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                No caso do corpo humano, a mana circula por 12 pontos através de canais que percorrem o corpo inteiro. Nas mãos, pés, joelhos, bacia, plexo solar, peito e, por fim, na cabeça. À medida que o cultivo acontece, a circulação é melhorada, no início pela velocidade em que ela passa pelos canais e, mais tarde, pelo crescimento das vias. Esse crescimento é limitado apenas pelo talento de cada indivíduo. O processo deve ser feito lenta e continuamente, pois seu interrompimento brusco, causa um refluxo da mana que agride fatalmente o corpo.

                “Basicamente, cultivar é absorver a mana do mundo para seu interior? Deve ser disso que o Michael estava falando. Então foi como se eu tivesse saltado todo o processo? Não é tão engraçado mais. Se interromper pode causar um dano fatal, só os deuses sabem como eu sobrevivi.” Li sorriu de nervoso.

                Após algum tempo de leitura, Li já tinha descoberto em parte como funcionava a absorção de mana entre as 4 maiores raças. Os humanos a absorviam por meio do cultivo e a transportavam pelo corpo por pontos vitais. Os elfos, seres abençoados pela mana, podiam manipulá-la à vontade, como um 6º sentido de seus corpos. Os anões eram especialistas em fortificar o próprio corpo e conseguiam usar a mana externamente com facilidade, porém tinham dificuldade com circulação interna. Já os demônios eram seres puramente feitos de magia, sendo assim, não precisavam de nenhum método, seu talento era definido unicamente por quão puro era o sangue demoníaco correndo em suas veias.

                — Já deve estar tarde… — Olhando para o relógio, Li gritou. — TRÊS DA MANHA?!

                Correndo em direção à plataforma, teleportou para longe dali. Assim que voltou ao Plaza, foi para o seu quarto na intenção de dormir as últimas horas que restavam da noite, adormecendo por pouco mais de duas horas.

                — ACORDE, SEU PREGUIÇOSO! — Uma voz feminina cortou o silêncio do quarto. — VOCÊ ESTÁ ATRASADO! — A mulher atirou Li para fora da cama. Assustado e sem entender nada, Jihan se levantou. Amelie estava o encarando.

                — Como você entrou no meu quarto?! — Ainda atordoado, perguntou.

                — Fácil, eu pedi a chave e um loiro me entregou. Esqueci o nome dele, um tal de Michel ou Micael. — Amelie riu.

                “Esse desgraçado! Eu ainda vou matá-lo.” Imaginando a cara de deboche do homem, ele o amaldiçoou.

                — De qualquer forma, coloque isso e me siga, eu vou mostrar para você o verdadeiro significado de dor! — Atirando bermudas em seu rosto, ela saiu pela porta.

    — Ela é louca — sussurrou Jihan.

                — Eu consigo te ouvir!

                Após colocar as bermudas, Li percebeu o quão colados eles eram. “Que vestimenta esquisita, qual o sentido disso?”. Seguindo para fora, encontrou com Amelie.

                — Ficaram bem em você, vamos já está tarde — disse a mulher.

                Seguindo-a, Li observou que ainda estava escuro.

                — Com licença, senhora…

                — Senhorita!

                — Sim, senhorita, pode me dizer que horas são?

                — A hora perfeita para te colocar para suar, são 5:30 da manhã — respondeu Amelie.

                Jihan se assustou, mas Amelie não tinha nenhuma intenção de deixá-lo ir, arrastando-o para dentro da academia. Ao passar pela porta, viu que Polnareff estava na portaria e, enquanto olhava para o homem, implorou com os olhos para que ele o salvasse, mas recebeu apenas um gesto de “amém”, como se o personal tivesse consciência do suplício que estaria por vir. Li engoliu a seco.

                — Certo! Comecemos alongando. Não queremos que você se machuque — disse Amelie.

                Após meia hora de exercícios, a tensão sobre os ombros de Jihan se dissolveu. “Talvez não seja tão ruim assim”.

                — Pronto, agora que preparamos seu corpo, vamos seguir para o cronograma de hoje, costas e pernas!

                — Por que pernas? — indagou Li. Seu treino incluía costas, mas ele geralmente não focava nos membros inferiores.

                — Você realmente acha que vai sobreviver fora daqui utilizando apenas os punhos? Vai sonhando, garoto.

                — Mas você diss-

                — Sei o que eu disse, mas você não entendeu. Se quer lutar sem utilizar nenhuma arma, vai precisar fazer do seu corpo a sua própria arma — explicou Amelie — logo, vai ter que aprender a usar essas pernas.

                Jihan se lembrou de quando lutou contra Jian Hong no passado. Naquele momento, ele utilizou de um chute para surpreender o gigante. Todavia, o movimento fora tão instintivo que nem o próprio Li havia entendido. O garoto apenas sentiu que ganharia se fizesse aquilo.

                — Escuta, garoto, vou exemplificar para você poder entender melhor. Numa luta entre um bom pugilista e um que faz tudo mediano, quem você acha que sairia por cima? — perguntou.

                — Acho que aquele que masteriza uma arte de luta já está acima de quem faz tudo mais ou menos — respondeu Jihan.

                — Você não está totalmente errado, mas você não é mestre de absolutamente nada — retrucou. — Isso não é ruim, pois quer dizer que não está preso a nenhum método e, por isso, você ainda pode ser moldado e focar desde o início em seu corpo inteiro. Tornará seu caminho mais difícil, mas também te recompensará muito mais à medida que evolui.

                Li ficou pensativo. Ela não estava errada, mas mudar o seu estilo de luta após tanto anos poderia causar um resultado inverso do que ele almejava.

                — Pode me garantir que vou melhorar? — indagou Jihan.

                — Posso te dizer que você vai ficar mais fraco do que está agora — declarou Amelie e após uma pequena pausa continuou: — Entretanto, se seguir o que estou te falando, posso te dar certeza que vai ultrapassar dezenas de vezes a pessoa que é nesse momento.

                — Vamos, então — concordou Li. — Quero ver até onde consigo chegar.

                — É assim que se fala, garoto!

                Cerca de duas horas mais tarde, Polnareff estava passando na frente da porta onde ficava o salão com o ringue.

                — LEVANTE-SE GAROTO, PARE DE FAZER CORPO MOLE! — A voz de Amelie atravessava as paredes.

                — Amitabha, garoto. — O personal juntou as mãos e se curvou perante a porta. Logo depois seguiu o seu curso.

                Já no ringue, um garoto estava extremamente ofegante no chão.

                — Se-Senhorita, eu não aguento mais, por favor, vamos dar uma pausa! — implorou Li.

                — Vai ter bastante tempo para pausas quando eu te liberar! Agora, levante-se!

                Após diversos exercícios com carga pesada, Amelie resolveu que iria testar o limite do corpo do garoto. De acordo com ela mesma, a gigantesca resistência dele não condiziam com o resto de suas habilidades.

                Li, apoiando-se em suas mãos, levantou. Ele não estava usando luvas. Para adaptar ao novo estilo, tudo que cobria suas mãos e joelhos eram faixas, que, no momento, estavam cobertas de suor e sangue.

                “É realmente impressionante o quanto ele consegue aguentar. Eu não sei ao certo o motivo. Quem sabe eu não o pergunte isso algum dia. Até lá, esgotarei até a última gota de energia desse garoto.”

                — Perfeito. Você está livre agora, pode ir.

                Os olhos de Li se iluminaram e, agradecendo a ela, se arrastou até a porta.

                — Ah, antes de sair, eu tenho um conselho para você — disse Amelie — aproveite o lugar onde está agora. Existem muitas oportunidades aqui que você não terá futuramente, e a maior delas é a biblioteca. Você deveria checar sobre os livros de artes marciais, eu não posso escolher por você, e tem uma variedade sem igual naquelas estantes.

                “Ela está falando daqueles livros que vi ontem? Bem, se alguém tão forte quanto ela está me dizendo isso, talvez eu deva dar uma olhada.”

                — Obrigado, Diretora — agradeceu, se curvando.

                — Pode me chamar de Amelie, garoto. Boa sorte.

                Jihan então saiu pela porta. Após tomar uma ducha, ao mexer nas coisas pelo quarto, achou uma pequena caixa. “São aquelas pílulas de Sócrates que o anão me vendeu. Ele não me explicou muito bem o efeito delas, mas com certeza deve ter algo relacionado a treinamento.” O garoto, então, engoliu uma das pílulas. Subitamente, uma onda de energia correu pelo seu corpo, pouco a pouco seu cansaço se esvaiu e seus ferimentos fecharam.

                — Incrível! Eu me sinto novo — Li comemorou. — Eu gostaria realmente de tentar uma missão agora, mas com a mudança no meu estilo de luta duvido que consiga derrotar alguma coisa forte. — Um flash do troll passou pela cabeça de Jihan e um calafrio subiu pela sua espinha. — Acho melhor eu ir para a biblioteca, talvez procurar um daqueles livros que a Amelie falou.

                Li concentrou-se, ele não podia abocanhar mais do que poderia engolir. Tinha que manter o foco no progresso. Deixando a caixa de lado, ele colocou roupas confortáveis, pegou os óculos que Hakim o emprestou e seguiu para a biblioteca. 

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