Capítulo 100: Memórias (9)
— Lilian, corre!
E assim, a vida prosseguiu. Fynn começava a passar cada vez mais tempo com as duas mulheres. Lilian continuava doente, mas era uma noite especial. Uma chuva de meteoros, causada por um cometa gigantesco que passava a cada um milênio.
— Estou correndo o máximo que posso, Fynn!
A realidade é que uma vida inteira de cuidado pode ser perdida em um único segundo de descuido, mas estava tudo bem, afinal, ela estava com alguém que sempre a protegeu.
— Suba nas minhas costas, eu te carrego!
Não há nada mais perigoso nesse mundo do que um pedido feito com amor.
— Bom dia!
Fynn entrou pela porta do quarto, com uma bandeja repleta de guloseimas, entre elas, doces e as laruvitas que Lilian tanto gostava.
— Bom dia, capitão! — cumprimentou a menina, batendo continência.
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— Capitão de que exatamente… — riu Fynn.
— Você pilota o leme de sua vida, logo você é um capitão! — brincou.
— Então, você também é uma capita — respondeu. — Deite-se logo, capita Lilian.
— Sim, senhor! — disse ela, deitando-se. — O que temos para hoje?
— Bem, como é seu aniversário, trouxe um café da manhã especial com tudo que você gosta — respondeu. — E fiz um planejamento diferente para o decorrer do dia…
— Me conte, me conte!
— Negativo, é um segredo, uma surpresa.
— Eh… — reclamou. — Não gosto de segredos…
— Você vai gostar desse…
Uma coletânea de memórias, centenas de milhares delas reunidas em uma floresta.
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— Termine de comer e vamos… vou te carregar — disse ele, passando o dedo em um objeto circular que tinha em seu bolso.
Mas o que são essas memórias se não se tornarem algo a mais.
— Ebá!
Fynn estaria feliz se passasse o resto de sua vida naquele pequeno momento entre dizer bom dia e boa noite.
Terminando de comer, o jovem a carregou para vários lugares. O pequeno riacho onde eles se conheceram oficialmente. As partes da floresta onde brincavam. As poucas árvores de laruvitas que cresciam em ambiente silvestre. O grande penhasco onde podia pensar se estar no topo do mundo. Lugares onde Fynn havia descoberto ambientes lindos.
— Passei alguns meses explorando essa floresta — explicou calmamente. — Buscando espaços que não havíamos explorado ainda.
— Obrigada, Fynn…
— Por que já está me agradecendo? Ainda não fomos no mais especial deles.
Carregando-a, Fynn começou a caminhar, chegando aos limites da floresta.
— Fynn, me deixe descer.
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— O quê?
— Me deixe descer!
— Okay, certo…
Deixando-a pisar no chão, o jovem parou no limite da floresta.
— Sabe que não posso sair daqui…
— Por quê?
— Minha mãe sempre disse que é perigoso para mim… — respondeu, abaixando a cabeça.
— Eu te protejo — disse ele, estendendo sua mão. — Você não tem que se preocupar, eu te protejo.
A menina o olhou, com medo, mas resolveu confiar, afinal, ele nunca havia mentido para ela. Estendendo sua mão de volta, ela saltou para fora, caindo em seu peito.
— Viu… nada de mal vai te acontecer comigo aqui…
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Lilian olhou em seus olhos e sorriu.
Mal sabiam os dois, que no momento em que a menina saiu para fora da floresta, uma energia foi sentida em outro lugar.
Ronald levantou no meio da noite, uma força diferente surgiu no meio do território de Amarílis, vinda da direção da floresta.
Mas essa informação era desconhecida aos dois jovens, que continuavam sua noite.
Andando por alguns minutos, ambos finalmente chegaram a uma clareira. Lilian olhou para o céu, recheado de estrelas, maravilhada. Tendo passado toda a sua vida em uma floresta, doente demais para subir e descer de árvores, ela via pouco algo tão estrelado.
— É um dia especial — disse Fynn. — Além de ser seu aniversário, hoje é um dia milenar… viu, está começando.
Meteoros cortavam os céus, estrelas cadentes atravessando o eterno e brilhante oceano que compunha o universo, refletidos nos olhos marejados com lagrimas de Lilian. Aqueles céus que pareciam cobrir o mundo inteiro era somente a segunda coisa mais linda que Fynn já viu.
Sem conseguir tirar os olhos da menina, ele ficava ali, parado, hipnotizado pela beleza estonteante que ele viu todos os dias desde a primeira vez que sorriu, mas que naquele dia em específico, destoava do restante do mundo, como se fosse perfeito.
— É lindo… — sussurrou Lilian.
— Sim… ela é.
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Virando-se na direção do jovem, a menina percebeu que ele não falava do céu. Ajoelhando-se, Fynn recitou algo que ele preparava faz tempo.
Eu te amaria na escuridão.
Se eu fosse cego e surdo
Te amaria em outras vidas
Mesmo que não me lembrasse dessa
Te amaria em outro tempo, outros corpos
Até mesmo após a última estrela queimar no esquecimento
Meu amor ainda brilharia pela eternidade.
— Você aceitaria se cas…
E num reflexo inexplicável, Lilian se jogou em sua direção, beijando-o
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CRACK
Mas como eu bem disse, essa não é uma história de amor.
— Eu não queria acreditar.
Lilian e Fynn ouviram uma voz masculina por perto e se viraram imediatamente em sua direção.
— Os moradores dessa vila me disseram que você se relacionava com demônios, apontaram até onde eles residiriam, mas eu me recusei a pensar que um garoto tão talentoso cometeria um pecado desse tipo, afinal, não conseguia sentir nenhuma energia maligna vinda de você.
Um cavaleiro de armadura branca, carregando um grande martelo, caminhava a lentos passos.
— Talvez eu estivesse errado, mas não se preocupe, garoto… te livrarei do controle mental que te aflige.
— Você…
— Não tema, pela benção de Yan você será salvo.
— Do que você está falando, Sr. Ronald!
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— É uma pena que não consiga ver por si mesmo… — O homem esticou a mão. — Pela graça de Yan, revele-se, criatura!
Luz divina emanou pela palma do homem, cobrindo o corpo dos dois e só aí que Fynn conseguiu enxergar. Da testa de Lilian, um chifre curvado saia.
— Lilian…
A menina olhou em seus olhos e uma lagrima escorreu pelo seu rosto.
— Nojento, criaturas desse tipo que tentam agir como humanos me dão desgosto! — exclamou Ronald. — Agora que também consegue enxergar, garoto, se afaste.
— Me afastar? — Fynn, no entanto, se levantou, se colocando entre a menina e o homem. — Por que eu deveria? O que me importa se ela é um demônio ou um humano?
— O que te importa? — disse o homem com certo desgosto. — Agora entendi, ela deve estar mais funda na sua mente do que eu imaginei, mas não se preocupe, cuidarei para que seja purificado.
Ronald começou a caminhar na direção dos dois, seu martelo brilhando em luz dourada.
— Não de nem mais um passo! — Raios começaram a estalar por todo o corpo de Fynn. — Não de… nem mais um passo!
— Fynn…
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— Não se engane garoto, estou te poupando por você ser apenas uma vítima disso tudo, mas não pense que não te eliminarei caso tente defender essa besta.
— Besta!? — gritou Fynn. — Do meu ponto de vista, os únicos demônios aqui nessa vila são vocês!
— Chega! — gritou. — Não tolerarei tais blasfêmias!
— Lilian — sussurrou. — Prepare-se para correr.
— Mas Fynn…
— Por favor… ele é forte, muito mais forte do que demonstra…
— Por que você está fazendo isso… eu menti para você…
— Eu que tenho que te pedir perdão… se não consegui demonstrar que poderia confiar em mim, a culpa é minha…
— Mas…
— O que tem de errado num homem proteger a sua esposa? — perguntou Fynn, forçando um sorriso. — Não me apaixonei por uma humana e sim por você… por favor… corra… vou te alcançar, Capita Lilian, prometo!
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Lilian engoliu o que queria dizer e com dificuldades começou a correr. Ronald suspirou.
— Bem, não tem problema, passarei por você e depois a alcançarei.
— Se pensa…
Strale começou a se manifestar no corpo de Fynn, cobrindo-o como uma manta e arrepiando seus cabelos.
— Que o deixarei machucá-la!
E como um trovão, ele disparou na direção do cavaleiro, acertando-o no estômago e o atirando alguns metros para trás.
— Está muito enganado!
Se levantando do chão e limpando sua armadura, Ronald posicionou seu martelo ao seu lado.
— Moleque… você pagará pelos seus crimes.
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No meio da noite, Fynn acordou na relva, completamente machucado e abandonado para morrer.
— O que… aconteceu…
Flashes piscaram na sua mente, a batalha havia durado menos de uma hora. Após alguns golpes trocados, os olhos de Ronald brilharam em dourado e, por algum motivo, todos os seus golpes pararam de acertar o alvo. Pelo contrário, o cavaleiro conseguia prever todas as suas esquivas e já não falhava em mais nenhum ataque. Antes de ficar inconsciente, se lembrou de ouvi-lo dizer que já havia perdido muito tempo e precisava apressar-se.
— Preciso… ir…
Fynn se levantou, cambaleando. Sua boca e ouvido sangravam, vários ossos de seu corpo estavam quebrados, mas isso não o impediu de andar.
Passando o primeiro riacho, virando dez passos para a direita e vinte para a direção da pedra pontiaguda, seguir reto até encontrar o próximo riacho. Atravessando-o, andar para o norte em linha reta por mais 2 quilômetros. Essas foram as instruções que Fynn sempre seguia para chegar em casa. Ao bater quatro vezes na porta, ele entrava.
Mas já não havia mais porta, nem casa, nem riacho, nem pedra pontiaguda.
CRACK
A casa e a floresta trepidavam em chamas, queimando. As árvores de frutas, as ervas medicinais e as colheitas de verdura. Tudo queimava em fogo.
— Lilian…
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Cambaleado, o jovem se aproximou, buscando entre os escombros da casa para qualquer sinal da menina ou de sua mãe.
— Fynn…
Ouvindo um sussurrar, Fynn imediatamente correu até a fonte da voz.
— Mãe…
A forma carinhosa com que o jovem passou a chamar a mulher que lhe criou boa parte de sua vida.
— Me desculpe… — chorou. — É tudo minha culpa. — Desabou em lagrimas.
A mulher estava com um buraco enorme em sua barriga e sem uma das pernas. Mesmo assim, ela esticou sua mão sangrenta e a colocou gentilmente na bochecha do garoto.
— Está… tudo… bem… — balbuciou. — Você… é… uma benção…
— Não fale… você vai ficar bem… — mentiu para si mesmo.
Diferente da menina, sua mãe não possuía sinal algum de demonificação, nenhum chifre, nenhuma energia, nada. Porém, as últimas energias da mulher pareciam transcorrer por sua mão e as feridas e hematomas no corpo do jovem começaram a se curar.
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— Agora que… você não precisa… ser perfeito…
— Mãe…
— Você pode ser… bom…
— Mãe!
E enquanto a sua mão caia no chão, ela sussurrou suas últimas palavras.
— Eu te amo… Fynn…
A vida se esvaiu do corpo da mulher e o ódio tomou conta da mente do garoto, caindo em sua cabeça como um trovão, manifestando-se num grito de fúria e numa noite de sangue que marcaria a história como a noite que uma vila inteira desapareceu do mapa.
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