Capítulo 105: Poder
Domínio da mana é mais do que controlá-la, caso não fosse, qualquer um que tivesse habilidade o suficiente conseguiria invocá-lo. O Domínio de mana é mais do que isso, é sobre entender, moldá-la a sua imagem, se entregar a ela e dividir seu corpo e mente com ela. Só assim conseguira torná-la sua, só assim conseguira despertar o verdadeiro potencial da energia que nos cerca.
O verdadeiro poder ~ Veritas
— Aceita um copo?
Dentro de uma sala espaçosa e lustrosa, Veritas agarrou sem cerimónias uma garrafa que carregava um líquido cor de mel e serviu em um copo.
— Me oferecendo do meu próprio licor? — ironizou Kali. — Não, obrigada.
A mulher não demonstrava expressões, mas a presença de seu tio nunca foi de seu agrado.
— Tudo bem, acho que é pedir demais para que dívida uma bebida comigo pelos velhos tempos…
— Adiante-se, tio, tenho compromissos que requerem urgência.
— Não se apresse… — disse o homem. — Sabe, sobrinha, a pressa sempre foi um dos seus maiores defeitos… a falta de paciência.
TSK
— Não fale comigo como se fossemos amigos — estalou os lábios, levantando-se. — Não tenho tempo para seus sermões.
Veritas calmamente se sentou e antes que ela pudesse passar pela porta, ele perguntou despretensiosamente.
— Como está meu irmão?
A mão da deusa da guerra que estava prestes a girar a maçaneta parou.
— Meu pai está em reclusão, bem como esteve na última centena de anos.
— Minha querida sobrinha, por quanto tempo achou que poderia esconder isso de mim?
— Não estou escondendo nada…
— Posso sentir a centelha divina de Muhali tremular… lutando bravamente para sustentar-se acessa, embora já não pareça ter mais combustível para mantê-la.
— O que você quer? Finalmente decidiu preocupar-se com meu pai? Não é muito tipico de você — indagou.
— Não brinque com isso, Kali — respondeu no mesmo tom. — Independente da nossa relação, sabe muito bem a importância de seu pai para o equilíbrio ser mantido.
— Meu pai não é uma ferramenta!
— Não… ele não é uma ferramenta… ele é A ferramenta — retrucou Veritas. — Muito mais importante do que você pensa.
— Você ainda é asqueroso como sempre foi, tio.
— Ah, criança, suas palavras não me ferem, sua ingenuidade as suaviza para mim — riu. — O que você sabe? Uma deusa recente que não completou nem seus duzentos anos!
— Sei que abandonou sua humanidade quando o deixou sacrificar-se sozinho.
— Ele era um homem altruísta, devo esse elogio a ele.
— Você deve muito mais do que isso! — Retrucou. — Se não tivesse o abandonado naquele momento, a humanidade não teria sido reduzida a um único império.
— Tolice!
— Você é um tolo!
— Se pensa assim, sua ingenuidade é maior do que eu imaginava, minha sobrinha… talvez o poder tenha subido para sua cabeça.
— Talvez a idade tenha subido a sua!
Veritas suspirou grosseiramente.
— Ah… uma pena que tenha puxado o temperamento de sua mãe… sinto falta dela.
— Não fale mais nada… — O tom de voz de Kali tornou-se grave. — Saia logo daqui tio.
O homem não se levantou, ao invés disso ele apenas fez uma pergunta.
— Me diga, oh, ‘deusa da guerra’, numa mesa de bar estão sentados um rei, um guerreiro e um mercador, quem é o detentor do real poder nesse lugar?
— Do que você…
— Responda.
— O guerreiro? — respondeu questionando-se.
— Por quê?
— Um rei sozinho não governa nada, um mercador, mesmo rico, ainda não possui força real — disse Kali. — Somente o guerreiro possui força de verdade.
— Errada…
— O que…
— O verdadeiro detentor do poder é o homem que serve a mesa.
GULP GULP GULP
Virando o copo de uma vez só por sua garganta, Veritas continuou.
— Eu, você, Muhali, as outras raças e até mesmo os demônios e calamidades estamos todos sujeitos a esse jogo de tabuleiro… somente peças movendo-se rigorosamente.
— O que está dizendo, tio?
— Não sei ainda… mas como parentes vou te dar essa colher de chá… seu pai fez alguma coisa que não deveria ter feito… algo que quebrou a balança…
— A balança?
— Você já percebeu, raças antigas ressurgindo, habilidades consideradas lendas reaparecendo aos montes, talentos crescendo da lama e barro… tempos fáceis são acompanhados de ventos alísios… mas a tempestade que está se formando não passara em branco…
— Não consigo entender…
— É melhor se preparar sobrinha… a roda que governa o mundo está prestes a sair dos trilhos…
BUUUUUUM
Uma explosão foi subitamente ouvida por todo o lugar, Kali desviou sua visão por um instante, mas quando olhou de volta, Veritas já havia desaparecido.
Mais cedo naquele momento, Li lutava fervorosamente contra um homem bruto.
CLING
CLING
CLING
— Quem diria! — gritou Téo, narrando a luta. — O favorito para uma vitória fácil está enfrentando dificuldades, mas por motivos que ninguém imaginaria!
— O que tem de errado com ele? — questionou um espectador.
— Está se segurando para dar mais emoção?
— É… isso é arrogância?
— Não tem a mesma graça quando sabemos que ele pode vencer no momento que quiser…
O grupo de Li, no entanto, possuía outra visão da situação.
— Ele não está usando mana… — disse Fynn
— Acha que foi a maneira que ele encontrou de lutar contra esse cara? — perguntou Glória.
— Jihan deve ter percebido algo que nós não… mas… desde quando ele consegue usar tão bem usando uma espada? — questionou Hans.
— Bem… hahahaha! — Matheus gargalhou. — Isso é muito além de bem… se eu fosse o Prado estaria espumando de raiva nesse momento…
— Por quê? — Perguntou Glória. — Não vejo nada de errado…
— Esse é o xis da questão — respondeu.
— Desembucha logo hombre — disse a latina, sem mais paciência.
— A técnica de luta que o Li está utilizando nesse momento se chama Fechten Schwanz a tradução mais correta seria algo como Esgrima de Cauda — explicou. — É uma especialidade desenvolvida pelo próprio Prado, um dos assistentes de Dédalos.
— Hm… por isso a espada dele parece fazer curvas às vezes?
— Exatamente, agora me responda… quanto tempo você acha que o Prado demorou para aperfeiçoar essa técnica?
— É difícil dizer… me parece algo muito complexo… talvez alguns anos…
— O Li aprendeu os movimentos em duas semanas.
— Duas…
Percebendo o absurdo que acabará de ouvir, Glória virou para o homem, boquiaberta.
— Exatamente… agora você consegue entender o tamanho real do que você está vendo?
— Incrível…
— Sim, é algo surreal.
— Mas, se ele sabe tanto, por que a luta está num impasse?
— Porque o Prado tem em excesso algo que falta no Li… experiencia em batalhas reais.
Já na arena, outros pensamentos corriam pela mente de Jihan.
“Mesmo que não esteja usando mana… é como se eu estivesse sendo corroído por dentro…” pensou.
— Cale a boca, me deixe me divertir mais um pouco! — gritou Otávio para o nada.
“Qual é a desse cara?” Li não entendia exatamente o que se passava.
Subitamente, o homem careca balançou sua maça, que brilhou em um tom azulado e espalhou água pelo chão, que num instante congelou.
— Essa habilidade! — Matheus deu um grito de raiva. — Como ele ousa!
— Hahahaha! — Otávio gargalhou fortemente.
Li, pisando em falso no chão, utilizou sua mão livre para apoiar-se no solo e completar uma pirueta saindo da zona congelada. O grandalhão, no entanto, não perdeu a oportunidade e avançou com tudo para cima do seu oponente.
Jihan, instintivamente, foi forçado a utilizar a magia de quarto círculo, refletor. Otávio sorriu.
PLING
— Peguei você…
No ressoar de uma gota de suor caindo no chão, o tempo ao redor de ambos parou. O tic tac de um relógio mental pareceu durar uma eternidade na cabeça de Li enquanto ela tentava se adaptar a mudança de realidade.
— Mana Domain…
“O que” tentou balbuciar, embora sua boca falhasse em acompanhar seus pensamentos.
— Kleistó kathestós
BAM BAM BAM BAM
Enquanto sua mente teimava em traduzir as palavras que acabará de ouvir, diversas portas surgiram do nada, fechando tudo a sua volta, como uma grande prisão. Foi aí que o nome fez sentido em sua cabeça.
— Regime Fechado…
— Incrível, não é? — perguntou de forma retorica, orgulhoso pelo que havia conseguido realizar. — Essa arma que me foi dada tem o poder de criar um domínio completo, até mesmo os poderosos que estão assistindo não conseguem enxergar o que está prestes a acontecer com você… tudo que veem é uma encenação criada pela vontade dessa arma. Agora, prodígio, quero ver você se debatendo como um rato!
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