Capítulo 116: O último a cair
Um homem politico nunca possui apenas um intuito em suas palavras e ações. Todo movimento e toda fala possui mais de um sentido.
Sócrates ~ Política e Outros Distúrbios
— Redenção!
Do punho de Jihan, uma grande onda de energia disparou contra o corpo inteiro de Wang a queima-roupa. A força condensada era tamanha que chacoalhou a barreira que cercava a arena, ameaçando atravessá-la. A luz emanava por toda a área, cegando por alguns instantes aqueles que tentavam enxergar além da luz.
Após alguns segundos de claridade, o golpe cessou e os joelhos de Li foram ao chão, o golpe havia não só transformado e refletido grande parte do dano acumulado no corpo do homem, mas também sugado as últimas energias que seu corpo precisava para se manter de pé. Sua visão estava turva, mal conseguindo enxergar meio palmo a frente. Já fazia muito tempo que ele não havia esgotado tanto de sua mana, visto que normalmente era um poço sem fim.
HUFF HUFF HUFF
O som da respiração pesada de Jihan ecoava pela arena, alimentando-se do silêncio causado pelo choque da plateia.
— Foi seu último suspiro de energia?
Choque esse causado pelo outro homem que ainda estava de pé. Ao ouvir as palavras de Xu, as últimas esperanças de Li escaparam do seu corpo. O cabelo e corpo do albino estavam chamuscados, sua pele estava levemente queimada, mas bastante danificada já que a maioria das cicatrizes antes fechadas pela cauterização haviam se aberto ao mesmo tempo. A mão de Jihan pressionou-se contra o chão, tentando levantá-lo, mas escorregou em seu próprio peso.
— Você… sempre demora muito…
E, no instante em que o corpo de Li iria atingir o chão, dois sons foram ouvidos. Wang havia caído no mesmo instante. O silêncio tomou conta e apenas suspiros engasgados soavam.
Téo, surpreso com o resultado, voltou-se aos três seres de maior poder naquela arena, esperando por um sinal. Esperança essa que se tornou realidade quando ele recebeu uma transmissão. Nem mesmo uma palavra foi dita até que o narrador anunciasse o resultado.
— Eh… como esse tipo de situação nunca havia ocorrido antes… ambos os líderes das respectivas facções optaram por… um empate…
— Um empate? — Os espectadores lentamente começaram a questionar.
— Impossível! — Um membro da igreja próximo a Gregorios bravejou.
— Mas… se não for isso…
— Xu Wang deveria ganhar, ele desempenhou melhor durante a maior parte do confronto! — Um homem angustiado na plateia gritou.
— É irrelevante, o garoto Siriús teve um final superior! — um velho contestou.
Subitamente, uma mão subiu e rapidamente todos se calaram. Até mesmo Gregórios, um dos patriarcas da Igreja de Yan não podia falar por cima do homem.
— Como não existem precedentes, a decisão recorrida foi a escolhida por ambos os líderes de facção, dessa forma, qualquer outra decisão tomada por mim seria uma interferência direta nas regras do torneio — declarou Victórios. — Como sabem, o costume diz que o vencedor do torneio de nível 2 tem direito a um pedido especial, porém, devido à incapacidade de ambos os combatentes de se pronunciarem, o pedido será feito no amanhã onde comemoraremos não só o fim do torneio, mas brindaremos aos vencedores.
Na sala do grupo, Matheus franziu as sobrancelhas.
— Um empate?
— É melhor do que nada… digo, melhor do que uma derrota — disse Selene.
— Sim, mas como não foi uma vitória certa, tenho certeza de que o pedido de Li será questionado… — complementou Glória.
— De uma forma ou de outra, é o melhor que temos — comentou Hans.
A tarde passou rapidamente, as finais de nível 3 ocorreram apenas no início da noite, dando a vitória por muito pouco para Lorena da facção de Arcádia sobre um membro da facção de Bestialia. Apesar do tamanho bruto do Demi humano que possuía uma cabeça de urso, o espirito Rei Golem, Ogon era uma muralha muito grande para ser atravessada.
— Incrível, a facção de Arcádia ganhou em duas das três categorias e empatou na de nível 2, simplesmente incrível! — comemorou uma menina. —
— Sim, isso não quer dizer que nos humanos somos os com melhor prospecto? — comentou um garoto.
— Não — retrucou o homem mais velho que cuidava dos dois. — Digo, esse resultado é maravilhoso, mas, considerando que a facção tem vantagem de estar em casa, por isso ter mais pessoas participando do torneio, é apenas natural que esse tipo de coisa aconteça.
— Ainda assim, foram nas três categorias…
— Não se esqueçam, as outras raças não nos veem como um desafio, duvido que tenham mandado seus melhores prospectos para esse torneio.
— Pai você é chato…
— Vocês são apenas crianças, não entenderiam.
— Eh… bem, posso ser um criança agora, mas um diria serei que nem o Siriús!
— Siriús?
— O Li! — disse a menina. — Tá todo mundo chamando ele assim agora, tio!
— Foi tão legal quando ele subiu aos céus, tipo vush e socou aquele monstro bam!
— Tudo bem, tudo bem… vamos logo, se se comportarem comprarei um doce para vocês na volta.
— Sim! — disseram em uníssono.
STEP STEP STEP
RENNNNK
Enquanto as portas se fechavam num aposento onde as luzes já estavam acesas, Kali caminhou até sua cadeira. Sentando-se, girou-a para trás, onde uma grande janela ornamentada de cristais dava vista para a maior parte da cidade.
— Já está virando comum entrarem sem ser convidados em meu escritório, parece que não tenho me imposto muito recentemente — disse a deusa. — Ratos continuam se esgueirando pelas beiradas e se mantendo nas sombras.
Sua mão lentamente deslocou-se para a bainha de sua espada.
— Espere, espere! — O homem de pele levemente tonalizada e olhos vermelhos saiu das sombras. Vestindo uma jaqueta preta que descia até seus joelhos, ele parecia assustado. — Me desculpe, senhorita.
— Um elfo? — Estranhou, arqueando a sobrancelha. — Não sabia que meu tio era tão permissivo.
— Meio elfo, se me permite…
— Permito me dizer o que estava fazendo em meus aposentos, digo, nem mesmo em seus piores dias Veritas é tão estupido em achar que pode me assassinar.
— Por favor, minha senhorita, não diga isso nem brincando… — o homem sorriu nervosamente. Sua voz era suave como a de um adolescente. — Sabe muito bem que nem se eu me multiplicasse por dez conseguiria fazer isso.
— Então, diga logo o que quer, melhor, deixe-me te perguntar… — disse, cerrando os olhos. — Por que meu tio propôs a sugestão do empate?

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