Capítulo 86: Vice
Quem está certo entre o homem disposto a sacrificar algumas vidas para salvar um império e o homem disposto a sacrificar um império para salvar a todos?
História das Raças ~ Baltazar Von Amuria
— Extraordinário… a batalha deles está em um nível muito mais complexo — comentou Li.
— Tente não parecer muito surpreso, nós dois sabemos que você ainda não mostrou nada do que pode fazer — repreendeu Matheus.
— Mesmo assim… enfim, estou curioso sobre um detalhe… — Virando-se para Fynn, Jihan continuou — Por que você sabia tanto sobre aquele cara?
— Eu te disse, vou matá-lo um dia, então pesquisei bastante sobre tudo que pude.
— Hm…
Apesar de parecer sério, Li não quis pensar muito sobre isso, afinal, se o próprio homem não falou afundo, talvez não fosse da conta dele. Serem amigos não quer dizer que precisam saber tudo um do outro.
— De qualquer forma, as próximas lutas vão ser boas, mas estou mais animada para a última delas… — disse Gloria.
— Qual será a última disputa?
— A Lorena vai lutar contra um cara da facção de Ignis.
— A Lorena? — Perguntou Selene, animada.
— Ela mesma!
— Quem é essa? — questionou Li. Selene virou-se animadíssima para responder à pergunta.
— Uma espiritualista, Tenente da nossa facção. — Mas Hans foi mais rápido em sua resposta.
— Ei! — A conjuradora virou-se indignada. — Ela não é só ‘uma’ Espiritualista! Lorena é um prodígio!
— Me conte um pouco mais sobre… — Vendo o ânimo da garota, Li a estimou a falar sobre.
— Com todo prazer! — E Selene não deixou sua oportunidade escapar. — Lorena é uma bela mulher que aos 18 anos já conseguia contratar um espírito de Nível Príncipe! Sabe o que isso significa?
Jihan a olhou totalmente perdido, ele de fato não tinha ideia sobre o que sua amiga estava falando.
— Nível Príncipe é o menor nível na escala de espíritos reais, mas ainda sim é um espírito real, ou seja, um espirito que tem capacidade de atingir o nível de Imperador! Vo cê sa be o que isso si g ni fi ca!? — perguntou Selene, balançando o braço do homem e entonando as sílabas de sua frase.
— Não…?
— Significa que ela é incrível!
— Eu não colocaria todas as minhas fichas nela. — Matheus interrompeu o ânimo da conjuradora. — Mesmo sendo um prodígio, não sabemos quem é o oponente, tudo que sabemos é que a facção de Ignis não é qualquer uma.
— Ignis… é uma facção grande, certo? — questionou Li.
— Sim, Arcadia é a maior facção de Anpýrgio, mas vivemos num império que possui muitas grandes cidades, se somos a maior da capital, então Ignis é a facção dominante das três próximas maiores cidades.
— Tão forte assim?
— Por isso não os subestimem, o histórico de disputas entre essas bandeiras é enorme, essa luta não vai ser fácil.
— De qualquer forma, por que só temos um tenente participando se eles têm dois? — perguntou Selene, curiosa.
— Como eu já disse, cada facção tem um número limitado de vagas, da mesma forma que eles têm dois tenentes participando e apenas um líder, nós temos três líderes e apenas um tenente — explicou Matheus.
— Kant… — sussurrou Li, lembrando do nome que havia visto nas chaves dos tenentes. — Me pergunto que tipo de lutador ele é.
As batalhas seguintes entre os tenentes sucederam-se rapidamente, um a um, os combatentes de diversas raças entre elfos e anões saíram vitoriosos. Como esperado, nenhuma surpresa surgiu entre os participantes, seres como gigantes e Alados não reapareceram no nível 3 do torneio.
Após os confrontos, a batalha mais esperada do dia finalmente chegou. Verdade seja dita, o conflito entre Ignis e Arcádia não era surpresa nenhuma para os habitantes mais bem informados do Império Humano, logo, todos aguardavam ansiosamente para ver o confronto direto entre as duas facções. À medida que a batalha se aproximava o barulho aumentava resultando em gritos de emoção quando ambos os combatentes subiram ao palco.
— Finalmente! — De todos os integrantes da equipe, Selene era definitivamente a mais animada. — Vou conseguir ver como ela luta…
— Aquele cara exala uma energia estranha… — comentou Fynn.
“Energia estranha?” pensou Li, atentando-se ao oponente de Lorena e lembrando do aviso de Nasháh. Por experiência própria, ele já havia percebido que seu companheiro de treino possuía certa facilidade com a percepção da mana por esse motivo seu comentário possuía o dobro do peso.
— Cabelo azul? — Comentou Jihan.
— Não vai me dizer que está surpreso agora, depois de todas as coisas que você já viu em Erebus, cabelos coloridos naturais deveria ser o mais comum de tudo — brincou Matheus, rindo.
Lorena era uma mulher magra de estatura media, seu corpo possuía curvas nos lugares certos e estava coberto por uma roupa de couro simples como todos os conjuradores geralmente usavam. Em suas mãos, tudo que carregava era um orbe azul da mesma cor de seus cabelos e olhos. Ela definitivamente parecia uma beldade exótica que raramente seria vista em cidades menores.
Por outro lado, o seu oponente, Kant, era uma pessoa alto e estava vestido de trajes um tanto quanto excêntricos.
— Aquilo é um quimono? — Questionou Glória
— É… acho que sim — respondeu Li.
O homem utilizava um quimono preto e branco e carregava em suas mãos um leque fechado com o símbolo de uma fênix em sua haste. Ele possuía cabelos pretos longos que estavam amarrados em um coque, apesar de ser um homem, seus traços eram bem femininos, rosto delicado, fino e sem falhas.
— Você deve ser Lorena, é uma honra enfrentá-la nesse torneio magnifico — disse Kant.
Sua voz era tão bonita quanto seu rosto, soando como um lorde.
— Digo o mesmo, mas de minha parte nunca ouvi falar de você — respondeu Lorena suavemente. — Ainda assim, consigo sentir uma força diferente, bem interessante.
— Hahaha, me lisonjeia falando dessa forma. Não é incomum que não tenha ouvido falar de mim, afinal, apenas recentemente que fui apontado como Tenente.
— E já tem confiança o suficiente para participar desse torneio, você deve ser talentoso.
— Ah… participantes? — Téo, que até agora não havia visto tamanha tranquilidade entre dois oponentes estranhou.
— Perdão, é melhor que comecemos logo, a plateia clama por entretenimento… — disse Kant.
— Sim, espero que possamos dar-lhes um show e tanto.
— Certo… — aproveitando a deixa, o apresentador falou — em suas posições… comecem!
— Espero que não se importe em acabar com isso rápido, Kant… — Esticando a mão que segurava o orbe para frente, Lorena entoou. — Oh, servo do guardião da centelha divina, guerreiro vaidoso de Tebas…
— Não vou deixar! — O homem rapidamente avançou, abrindo seu leque. — Acalentador da seca!
Balançando o leque, um grande tufão de água surgiu do nada, girando fervorosamente em direção a conjuradora.
— Desça ao plano terreno e mostre a sua força, Moltre!
Mas antes que a habilidade pudesse atingi-la, um grande portal abriu a sua frente, liberando de dentro um grande cavaleiro que fincou seu enorme escudo branco no chão, parando o golpe que estava prestes a atingir a mulher. Mesmo com o espírito a sua frente, o rebote ainda foi grande o suficiente para quase levá-la junto, mas Moltre utilizou sua outra mão para segurar a sua mestra.
— Que espirito poderoso! — comentou Glória. — Não é à toa que ela é chamada de prodígio, podendo convocar um ser desse nível.
— Aquele é o espirito de nível príncipe que a fez ficar conhecida, Moltre, um dos soldados de Yan.
— Soldado de Yan? — estranhou Li. — Achei que fosse algo ligado à igreja…
— O plano espiritual funciona de forma diferente do nosso plano — explicou Selene. — Essas convenções são criadas por nós, não por eles.
— Entendi… mesmo assim, o oponente dela não me parece alguém que vai perder apenas com isso, o golpe de agora foi um ataque rápido e mesmo assim foi forte dessa forma.
— Ele é inteligente — disse Fynn. — Lutar contra um conjurador que utiliza de espíritos é extremamente mais fácil antes dela convocá-los, por isso ele tentou acabar com tudo antes, mas não quer dizer que vai ser impossível a partir de agora.
— Concordo — acrescentou Hans. — Ele me parece esperto, além disso, teve bastante tempo para pensar em como lidaria com essa situação.
— A verdadeira batalha começa agora.
— Hm… acho que estou passando mal, por que me parece que tem dois dele em campo?
— Dois?
— Sim, olhem bem, tem dois Kants?
Olhando para o palco, a equipe finalmente enxergou, como um espelho, o corpo do homem se separou em dois, um vestindo um quimono branco e outro vestindo um quimono preto.
— Isso é permitido?
— Dois contra um? O que está acontecendo, até agora há pouco era só um homem.
A plateia começou a cochichar entre si, questionando o que estava acontecendo. Téo como um bom apresentador, explicou rapidamente a situação.
— Ah… não se preocupem, o participante não está infringindo as regras, afinal, essa é uma habilidade dele.
Na arena, Lorena se encontrava pensando concentrada no que estava à frente dela.
— Me desculpe, não queria ter que usar isso, mas você é bem forte… — disse Kant.
— Quem diria que eu enfrentaria um bi elemental — retrucou a mulher. — Ainda por cima um usuário de Almos… isso vai ser interessante!
Li que estava observando a conversa entre os dois redobrou a atenção, afinal, ele nunca havia encontrado alguém que portasse esse elemento. Apesar de também ser um usuário, ele deixara de lado o elemento, visto que Amélie o instruiu a não se preocupar com ele primariamente por ser algo misterioso e extremamente difícil de controlar. Por esse motivo, ele estava treinando seu controle de mana a ponto de conseguir utilizá-lo antes de, de fato treiná-lo propriamente.
“Finalmente posso aprender sobre o Almos…”
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