Capítulo 49: Pequeno Guia
Kenji corria em passos rápidos porém desengonçados por conta de seus ferimentos, ele corria atrás da estátua ainda curioso e se perguntando pra onde a mesma estaria o levando.
Pelo seu tamanho ser menor do que de um humano, a raposa era mais ágil que Kenji, estando a vários passos à frente do garoto, que já estava ficando cansado de toda aquela corrida.
Ao longo do caminho Kenji percebe ao redor várias pedras e colunas destruídas, como de uma ruína antiga, intocada por mãos humanas.
— Que lugar é esse? — perguntou Kenji.
“Isso não faz sentido, pra onde essa raposa está me levando?”
Com sua mente cheia de questões ele não se deu conta que chegou num ambiente quase mágico.
Ali havia um torii, um tradicional portal japonês de pedra coberto por musgo, que simboliza a entrada de um espaço espiritual. Cordas sagradas shimenawa com enfeites pendem do topo do arco, sugerindo que ali é um local de reverência e proteção espiritual.
Atrás do torii, uma escadaria de pedra antiga leva a uma área mais elevada, iluminada suavemente pelos raios dourados do sol que atravessam as copas das árvores.
O chão está coberto por musgo espesso e verde vibrante, pontuado por pequenas flores e folhas caídas.
Árvores grossas e antigas rodeiam a cena, suas raízes e galhos entrelaçando-se com o ambiente como se fizessem parte da estrutura do lugar.
A iluminação é suave e mágica, com feixes de luz filtrando entre os galhos, criando uma atmosfera etérea.
A raposa sobe em cima do torii bem posicionada no centro e volta a forma de estátua. Kenji observa aquilo confuso e perplexo.
“Onde foi que eu vim parar? Isso parece a entrada de um templo.”
Lentamente ele sobe as escadas de pedras também coberta por musgo, o ar daquele ambiente parecia diferente da floresta logo atrás.
Para Kenji aquela sensação era completamente diferente de antes, algo que ele não conseguia descrever com palavras.
— Esse lugar é tão… bonito, diferente, nunca pensei que tivesse um templo tão bem escondido nessa floresta.
O templo tinha um telhado curvo e ornamentado, estruturas de madeira e papel, além de detalhes delicados e bem preservados. A edificação está cercada por um exuberante jardim verde, repleto de plantas e flores silvestres.
À esquerda e à direita podem-se ver lanternas de pedra parcialmente cobertas por musgo. Borboletas e folhas douradas flutuam pelo ar, adicionando um toque mágico ao ambiente.
Kenji observa admirado cada detalhe do templo atentamente, sua expressão de surpresa e euforia eram notórias.
— Isso sim que é um lugar pra relaxar, o sol aqui é tranquilo, o lugar parece intocado e abandonado, tenho que agradecer aquela raposa depois por me mostrar um lugar tão bom quanto esse! — Kenji diz esboçando um largo sorriso no rosto.
Kenji se sentiu aliviado e agradecido a estátua por ter te apresentado um templo velho em que ele poderia morar, mas aquilo era apenas coisa de sua cabeça.
Não era esse o propósito de ter mostrado aquele lugar, mas Kenji não sabia e acreditava fielmente que a estátua a tinha ajudado. Ele senta em uma pedra próxima observando a beleza daquele jardim.
— O que faz aqui?! — uma voz masculina surgiu em meio aquele silêncio. — Você não deveria estar aqui, como achou esse lugar? — perguntou a voz de onde quer que ela vinha.
Kenji se levanta assustado.
— Quem está aí? — ele engoliu seco.
— Sou eu que faço as perguntas aqui! Como chegou aqui? Esse é um lugar sagrado, você não pode ficar aqui!
— Esse templo parecia abandonado, não tinha como eu saber que você morava aqui. Eu também não sabia que existia um templo como esse por essas bandas… — ele parou por um segundo. — Você não vai acreditar… mas eu não vim até aqui sozinho por incrível que pareça, foi uma raposa que me trouxe…
Com isso Kenji não obteve mais resposta, ele olhou de um lado para o outro confuso, procurando de onde estava saindo aquela voz e porque tinha parado tão de repente.
Ao se virar, quando Kenji olha para trás ele vê um senhor idoso de aparência sábia, que exala uma aura de serenidade e respeito. Seu rosto é expressivo, marcado por rugas que sugerem vida longa e experiência.
Seus olhos semi-cerrados transmitem calma, astúcia e compreensão profunda.
Seu cabelo longo e prateado está preso em um rabo de cavalo, enquanto uma barba e cavanhaque brancos e bem cuidados acentuam sua aparência.
Ele veste uma túnica tradicional luxuosa, com camadas de tons terrosos e bordados dourados e verdes.
— Raposa!? De que raposa você fala? — perguntou o senhor.
Kenji internamente tomou um susto ao se deparar com o idoso, porém não demonstrou nenhuma expressão contrária, apenas se manteve calmo.
— Aquela raposa bem ali. — Kenji aponta para a estátua de raposa que estava em cima do torii. — Aquela estátua melhor dizendo, não espero que o Senhor acredite em mim, porém é a verdade.
— Ah sim, aquela estátua! Sinto muito lhe informar mas você não pode ficar aqui, não deveria seguir uma estátua sem nem saber o que ela é!
— E o que ela é? Eu fiquei me perguntando isso o tempo inteiro!
— Ela é um espírito guia, oras. E se ela te trouxe aqui deve ter algum motivo. — ele olha Kenji de cima a baixo. — Mas pouco me importa, não quero saber de mais ninguém no meu templo, vá embora!
“Espírito guia… as peças começaram a se encaixar agora.” Pensou Kenji.
— Olha, o senhor não está entendendo, eu fui guiado até aqui por aquela estátua e não tenho onde morar. Só pode ser uma grande coincidência não acha? Por favor me deixa viver aqui, eu não tenho para onde ir!
— E porque eu faria isso? Todos que ficam aqui acabam tendo destinos terríveis, você será apenas mais um deles. — disse o idoso dando as costas para Kenji.
— O que? Eu não sei do que o senhor está falando. Eu posso fazer qualquer coisa, eu posso te ajudar com a limpeza ou organização do lugar. — Kenji começa a se desesperar em sua fala. — Eu posso ser um serviçal, buscar comida, limpar. Eu só preciso passar umas noites, não vou te incomodar.
— Apenas fique quieto e me deixe pensar! — ele começa a alisar sua barba, uma mania que tinha quando pensava em algo. — Fique sabendo que esse templo é um lugar sério e sagrado. — ele se vira novamente ficando de frente pra Kenji. — Nós monges, gostamos de nós isolar para meditar e refletir, se eu te aceitar como aprendiz você poderá ficar, ter o que comer e um lugar para dormir, está de acordo com isso?
“Ele é um monge? É bem diferente do que eu imaginava, mas parece fazer sentido.”
— Como assim aprendiz? — questionou Kenji.
— Enquanto você limpa e bem… faz o que você quiser, já que é isso que você está oferecendo, eu te ofereço a chance de ser meu aprendiz por um tempo. Vou te ensinar alguns fundamentos, apenas isso e depois você poderá ir embora! — ele disse com rigidez, num tom mais sério.
— T-tudo bem, eu aceito! Eu me chamo Kenji e o senhor?
— Ótimo Kenji! Eu me chamo Kallion. Mestre Kallion!

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