Capítulo 112: Siriús
Se alguém perguntasse a um espectador naquela arena o que se passou naquele dia, nenhum deles conseguiria explicar com precisão. As duras imagens de ver o franco favorito da facção nativa sendo duramente espancado após um começo equilibrado eram chocantes ao público. As lagrimas de seus amigos o vendo ser duramente derrotado por um homem odioso que já havia ferido um de seus companheiros cobriam seus rostos, mas não sua crença de que Li Jihan era uma pessoa que superava até mesmo a morte. Mas quem poderia imaginar que a realidade se quebraria como um vidro estilhaçado, e de dentro das sombras obscuras e silenciosas, um farol etéreo iluminaria os céus e revelaria aquele que seria uma nova luz de esperança. Siriús, a estrela mais brilhante.
Bibliotecário
A plateia olhava hipnotizada com o que estavam vendo. Na visão de todos, a cena de Otávio esmagando Jihan acabara de acontecer e era tão real quanto a pessoa mais próxima; apenas para no segundo seguinte, o cenário desaparecer, como se acordassem de um pesadelo. O homem conhecido como Otávio da facção de Babylon fora substituído por uma aberração roxa escura. Já o favorito do povo, que estava cada vez mais próximo de se tornar uma poça de sangue, reluzia no céu.
BUM
Caindo rapidamente como uma estrela-cadente, Li atingiu o monstro, purificando a massa roxa que deveria ser o corpo de Otávio e o atirando para fora da arena, afundando-o na parede. O choque cegou momentaneamente a todos. Com a poeira baixando, seu corpo cheio de buracos foi revelado, demonstrando o quão longa havia sido a batalha fora das vistas dos espectadores.
Li, completamente exausto, caiu no chão, deitado, sem conseguir mover nem mesmo um músculo.
— Como ousa — disse o bufão aos céus, sua voz grave lentamente sumia e sua aparência majestosa derretia como maquiagem. — Como ousa destruir o meu show!
A voz estridente percorreu toda a arquibancada e as pessoas que ainda não haviam saído do transe imediatamente recuperaram o controle, colocando a mão nos ouvidos. A sede de sangue do Avicci espalhou-se não somente pelo coliseu, mas por toda a cidade de Anpýrgio. Uma pressão esmagadora surgiu sobre Jihan, que quase incapacitado não conseguiu impedir que seu corpo afundasse no chão.
— É um demônio… — sussurrou Miriem. Era impossível para uma elfa veterana como ela não reconhecer algo do tipo logo de cara; em seus tempos áureos, centenas caíram perante a suas mãos, mas nenhum como o que estava a sua frente.
— Um demônio! — Gritou o anão ao seu lado. — Como ousam profanar esse torneio, vou destruí-los!
Gnibry, estoico, comentou calmamente.
— Não se mova…
— Mas…
— Sabe muito bem como funcionam os torneios, todos concordam em não utilizar de sua força no território em que ele está ocorrendo.
— E é exatamente por isso que ele conseguiu chegar até aqui — disse a elfa. — O que esses Arcadianos estão fazendo!?
— Miriem… — O gigante a repreendeu. — Não subestime Arcádia, não enquanto ela estiver aqui.
— Ela?
— O título de ‘Deusa da Batalha’ não é de enfeite…
O bufão carregou instantemente uma bola de energia sombria da dimensão de uma casa, preparando-se para atirar na direção de Li.
— Obratio de décimo círculo!
No entanto, suas palavras cessaram, cortadas por outras, e o demônio foi o primeiro a virar-se na direção que essas outras vinham.
STEP STEP STEP
— Como ousa…
STEP STEP STEP
Sons de passos metálicos ecoavam por um dos túneis de entrada e lentamente se aproximavam, cada vez mais altos.
STEP STEP STEP
“Droga!” Até mesmo o Avicci ficou aflito. “Ela não deveria estar aqui ainda!”
Uma voz estrondosa ecoou não somente pelo coliseu, mas por toda a cidade de Anpýrgio.
— Ah, não…
— Vai acontecer de novo…
Os lordes e vice lordes espalhados pela cidade tiveram exatamente o mesmo pensamento.
— Espero que esses desgraçados estejam satisfeitos… — sussurrou Gnibry.
Cada tilintar que o passo da bota dourada fazia no chão gerava um calafrio na espinha de todos os conscientes.
— Um mero Avicci… invadir a minha cidade… o meu torneio… ferir os meus subordinados… meus súditos IMPERDOÁVEL!
Seus cabelos vermelhos flutuavam enquanto uma energia dourada avermelhada emanava do seu corpo, a bainha de sua katana reluzia a frase mais temida pelos campos de batalha, os olhos esmeralda perfuravam até a própria existência. A mana parecia não só se comportar ou ser controlada perto de Kali, mas aquela energia viva parecia implorar para ser de alguma utilidade para a deusa.
Não importava a raça ou gênero, todos olhavam aquele ser magnifico com admiração enquanto ela se movia lentamente para não destruir seu caminho. Aquela força, energia, beleza e aura não eram uma ilusão, mas sim muito mais real do que qualquer coisa que viram em sua vida.
— Você de novo, sempre no meio de problemas — Kali olhou Jihan caído no chão. Seus olhos mal conseguiam continuar abertos, não somente pelo desgaste, mas também por estar tão perto da pressão encarnada. — Fez bem, até a última gota de suor.
— Morior… Invictus…
Kali sorriu.
— Vou recompensá-lo, garoto.
PLING
PLING
PLING
— Ah… o meu tempo aqui acabou… é melhor eu ir embora! — disse o Bufão, enquanto seu corpo rapidamente desaparecia.
— Não vai.
A mana no ar subitamente paralisou e o corpo do Avicci reapareceu. Os céus se escureceram novamente e a chuva tomou conta dos arredores. Mas algo permanecia diferente para Jihan. Seus companheiros, que até então estavam movimentando-se, congelaram, quase todos congelaram. A mão de Kali deslizou para a empunhadura da katana e subitamente as gotas que caiam, pararam no ar.
— No fio da lâmina habita o pilar da criação…
Centenas de armas começaram a cair do céu, uma após a outra, algumas quebradas, outras perfeitamente intactas. Em um instante, a arena foi transformada em um cemitério de espadas.
— Nenhum segredo pode escapar de seu corte, pois não há lugar onde minha espada não alcance — entoou. — Se tudo está ao meu alcance, então cortarei o céu e a terra.
A energia maligna que emanava do bufão cessou.
— E se nela habita o início… nela também habita o fim… Expansão de Controle!
Nem mesmo a mente de Li conseguia processar o que estava sendo dito. O som de uma centena de tambores espalharam-se por toda a arena, um precursor da guerra, um sinal de nobreza.
— Nanatsu no ken no teikoku ~ Imperio das sete espadas.
Os sons aceleraram, ficando cada vez mais rápidos e altos. Kali agachou-se levemente, em posição de impulso.
— Saisho no ken ~ Primeira Espada.
A deusa parecia estar preparando-se para se mover, mas em um instante ela desapareceu e o sons de tambores pararam, no próximo, Kali surgiu exatamente no mesmo lugar, guardando a espada.
— Zenmetsu ~ Aniquilação.
BAM
O único barulho que ecoou foi o de um objeto ultrapassando dezenas de vezes a barreira do som. Os céus se abriram, as nuvens foram separadas, a chuva cessou e o bufão desapareceu quando a lâmina de energia dourada subiu, levando tudo que havia em seu caminho junto de si.

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