Índice de Capítulo

     Até mesmo um rato em desespero por uma saída morde, mas você deveria ver o que um coração é capaz de fazer.  

    Terreno Fértil ~ Nitocris  

    — Não vai dizer nada?   

    Irmin permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de responder.  

    — Eu… não sei… o que dizer — balbuciou.  

    — Não sabe? Não tem nada para dizer ou simplesmente não teve tempo para pensar?   

    — Não pensei ainda ne…  

    — Então eu era a única realmente pensando sobre isso? — questionou a menina. — Talvez você tenha se divertido demais com seus novos amigos que nem pensava muito sobre como eu me sentia  

    — Selene, sabe que não é assim — retrucou Irmin.  

    — Sei? O que eu sei? — Indignou-se. — Digo, fiquei esse tempo todo pensando nas milhares de coisas que eu queria te dizer, nas milhares de coisas que deixei entalar em minha garganta, que prendi no fundo do meu coração e para quê? Você não se importa!   

    — Eu me importo!   

    — Então diga alguma coisa! Não é possível que não tem nada para me fa…  

    — O que você quer ouvir? Que eu me arrependo? Por que a resposta é não! — disse Irmin. — Que eu teria ficado se pudesse? É claro que eu teria! O que você quer ouvir!?  

    — Por quê!… por que você não me disse nada… por que você foi embora!? Achou que eu não entenderia?   

    — Eu… achei que você não me deixaria ir…  

    — É logico que eu não te deixaria ir, mas você teria ido mesmo assim! — falou Selene. — Não te deixei ir de forma alguma, mas isso não teria te impediu, Irmin!  

    — VOCÊ ESTÁ CERTA!  

    O grito da gigante a calou.  

    — Sim… você está certa, eu teria partido de uma forma ou de outra… mas se eu tivesse te contado… se eu tivesse aberto meu coração depois de fechá-lo tão violentamente… não sei se eu teria forças para continuar longe…  

    — Você partiu meu coração… eu podia dormir tranquila, pois sempre sabia que tinha alguém para cobrir as minhas costas e esse alguém simplesmente me abandonou… como acha que me sentiria depois disso.  

    — Não foi fácil para mim também…  

    — Mas foi uma decisão que você mesmo tomou…  

    — Ora, não me venha com essa! — Retrucou Irmin. — Não aja como se fosse inocente, como se eu não tivesse motivos, você mentiu para mim a minha vida inteira!   

    — Fiz o que fiz para te proteger…  

    — Me proteger de quê? E as outras pessoas? — Questionou. — Elas não mereciam ser protegidas!? O que te dá o direito de decidir isso! De tomar essas decisões egoístas!  

    — Egoístas!?   

    — Sim, egoístas!   

    — Olha só ela, se fazendo de vítima de novo!   

    — De vítima!? — embasbacada, Irmin piscou várias vezes seus olhos. — Como ousa falar isso!   

    — É você que está jogando a culpa em mim de novo!   

    — A culpa é…  

    A mulher se segurou por um instante, vendo que estava apontando o dedo na cara da outra.   

    Argh, estou muito cansada para isso.   

    — É… talvez eu deva ir embora… — Selene se levantou, indo em direção a porta.  

    — Espere…  

    A conjuradora não parou na primeira vez.  

    — Espere!   

    — O que você quer?  

    — Só… pode voltar aqui?   

    A passos lentos, ela retornou para perto da cama.  

    — Pode se sentar, por favor?   

    Respirando fundo, Selene se sentou.  

    — Podemos começar de novo?  

    De braços cruzados e fazendo beiço, a mulher se recusou a olhar nos olhos da gigante, mas também não se levantou.  

    — Sinto muito… não queria ir embora daquele jeito, mas não conseguiria fazer de outra forma.  

    — Porque você é fraca.  

    — Sim, sou fraca e uma covarde. — Irmin não discordou, apesar do tom com que a outra falou. — Os mesmos motivos que não consegui dizer o que pretendia fazer foram os que me levaram a ir embora. Eu simplesmente não suportava ser mais assim.  

    — Você poderia mudar, mesmo do meu lado.  

    — Sabe que não…   

    — Por que não?  

    — Porque eu não tinha motivos para isso… — confessou. — Você sempre foi forte e quando o Breno se foi… quando ele se foi, você suportou isso por nós duas.  

    Selene se calou por um instante.  

    — Eu também tenho que pedir desculpas… por ter escondido a verdade de você…   

    — Por quê?  

    — Eu… você era tão doce que era um privilégio estar perto de você — disse Selene. — O mundo para nos sempre foi tão sujo, nojento e feio… e você era tão doce… — gaguejou. — Não queria deixá-lo te contaminar…  

     Irmin esticou a mão e a colocou próximo à bochecha dela.  

    — Você era uma garota, se engasgando no sofrimento de uma mulher.  

    — Eu sou durona — ela disse, fingindo não estar chorando. 

    — Sim, você é — concordou, acenando com a cabeça.  

    — Consigo tomar conta de mim mesma — ela continuou.  

    — Sempre tomou, ainda toma… sempre tomara… eu só tomei a decisão de me juntar… agora podemos tomar conta uma da outra.  

    — Mas… — lagrimas começaram a escorrer no rosto de Selene. — Você vai embora de novo… vai me deixar sozinha de novo!   

    — Eu vou…  

    — Por que… por que você vai me deixar sozinha, eu sinto tanto a sua falta… — choramingou, segurando a mão enorme com as suas duas. 

    — Eu também sinto a sua…  

    — Então, por que…  

    — Porque eu te amo.  

    Selene travou por um instante, até seu choro pareceu cessar, Irmin falou sem parar.  

    — Eu amo seu sorriso, amo seu senso de humor, seu jeito, seus trejeitos, formas de se comportar, gostos, tudo!  

    — Irmin…  

    — Não diga nada… por favor, não diga nada.  

    Selene a olhou, o rosto da gigante parecia determinado.  

    — Vou embora, vou me tornar mais forte, mais confiável, uma pessoa digna de estar ao seu lado… então, voltarei e só aí ouvirei sua resposta… então, por favor, independente do que quer dizer, pode esperar até lá?  

    — Tudo bem… — sussurrou. — Eu vou.  

    BAM  

    — Abram alas!   

    Subitamente um grupo de curandeiros passou carregando uma maca.  

    — O paciente está em estado grave, rápido.   

    Selene reconheceu imediatamente o ferido.   


    Mais cedo, na arena, Fynn enfrentava uma enorme montanha. Um bestial da linhagem dos reis, do tamanho de um urso, com uma juba de leão e presas de dente de sabre.  

    GASP COF COF  

    — O que foi? Já está cansado? — provocou Gundogam.  

    — Bestial desgraçado… você é mais durão do que eu pensava.  

    De um lado, o homem estava cheio de hematomas, seu mullet estava completamente bagunçado e sua respiração pesada. Seus olhos azuis que geralmente focavam na diversão e no momento estavam repletos de seriedade.   

    — Hahaha! — O leão riu. — Não deveria ser surpresa alguma, você não está lutando contra qualquer um afinal.   

    — Droga, você sempre fala tanto assim?  

    — Estou te dando um tempo para respirar, deveria me agradecer…  

    TSK   

    Fynn avançou com tudo na velocidade de um raio.  

    — Strale de quarto círculo, Inercia Trovejante!  

    E, somente quando ele parou em frente a besta, o trovão verdadeiro disparou do ponto inicial até o ponto onde ele estava, acertando com tudo o bestial e empurrando-o dois metros para trás.  

    — Acabou? — perguntou, indiferente ao ataque. — E eu achando que o assassino de Amarílis seria um adversário à altura… acho que você só serve para matar aldeões inocen…  

    — Ei, gatinho de merda… — Fynn murmurou com um tom ameaçador. — É melhor calar essa boca imunda, antes que eu resolva acabar com a linhagem real aqui mesmo.  

    — É… e como exatamente você planeja fazer isso? — debochou Gundogam. — Ataques de quarto círculo não podem ferir a minha pele e esse tipo de mana chamada Strale também afeta o seu portador… você pode ser resistente, mas até mesmo seu corpo tem limites. Do jeito que está indo, vai só gastar energia…  

    — Quem liga?   

    Fynn riu. O tempo que estava ensolarado começou a fechar e nuvens negras tomaram o céu.  

    — Se quarto círculo não funciona, isso não quer dizer que tenho que tentar algo mais forte?   

    — Você está louco!? Vai acabar se matando!   

    — E daí?   

    KABRUM  

    — Quem liga se o Assassino de Amarílis continua vivo ou não?  

    KABRUM  

    — Mas… acredito que o caso seja diferente para um bestial de linhagem real.  

    — Insano…  

    — Agora… venha… Gundogam!   


       Bom dia, galera, aqui quem fala é o Dealer.  

    O Capítulo 99 marca o nosso capítulo 100 não oficial, mas ainda, sim, é um momento muito especial. O próximo capítulo será realmente o nosso capítulo 100 oficialmente e para marcar esse momento, gostaria de perguntar para vocês, o que vocês estão achando dá obra?   

    Foi uma longa jornada até aqui e ainda temos uma longa jornada pela frente. O segundo arco de Sirius está chegando próximo da reta final e os próximos arcos moldarão realmente a história e o mundo de Erebus. Gostaria muito de ouvir a opinião de todos os meus leitores sobre a obra, receber críticas e ‘dicas’ sobre o que vocês acham que pode melhorar em Sirius. Gostaria também de avisar que o capítulo 100 será um de memórias! Não se desanimem, os últimos 2 foram contando um pouco sobre a backstory de Fynn, e esse 100 vai finalizá-la. Espero que gostem, e, como sempre,  

    Obrigado por ler.  

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