Capítulo 85: Toppem
Os vencedores, os maiores, os primeiros, sempre serão lembrados pela história. Ninguém nunca pensa naquele que estava 1 passo atrás. A diferença é mais simples do que parece. Quantas centenas de quilômetros você está disposto a arriscar para dar um único passo à frente?
Sem Medo de Falhar ~ Sócrates
— In..crivel…
Assistindo à luta, Li e o restante do grupo ficaram boquiabertos com a tremenda demonstração de habilidade de ambos os tenentes.
— Não consigo acreditar que Vitra perdeu… ele parecia estar levando a vantagem o tempo todo… — comentou Matheus.
— Bem, em uma batalha desse nível qualquer deslize pode significar a derrota, por mais que ele estivesse na vantagem, Mario nunca deixou essa ‘vantagem’ crescer.
— Argh, eu queria ter visto o final — lamentou Li.
— Essa foi só a primeira luta, tentem não parecer muito surpresos — disse Hans. — Esses caras não estão usando metade de suas habilidades.
— Eh, sério? — perguntou Selene. — Por quê?
— Por dois motivos — respondeu Matheus. — O primeiro é que é mais interessante para o público ver habilidades individuais treináveis ao invés de coisas como herança genética, afinal, esse não é apenas um torneio para exibir habilidades, é também uma propaganda para possíveis futuros membros.
— E a segunda?
— A segunda é que nunca sabemos quem pode estar assistindo, diferente do nível 1 e 2, revelar as cartas de seus tenentes pode se tornar uma desvantagem eventual.
— Entendi… — falou Li um pouco menos animado.
— Ei, não perca o ânimo agora, mesmo que não mostrem tudo ainda veremos bastante! — Como líder da equipe, o brasileiro tentou animá-lo.
— Sim, sim… hum?
Voltando seus olhos para a arena, Li percebeu dois participantes estranhos entrando na arena.
— Jihan… é melhor prestar bastante atenção — avisou Fynn. — Você está prestes a presenciar um duelo completos desgraçados.
— Aqueles são… — Gloria também demonstrou surpresa.
— É…
— Do que vocês estão falando, eles me parecem perfeitamente normais… — disse Selene.
— Sim… parecem… mas… tem algo de errado — observou Li.
No palco da arena, duas pessoas subiam. De um lado, um homem branco e loiro usando uma armadura pesada que só deixava exposto do pescoço para cima; ele possuía estatura media e carregava um grande martelo de guerra. Do outro, uma menina um pouco maior do que Selene. Suas tranças ruivas e seus olhos profundamente pretos eram o que mais chamavam atenção.
— Para dizer o mínimo… eles são monstros vestindo trajes humanos — explicou Fynn. — Ei, Jihan, grave bem o rosto daquele cara de armadura.
Li se virou para o homem que falava. Era a primeira vez que ele o via daquele jeito, seu rosto dizia que ele estava prestes a explodir.
— Grave bem o rosto dele, porque um dia vou explodir aquela cara.
— Muiiito bem! — Téo, o locutor começou a apresentar os participantes. — De um lado, temos Virgínia, da facção de Nixis. Não se engane com o seu rosto delicado de menina, já que seu título vem de seu temperamento forte!
— Não se estenda, locutor — disse a mulher seriamente.
— Ah, sim… com vocês, a ‘Tormenta’, Virgínia!
— A tormenta? — questionou Li.
— Só espera um pouco e você vai entender — respondeu Fynn.
— Do outro lado… — continuou o apresentador. — Diretamente da facção que é braço direito da Igreja de Yan, Yehi Or, aquele que carrega o título de ‘Paladino Divino’, Sir Ronald Kelvin!
Colocando seu martelo no chão, o paladino acenou para a plateia, sorrindo.
“Ele parece ser um cara tranquilo, me pergunto por que o Fynn não gosta dele…” pensou Li.
— Ah… deve ser uma benção de Deus ter uma disputa tão favorável logo na minha estreia… — disse Ronald para a mulher.
— Favorável?
— Ah, sim, afinal, seus poderes são inúteis contra mim que sou protegido pela graça de Yan. Por que não se rende logo?
“Retiro o que pensei…” concluiu Li.
TSK
— Homens falam demais — alegou, com certo desgosto da forma com que o paladino falava. — Ei, apresentador, comece logo isso.
— Sim, senhorita… lutadores, em suas posições!
— Não diga que não te dei a oportunidade… — Agarrando o cabo do seu martelo com uma de suas mãos, Ronald colocou um pé para trás, erguendo seu outro braço como se segurasse um escudo.
— O que ele está fazendo? — questionou Gloria.
— Segurando sua defesa — respondeu Matheus, indiferente.
Subitamente, o braço do paladino que estava vazio e seu rosto que estava a mostra foram cobertos por um brilho, que tomou formato respectivo de um escudo e um capacete.
A intensa luz divina cobria o braço e o rosto de Ronald, formando um escudo radiante e um capacete que ocultava suas feições em uma aura dourada. Ele permanecia impassível, o sorriso tranquilo permanecendo no canto dos lábios, enquanto a plateia murmurava em expectativa.
— LUTEM!
Virgínia, que até então continuava com a mesma expressão, com os olhos fixos no paladino, medindo cada detalhe de repente, ergueu uma das mãos, e faíscas escuras começaram a dançar ao redor dos dedos, crescendo em intensidade até se tornarem pequenas labaredas de relâmpagos negros.
— Relâmpagos? — observou Li.
— É um pouco diferente de mim, afinal, ela é uma conjuradora por natureza — disse Fynn.
— Parece que está ansiosa para perder — provocou Ronald, sua voz firme, ainda que tranquila, saindo abafada pelo capacete de luz.
A conjuradora franziu a testa, olhando-o com desprezo.
— Falastrão até o fim, hein? — ela respondeu, enquanto o chão à sua volta começava a vibrar e as primeiras ondas de relâmpago negro se espalhavam pela arena. — Vou lhe ensinar a ficar em silêncio.
Com um estalo de dedos, seis círculos surgiram ao redor da mulher, cada um atirando uma rajada de eletricidade escura diretamente contra Ronald. Os relâmpagos crepitavam enquanto cortavam o ar com uma velocidade alucinante, uma energia densa e pulsante que parecia absorver a própria luz ao seu redor.
O paladino ergueu o escudo divino, e a luz se intensificou no ponto de impacto. Por um instante, ele conseguiu barrar o ataque, mas o poder da mulher estava além do que ele esperava. A energia negra se enrolou ao redor do escudo, como serpentes tentando esmagá-lo, até começar a avançar pela lateral de sua defesa, o forçando a recuar.
A plateia prendeu a respiração, e a conjuradora sorriu com satisfação.
— Isso é tudo o que a graça de Yan pode fazer? — ela debochou. — Esse escudo divino é mais frágil do que pensei.
Ronald rangeu os dentes. Ele sabia que estava em desvantagem, mas seu sorriso de confiança permaneceu.
— Não subestime o poder da luz — ele disse, recuando alguns passos enquanto se preparava para seu próximo movimento.
Virgínia apenas balançou a cabeça, quase como se lamentasse pela teimosia dele, antes de invocar uma nova onda de energia negra. Dessa vez, os relâmpagos partiram do chão, convergindo ao redor dela, criando uma tempestade de pura destruição. O Paladino permaneceu parado, respirando fundo de olhos fechados.
— Você faz jus ao seu título de tormenta… mas…
Subitamente, ele moveu-se habilmente, desviando de cada um dos relâmpagos que bravejavam em sua direção.
— Não será o suficiente…
As pupilas de Ronald, antes verde-esmeralda, começaram a brilhar em dourado.
— Um Toppem?
— Aí está — disse Fynn. — A habilidade ocular que o tornou tão forte, o Toppem da família Kelvin!
Por um segundo, a surpresa de Virgínia foi visível. Ronald não apenas desviava dos raios, mas antecipava cada movimento, movendo-se com precisão exata, como se estivesse um passo à frente. Seu olhar dourado agora fixava-se nela com uma intensidade implacável.
— Toppem, o que é isso? — perguntou Li, curioso.
— Uma habilidade ocular passada por linhagem sanguínea — explicou Matheus, também surpreso. — É extremamente raro, deve ter uma dúzia de famílias no mundo que possuem uma em seu histórico e, naturalmente, é também raro alguém de fato despertá-la, mesmo possuindo os genes. Ter um Toppem por si só já te dá qualificação para ser um Tenente de uma facção media.
— E o dele é um ainda mais especial, quando foi despertado, provavelmente conseguia enxergar alguns milésimos, mas pelo que estou vendo já consegue ver quase um segundo — complementou Fynn.
— Ver? — Selene também se interessou pela explicação.
— Prever o futuro, não é muito útil para prever desastres, mas em uma luta de nível igual onde um deslize pode te levar a derrota, um segundo é uma vantagem brutal.
— Por isso você falou que ele é um monstro… — lembrou Gloria.
— Então você tem um Toppem… — Virgínia murmurou, os lábios contraídos em um sorriso feroz. — Isso vai ser mais interessante do que pensei.
Com o brilho dourado agora dominando seu olhar, Ronald desviava da maioria dos relâmpagos com uma precisão e velocidade quase impossíveis, como se cada ataque fosse algo que ele já conhecesse. Para Virgínia, era como lutar contra um fantasma que antecipava cada movimento.
— Se ele consegue prever tudo, por que não desvia de todos? — Questionou Li.
— Não é tão simples assim, a previsão é extremamente custosa em termos de mana caso digo, se não tivesse pontos negativos como esse seria um absurdo — respondeu Fynn. — Ele deve querer terminar essa batalha o mais rápido que conseguir, caso contrário a derrota será dele.
Sem perder tempo, o homem avançou. Seu martelo estalava de energia sagrada enquanto ele girava a arma no ar, preparando-se para o golpe. Os passos dele estavam alinhados com a luz divina que o envolvia, enquanto sua Toppem o guiava com precisão. A plateia estava em êxtase, completamente absorvida pelo espetáculo inesperado.
A conjuradora gritou, as faíscas negras ao seu redor se multiplicando e ganhando intensidade. Ela estava determinada a usar toda a sua magia para esmagar Ronald, mesmo que precisasse consumir as últimas reservas de sua mana. Com os olhos fixos no paladino, ela ergueu ambas as mãos, concentrando uma imensa quantidade de relâmpago negro entre elas. A energia condensada pulsava, quase viva, crepitando de fúria e devastação.
— Isso… termina… AGORA! — rugiu ela, lançando a rajada final com tudo o que tinha. Era um ataque colossal, uma onda de eletricidade negra que se espalhava pela arena como uma parede de destruição.
Mas Ronald, com seus olhos dourados brilhando ainda mais intensamente, viu tudo se desenrolar como se estivesse assistindo a uma imagem desdobrada em câmera lenta. Ele visualizou cada fragmento do ataque com absoluta clareza e soube exatamente para onde se mover. Com um impulso ágil, desviou para o lado direito, girando seu corpo com leveza e precisão. A torrente negra ainda o atingiu levemente, mas a luz de seu escudo brilhou ainda mais forte.
— Esse verme, seu Toppem combina perfeitamente com suas habilidades de paladino, deixando-as ainda mais forte — disse Fynn.
O público, que já estava de pé, mal acreditava no que via. Ronald parecia intocável, movendo-se como se estivesse dançando entre os relâmpagos. Com a Toppem ativada, ele dominava a batalha com uma facilidade que deixava até os mais veteranos dos guerreiros estupefatos.
— Eu sou um servo da luz — gritou o paladino, sua voz ressoando como um trovão sagrado. — E como servo da luz, é meu dever encerrar este confronto.
Com um grito de batalha, Ronald girou o martelo em um arco largo e descendeu com um golpe implacável. A energia divina envolveu a arma gerando um impacto que criou uma onda de luz dourada iluminando toda a arena. Virgínia tentou levantar um escudo de eletricidade negra, mas não havia mais força em seu corpo para sustentar o ataque. O martelo de Ronald atravessou o escudo, desfazendo a tempestade sombria e acertando o chão aos pés dela, gerando um tremor e deixando um rastro de luz onde a escuridão antes dominava.
— É o fim… — observou Fynn.
Sem energia para resistir, a onda de choque a atirou para fora da arena.
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