Capítulo 15
Jum estava com uma única flecha na mão, segurando-a pela haste, e apontou para a cicatriz no pescoço antes de falar:
— Achou que isso não teria consequências?
Continuei calado. O que eu poderia dizer? Não havia nada que pudesse evitar a violência.
Havia algo estranho na quantidade de soldados. Pelo cenário, parecia que não era a primeira vez que estavam naquele lugar.
“Flechas fincadas no chão!?”
“É uma emboscada!”
— Vai ficar calado seu bosta?! — Ele rosnou, as últimas sílabas quase inaudíveis.
Olhei ao redor tentando achar alguma coisa que pudesse usar para me defender. Minha única chance de defesa era a espada que eu deveria entregar na próxima vila.
Contudo, Sdom sempre dizia:
“Um ferreiro não deve usar a espada antes do seu dono!”
Quem me dera ter a chance de não aceitar esse conselho! Na pressa de fazer a entrega acabei pegando um atizador em vez da espada.
“Isso vai ter que servir”
Ao levantar os olhos para o grupo de Jum, uma flecha passou a poucos centímetros de acertar meu rosto. Contudo, isso era a desculpa que o galáto esperava. Aproveitando a oportunidade ele berrou e saltou incontrolavelmente, quase me levando ao chão quando saiu em disparada.
Isso me deixava apenas uma única opção.
— O que é isso Jum, vai agir como um covarde? Sua família não te ensinou sobre honra?!
O rosto de Jum passou de branco leitoso para vermelho vivo, sua boca mexia compulsivamente e seus olhos passavam de soldado para soldado, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
— Como você se atreve em dizer isso! Sua família não tem um pingo de honra. Seus antepassados são estrumes covardes e traidores!
Ele parou por um instante, recuperou o fôlego e continuou.
— Por causa deles, minha família quase foi destruída. Você não pode gritar por honra quando vocês não têm noção do que isso significa.
Eu não sabia do que ele estava falando, minha família era uma das fundadoras e meu avô o herói que negociou a paz. Todos concordavam com isso.
Ele estava visivelmente cansado, parecia que o simples ato de falar o esgotava, mas continuou.
— Você vai morrer aqui seu filho de uma cadela de Aico! — sua voz rouca conseguiu alcançar um quase grito no final.
Ele proferiu uma ordem para o subordinado que estava mais próximo. Porém o pobre soldado não entendeu nada. O que o deixou furioso, arrancando o arco das duas mãos. Colocou com demasiado cuidado a flecha que estava com ele.
A corda do arco foi esticada ao limite. Neste momento eu percebi que se ficasse parado eu morreria. Não era prudente avançar contra uma flecha, mas se eu não o fizesse, outras viriam logo em seguida.
Então avancei levantando meu braço esquerdo em uma tentativa de defesa quase inexistente.
Escutei a batida da corda e senti um estranho calor no peito. Muitos guerreiros vangloriam-se por esquivar de flechas, gostaria de ser um desses.
Jum ficou desesperado ao perceber que eu estava avançando, tentou pegar outra flecha mas já era tarde demais. Acertei com brutalidade o primeiro homem no ombro. O atiçador vergou com o impacto, chicoteando as costas do infeliz. Derrubei-o com um forte ataque no queixo, mas isso me custou uma dor aguda que quase me fez vacilar.
Avancei sobre o próximo e meu ataque foi devastador. Acertei tão forte com o atiçador que se fosse uma espada a cabeça do infeliz teria partido em duas. Ele mal teve tempo de levantar sua espada. Mas antes da minha tentativa de trocar de arma um veterano me impediu.
O terceiro soldado não foi nada fácil. Ele tinha uma estranha destreza, como se o campo de batalha fosse corriqueiro para ele. Ele desviava e contra-atacava aproveitando-se da minha falta de guarda. Atacava continuamente de uma forma que só me deixava com duas opções: desviar do golpe ou usar muita força para forçar sua lâmina para fora.
Isso estava me forçando a um gasto de esforço crescente, e se eu continuasse, logo ele arrancaria uma parte do meu braço. Ele poderia ter mais experiência do que os restantes, mas, mesmo assim, seus golpes eram fracos comparados aos que eu estava acostumado a enfrentar.
Em seu último ataque, aparei e direcionei sua espada para dentro da minha guarda, essa era a única forma que me deixava dentro da sua. Em um contragolpe que poucos ousariam tentar. Envie a ponta do atizador profundamente em um dos seus olhos. contudo, isso me custou um corte profundo no peito.
Jum empurrava e gritava com seus homens para que me cercassem. Mas, ao perceber meu novo ferimento e me ver quase caindo no chão, rapidamente recuperou a coragem.
— Saiam da frente, ele é meu! — Ele sorria, como se minha morte já estivesse decretada!
Isso me causou um intenso e prolongado calafrio por todo o corpo. Minha visão ficou turva e piorou quando percebi que meu braço esquerdo estava destruído e completamente encharcado de sangue.
Qualquer movimento vinha acompanhado de fortes dores. A flecha ainda estava encravada em meu peito, e com o braço esquerdo incapacitado nem mesmo quebrar a haste eu poderia.
Eu estava exausto, Jum não poderia ter escolhido uma hora melhor para sua vingança. Os meus atos do dia anterior ainda me assombravam.
O rosto de Izi cruzou minha mente, sua expressão de medo, sua voz pedindo que eu parasse. Por um breve momento, imaginei se essa não era a melhor solução. Morrer pelas mãos de um merdinha que mal sabe segurar uma arma.
Aproveitando minha distração, Jum avançou despreocupadamente em minha direção. Algo não estava certo, mas não tive tempo para pensar. Desviei um ataque na altura dos olhos precariamente com o atizador.
— Isso é tudo que você tem?
Ele não esperou minha resposta. Atacou-me implacavelmente, abrindo várias brechas, mas por algum motivo, não consegui explorar nenhuma. Meu corpo não respondia adequadamente, e minha mente oscilava entre o foco na batalha e uma tontura crescente. Jum não parecia surpreso; na verdade, estava aproveitando para mostrar aos seus seguidores que eu já estava derrotado, mesmo antes da luta terminar.
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