Índice de Capítulo

    — Senhor Li? — O menino abria lentamente os olhos. 

    A magia pouco a pouco deixava o corpo de Ceb fazendo com que sua consciência ativasse. 

    — Acordou? Como está se sentindo? 

    — Melhor… eu acho… — respondeu com uma voz fraca de cansaço. — Eu estou cansado… 

    — Não se preocupe com isso, o efeito da magia não deve ter passado ainda… 

    — Magia? 

    — Me desculpe, garoto. Tivemos que colocá-lo para dormir, era o único jeito de protegê-lo. 

    Ceb pensou por um segundo, mas não demorou muito a concluir. 

    — O senhor acreditou em mim… eu também acredito em você… 

    Apesar das palavras, ele parecia receoso a perguntar sobre o que realmente queria saber. Talvez, por realmente acreditar em Li, ele tivesse medo da resposta. 

    — Ele está bem — disse Jihan. O garoto olhou em seus olhos. — Seu pai se chama Jonas, certo? Ele está bem. 

    Seus olhos inchados se encheram de lagrimas, sua garganta presa o fazia gaguejar e se engasgar em suas próprias palavras. Seu medo cresceu por um instante, por achar que talvez houvesse ouvido errado. 

    — De ver…verdade? O se…senhor não es… tá mentindo?  

    — Achei que confiasse em… 

    Ceb enterrou sua cabeça no peito de Jihan e desesperadamente chorou. Entre rios de lagrimas e soluços, balbuciava algumas palavras. 

    — Eu achei… eu achei que fosse ficar sozinho para sempre! — chorava o garoto. — Ninguém, nenhum deles acreditava em mim, eu estava com tanto medo!  

    No fundo, Li sentiu a dor do menino. Seu pai era tudo que tinha, era seu mundo. Perdê-lo deve ter sido amedrontador.  

    — Você foi corajoso, garoto.  

    Ver a situação de Ceb o lembrou de sua mãe. Ele já esteve no lugar desse garoto, mas nunca pensava muito sobre, havia a perdido ainda muito novo e só algumas poucas memórias restavam, por algum motivo, embaçadas no fundo mais escuro de sua mente. 

    — Estamos indo até ele, pode chorar até lá, mas acho que seu pai preferiria te ver sorrindo. 

    — Hm… — Após alguns segundos, Ceb enxugou as lagrimas de seus olhos ainda mais inchados que antes. — Senhor Li, pode me colocar no chão agora. 

    — Certeza?  

    — Sim, acho que consigo ficar de pé.  

    Colocando-o no chão, o garoto teve dificuldades em manter o equilíbrio, mas Li estendeu-lhe a mão. 

    — Não tem nada de errado em se apoiar em outras pessoas.  

    Ceb hesitou por um instante, mas apoiou-se em Jihan. 

    — Agora vamos, estamos quase chegando lá. 

                                                                                                         

    Perto do centro da vila, um forte brilho dourado vinha de dentro das instalações médicas. Dois soldados se posicionavam frente a porta, espantando a população do vilarejo que curiosa tentavam espiar a situação. 

    — Ah… — suspirou uma voz masculina — Terminei. 

    — Terminou? Qual é a situação deles? — perguntou Glória. 

    — Estão sofrendo de deficiência de mana, baseado nas sequelas que apresentam, suspeito que mais um ou dois dias e eles estariam mortos, todos os três. 

    Em frente a Glória, um homem com um brasão da igreja de Yun* analisava os três pacientes desacordados. Seu cabelo era liso e curto, passando um pouco as orelhas. Sua pele parda e seus olhos castanhos. Já sua voz, apesar de ser jovem, era lenta e grave. Hans não estava entre os homens; seu estado era bem mais seguro, suas feridas já haviam sido tratadas e ele estava descansado em outra sala. 

    — Como está o estado do Alferes? Ele estava desaparecido há mais tempo. 

    — Melhor do que você pensa, na verdade. 

    — Melhor? 

    — Bem, como posso explicar, imagine dois tanques — disse o homem. — Um dos tanques tem espaço para dez mil litros e uma torneira que solta mil litros por hora; o outro tanque tem mil litros, mas sua torneira só permite a passagem de 10 litros por hora. Resumindo, mesmo que o primeiro fosse aberto dias depois do segundo, ainda secaria mais rápido. 

    — Entendi, mas isso não significaria que o estado dos dois é crítico? 

    O homem suspirou. 

    — Não se prenda tanto a números, é só um exemplo. De um jeito ou de outro, tudo que podemos fazer nesse momento é aguardar. 

    — Certo. — Glória se curvou levemente. — Obrigado, senhor. 

    — Não precisa ser tão formal, Glória — respondeu. — Além disso, só estou fazendo meu trabalho. 

    — Hm… de qualquer forma, não esperava te encontrar por aqui. 

    — Sim, foi uma coincidência eu estar junto do Tenente Victor, encontrei com ele há alguns dias e ele ofereceu me escoltar até aqui. Estou só de passagem. 

    — Mesmo assim tivemos sorte, quem diria que um Arcebispo estaria pelas redondezas — disse um pouco irônica. 

    — Glória, não precisa dizer dessa forma. 

    — Sim… sim, me desculpe Juan… eu deveria estar te agradecendo. 

    — Tudo bem… enfim… a garota que estava contigo antes, ela é uma sacerdotisa, certo? 

    — Você a conhece?  

    — Só de vista, ela é pupila de um dos patriarcas de Anpýrgio. 

    — De um patriarca!? 

    — Não sabia? — Perguntou o homem. — Ela é uma das preferidas dele, bem talentosa. 

    Glória fez uma expressão conflituosa em seu rosto. 

    — Algum problema?  

    — Pode me dizer uma opinião sincera sem fazer perguntas?  

    — Sobre?  

    — Sem fazer perguntas. 

    — Prometo. 

    Glória se segurou por alguns poucos segundos antes de perguntar. 

    — Acha que ela poderia sair se quisesse.  

    Sendo pego de surpresa pela questão, Juan pensou um minuto. 

    — Sendo sincero, é permitido a quem quiser se retirar sob devidas condições de acordo com sua posição. Não deveria haver problemas para uma sacerdotisa sair…  

    — Mas? 

    — O patriarca tutor dela é um homem um pouco complicado, conhecido por ser rigoroso quanto a seus discípulos. Isso pode acabar dificultando a saída dela, de uma forma ou de outra, depende a vontade dela é o que mais importa. 

    — Entendo… 

    — Glória… eu não farei perguntas, mas tome bastante cuidado, um Patriarca é o equivalente a um Vice Lorde na hierarquia das facções, não é ninguém que você pode ser descuidada. 

    — Não se preocupe com isso, não tocarei mais nesse assunto… 

    TOC TOC TOC 

    Batendo na porta, Li entrou junto de Ceb. Vendo seu pai deitado, o garoto correu até sua cama, aflito por ele não estar acordado. 

    — Ele deve acordar nos próximos dias, mas já está seguro agora — disse Juan, percebendo que o garoto tinha alguma relação com o paciente. 

    Ceb apenas acenou com a cabeça e ficou em silêncio ao lado do pai. 

    — Vocês pareciam estar conversando de um assunto interessante — disse Li. — Interrompi algo? 

    — Não, nosso assunto já havia acabado — respondeu Glória. — A propósito, este é Juan, um Arcebispo da Igreja de Yun. 

    — Você deve ser o Jihan, Glória me falou muito bem de você — comentou o homem, estendendo-lhe a mão.  

    — Apenas coisas boas, espero. — Cumprimentou-o. 

    — Ela disse que havia um demônio na floresta e que você o matou. Como membro da Igreja é nosso dever combater essas criaturas, assim como ajudar aqueles que o fazem. 

    — Assim ouvi, felizmente tivemos ajuda de uma sacerdotisa nessa jornada, sem ela não teríamos conseguido. 

    Juan pausou por um instante e soltou a mão de Li. 

    — Bem, fico feliz em ouvir isso. — Virando-se para Glória, o homem finalizou. — Eu devo ir agora, foi bom te ver de novo. — E direcionou-se para a porta. 

    — Se for o desejo dela… ela sairá, quer queiram ou não. 

    O Arcebispo parou em frente a saída. 

    — Tome cuidado, jovem… não deixe a vitória de hoje subir a sua cabeça… você tem potencial… seria péssimo jogá-lo fora quando ainda é tão fraco… 

    E passou pela porta, deixando-os. 

    BAM 

    — O que foi isso? — Indagou Glória, acertando a nuca de Jihan. — Foi ele que curou Matheus e Fynn, você deveria estar o agradecendo e ao invés disso está procurando briga? 

    — Desculpa, desculpa — respondeu enquanto adulava a própria cabeça. — Foi… força do hábito? 

    — Hmpf! Na próxima vez, deixe as palavras comigo. 

    — Falem mais baixo! — uma voz veio da porta do comodo. — Essa dor de cabeça esta me matando… 

    — Hans! — gritaram em uníssono.  

    — Você está acordado! — falou Glória. 

    — Ick! Não gritem… — disse o homem levando a mão a testa. — Por que a surpresa? Não é como se eu tivesse morrido. 

    — Não estivemos muito longe também — comentou Li. 

    — Hm… enfim, só espero que os dois acordem logo para irmos embora daqui…. 

    STEP STEP STEP 

    Passos apressados corriam pelo corredor, em alguns segundo um soldado apareceu. 

    — Desculpem incomodá-los, senhores… mas algumas pessoas vieram buscá-los… 

    — Algumas pessoas? — perguntou Li. 

    — Sim… eles disseram ser de Arcadia… 

                                                                                                         

    Enquanto os três ouviam o anúncio da chegada, bem longe daquele lugar, uma Elfa adentrava um grande portão branco. Escoltada por uma duzia de soldados, homens e mulheres de beleza invejável e trajados de armadura e armas.  

    A elfa não estava algemada nem nada do tipo, mas o sentimento que se passava era de que ela era uma prisioneira, apesar de ter acabado de chegar por pura e espontânea vontade. Chegando perto a um trono de madeira pura da cor de neve no fim do salão, todos os soldados se ajoelharam. 

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota