Capítulo 5: A Árvore Sábia
O rapaz permanecia em silêncio, observando a árvore sem pronunciar uma palavra. O silêncio entre ambos parecia amplificar o som dos pássaros distantes, enquanto a árvore se perguntava por quanto tempo aquilo duraria.
— Cara, é só fazer uma pergunta, você não tem muito tempo. — o som que saia da árvore se assemelhava com a voz de um idoso, mesmo que ele não falasse como tal.
— Tempo? Como você sabe?
— Isso é óbvio! Ninguém tem muito tempo, a não ser eu! Eu tenho todo tempo do mundo.
Eles não se referiam a mesma coisa.
— Eu preciso saber o que é esse vírus Kroniac e onde encontrar uma cura, e seja rápida árvore, não quero ficar muito tempo aqui.
A luz esverdeada em seu peito intensifica seu brilho, tornando-se mais forte. A árvore, então, começa a balbuciar palavras sem sentido para Kenji. Em seguida, ela o encara com uma expressão séria e assustadora.
— Há muito tempo, surgiram relatos sobre a queda de um meteoro em uma vila distante. A estranha rocha revelou ser uma criatura que ninguém conseguiu identificar, porém tinha inúmeras características divinas em seu corpo. Após algum tempo convivendo com os mortais, o ser adoeceu e morreu de uma doença misteriosa, de impossível compreensão até para os magos e cientistas. Seu corpo se decompôs, e logo várias pessoas da região também sucumbiram com a mesma enfermidade, pois eram observados os mesmos sintomas que viram no ser divino. “É uma maldição!”, gritavam desesperados nas ruas. Aqueles que tentaram descobrir uma cura foram igualmente infectados e faleceram. Por isso, até hoje se sabe tão pouco sobre a doença e uma forma de tratá-la. A doença ficou conhecida como a Maldição de Kroniac.
— E a cura? É possível encontrar uma cura ou algo que possa curar alguém com essa doença?
Os olhos da árvore se mexiam de um lado para o outro, como se procurasse alguma coisa no chão. Kenji imaginou que essa deveria ser a forma como ele respondia suas questões.
Era como se estivesse lendo um livro e passando de página em página até achar o que queria.
— Só um segundo…. — a árvore faz um sinal com a mão para Kenji esperar. — Sinto muito te desanimar garoto, mas contra uma maldição dos deuses é impossível que algum mortal consiga uma cura ou um artefato poderoso o suficiente para curar alguém.
Aquelas palavras soaram para Kenji como uma estaca enfiada em seu coração, que o destroçou completamente. Só de imaginar chegar em casa de mãos vazias, sem nada a oferecer, fazia seu peito se contrair de angústia. Por um breve momento, a imagem de seu irmão em seu estado frágil inundou sua mente, trazendo à tona um arrependimento profundo.
As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto sem controle. Consumido por uma mistura sufocante de frustração e tristeza, Kenji caiu de joelhos, incapaz de suportar o peso de suas emoções. Com os olhos fechados e o corpo curvado, ele se deixou cair no chão, soluçando baixinho, enquanto sua mente era assombrada por pensamentos sobre seu irmão e a sensação de impotência que o dominava.
Ali, naquele instante de vulnerabilidade, o mundo parecia distante, e ele permaneceu, afundado em seu próprio lamento.
Algumas raízes haviam se entrelaçado ao redor de Kenji, formando uma barricada natural que o protegia do sol matinal que atravessava as copas das árvores e inundava a floresta com sua luz dourada. Ele abriu os olhos devagar, sentindo o peso do sono se dissipar.
Percebeu que havia adormecido ali, no meio da grama úmida e das folhas caídas. Não era a cama mais confortável do mundo, mas, de alguma forma, parecia acolhedora naquele instante.
Seu olhar recaiu sobre a árvore imponente, que permanecia exatamente como antes: imóvel, silenciosa, com seus olhos verdes fixos. Era um pensamento inquietante, imaginar aquela presença gigantesca o observando durante a noite. Um arrepio percorreu sua espinha ao lembrar disso.
Kenji se levantou lentamente, esticando os músculos ainda rígidos.
No entanto, antes que pudesse se situar por completo, pequenos flashes de memória tomaram sua mente, trazendo à tona a imagem de seu irmão. Ele balançou a cabeça vigorosamente, tentando afastar os pensamentos. Não queria lembrar. Não podia.
“É melhor esquecer,” murmurou para si mesmo, desviando o olhar, como se a negação fosse suficiente para silenciar o passado.
— Tudo bem garoto? — perguntou a árvore.
— Me diz um lugar que eu possa me refugiar, algum lugar que eu possa fazer algo pra esquecer….certas coisas.
— Indo a leste daqui você irá encontrar uma pequena vila, que não tem nada haver com a vila da história se isso te preocupa. Ou você pode ficar aqui, não tenho com quem conversar de qualquer forma.
— Não, obrigado! Vou ver o que encontro nessa vila, até a próxima, árvore! — falou Kenji se virando em direção a saída da floresta.
— ESPERE! — gritou a árvore. — Pegue isso, se você sentir alguma dúvida pode retornar para cá a qualquer momento.
Diante de Kenji, pequenas raízes começaram a brotar lentamente do chão, movendo-se de forma delicada. Elas vinham diretamente da grande árvore, e, no centro de sua dança sútil, revelaram estar segurando uma pedra com inscrições ruínas entalhadas em sua superfície.
Kenji imediatamente reconheceu o objeto. Sem hesitar, e se abaixou e pegou a pedra com cuidado. Segurando-a firme nas mãos, sentiu uma estranha conexão, como se a árvore estivesse comunicando algo silencioso e profundo. Ele fez um breve gesto de agradecimento, inclinando a cabeça em respeito, antes de voltar ao seu caminho, determinado a seguir adiante.
Saindo da floresta ele percebe que a mesma estava envolta de duas grandes montanhas, como se elas estivessem protegendo a floresta.
Já fora dela Kenji se deparou com um vasto campo aberto, onde alguns cervos descansavam e se alimentavam da vegetação. A rápida transição entre a floresta e a imensidão do campo o deixou perplexo.
“Isso é magia!” Ele pensou.
Sem hesitar, Kenji prosseguiu sua jornada e ao longe avistou o contorno de algumas casas, indicando ser a vila que a árvore falará, seu coração acelerou, com grandes expectativas do que encontraria lá e pensou o quanto poderia ajudar as pessoas daquela vila. Pelo menos era isso que ele queria fazer já que não pretendia voltar pra casa.
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