Capítulo 48: O Sussurro calmo de uma Floresta
A criatura surge saindo diretamente do chão, arrancando as raízes, cipós e vinhas que o prendiam. Ela não demonstra nenhuma expressão, mas parecia aliviada com sua recém liberdade.
Kenji se afasta um pouco, fitando a ação da criatura.
“O que ele vai fazer?”
A criatura antropomórfica era feita de madeira. Sua forma é esguia e elegante, com um corpo composto por galhos retorcidos e casca de árvore.
Os braços são longos e finos, com dedos alongados que terminam em pontas que lembram raízes ou gavinhas. Pequenas folhas crescem em seus braços, evidenciando sua ligação viva com a natureza.
Sua cabeça é formada por um grosso pedaço de tronco, parcialmente oco, onde um único e enorme olho verde brilha intensamente, transmitindo inteligência e curiosidade.
Fungos amarelos crescem na lateral de sua cabeça, sugerindo que ele é parte do ecossistema da floresta.
Na palma de sua mão esquerda, a criatura segura delicadamente uma pequena semente encantada. A semente parece viva, flutuando levemente sobre a mão da criatura, com brilhos mágicos ao seu redor.
A criatura estende a mão como se entregasse a semente a ele, a semente flutua na direção de Kenji que a recebe com a palma estendida, claramente confuso.
— Hãn? Obrigado… eu acho.
Dentro de sua parte oca a criatura emite um brilho leve, uma luz que pisca apenas uma vez e para, aquele ser enigmático cria um link mental com Kenji sem que o rapaz perceba.
“Eu que agradeço.”
“O que é isso? Quem está falando?”
“Fique tranquilo, isso é apenas um link mental, é minha única forma de me comunicar com os humanos.”
“Entendi… agora porque me agradecer? Eu não fiz nada.”
“Você que pensa, você me salvou. Eu estava presa, contida entre as raízes e vinhas que esta planta carnívora me prendia.”
A voz da criatura parecia suave e angelical, uma voz feminina agradável e tranquilizante de ser ouvida.
“Porque ela te prendeu? Você fez algo contra ela?
“Não fiz nada além de existir, não consigo ver razões para minha prisão, mas assim fiquei por alguns longos meses, até que você derrotou nossa inimiga em comum. Me sinto grata a você jovem rapaz, qual o seu nome?”
“Meu nome é Kenji! E qual é o seu?
“Sou chamado de muitos nomes, sou conhecido por ser um espírito da floresta mas pode me chamar de tronco do sussurro.”
A criatura faz uma pose de reverência se apresentando.
“Entendi… O que eu faço com essa semente? Eu não entendi!”
“Essa semente é uma recompensa por ter me tirado das garras dessa terrível criatura, fique com ela, plante e cuide dela. Ela será de grande valor!”
“Valor?! Ela pode ser vendida?”
“Isso vai muito além de venda ou troca, plante e você saberá! Agora eu preciso ir, tenho coisas a fazer, adeus!”
O tronco faz uma dança cômica e contagiante, estalando os dedos e batendo palmas, como um bobo da corte agradando a seu rei. Terminando a dança ele dá um último estalar de dedos e some magicamente do local.
— Isso foi… diferente! — falou Kenji coçando a cabeça. — Plantar é?! — ele olhou a semente por um segundo. — Depois eu vejo como fazer isso. Agora que o caminho está livre, posso explorar essa parte da floresta.
Kenji se levanta, mesmo ainda ferido ele consegue se pôr de pé, põe a semente no bolso e segue andando pela área não explorada.
Seus passos são tranquilos e suaves, Kenji estava aliviado por finalmente conseguir se livrar daquela planta carnívora.
— Só precisei de um pouco de técnica e consegui matar aquela coisa, realmente foi mais fácil do que eu pensei. — rapidamente ele olha para seus ferimentos. — Preciso achar uma forma de me curar, aquele espírito não poderia ter feito isso? — ele dá um suspiro. — Acho que estou exigindo demais.
Enquanto caminhava de forma relaxada e sem preocupações, Kenji sente crescentemente a sensação de estar sendo observado.
“Essa sensação continua, o que poderia ser?”
Ele vira o rosto observado em volta em todas as direções tentando procurar de onde aquilo vinha, mas não obtém resposta. Aquela sensação continua crescendo, e sua ansiedade vai aumentando.
“Merda! Talvez eu seja atacado, tenho que ficar esperto!”
Ele segura sua faca de osso firmemente, esperando de onde possivelmente poderia sair o ataque. Kenji esperou, com sua postura de ataque habitual, porém o ataque não veio.
Subitamente em sua frente no nível mais ao chão aparece novamente aquela mesma estátua de raposa que Kenji já havia visto antes.
A pequena estátua estava numa pose como se estivesse sentada, apenas observando o rapaz. Kenji olha para o chão, e seus olhos se encontram com os da estátua.
A estátua estremece. As pequenas pedras que flutuavam ao seu redor começaram a vibrar com mais força.
Lentamente, como um colosso ancestral, os segmentos de seu corpo começam a se mover, se desprendendo com rangidos profundos de pedra contra pedra.
Seus olhos se abrem, revelando um brilho azul intenso e pulsante. A cauda coberta de musgo balança suavemente, como se testasse o ar ao seu redor.
Com passos curiosos, a criatura se ergue e caminha na direção de Kenji.
Kenji observa tudo aquilo com surpresa, relembra os momentos que viu a estátua em lugares e situações aleatórias como se ela estivesse o seguindo.
Um pequeno estalo surge em sua mente.
— Agora faz sentido, você que estava me observando, isso explica muita coisa.
A raposa caminha em círculos ao redor do garoto, seus passos leves e graciosos sugerem tanto curiosidade quanto um entusiasmo contido — como um cão alegre ao reencontrar seu dono, mas cauteloso demais para se aproximar por completo.
Kenji, encantado com a criatura, se agacha lentamente para observá-la de perto. Fascinado, estende a mão numa tentativa de tocá-la. No entanto, a raposa se esquiva com agilidade.
— Ei! Volta aqui, eu não vou te fazer nada.
A raposa, em um súbito movimento, dispara em direção às moitas, afastando-se rapidamente de Kenji. Surpreso, mas ainda movido pela curiosidade, ele corre atrás dela, tentando acompanhá-la.
“Eu preciso entender isso, tem que ter algum propósito!”
Constantemente a raposa se voltava e virava para trás, tentando ver se Kenji ainda estava seguindo.
“Que estranho, parece que ele quer que eu o siga… Vamos ver onde isso vai dar.”
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