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    Somos seres ansiosos e solitários. Entramos em conflito por medo e por desconfiança. Como uma raça tão mesquinha sobreviveu tanto tempo… talvez tenha sido exatamente isso que a levou a ruína.  

    Humanidade Torpe ~ Baltazar Von Amuria  

    Após o fim da batalha entre Fynn e Gundogam. A divisão medica rapidamente entrou em campo, socorrendo o bestial e, com mais urgência ainda, o homem. Ter levado um golpe que o deixou inconsciente não significa necessariamente que ele estava mais machucado, afinal, não há nada de anormal em um corpo ‘desligar’ por sofrer uma súbita mudança de pressão ou uma quantidade concentrada e simultânea de dano. Por outro lado, tortura é justamente sobre manter o sujeito vivo e fazê-lo com que sofra pouco a pouco e essa era basicamente a situação de Fynn.  

    — Vou ficar com ele até ele acordar — disse Hans. — E vocês? Pretendem assistir à luta dos tenentes?   

    — Não — respondeu Glória. — Eu e Matheus vamos dar uma volta pelo festival e quanto a você Li?   

    — Vou voltar para casa, preciso descansar a cabeça para luta amanhã.   

    — Estou ansiosa para o próximo segredo que você vai nos revelar — brincou a latina.  

    — Segredo? — perguntou Li, com a expressão séria.  

    — É brincadeira… por que você está com essa cara?   

    — Nada de mais… só estou com a cabeça cheia.  


    Separando-se do grupo, Hans ficou ao lado de Fynn por um bom tempo, suas feridas internas eram ainda maiores do que as externas; em condições normais ele definitivamente estaria em risco de vida, mas com os melhores curandeiros do império a disposição ele estava em boas mãos. Ele havia esbarrado com Selene mais cedo e contado o que havia acontecido.   

    — Perdão por não estar lá para dar suporte… — disse a menina.  

    — Tudo bem, você também tem problemas para cuidar — respondeu.  

    Mais tarde no dia, o homem finalmente acordou.  

    — Como está se sentindo? — Perguntou Hans.  

    — Uma merda… como se tivesse sido atropelado por um rebanho de Bolerantes.   

    — Aqueles bovinos com metade do tamanho de um mamute? — Questionou. — Por que especificamente Bolerantes?  

    — Bovinos comuns não me deixariam tão mal — explicou. — Já mamutes de verdade me matariam… então é o meio-termo.  

    — Não sei sobre te matarem… você é ruim de morrer.   

    — Não vai se livrar de mim tão fácil… então, eu ganhei?   

    — Não se lembra? Por acaso bateu a cabeça? — perguntou Hans.  

    — Sim… aí, como minha cabeça doí — brincou Fynn, levando as mãos a cabeça e fazendo careta. — Deve ser por isso que me lembro de você gritando para mim como uma líder de torcida.   

    — Ei, cale a boca antes que eu mesmo cause uma amnésia em você!  

    — Hahaha, é brincadeira… mas… obrigado mesmo assim.  

    Hans suspirou profundamente.  

    — Tudo bem… você é meu amigo, é plenamente natural que eu demonstre meu apoio.   

    — Eu menti para você aquele dia… sobre algumas coisas.   

    — E?  

    — Como assim ‘E?’ — retrucou, imitando o jeito de falar do amigo. — Estou confessando uma coisa aqui.  

    — Eu já esperava algo do tipo, você não é de falar muito, não imaginei que ia me contar toda sua vida logo de cara.  

    Fynn o encarou com uma expressão assombrada.  

    — Por que está me olhando assim? — questionou Hans.  

    — É que… não achei que você pensasse tanto nas outras pessoas… fiquei surpreso… — falou com tom de voz baixo.  

    TSK   

    — Ele te bateu foi pouco!   

    — Que maldade!  

    Suspirando novamente, Hans finalmente perguntou.  

    — E então?  

    — Então o quê?   

    — Disse que mentiu para mim, achei que ia me contar a verdade dessa vez.   

    — Você… acredita que eu matei toda aquela gente?   

    — Se eu acredito? — Pensando por alguns instantes ele respondeu — Talvez?  

    — Talvez?  

    — Você nunca me contou, então talvez.  

    — Você tem um ponto… mas não é tão ruim quanto fizeram parecer…  

    — Se importa de me explicar?   

    — Não… não me importo.   


    Fynn prosseguiu falando, desde como era quando ele nasceu, até o dia que perdeu tudo que tinha. Adicionalmente, contou como destruiu Amarilis, ferindo todos os moradores e matando os membros da igreja que habitavam o lugar, com exceção, é claro, de Ronald, que havia se retirado da vila horas antes para tratar de ferimentos letais que havia recebido.  

    — E Lilian?   

    — O que tem ela?  

    — Por que você não foi atrás dela?  

    — Ela… está morta.  

    — Você não sabe disso.   

    — É… não sei… mas é menos doloroso pensar dessa forma…   

    — Menos doloroso para quem?   

    — Eu matei a mãe dela, destrói toda a vida que ela tinha… mesmo que ela esteja viva, que direito tenho de procurá-la?   

    — Mas não é você quem decide, Fynn.  

    — Mesmo que você esteja certo…  

    — Eu estou certo! — afirmou Hans. — Temos que achá-la, mesmo que seja para se desculpar.   

    — Acha mesmo… espera, como assim ‘nos’?  

    — O que tem? Somos amigos, não somos? — disse, indiferente.  

    Fynn parou por um instante, olhando para o rosto sério do homem.  

    — Sim… nós somos.   


    Mais tarde naquela noite, Li adentrou seu plano mental. Algo estava lhe incomodando sobre uma certa luta daquele dia, então ele deixou de assistir à luta dos tenentes para conversar com Nasháh o mais rápido possível.   

    — E então?  

    — Sim, você está certo — disse Nasháh. — Senti aquela força estranha novamente.   

    — O maior suspeito que temos é o Otávio — Afirmou Li. — De uma forma ou de outra, confirmaremos as suspeitas na luta de amanhã.  

    — Melhor ser cuidadoso, não posso te ajudar da maneira que está agora e não sei até onde essa força se estende.  

    — Ainda assim, se você consegue senti-la, outros deverão também, certo?  

    — Não exatamente. A razão pela qual tenho essa facilidade é que é uma força familiar para mim, facilmente distinguível entre outras.   

    — Por que você tem familiaridade com isso?  

    — Sou o espírito de um mestre milenar.  

    — Simples assim?  

    — Simples assim.  

    — Não consigo entender como deixaram isso passar… digo, um poder demoníaco deveria ter sido pego em alguma espécie de exame, não concorda?  

    — Nem sempre, olhe para o seu caso, por exemplo, você possui a mana, mas mesmo assim está aqui.  

    — Sim…  

    — Além disso, não é certeza de que essa força vem dele, pode ser fruto de alguma outra coisa.  

    — Enfim, tem alguma ideia de como luto contra isso?  

    — Nenhuma.  

    TSK  

    — Você não era o espírito de um mestre milenar?   

    — Mesmo após mil anos o mundo continua mudando…  

    — Só me diga algo que possa me ajudar!   

    — Hm… — pensou Nasháh. — Bem, para começar, essa batalha, na verdade, pode ser até mais perigosa para você do que foi para qualquer um dos outros.   

    — O que quer dizer?  

    — Se estamos tratando de fato de um objeto demoníaco capaz de sugar sua força, imagine o que vai fazer com a mana que você possui? — Perguntou retoricamente. — Se mana divina é veneno, mana comum é um prato médio que pode até causar indigestão… a sua em específico seria algo como a melhor refeição da vida.  

    — Então, o que mais sobre mim você sabe?   

    Nasháh parou por um instante.  

    — O que quer dizer, Li?  

    — Eu definitivamente me lembraria se tivesse em algum momento lhe dito sobre a minha terceira mana… — respondeu, calmamente, olhando no fundo dos olhos do homem — Não te disse… mesmo assim, você falou com tanta certeza…   

    — Estou na sua mente, é por isso que sei…  

    — Estive ignorando todo esse tempo, você sabe de coisas que eu não sei, idiomas que não conheço, tem um conhecimento que nunca ouvi falar… — Se levantando, ele continuou a falar. — Nasháh… quem é você realmente?   


    — Senhoras e senhores, sejam muito bem vindos ao penúltimo dia do Torneio Anual de Erebus!   

    No centro da arena, Téo anunciava o início do dia de lutas.   

    — O que aconteceu com ele? — perguntou um espectador.  

    — Ele parece cansado…  

    — Sim, soube que ele foi advertido brutalmente pelo comitê do torneio… uma pena para o senhor Téo, uma carreira tão longínqua terminar dessa forma…  

    — Advertido? — perguntou outro. — Pelo quê?  

    — Por não ter parado a luta de ontem, soube que Gaston continua inconsciente e pode não voltar a ser um lutador ativo, mesmo com toda a assistência e tecnologia de ponta disponível.  

    — É… que triste… ele parecia ser uma boa pessoa…  

    Ignorando os comentários, sendo o profissional que é, Téo continuou sua apresentação.  

    — Para a primeira luta de hoje, teremos uma disputa fantástica, entre a novata que despontou nas pesquisas, Selene e o ser considerado favorito ao título… o integrante da facção de Terabítia, Número 142!  

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