiu terminar por completo. Ele se levanta da cadeira abruptamente se afastando da mesa e de ambos ali presentes.

    Ele corre até o banheiro para lavar o rosto. Isha segue atrás dele ficando em frente a porta do banheiro.

    — Não gostou da sopa? Vi que você não terminou.

    A porta estava aberta, Kenji já tinha lavado o rosto mas permanecia de costas com a mão no rosto.

    — Olha… se foi sobre o que vocês estavam falando, vamos deixar isso de lado por enquanto, não precisamos passar por tudo isso agora. Como eu disse, a guerra no momento é mais importante! Depois conversamos se estiver disposto, assim eu também posso dizer o que venho sentindo durante esse tempo.

    Ainda de costas, Kenji arregalou os olhos, agora ele entendia o porquê de Liam ter falado tudo aquilo sobre sentimentos.

    “Agora faz sentido o que ele disse. Merda! Pisei na bola.”

    — T-tudo bem… então falamos sobre isso outra hora. — disse Kenji em baixo tom ainda sem encarar Isha frente a frente.

    Na manhã seguinte.

    Isha estava no centro da vila junto aos minotauros e centauros. Eles conversavam sobre as táticas de guerra que usariam.

    — Os centauros e minotauros estarão na frente, já tive contato com outras fadas e daremos todo suporte necessário junto dos sátiros. Também preciso falar com a Coralie, ela também será um suporte para nós nessa batalha. — disse Isha sendo bem direta e objetiva.

    Um dos centauros olhou para Isha e disse.

    — Não teremos apoio das outras espécies? Os lagartos, os elfos e os draconatos recém chegados? Eles serão de grande ajuda!

    Sua voz era grave e potente, dizia muito sobre sua personalidade.

    — Sim! É claro! Os elfos ficarão entre as casas e os telhados. — ela dá um sorriso de canto. — Sua proficiência com arco será útil também. Os lagartos, por mais brutais que sejam, usarei eles como último recurso, eles vão ter gás e energia suficiente para atacar com tudo os que sobrarem. Não consegui contato com os draconatos, então para essa batalha creio que não estarão presentes.

    — Como isso é possível? — disse um dos minotauros bufando.

    — Elas chegaram recentemente por aqui, não conseguiram se instalar completamente. Então não acho que já queiram participar de uma luta. Por enquanto só vamos contar com os mais antigos daqui.

    Todos concordam com Isha acenando com a cabeça, em seguida cada um sai para se preparar.

    Cada minotauro e lagarto faziam fila na loja de Fhastine, todos queriam uma arma nova para batalha, deixando a orc sem descanso até que tudo aquilo acabasse.

    Ela parecia feliz, agora com essa urgência de uma guerra chegando, todos estavam ali precisando de seus serviços. Porém uma coisa ainda incomodava. Uma guerra chegar a Banehaven lembrava de seu passado.

    De como muitos orcs foram mortos de sua antiga vila, ela venceu aquela etapa de sua vida. Então ela por mais preocupada que estivesse com todos e com Isha, estava determinada a vencer mais uma vez.

    “Vamos conseguir, estou trabalhando duro para que saíamos vivos, sem perdas dessa vez. Nós vamos vencer!”

    Isha por outro lado seguia firme como uma líder, tinha flashes lembrando da conversa anterior com Kenji porém não se deixava abalar.

    Ela era do tipo que fazia as coisas uma de cada vez, então depois da guerra ela teria seu momento para conversar e se confessar para Kenji.

    “Eu e minhas irmãs vamos nos esforçar o máximo possível e quando isso acabar, vamos todas aproveitar juntas de uma bela tarde de chá… talvez eu chame o Kenji também.”

    Liam estava junto a outros sátiros, onde foi bem recebido, cantavam e dançavam animadamente.

    De vez em quando ele parava para ajudar alguém com sua magia, com a chegada de uma guerra, tanto os mais pacíficos quanto os guerreiros iam até ele pedindo ajuda para uma preparação psicológica.

    Liam estava onde jamais esteve e onde sempre quis estar, ajudar pessoas e aprender cada vez mais, era como um sonho se tornando realidade.

    “Esse lugar é incrível! Tenho muito que aprender com cada um aqui. Não vou parar de ajudar os nobres, eu ganho muito com isso, mas ter para onde voltar é simplesmente magnífico!”

    Coralie também se preparava em seu reino, não tinha muito, porém os poucos guardas e súditos poderiam ajudar.

    “Estamos com um número escasso de pessoas, não vai ser de grande ajuda mas precisamos vencer essa guerra. Eu mesma quero ver o rosto do desgracado que roubou o meu cajado. Ele vai pagar por isso!”

    A água envolta de Coralie esquentava quando ficava irritada, e pequenas bolhas de ar surgiam.

    Cada um dos envolvidos nessa guerra, seja em Banehaven ou no reino de corais, tinha suas motivações e preocupações em relação a essa batalha, cada um lutaria ou ajudaria de alguma forma.

    Por outro lado Kenji tinha alguns pensamentos que destoava dos demais.

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