Capítulo 117: Quem com ferro fere
Anos se passaram, Shiawase, como fora nomeado por sua mãe antes de ser sequestrado, já se encontrava com seus doze anos de idade. Até aquele momento, a vida não teria sido nada boa com aquela criança, que naquele exato momento, era agredida pelo seu pai
— Moleque miserável, como consegue ser tão ruim em matemática?!
Gritava o adulto, chutando o estômago da pobre criança com toda a sua força, fazendo-a vomitar a cada pontapé que colidiu contra a boca de seu estômago. A mente do pequeno estava em branca, apenas aceitando tais golpes
— Você não tem valor algum para mim, se não consegue tirar um mísero sete nessas provas! Ter sustentado sua vida até aqui, foi um erro estúpido!
Gritava aquele adulto, continuando com os seus golpes pesados contra seu próprio filho. A avó de Shiawase, se aproximou para tentar impedir a sucessão daquela agressão, mas antes de qualquer intervenção, a idosa também foi agredida pelo homem-fogo
— Não se intromete, mãe! Ele é o meu filho, então eu darei o corretivo que quiser!
Quando fala isso, Dorter apenas cessou qualquer golpe, apenas encarando a pobre criança, caída no chão em seu próprio vômito. Logo, em sua mão direita, uma labareda surgiu, iluminando toda aquela sala, enquanto um olhar frio era emanado pelo rosto daquele homem de fogo
— Bem, para que esse erro não seja cometido novamente, eu irei deixar outra queimadura no seu corpo! E, caso você ouse errar novamente comigo, eu te mato!
A mão destra daquele adulto enorme logo se ergueu, com o poder daquelas chamas sendo aumentado gradativamente com aquele ocorrido. Mas, um segundo antes da chama ser atirada, uma grande explosão ocorre na garagem daquela casa
— Mas o que?!
Fala a idosa, vendo o concreto da parede e o aço do portão voando por toda aquela garagem. Uma cortina de fumaça foi levantada graças a explosão, e a medida que os grãos caiam suavemente no solo, uma voz imponente ecoava
— Dorter, pelos crimes de: sequestro, cárcere, falsificação ideológica, sonegação de impostos e mais uma série deles, você está preso!
O responsável por tal anúncio, era um membro do exército, que estaria acompanhado do seu esquadrão. O militar que dizia isso, era Held
— Tsc, saíam daqui!
Gritou o homem de fogo, lançando suas chamas em uma velocidade supersônica contra aqueles homens da lei. Não obstante, quando a labareda estivesse a poucos centímetros de acertar aqueles trajados, todos os milicianos conseguiriam se movimentar com ainda mais velocidade, atravessando a parede e janelas da casa. Ao se encontrar em poucos centímetros de Dorter, Held desfere um potente direto de esquerda contra a boca do estômago daquele manipulador de chamas, levando-o ao nocaute quase que imediato
— Sua sorte, é que eu não sou do tipo que gosta de matar!
Disse o militar, algemando e colocando o selo anulador de poderes naquele homem adulto. A mãe de Dorter, acabou tendo o mesmo destino que seu filho, sendo capturada.
O ruivo, percebeu a criança caída ali, a pegando nos braços, olhando-a com um sorriso no rosto e dizendo
— Não se preocupe, iremos te levar para casa!
Aquela busca, que perdurou mais de dez anos graças às mudanças de endereço do pai de Shiawase, tinha finalmente terminado. O jovem foi levado para um orfanato, onde ficou por apenas dois dias antes de ser levado para casa pelo seu avô
O idoso moreno, quando encontrou seu neto, o abraçou fortemente, segurando as lágrimas enquanto fala
— Shiawase! Eu te procurei por tanto tempo, tanto tempo!
O caminho até a casa, durou algo por volta de cinco horas de carro. A criança de cabelos negros, ainda se encontrava quieta, com algumas coisas passando na sua mente durante a viagem
“o que… foi aquilo?”
Se perguntou ele, lembrando do abraço que seu avô teria lhe dado, se aprofundando ainda mais em pensamentos
“aquilo, não se pareceu com um castigo… não doeu, mas me deu uma sensação estranha!”
Pela primeira vez em sua vida, Shiawase tinha sentido um ato de carinho sincero, um ato sem nenhuma violência. A viagem logo chegou ao fim, e quando o garoto desceu do carro, logo foi abraçado por uma mulher alta e morena
— Shiawase!! Eu te procurei por tanto tempo, meu filho!! Eu ainda não acredito, você está vivo!!
Dizia a mãe do garoto, em prantos de alegria por aquilo. Novamente, a sensação de um abraço gerou estranheza e desconforto naquela criança, que não entendia o motivo de tal demonstração de carinho. Seus olhos negros, fixaram em algumas pessoas atrás de sua mãe, se tratando de um homem adulto, uma senhora de idade e mais duas crianças. Iara, percebendo tal estranheza por parte de seu filho mais velho, logo decidiu o apresentar!
— Ah, Shiawase! Eu quase esqueci, devido a emoção! Aqueles ali, são minha mãe, sua avó, seus irmãos mais novos e o meu marido!
O primeiro a se aproximar do Shiawase, era uma criança baixinha e de cabelo bagunçado, um cabelo negro igual ao do mais velho. As vestes do pirralho, tinham desenhos de raios e ele logo estendeu a sua mão
— Opa, bão?! Eu sou o Kura Yami! Mas, me chamam Kura. Você é meu irmão mais velho, é?
Shiawase ficou desconfiado, apenas passando reto pelo garoto enérgico, seu olhar era extremamente frio e fechado, assim como sua próxima afirmação
— Eu não confio em você!
Kura olhou aquela atitude, ficando chocado com aquilo que tinha acontecido, apenas fazendo uma breve pergunta para a sua mãe
— Mãe, eu fiz alguma coisa de errado?
Iara, apenas abaixou sua cabeça de forma melancólica, dizendo para o seu filho do meio, em um tom de voz entristecido
— Não, filho! Só… tenha paciência com o seu irmão mais velho, tenho certeza que isso vai passar logo!
Shiawase, logo foi guiado até o seu quarto, pelo atual marido de sua mãe e pai de seus irmãos mais novos. Aquele homem, com cabelos negros, falou com um sorriso no rosto, para o menor de idade
— Aqui é o seu novo quarto! Espero que goste dele, arrumei com um toque especial! Afinal, você é o filho da minha esposa-
O futuro manipulador de ferro, pouco se importou com a explicação do adulto, fechando bruscamente a porta no rosto do mesmo. Dentro daquele quarto, a criança logo se moveu até o canto do mesmo, sentando-se em silêncio ali, enquanto se aprofunda em pensamentos
“O que… é esse sentimento? Por qual razão, me tratam tão bem?”
O fim do dia se passou assim, com o garoto sequer indo jantar naquela noite, apenas para refletir sobre o sentimento que estaria experimentando. No dia seguinte, de manhã, Kura e Arold foram até o quarto de seu irmão mais velho, levando um misto quente para o mesmo. Logo, tomando a dianteira, como o segundo mais velho, o futuro controlador de eletricidade logo fala
— Bom dia, irmão! Trouxe sua comida, foi feita pela vovó! Sabe, prefiro mil vezes quando o vô cozinha, mas os da vó não são tão ruins-
O recém chegado em casa, logo deu um tapa com toda a sua força no prato, fazendo o pedaço de pão torrado voar até o teto. Então, de forma grosseira, berra com aquela outra criança
— SAIA DAQUI!!
Kura tomou um susto com aquilo, se virando e correndo para fora daquele quarto, deixando o pequeno Arold para trás. Contrariando as expectativas, porém, o jovem Arold não se assustou com a atitude de seu irmão mais velho, mostrando seu dedo e língua para o mesmo, enquanto fala
— Você é um bobalhão!
Ao ouvir aquilo, o menino de ferro se levantou bruscamente, olhando nos olhos do pequeno de seis anos, emanando um olhar aterrorizante enquanto grita
— EU VOU ACABAR COM VOCÊ
Arold finalmente se assustou, correndo para fora do quarto a toda velocidade, sendo seguido pelo mais velho. Porém, há poucos centímetros de conseguir agarrar seu irmão mais novo, Shiawase foi bruscamente levantado pela gola de sua camisa, enquanto uma voz fala no pé do seu ouvido
— Oh, vejo que alguém acordou animado hoje!
A dona daquela voz, era a sua avó, uma mulher aparentemente frágil, mas visivelmente forte e robusta. O garoto manteve uma cara emburrada, enquanto a idosa continuou a falar
— Já comeu a comida que te mandei?-
Ao dizer isso, a mulher encarou para dentro do quarto, vendo o exato momento em que a torrada cai do teto até o chão. Um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente por alguns momentos, até que a ruiva grita de forma histérica
— ESTAVA TÃO RUIM ASSIM?!
A voz da bela avó, emanava de certo modo um remorso, que em junção a essa sua forma expressiva de falar, fizeram um sentimento de culpa dominar a mente de seu neto mais velho. Assim, aquele ser infantil se soltou rapidamente das mãos de sua avó, dizendo para a mesma
— N-não! Eu ainda não comi, por conta daqueles dois! Mas… certeza que está bom!
A porta logo foi fechada e trancada, com o criador de ferro correndo na direção do misto. O pirralho tirou a comida do chão, assoprando a mesma e logo dando a primeira mordida, seguida da segunda, da terceira e por fim da quarta, enquanto ele se mantém pensando
“Q-que sensação é essa? Ela não estava com raiva, mas… me senti culpado mesmo assim?!”
Novamente, algumas horas se passaram, o almoço foi também levado ao quarto do Shiawase pelos seus irmãos mais novos, só que dessa vez, não aconteceu nenhum escândalo. Durante essa refeição, Aristeu foi até o quarto de seu problemático neto, para conversar com o mesmo. O moreno, quando finalmente chegou à porta do quarto, deu três batidas naquela porta de madeira, anunciando sua chegada
— Entra!
Grita o pré-adolescente, permitindo a entrada do velho militar em seu quarto. Sem pestanejar, Aristeu abre a porta, entrando dentro daquele recinto, enquanto fala com o rapaz
— Puxa! Esse quarto está muito maneiro! Sabe, não é querendo ganhar pontos, mas a ideia dele foi mais minha, do que dos outros!
O velho deu algumas risadas enquanto dizia isso, mas logo notou a falta de animação por parte do seu neto
— Ora, vamos! Vai me dizer que não gostou do quarto?
Shiawase, ouvindo isso, logo responde o velho
— Não, não é isso!
O tom ainda era mórbido em tais falas, então, o miliciano começou a falar por esse assunto
— Ora, então, qual o problema? Você parece mais triste do que ontem!
Ao ouvir a dúvida de seu parente, a resposta do criador de ferro foi curta
— É que, eu não consigo entender. Por qual motivo, vocês me tratam desse jeito?
— Desse jeito, como?
Indagou o velho de imediato, levantando uma de suas sobrancelhas enquanto o faz
— Vocês me dão comida, tentam conversar comigo e ainda me dão um quarto… Por quê?
Escutando a pergunta daquele garoto problemático, a resposta dada pelo miliciano, foi direta e quase que grosseira
— Não tem motivo, você é um membro da família, e merece ser tratado como tal! Família, não precisa de motivos para querer se proteger e cuidar!
Os olhos gélidos do moleque infantil, foram tomados por um brilho repleto de dúvida e emoção, enquanto ele fala, em voz baixa, se lembrando de cada tortura sofrida pelo seu pai
— Isso… eu sou digno disso? Eu sou digno de viver isso?!
O militar de fama histórica, se encostou na parede, encarando o teto em silêncio, até dar a sua resposta
— Bem… como o seu avô, logicamente eu direi que você merece sim, e que merece até mais! Porém… O único que pode afirmar isso mesmo, é você!
O tempo se passou, e já por volta das cinco e meia da tarde, Shiawase tentou sair de fininho pela porta da frente da caasa, sendo logo barrado pela sua mãe
— Onde vai, mocinho?!
perguntou a moça, parando na frente do portão, colocando ambas as mãos na cintura. A pressão de sua aura, fez o rapaz suar frio, o fazendo dar a primeira resposta que veio na sua mente
— E-eu vou brincar na rua, é! Estou indo brincar na rua!
— Certo, mas irá levar seus irmãos contigo! Já me ajuda a fazer o jantar tranquilamente!
Graças a ordem de sua mãe, o mais velho se viu obrigado a levar as duas crianças consigo, mas contrariando a ideia das mesmas, o garoto estaria indo para o lado oposto a praça do bairro
— Ei, não para esse lado, irmão!
Falou o Kura, cutucando o Shiawase no ombro. Porém, a resposta do manipulador de ferro, foi direta
— Eu sei, meu objetivo é fugir daqui! E vocês vão me ajudar, contando à mãe que fui sequestrado, ou qualquer coisa do tipo!
Aquilo, colocou Kura e Arold em uma profunda onda de dúvida, levando o elétrico a perguntar
— Mas, por qual razão você quer ir embora, Shiawase?!
— Simples, vocês me tratam muito bem, e eu não sou digno disso! Meu pai… ele deixou claro, que eu sou um imprestável, e que ninguém merece me aturar!
Ouvindo aquelas palavras, o garoto-raio parou fixamente naquela calçada, antes de finalmente dar um berro para o mais velho
— Seu pai é um otário, isso sim!
Aquele gritou, colocou o pirralho de ferro em grande dúvida, fazendo-o se virar bruscamente enquanto fala
— Ah, é?! E quem é você para dizer isso?!
— Eu sou seu irmão! E posso dizer, muita gente quer você por aqui!
— Então, quem é a pessoa que quer um imprestável por perto, hein?!
— EU, EU QUERO!
Gritou o Kura, pegando uma pedrinha no chão e jogando na direção do Shiawase, porém, o objeto rochoso errou miseravelmente o seu alvo. Ouvindo aquilo, o mais velho respondeu
— Mas, por qual razão? Você era o mais velho até eu voltar, né?! Então, por que me querer por perto?!
Ouvindo aquilo, o baixinho olhou para o chão, com um olhar melancólico, enquanto responde
— É que na escola, as pessoas mexem comigo! Não só crianças da minha idade, mas as mais velhas também… se eu tivesse um irmão mais velho, eu tenho certeza que ele iria me proteger!
Shiawase, escutando aquele desabafo, sentiu novamente uma sensação estranha no seu peito. Em meio a um suspiro, o filho mais velho de Iara fala
— Certo… faremos assim, eu resolvo esse problema, e assim que pararem, eu vou embora! Entendeu?!
— Sim!!
A resposta animada, acalmou a ansiedade de Shiawase, que deu um suspiro aliviado. Pela costas das crianças, o pai do Kura e do Arold apareceu, falando para elas
— Ei, tão fazendo o que aqui?! Vamos jantar, vamos!
Aquilo assustou as três crianças, que não notaram a chegada daquele adulto por aí. Todas saíram correndo desesperadas até em casa, enquanto aquele adulto ria sem parar
— Bwahahahaha! Acho que aqueles dois esqueceram, que eu volto do quartel por esse caminho! Bem… ora de comer!
Depois de dizer isso, o adulto massageia seu estômago, andando até em casa, enquanto cria grandes expectativas pelo jantar!
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.