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    Perder e ganhar batalhas são processos de uma guerra. A moral sobe, diminui, se estabiliza. Se render, no entanto, é sinal de que você nunca esteve preparado para a vitória.  

    Sem Medo de Falhar ~ Sócrates  

    — Então… ela está presa em uma… ilusão?   

    Na arena, Lorena parecia perdida, como se subitamente perdesse a visão.  

    — Uff… essa foi por pouco… — Kant suspirou de alívio, assim que falou, Lorena deu um soco no ar na direção contraria ao homem.  

    TSK  

    — Que habilidade irritante — reclamou a mulher.  

    — Certamente, do seu ponto de vista, minha voz deve estar ecoando na sua cabeça, vindo de todas as direções — explicou. — Mesmo você, que possui instintos tão afiados, ainda vai sofrer para se adaptar a essa ilusão.  

    — Você fala demais! Se está tão certo da vitória, acabe logo com isso!  

    — Eh… realmente preciso? Por que você não se rende? Assim não se machucaria…  

    — Hahahaha… HAHAHAHA! — riu Lorena, fervorosamente. — Alguém como você não entenderia!  

    — Não tenho nada para ‘entender’ — retrucou Kant. — Se quer sofrer na ignorância de sua fraqueza, vou te oferecer um serviço de luxo!  

    O outro Kant, que estava ocupado com o espírito, tomou distância, se aproximando de sua duplicata.  

    “Como eu imaginei, esse nível de Touhom não é o suficiente para enganar os sentidos de um espírito de nível Príncipe… mas não importa, uma invocação só pode ser tão forte quanto seu invocador, ele não pode fazer nada sozinho” pensou Kant.  

    — Se não vai se render por vontade própria, vamos ver se consigo te convencer após arrancar um membro ou dois!  

    Lado a lado de seu clone, ambos estenderam seus leques e entoaram em uníssono.  

    — Em tempos sem paz, os ventos da guerra carregam sangue… — Estendendo os leques para trás e juntando um ao outro, o ar da arena começou a ser sugado em direção a eles, condensando-se em uma esfera rotativa — …os ventos das cidades carregam as cinzas, os ventos do campo carregam as lagrimas e os ventos da morte carregam as vidas, Kazeha de 7º Círculo!   

    Ambos balançaram seus leques na direção de Lorena, liberando todos os ventos acumulados na esfera condensada.  

    VUSHHHHH  

    — BENEVENTO!  

    A força monstruosa da magia surgiu como uma tempestade tubular cortante, afetando todos os arredores mesmo que concentrada em um único ponto, Lorena.  

    — Moltres!  

    A invocação rapidamente posicionou-se em frente a mulher, erguendo seu escudo contra a magia.  

    — Vamos ver o quanto sua preciosa invocação consegue aguentar! — Gritou Kant, aumentando ainda mais a força dos ventos.  

    Em pouco tempo, o escudo de Moltres começou lentamente a trincar e cortes surgiram em sua armadura.  

    — Onde está sua bravura de agora a pouco? Mal tratando o seu espirito contratado dessa forma? Que péssima invocadora! — provocou Kant.  

    — É… você está certo… — A mulher que permanecia irredutível, balbuciou. — Como uma invocadora, eu não deveria deixar Moltres se ferir a troco de nada.  

    — Então…  

    — Moltres, retorne!   

    O cavaleiro encarou sua contratante, como se não quisesse deixá-la se ferir.  

    — Está tudo bem… eu não deveria esconder minhas cartas nesse duelo — sussurrou.  

    Aceitando o pedido, a invocação se desfez, liberando os ventos que estavam sendo segurados pelo corpo do cavaleiro. As laminas cortantes atingiam a pele coberta de madeira da mulher, cortando lascas e arrancando sangue do seu corpo.  

    — Finalmente resolveu se render?  

    — Já não te disse… — mas seu rosto não expressava dor. — Somos Arcadianos, seguidores de Kali, Deusa da Batalha! Discípula de Muhali, Deus da Luta! UM PORCO DE IGNIS, SEGUIDOR DE UM COVARDE, NUNCA ENTENDERIA!  

    — Como ousa! — gritou Kant, perdendo a paciência. — Então pereça com sua arrogância inútil!   

    Lorena puxou rapidamente de sua pochete uma esfera vermelha maciça.  

    — Aquilo é… — notou Selene.  

    Também entendendo a situação, Kant colocou toda sua mana na magia.  

    — Venha até mim… — estendendo seu braço erguendo a esfera. — Guardião do fogo, Ogon!   

    Assim que gritou, um buraco se abriu no chão, grande o suficiente para uma pequena armada. Mas o que saiu de dentro, não foi nada pequeno. Uma mão gigante agarrou-se na borda, puxando o enorme corpo do golem para fora. A invocação gigantesca era feita de brasas incandescentes, aumentando drasticamente a temperatura da arena. A luz vermelha gerada pelo fogo do corpo de Ogon, na noite que já tomava conta de Anpýrgio, iluminava toda a arena.  

    — Um espírito de nível rei? — Observou Selene. — In…crível…  

    GASP  

    Lorena ajoelhou-se no chão, sangue jorrava pela sua boca.  

    — Achou mesmo que eu ficaria limitada a espíritos de nível Príncipe para sempre? — balbuciou a mulher. — Ainda que seja danoso para meu corpo…   

    — Acha mesmo que um simples golem vai mudar alguma coisa? — disseram ambos os clones em uníssono, aumentando o poder de Benevento.   

    Os ventos cortantes, no entanto, pareciam evitar o corpo do golem, desviando para os lados.  

    — O quê?  

    — Ciência básica… — Lorena, machucada, sorriu com o sangue escorrendo de seus lábios. — Ventos em áreas quentes tendem a subir… mesmo com toda a força de uma magia de 7 círculo… a temperatura do corpo de Ogon é bem amedrontadora…   

    O golem lentamente começou a caminhar em direção a Kant, seus passos chamuscavam o chão, deixando marcas de brasas por onde passavam.  

    — Droga! Se afaste, criatura imunda! — O homem tentava diversas vezes atingir o golem em movimento, mas seus próprios ataques desviavam de seu alvo.   

    “Eu ainda não tenho nem uma carga de blink… droga, droga, droga…”  

    Chegando próximo, Ogon levantou seu punho, pronto para destroçar o corpo de Kant.  

    — Eu me rendo! — gritou o homem. — Eu me rendo!  

    GASP   

    Mas antes que o golem pudesse atingir o seu alvo, seu gigantesco corpo desapareceu em um brilho vermelho. Sua invocadora imediatamente vomitou ainda mais sangue e desmaio em sua própria poça.  

    — Curandeiros, resgatem-na imediatamente! — Ordenou Téo.   

    A plateia, estupefata com tamanha demonstração de poder de ambos os lados, permanecia em choque.  

    — Com a rendição de Kant, da facção de Ignis, a vitória é de Lorena, da facção de Arcadia!   

    Até que o locutor anunciou o vencedor da última batalha do dia.  

    — Incrível!  

    — Como esperado do prodígio, Lorena, é claro que ela não perderia.  

    — Definitivamente a melhor luta até agora, realmente maravilhoso!  

    A plateia incendiou-se, indo à loucura com o final do duelo.  

    — Ela é perfeita! — Selene, na sala do grupo, também se emocionava. — Viu como Lorena não se rendeu? E o jeito dela falar, ela é incrivelmente maravilhosa!   

    — Essa foi por pouco… — comentou Matheus, suspirando. — Se Kant tivesse tentado um pouco mais, ela provavelmente não conseguiria manter a invocação por mais um minuto.  

    — Sim. Apesar de ser um prodígio, invocar um espírito de nível rei é extremamente taxativo, especialmente em um corpo não preparado — Afirmou Hans.  

    — É preocupante… — acrescentou Fynn.  

    — Preocupante? Mas vencemos… — questionou Selene.  

    — Vencemos… mas é curioso, não acha? — respondeu o líder.  

    — Curioso?  

    — Lorena é um prodígio conhecida em toda Anpýrgio — continuou. — Kant, por outro lado, é um desconhecido… mesmo assim foi uma batalha acirrada e ela venceu por pouco…  

    — Pensando por esse lado…  

    — Sim… todos nós sabemos que nossas facções não se dão muito bem… se existirem outros monstros com esse mesmo calibre, escondidos na facção de Ignis…   

    — Eles podem vir a se tornar um grande problema — acrescentou Gloria. — Falando em problema…  

    — O que houve com ele? — Perguntou Matheus.  

    Todos olharam para Li, que ainda não havia tirado os olhos da arena, de onde estavam retirando às pressas o corpo ferido de Lorena para levá-la a uma estação de tratamento.  

    — Ei, Jihan, você está bem? — Fynn se aproximou, colocando a mão em seu ombro; somente aí, o homem saiu do transe.  

    — Ah… sim… estou.  

    — O que houve?  

    — Nada, só estava pensando…  

    — Pensando? Parecia bem concentrado para quem estava apenas ‘pensando’  

    — É que… próximo do final da luta, Lorena estava disposta a sacrificar tudo para alcançar a vitória… literalmente tudo.  

    — Tudo? — perguntou Gloria. — Acho que se chegasse a esse ponto ela só desisti…  

    — Não… ela definitivamente manteria a invocação se Kant não tivesse desistido, tenho certeza disso. Isso poderia ter acabado numa situação bem pior do que a que de fato acabou.  

    — Entendi…   

    — Mas não é somente isso que eu estava observando… acho que aprendi bastante hoje. — Li levantou-se olhando para a equipe. Seus olhos emanavam um brilho de cor violeta. — Estou ansioso para as próximas lutas.  

    Em algum lugar do cerne dos seus amigos, um calafrio disparou em seus corpos. O homem a frente deles estava crescendo exponencialmente em tempo real. Enquanto falavam, o narrador anunciou as lutas do dia seguinte, revelando os nomes dos participantes.  

    Para a sorte do grupo, todos os oponentes um dos outros ainda eram pessoas desconhecidas. Para o azar dos mesmos, essa sorte não duraria tanto, visto que em breve, se continuassem ganhando, enfrentariam uns aos outros.   

    — Espero que mantenha essa mesma empolgação quando eu estiver acabando com sua raça — brincou Matheus.  

    Naquela noite, Li manteve-se no seu campo mental, estudando arduamente tudo que havia aprendido no dia.  

    Nota