Índice de Capítulo

    PFFF 

    Por um instante, Li falhou em segurar o riso. 

    — Maria… não chame seu irmãozão assim… 

    — Mas a mamãe sempre te chama assim! 

    STOMP STOMP STOMP  

    Passos pesados caminham em direção a porta.  

    Percebendo quem estava vindo, Matheus para, respira fundo e abre os braços. 

    BAM  

    Um soco vindo de dentro da casa acerta o seu rosto em cheio, derrubando-o. 

    — É muita cara de pau sua aparecer aqui! Achei que tinha esquecido da sua família! 

    Uma mulher de cabelo loiro, cacheado, tronco largo e braços fortes passa a frente da criança. 

    Sentado no chão, com a mão em sua bochecha, Matheus pergunta: 

    — A senhora realmente precisa fazer isso toda vez? 

    — AHN!? Se meu filho idiota viesse ver a mãe dele mais vezes, eu não precisaria reprimi-lo toda vez que ele viesse!  

    — Mas… 

    — Não responda a sua mãe! 

    — Certo… 

    De trás da mulher, Maria espiou. 

    — Irmãozão, a mamãe está fazendo almoço, você vai almoçar com a gente? 

    — Na verdade… — Matheus ia negar, mas no momento em que ele começou a falar, sua mãe olhou para ele com uma cara que dizia “você só tem uma resposta!” 

    — Sim! Eu vim aqui almoçar com vocês! 

    — Humpf, é bom mesmo. 

    A moça, então, se virou para Li e Mérida.  

    — E vocês?  

    Li virou-se para Matheus, que fez uma confirmação, acenando com a cabeça. 

    — Somos amigos do seu filho… 

    Mérida, que estava logo atrás de Jihan, não pronunciou uma palavra. A mulher, no entanto, olhou no rosto dela. A expressão opaca da que se escondia atrás do homem, deve ter lhe dito alguma coisa, pois ela não fez mais perguntas. 

    — Se são amigos do meu filho, são sempre bem-vindos. Entrem vocês dois. 

                                                                                                         

    Era uma casa simples. Como do lado de fora, tudo era majoritariamente de madeira. Um sofá simples perto da lareira da sala para tempos frios. O fogão a lenha estava aceso, fervendo uma panela de barro. O cheiro de sopa dominava todo o ambiente. 

    — É época de colheita, espero que gostem, coloquei um pouco de carne de sol para dar mais sabor. 

    Após ter andado tanto, o estomago de Li já roncava novamente. Matheus, que havia acordado mais cedo, estava com mais fome ainda. 

    — Mãe… 

    — Não se preocupe, estou economizando, mas não é sempre que você vem aqui. 

    Ele não retrucou. 

    Após comerem, a mulher pediu para que Maria fizesse companhia para Mérida, enquanto ela conversava com os dois. 

    — Bem, vamos começar novamente, meu nome é Laura, sou a mãe desse cabeça oca. 

    — Muito prazer, senhora, meu nome é Li Jihan… 

    — Não precisa me chamar de senhora, estou no auge dos meus 40 anos hahaha. Então… — Se virou para Matheus. — Qual é o real motivo de vocês virem até aqui? 

    Li olha para Mérida, brincando com Maria, era a primeira vez que ela estava sorrindo desde que se encontraram.  

                                                                                                         

    TS… TS… TS 

    — Então você acredita que ela possa estar amaldiçoada? — perguntou Laura, enquanto acendia um cigarro. 

    — Sim…  

    — Meu filho já te explicou o porquê ele te trouxe aqui?  

    Li negou, balançando a cabeça. 

    — Antes de ter minha filha, eu era uma sacerdotisa de Yan, o deus primordial da vida, com certeza já deve ter ouvido falar dele. 

    Pensando por um segundo, lembrou-se de ter lido em um dos livros da biblioteca. 

    — O ser que originou esse mundo, céu, terra, as estrelas e até a mana elemental. 

    — Exatamente… bem, ele também originou a igreja da vida, uma instituição que defende a mana como um presente do deus supremo… você sabia que existem alguns seres que nascem com constituições especiais?  

    — Não acho que tenha ouvido falar sobre… 

    — Pois bem, “a mana, como todo outro ser vivo, possui vida e consciência…” é o que os elfos pregam como verdade… eu sinceramente concordo com eles… dessa forma…  

     Laura estendeu a mão, um brilho, diferente da mana branca de Jihan, surgiu na palma de sua mão. Era dourado, não teria outra palavra para descrevê-lo, a não ser divino. 

    — Algumas pessoas nascem com o dom de alterar a propriedade desse ser vivo chamado mana; no meu caso, eu nasci com afinidade a mais pura e divina delas… como a igreja gosta de chamar, a Mana de Yan. 

    — Agora… — Laura fechou a palma, fazendo com que o brilho sumisse. — O que pretende fazer se estiver certo?  

    — Ahn… como assim? — perguntou Li, confuso. 

    — Eu quis dizer, garoto, o que você sabe sobre maldições?  

    Jihan foi pego de surpresa pela pergunta, ele de fato não havia realmente estudado a fundo, por isso, não sabia praticamente nada sobre o que estava lidando. 

    — Mesmo assim, eu quero tentar ajudá-la… 

    — Sim, sim… eu consigo ver que você tem vontade… me deixe te explicar uma coisa primeiro, garoto…  

    Após um trago no cigarro, Maria prosseguiu.  

    — Se a mana branca tem como polo oposto a mana obscura, a divina tem como oposição a sombria… uma espécie extremamente violenta e corrupta… eu honestamente não sei se consigo chamá-la de viva… 

    Maria colocou a mão no queixo, pensando alguns segundos. 

    — Basicamente, assim como as manas elementais têm variações, a mana branca e obscura também tem, se a Mana de Yan origina a vida, a Mana Sombria a suga, e, algumas vezes… ela se alimenta da dor e do sofrimento… — concluiu enquanto apontava para Mérida. 

    — Maldições são muito mais perigosas do que você pensa. Nesse momento, ela pode estar dormente, mas dependendo do que fizermos, pode ter o efeito contrário e imediatamente consumir a vida do hospedeiro… você entende isso? Está preparado para tal situação?  

    Li engoliu a seco. Talvez ele não estivesse preparado para assumir tamanha responsabilidade por outra pessoa. 

    — Eu estou. — Mérida, que havia se aproximado da cozinha, declarou confiantemente.  

    — Me perdoe, mas eu não acho que a senhora está apta a tomar essa decisão por conta própria… — rebateu Laura. 

    — Então quem? …meu filho ainda pode estar vivo! — retrucou — você também é mãe… se eu não puder tomar essa decisão, quem vai tomar por mim?  

    Mérida ajoelhou-se com as duas pernas e se curvou. 

    — Por favor! De uma mãe para outra, se você estivesse no meu lugar, eu tenho certeza de que também daria a vida pelas suas crianças!  

    Lagrimas rolaram pelo rosto colado ao chão. 

    — Eu te imploro, todos que poderiam me ajudar já me abandonaram! Moça… me ajude a salvar meu filho! Me ajuda a salvar meu único filho! 

    — Mãe… — Matheus complementou. 

    — ARHG, tá! Mas não diga que eu não avisei!  

    — Obrigado… — disse Li. 

    — Não me agradeça ainda, garoto. Ainda não. 

                                                                                                         

    Concordando com o pedido, Laura pediu para que eles se dirigissem a um quarto nos fundos.  

    Diferente do resto da casa, o quarto estava completamente vazio, exceto por um pequeno altar de mármore na parede. 

    No topo do altar, uma espada negra de 7 pontas perfurava um coração dourado. 

    — São simbolismos, a espada negra, a mesma que matou Yan e partiu Kun ao meio. Um conto de fadas se me perguntar… — explicou Laura. — Venha. 

    A mulher direcionou Mérida até os pés do altar. Viradas uma para outra, Laura respirou fundo. 

    — Se quiser desistir, essa é a hora… quando começar, não vou poder parar. 

    — Por favor, prossiga…  

    — Como quiser… se serve de algo… eu faria o mesmo. 

    Estendendo as mãos, ela começou a se concentrar. Lentamente, a mana começou a circular ao redor do corpo de Laura. O brilho passava uma sensação aconchegante, suave. 

    “Não tem reação… será que ele estava errado?” pensou Matheus. 

    URGH 

    Subitamente, Mérida soltou um gemido de dor. Laura imediatamente prosseguiu, concentrando a mana que circulava ao seu redor, numa esfera condensada, e empurrando-a contra a senhora. 

    AARGH 

    A mana que transmitia uma sensação tão dócil, parecia machucá-la.  

    Li instintivamente deu um passo para frente, mas parou com Matheus colocando a mão em seu ombro. 

    — Está tudo bem mesmo? — perguntou Jihan. 

    — Só confie nela.  

    Em meio ao brilho dourado, uma grande boca feita de sombras surgiu do peito da mulher. 

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA 

    Os dois homens imediatamente levaram as mãos aos ouvidos 

    A boca gritava num tom áspero e agoniante, tentando com toda força devorar a luz que a machucava. 

    — CELEMODEDI QUI HEBOTE ISSI CURPU VUCI ISTE LUNGI DI SAE UROGIM. — Runas surgiram no ar, ao mesmo tempo, em que Laura começou a proclamá-las. —  EBENDUNI ISTE ELME DISGREÇEDE VULTI PERE E ISCARODEO! 

    A esfera condensada brilhou ainda mais forte, consumindo vorazmente as sombras. No momento em que a maldição sumiu, a luz extinguiu-se e ambas as mulheres caíram no chão. 

    Matheus rapidamente correu até sua mãe, enquanto Li foi até Mérida. 

    — Ela está inconsciente — disse Laura, ofegante. — A maldição estava usando a força vital dela para ficar mais forte, eu não sei se consegui eliminar tudo. 

    — Nem mesmo você…? — Matheus perguntou em descrença. 

    — É bem mais forte do que eu imaginei… a mana sombria era bem mais densa… pobre mulher… ela deveria estar em extremo sofrimento. 

    — O que fazemos agora? — perguntou Li. 

    Apoiando-se em Matheus para se sentar, Laura falou: 

    — Aquele era só um resquício… a origem deve estar no vilarejo de onde ela veio, vocês devem alertar a Guilda para que eles a eliminem o mais rápido possível. 

    — Mesmo que fossemos até a instituição agora, duvido que eles atenderiam o pedido rápido… — raciocinou o líder. 

    — Não podemos ir nós mesmos?  

    — É muito perigoso! — rebateu Laura. — Eu te proíbo!  

    — Mãe… 

    — Matheus, eu te proíbo! Sabe muito bem!  

    O homem sorriu e a abraçou. 

    — Está tudo bem — disse — sendo assim, devemos avisar a Guilda imediatamente. A senhora está bem? Posso deixá-la com você?  

    — Não é nada, eu cuido dela — declarou a mãe. — Vão… 

    Ambos os homens saíram do quarto, assim que Matheus passou pela porta, Maria foi até ele e abraçou sua perna. 

    — Você já está indo…? — perguntou a criança com a voz chorosa.  

    — Volto logo, Maria… vou trazer um doce para você na próxima vez que vier. 

    — Promete? — A menina esticou o mindinho. 

    — Prometo. — E Matheus enganchou no dele. 

    Saindo da casa, imediatamente os homens começaram a correr em direção ao centro da cidade. 

    — Vamos mesmo deixar por isso mesmo? — perguntou Li. 

    — Temos que tentar as saídas corretas primeiro… no pior dos casos, eu vou ter mentido para a minha família. 

    Jihan não respondeu, apenas continuou o acompanhando. 

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