Capítulo 89: Oitavas de Final
Memorias, memorias, memorias, tanto para pensar, tanto para se ouvir, tanto para se questionar… Mentes pensantes podem levar um só homem a loucura
O grito ~ O bibliotecário
— Você me parece bastante concentrado, garoto, o que aconteceu? — Perguntou Nasháh
Em seu plano mental, Li meditava de olhos fechados, revisando em sua cabeça todas as cenas que havia visto durante o dia, especialmente aquelas da última luta.
— Você deve ter visto.
— Hmpf, como se eu ficasse observando duelos entre seres tão inferiores.
— Está mentindo…
— Mentindo!?
— Consigo sentir seu interesse, especialmente no último duelo — disse Li. — Fato é que, quem quer que você seja, talentos geracionais chamam sua atenção.
— Tolice!
— Já disse, você não consegue mentir para mim.
— Ora… de qualquer forma, o que está tentando fazer? Achei que iria focar no nosso treinamento de sempre.
— Estou fazendo exatamente isso, mas tentando uma abordagem diferente.
— Diferente?
— Sim, sinto que consigo usar algo do que aprendi hoje para aperfeiçoar nosso truque, só não sei o que ainda…
— Não brinque tanto com o Álmos, garoto, é um tipo de mana que nem mesmo eu tenho total conhecimento sobre.
— Então, você estava assistindo…
— Estou falando sério, para fazer o que aquele homem fez hoje, você precisa treinar um bom tempo com uma instrução em mente…
A frente de Jihan, que estava sentado, subitamente uma forma etérea de um corpo humano piscou e rapidamente desapareceu, calando Nasháh.
“O potencial desse moleque é ainda maior do que pensei… ele está num processo de epifania?” Surpreendeu-se.
— O que acha? — Finalmente, abrindo seus olhos, Li olhou na direção de Nasháh. Suas pupilas dilatadas lembravam um homem alucinado, mas sua expressão passava ar de plenitude total. — Se você me instruir, posso fazer muito mais do que isso.
— Claro que pode, não existe ninguém que não melhore com minha tutela!
“Mas… está tudo bem mesmo, Li? …se continuar dessa forma, você será totalmente assimilado…” Pensou Nasháh, observando os fios de cabelo do mais jovem que, sem a consciência dele, se tornavam brancos. “Só espero que entenda que não é nada pessoal…”
— Não diga agora que você criou afeição pelo garoto… — uma voz rouca soou dentro da mente de Nasháh
— Não… não é isso… — respondeu a sua própria voz.
— Não esqueça o que você é… — disse outra voz.
— Eu…
— Só existe um motivo para você estar no controle… — falou outra voz mais suave.
— Sim…
— Pare de ajudar tanto o garoto… — ordenou uma voz mais velha.
— Não, continue ajudando-o com seu treinamento, um talento…
— Cale-se! — uma voz feminina gritou.
— Silencio. — Em meio a discussão, uma voz monstruosa e grave ecoou calmamente, calando a todos que berravam. — Continue o que está fazendo, Nasháh, estou entretido… só não esqueça quem nós somos.
— Sim, senhor…
O terceiro dia do Torneio Anual de Erebus foi um tanto quanto decepcionante para o público. Sem surpresas e sem batalhas acirradas, tudo correu relativamente bem, diferente do que a plateia queria. De uma forma ou de outra, todos estavam alinhados na mesma corrente de pensamento; o terceiro dia foi a calma antes da tempestade, afinal, o quarto dia era o dia mais aguardado do torneio até agora, as oitavas de finais.
— Bom dia a todos os espectadores! — Téo, o narrador, anunciava o início do quarto dia do torneio. — A fase que todos esperavam finalmente chegou! Não pensem que não notamos…
Enquanto falava, o telão flutuante brilhou novamente, revelando quatro fotos dispostas umas contra as outras; Irmin e Matheus, Li e Akemi.
— Os favoritos da plateia até agora, fadados a se enfrentarem já nas primeiras lutas das oitavas de final…
As fotos de Matheus e Irmin se estenderam, relevando informações sobre ambos. Téo, sabendo do que estava por vir, sorriu.
— De um lado, da facção de Arcádia e ex-integrante da famigerada Divisão de Extermínio de Demônios, Matheus Santos!
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Matheus estalou os lábios, indignado.
— Esses desgraçados fazem mesmo tudo pelo entretenimento, até descobriram informações de dentro da igreja…
A plateia, espantada pela revelação, cochichava entre si.
— Um ex integrante?
— Ele deve ter bastante experiencia de combate…
— Por que ele saiu? Achei que era extremamente difícil sair de uma divisão tão misteriosa da igreja…
— Esse torneio deve ser brincadeira de criança para ele…
— Será que vai ser uma batalha fácil?
Mas Téo, como um apresentador de muito calibre, não deixou a excitação se apagar.
— Sei muito bem o que estão pensando… mas não tirem conclusões precipitadas, pois o oponente da vez não é qualquer um!
Mais informações sobre Irmin foram relevadas.
— A pupila favorita de Geist, um dos únicos seres na história a dizerem ter potencial comparados com Brigida, Deusa da Sabedoria e da Forja! — Revelou Téo. — Com vocês, Irmin Lind!
— Eu sabia que tinha algo em especial nela além da força!
— Quem diria que ela seria discípula de alguém de tanto renome!
O gigante ao lado de Irmin bufou.
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—
Olhe só para eles, utilizando do nome do meu filho para aumentar o valor do confronto.
— Não ligue para isso — disse Irmin. — Não é como se tentássemos esconder esse fato.
— Hum… você está certa, mas, mudando de assunto, aquele homem não é o amigo de seu amigo?
— Sim, o que tem?
— Não… nada… — Vendo a indiferença na expressão da mulher, Gnibry deixou de lado sua pergunta.
— Não se preocupe, senhor — falou a gigante, confiante, indo em direção ao túnel que dava na arena. — Não vou perder aqui.
— Já disse que não precisa me chamar de senhor… boa sorte, garota.
Do outro lado dos corredores, Matheus, junto ao restante do grupo se despediam.
— Ela mudou bastante, mas posso lhe dizer o que sei dela se quiser, líder — disse Li.
— Não, seria injusto da minha parte pedir que me ajudasse numa luta contra uma amiga — falou Matheus. — Além do mais, mesmo que eu quisesse, não acho que você o faria, — sorriu.
— Boa sorte, líder — desejou Selene.
De todos ali, a conjuradora era quem mais ficava nervosa nas lutas de Irmin. Apesar de ninguém perguntar sobre, todos sabiam que havia algo entre as duas, afinal, sabiam que ambas vieram do mesmo teste, assim como Li, mas diferente do homem, ela não conseguia nem ao menos proferir uma palavra quando a gigante estava lutando.
— Obrigado, Selene — respondeu, se virando em direção ao túnel. — Obrigado a todos.
— É melhor não perder antes das quartas!
— Digo o mesmo para você!
Passando pelo túnel escuro, a luz do final ficava cada vez mais próxima, assim como o som da plateia. Matheus caminhava calmamente, sua lança em uma mão e seu escudo romano na outra. Subindo lentamente na arena, sua respiração pesava; seu oponente era forte. Ao terminar sua caminhada, visualizou a mulher enorme no outro lado, respirando profundamente, fechou os olhos e os sons que vinham dos espectadores cessaram.
— Então, você é o líder do grupo do Jihan, certo?
— Sim e você deve ser uma amiga mais antiga dele.
— De fato, podemos colocar dessa forma…
— Como ele era quando você o conheceu?
— Hum… não foi muito tempo antes de você… mas eu diria que ele é uma pessoa confiável.
— Acho que a resposta de todos que o conheceram é a mesma.
— Exceto a dele.
— Sim… tenho certeza de que sim.
— Me diga, Matheus…
Irmin tirou o seu gigantesco escudo das costas, um ainda maior do que o que foi quebrado no teste dos deuses e o posicionou ao seu lado. Tirando seu manto, revelou uma armadura pesada, como as muralhas de uma fortaleza; tipico de alguém da raça dos gigantes.
— Por quem você luta?
— É uma boa pergunta… vai saber… — O homem deu de ombros.
— Sua resolução é um pouco decepcionante, mas me deixa mais confiante.
— Deixa?
— Sim… aquele que não luta por alguém é fraco.
— Então…
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O capacete de Matheus montou-se em sua cabeça, cobrindo parcialmente seu rosto. A plateia se calou, calafrios subiram pela espinha dos integrantes do grupo.
— Veremos.
— Lutadores… COMECEM!
Imediatamente após o sinal, Irmin levantou seu escudo com toda a sua força, acertando-o no chão, o impacto reverberou por todo o chão da arena, chacoalhando a todos.
“Quanto poder!” Pensou Matheus.
A mulher não o deixou recuperar a postura e rapidamente avançou em sua direção com o escudo em mãos, como um touro enfurecido. O líder não vacilou, assim que a gigante se aproximou, acertou a ponta da lança no chão, criando uma onda de vento e atirando-o para cima. Liberando uma corrente de vento, Matheus girou no ar mirando a lança nas costas de Irmin, que imediatamente virou-se com o escudo e bloqueou o ataque, rebatendo o impacto e deslocando o homem a certa distância para trás.
— Prepare-se… esse é só o início.
— Não se preocupe, prometi para o Li que iria encontrá-lo nas quartas… não pretendo quebrar essa promessa.
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