Os relâmpagos cortavam o céu da floresta, iluminando a escuridão com uma beleza selvagem e ameaçadora.

    A chuva, em seu auge furioso, desabava com força, transformando a terra outrora seca em um terreno encharcado, coberto por poças de lama que refletiam as luzes fugazes dos céus.

    Kenji corria desesperado, os passos pesados afundando no solo escorregadio. Sua respiração saía em arfadas rápidas e irregulares, o peito ardendo a cada fôlego puxado com dificuldade.

    O corpo gritava por descanso, cada músculo latejava em protesto, mas ele se recusava a parar. A ansiedade e o medo o impulsionavam para frente, um instinto de sobrevivência o guiando mesmo quando suas forças ameaçavam ceder.

    Corria até o limite, até onde as pernas aguentassem, até o momento inevitável em que a exaustão o alcançasse.

    Depois de correr por um longo período, seu corpo cansado e machucado desabou, ele caiu em terra, sua face bateu contra uma poça.

    Agora no chão sua respiração foi diminuindo, seu corpo foi relaxando, com isso a dor o atingiu com força.

    Kenji gemeu de dor, o impacto tinha sido grande demais, ele permanece imóvel, seu corpo já não reagia aos seus comandos. Ele começou a choramingar baixinho, mesmo que não tivesse ninguém ali para ouvi-lo.

    As gotas de chuva tamborilavam com força em suas costas, cada impacto gelado marcando sua pele como pequenos toques insistentes da natureza.

    Estranhamente, a dor que sentia foi se diluindo naquele contato frio, e a chuva, antes incômoda, passou a lhe parecer uma massagem bruta, porém reconfortante como se o próprio mundo tentasse aliviar seu fardo.

    Mesmo exausto, derrotado e com o coração pesado de incertezas, Kenji permitiu-se um raro momento de rendição.

    Relaxou os músculos tensionados e, por instantes, fechou os olhos.

    Não era sono que o tomava, mas o desejo de prolongar aquela sensação de paz silenciosa, sabendo que, quando a tempestade passasse, os pensamentos sombrios e a realidade dolorosa voltariam a cercá-lo.

    Por ora, ele apenas sentia.

    Quando a chuva se dissipou Kenji abriu os olhos, ainda deitado olhou em volta e viu que no chão próximo a lama havia pequenas partículas coloridas.

    Com os braços flexionados ele dá um leve impulso para se levantar e observar mais de perto.

    Era pó de fada.

    “Alguma fada deve ter passado por aqui, será que foi Isha?” Ele pensou por um momento.

    — Isso não importa agora, já devo estar curado. Agora consigo prosseguir.

    A floresta tinha uma atmosfera exuberante banhada por uma luz verde suave que atravessava as copas das árvores altas e retorcidas.

    Havia um caminho de terra batida que serpenteia entre os troncos espessos e o chão coberto por vegetação rasteira, folhas caídas e pequenos arbustos.

    Ele para no meio desse caminho e diz:

    — Você está por conta própria agora, voltar não é uma opção. Preciso achar um jeito de sobreviver por aqui!

    Kenji caminha sobre aquela terra pondo a mão em sua barriga, não sabia se era fome que sentia, ou se era dor. Pensou que se fosse dor, não estava totalmente curado, então não quis se forçar tanto.

    Depois de caminhar uns duzentos metros, pensou consigo mesmo que não encontraria nenhuma casa ou recurso que pudesse usar.

    “Vou ter que criar meus próprios materiais agora, ótimo!”

    Ele não tinha nada que pudesse usar para sobreviver naquele ambiente. Ele se aproxima de uma árvore e retira dela um pequeno galho, remove as folhas e as pontas laterais.

    “Talvez isso sirva, porém ainda não está bom.”

    Ele finge um golpe no ar com galho, como se estivesse testando o item, em seguida ele guarda o galho e prossegue.

    A medida que anda, ele olha para seus pés e se dá conta que ainda usava suas meias aladas.

    — Não acredito que ainda tenho isso! — ele diz com certa empolgação, mexendo os dedos. — Posso evitar toda essa floresta chata até encontrar algum lugar para descansar.

    Ao dizer isso, suas meias emitem aquele brilho mágico de sempre, as pequenas asas aparecem em seus pés, elas começam a bater para levantar vôo. Logo Kenji se vê no ar, acima das árvores.

    — Daqui de cima eu consigo ter uma visão melhor.

    O vento batia em seu rosto e corpo, lhe dando um alívio que não conseguia sentir em terra.

    Apesar da floresta ser calma e não ter encontrado nenhuma criatura, estar no chão lhe dava uma sensação de que estava sendo observado.

    Poderia não ser nada perigoso, mas Kenji não queria contar com a sorte naquele momento.

    — A vista daqui é muito boa, me pergunto porque não faço isso mais vezes.

    Terminando sua fala Kenji sente de repente em sua perna esquerda algo o agarrando, era como um chicote ou um grande cipó.

    — O que seria isso? — ele pergunta para si mesmo confuso.

    Ele tenta soltar o chicote de sua perna, mas a pressão que o mesmo fazia aumentava cada vez mais, Kenji começa a sentir um incômodo devido a dor da pressão.

    Mesmo fazendo força para sair do lugar não resultou em nada. Quando finalmente parou, pegou o galho que pegará antes e tentou usar para cortar o chicote.

    Assim que fez isso, com uma força e velocidade assustadora, esse mesmo chicote que enrolava sua perna o puxa para baixo.

    O puxão foi forte o suficiente para quando Kenji atingisse o chão formasse uma pequena cratera devido ao impacto, e assim aconteceu.

    Uma cortina de poeira subiu, algumas rochas saltaram com o impacto, Kenji mais uma vez sentiu como se suas costas estivessem quebradas.

    — Deee noovo nãaooo! — ele diz com a voz arrastada.

    Quando a poeira se dissipa uma grande figura surge.

    Era uma criatura humanoide feita de madeira, folhas e cipós. Seu corpo robusto parece ser esculpido em casca de árvore, com placas grossas de madeira protegendo seu torso, braços e pernas.

    As juntas e articulações revelam um interior vivo e mágico, brilhando com uma energia azul-esverdeada.

    A criatura possui uma capa feita de grandes folhas verdes que esvoaçam ao vento, além de chifres curvados que se projetam de sua cabeça. Seus olhos emitem um brilho intenso e ameaçador.

    Em uma das mãos, ela empunha uma arma orgânica, como um chicote feito de vinhas trançadas. O mesmo que amarrou e puxou Kenji ao chão.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota