Capítulo 90: Matheus vs. Irmin
Nunca subestime um oponente encurralado.
Sem Medo de Falhar ~ Sócrates
A vibração do impacto do escudo de Irmin ainda ecoava pelo ar, quando Matheus aterrissou suavemente, envolto pela magia de vento que o amparava. Erguendo seu escudo, assumiu uma postura defensiva enquanto avaliava rapidamente a situação.
Os olhos da mulher estavam calmos, sua armadura pesada resplandecia sob a luz do sol filtrada pela cúpula mágica da arena, e o gigantesco escudo que segurava parecia ser uma extensão natural de seu corpo. Novamente, a gigante posicionou o escudo a sua frente. Colocado daquela forma, o item defensivo lembrava uma muralha intransponível.
— Não quebre sua promessa, então — murmurou.
Matheus sorriu por trás do capacete, girando a sua lança no ar e batendo com sua haste no chão. Sem perder tempo, Irmin avançou novamente, desta vez mais calculada. Suas pernas pareciam se mover lentamente, mas cada movimento de pisar no chão quebrava o piso e a lançava em grandes distâncias; prova cabal de sua força física.
Empunhando seu escudo de forma a bloquear qualquer ângulo de ataque frontal, num movimento repentino, girou, usando o peso do escudo para criar uma poderosa onda de impacto.
Matheus saltou com pés leves, deixando o vento amplificar sua altura e deslocamento. Contudo, a gigante havia previsto o movimento. Seu escudo, aparentemente desajeitado por seu tamanho, se moveu com agilidade surpreendente, perseguindo Matheus no ar como uma muralha viva.
— Não vai escapar assim tão facilmente! — gritou Irmin.
— Nem estou tentando. — Matheus rebateu, canalizando sua magia de vento.
De sua lança, uma rajada cortante foi disparada diretamente contra sua oponente. A força do golpe fez os espectadores vibrarem, mas ela simplesmente plantou o escudo no chão, levantando uma parede de pedra e terra em frente ao escudo e bloqueando o ataque como se fosse um mero sopro.
“Onde está ela?” pensou o brasileiro.
Enquanto a poeira do confronto entre as duas manas se assentava, Irmin desapareceu de trás de seu escudo. Reaparecendo atrás de seu oponente. Matheus mal teve tempo de erguer seu escudo para bloquear o impacto avassalador que veio em seguida. O golpe de seu soco era tão forte que ele foi arremessado para trás, deslizando pela arena.
Mas, novamente, aproveitando de sua destreza e agilidade, o homem recuperou a postura.
— Parece que você não depende apenas de palavras — disse ele, seus olhos fixos nos movimentos de Irmin.
“Não vou conseguir vencer essa luta pela força… tenho que pensar em outra coisa.” Concluiu.
O líder da equipe de Jihan não era uma pessoa baixa e muito menos fraca, mas, em frente a muralha ambulante que utilizava de Magias de Jorden, utilizando mana do elemento terra, para se fortalecer, seu físico parecia com o de uma criança.
“Vamos tentar cansá-la primeiro…”
Pensando nisso, o homem começou a se movimentar em círculos, criando redemoinhos sutis de vento que levantavam a areia da arena.
— Uma tempestade? Achei que você tivesse algo mais criativo.
— Tempestades não são só vento, Irmin. Elas têm o poder de moldar o ambiente.
Assim que ele disse isso, uma rajada de vento carregou grãos de areia diretamente contra os olhos dela. A gigante ergueu o escudo para se proteger, mas Matheus já havia avançado, a lança direcionada a um ponto vulnerável em sua lateral.
O som do aço atingindo metal reverberou quando o escudo da mulher, movido por reflexos impecáveis, bloqueou o golpe. Mas o homem não recuou; ele aproveitou a proximidade para desferir um chute com o vento em forma de lâmina concentrado em seus pés contra o tornozelo dela.
Irmin cambaleou, mas usou o impacto para girar, transformando o movimento em um ataque lateral com o escudo. Matheus foi atingido de raspão, o suficiente para afastá-lo de perto dela.
— É tudo o que tem? — provocou. — Posso tomar centenas de golpes como esse, não fara diferença.
Matheus se levantou lentamente, limpando a poeira do rosto.
— Acho que ainda temos muito tempo para descobrir.
A luta continuou em um ritmo intenso, com golpes sendo trocados em alta velocidade. Cada ataque de Matheus era uma dança de precisão e agilidade, enquanto Irmin contra-atacava com a força de uma avalanche. O público estava hipnotizado. A cada movimento, a tensão na arena aumentava, e o ar parecia vibrar com a combinação de magias de vento e terra.
Era uma batalha entre dois polos opostos. O homem lutava utilizando de sua precisão, agilidade e pensamento tático. A mulher, no entanto, dependia exclusivamente de sua força física e resistência.
De repente, Matheus percebeu algo estranho. A terra ao redor dos pés da mulher começou a se mover sutilmente, como se estivesse viva.
“Está começando…”
Irmin estava sendo pressionada. Apesar de sua força, os ataques rápidos do lanceiro estavam testando sua tenacidade. O espírito dentro dela, estava despertando lentamente. Por mais que ela treinasse para controlá-lo, o contato com o espírito fez ele ficar mais ativo do que antigamente.
“Não… ainda não!” gritou internamente, forçando sua mente a manter o controle. “Ainda posso lutar por mim mesma, fique quieto!”
Mas Matheus não lhe deu trégua. Ele girou no ar novamente, utilizando o vento para desferir uma série de golpes rápidos com a lança. Um deles conseguiu passar pela defesa da mulher cortando superficialmente seu braço.
— Ah! — Ela grunhiu, pressionando o local do ferimento.
Matheus pousou a alguns metros de distância, observando-a atentamente.
— Está se distraindo em meio a luta? — Perguntou. O que houve com toda aquela conversa de mais cedo?
— Me desculpe por isso — respondeu ela, apertando o escudo com força.
As palavras pareciam ativar algo profundo dentro dela. O chão começou a tremer, e uma aura dourada envolvendo terra se formou ao redor de seu corpo.
“Certo… se quer participar, me dê um pouco de poder… mas não se atreva a tentar tomar o controle!” sussurrou.
Matheus sentiu imediatamente a mudança da atmosfera que cercava a arena; a aura que a gigante emanava mudou completamente. Irmin disparou com extrema rapidez em direção ao homem, sua movimentação mudou drasticamente, o chão parecia a empurrar na direção que queria.
O lanceiro canalizou sua magia de vento ao máximo, criando redemoinhos em torno de si que o impulsionavam em zigue zague pela arena. Mesmo assim, o escudo da gigante era um perigo constante, movendo-se com precisão sobrenatural.
A batalha se tornou um espetáculo de magia e habilidade. O homem lançava arduamente rajadas de vento cortante que colidiam com uma muralha de rochas conjuradas quase que de forma instantânea por Irmin. Os impactos criavam explosões que faziam a plateia vibrar.
Usando as ondas de choque para fechar a distância, desferiu um golpe devastador com o escudo. Matheus desviou por um fio, mas o impacto do golpe no chão o jogou para trás, fazendo-o rolar na areia, mas levantar rapidamente.
— Se isso é tudo que pode fazer, desista logo! — gritou Irmin, sua voz ecoando como trovões.
— Isso não é uma possibilidade! — Ele levantou-se novamente, ofegante, mas determinado.
Eles avançaram um contra o outro mais uma vez, suas magias colidindo no centro da arena. O vento e a terra se fundiram em um turbilhão de energia que cegou os espectadores por alguns segundos.
Quando a poeira baixou, os dois estavam de pé, respirando pesadamente.
— Ainda… não acabou — Matheus murmurou, embora seus movimentos estivessem mais lentos.
A poeira levantada pela colisão das magias começou a baixar, revelando um cenário devastado no centro da arena. O chão, antes sólido e bem definido, estava agora marcado por rachaduras profundas, como se a terra tivesse cedido diante da intensidade da luta. Matheus e Irmin estavam de pé, mas ambos demonstravam sinais claros de desgaste.
— Confesso… você é mais resistente do que eu esperava — disse o lanceiro, limpando o sangue que escorria do canto de sua boca.
A mulher respondeu com um meio sorriso, os olhos ainda brilhando com a energia do espírito de terra que agora a envolvia completamente.
— Você também…
— Você disse que luta por alguém, eu também tenho algo pelo que lutar. Batalhar pelo que acreditamos não é algo que permite a desistência — disse Matheus, ajustando a postura. — Isso vale tanto para você quanto para mim.
Irmin não respondeu de imediato. Ela respirou fundo, tentando estabilizar a magia que agora parecia vibrar dentro dela. O espírito estava cada vez mais presente, como um rugido distante, pedindo para assumir o controle.
“Ainda não” pensou, cerrando os punhos. “Eu posso vencê-lo por minha própria força.”
Matheus não perdeu tempo. Aproveitando a pausa de Irmin, ele começou a girar a lança no ar, criando pequenos vórtices de vento que aumentaram gradualmente em intensidade. A areia e os detritos da arena foram levantados novamente, girando ao redor da mulher, como um ciclone que a isolava.
— Um truque inteligente — comentou ela, erguendo o escudo à frente do rosto para evitar a poeira que se acumulava.
Mas Matheus não estava simplesmente atacando. Ele estava analisando. Cada movimento dela, cada fenda em sua armadura era registrada em sua mente como um general planejando um golpe final.
Com um movimento rápido, ele saltou para o alto, impulsionado por uma explosão de vento. Sua figura parecia uma flecha rasgando o céu da arena, e a lança brilhou com uma intensidade esverdeada enquanto acumulava energia.
— Kazeha de 5º Círculo! Vendaval Dilacerante! — gritou, lançando-se em direção a sua oponente com uma velocidade incrível.
Irmin, percebendo o perigo, reagiu instintivamente. O escudo dela, envolto pela aura dourada de sua magia de terra, subiu para bloquear o golpe. O impacto foi ensurdecedor, criando uma onda de choque que fez os espectadores se segurarem em seus assentos.
Por um breve momento, parecia que a lança de Matheus poderia perfurar o escudo gigantesco. A força de um Kazeha de 5º círculo era imensa para esse nível de competição, e o vento ao redor parecia sibilar em protesto, tentando penetrar a barreira de terra.
Mas a gigante rugiu, canalizando toda a sua força e magia.
— Jorden de 5º círculo! Jordens Hjarta! (Coração da Terra)
A aura dourada ao redor dela pulsou, e o escudo não apenas resistiu, mas também devolveu a força do impacto, lançando Matheus para trás como um boneco de pano. Ele atingiu o chão com força, quicando vários metros antes de parar.
— Matheus!
— Líder!
O grupo estava atordoado pela cena do confiável líder sendo atirado daquela forma brutal, mas mesmo assim, a dor que estava sentindo penetrar o seu corpo não foi o suficiente para segura-lo no chão. Imediatamente o homem se levantou. Sangue escorria pelo seu pescoço, mas, felizmente, o seu capacete parecia ter absorvido parte do impacto em sua cabeça.
Irmin manteve sua posição, respirando pesadamente.
— Você não vai atravessar este escudo… enquanto eu estiver de pé.
TSK
“O que eu faço…” pensou. “Se continuar dessa forma não vou ga… não… você sabe muito bem o que tem que fazer”
Girando a lança, criou outra rajada de vento para ganhar tempo, mas, antes que pudesse formular sua próxima estratégia, sentiu o chão tremer novamente. Dessa vez, era diferente. Não era apenas o peso dos passos, ou a força de sua magia… era algo maior.
Os olhos de Irmin se arregalaram, e ela caiu de joelhos, segurando o escudo com força.
— Não… ainda não! — ela gritou, lutando contra a força interna que ameaçava dominá-la.
Lentamente, a terra, areia e pedra do chão começou a se mover em sua direção subindo em sua pele, criando uma casca grossa que cobria seu corpo. Após alguns segundos, uma nova forma havia tomado conta da mulher.
A plateia ficou em silêncio, chocada com a visão.
— Irmin… — Selene, que estava na sala do grupo, juntou suas mãos, preocupada.
— Isso… isso é um espírito? — alguém murmurou nas arquibancadas.
— Que monstro bizarro… ela pode realmente controlar isso sozinha? — disse outro.
Irmin levantou-se lentamente, os olhos agora brilhando em um dourado intenso. Sua voz, quando falou, parecia mesclar-se à do espírito.
— Me… desculpe…
Matheus apertou a lança com força, seu coração batendo descontroladamente.
O espírito de terra ampliava cada movimento de Irmin. Ao avançar, parecia que a própria arena tremia com seus passos. O escudo, agora coberto por uma camada extra de rocha viva, desferiu um golpe contra Matheus que o fez ser jogado para o alto como uma folha ao vento e quebrou sua lança em duas.
— Ainda não!
No ar, ele girou, canalizando sua magia de vento.
— Kazeha de 5º círculo, Fúria dos Céus!
Dezenas de lanças espirais formaram-se ao redor do homem no ar, girando em alta intensidade e disparando na gigante coberta pelo espírito. O impacto foi monumental. A colisão entre o vento e a terra criou uma explosão que engoliu ambos os lutadores, fazendo plateia suspirar em choque
O choque, no entanto, foi ainda maior, quando perceberam que a mulher permanecia imóvel, apenas com rachaduras mínimas em sua armadura de terra.
— Está prestando atenção… Li!? — Matheus gritou em meio ao ar.
“Mesmo que eu não possa ganhar…”
— Kazeha de 6º Círculo!
“Eu não estou lutando só por mim!”
— Elísio!
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