— Olha… você ainda não tá chorando o suficiente. Que tal… eu quebrar sua outra perna? Ou arrancar essa aí que já tá quebrada? — disse Lillix, com um olhar cruel e a respiração ofegante. — Eu só preciso levar você viva, não importa o estado. Desde que ainda esteja respirando… já serve!

    — P-para… por favor… para… — implorei, chorando. — Eu… eu faço o que você quiser… só… para…

    Ela sorriu como uma criança diante de um brinquedo novo. Um sorriso demente.

    — Então GRITA MAIS PRA MIM! AHAHAH! — berrou, pisando com força na minha perna quebrada.

    — AAAAAAAAAAHHH!! — meu grito ecoou entre as árvores, rasgando o silêncio da floresta. A dor foi tão aguda, tão desesperadora, que parecia que minha alma ia sair do corpo. Meu corpo inteiro tremia.

    Minha visão começou a embaçar. Tudo ficou turvo, borrado, instável. O sangue escorria pelo chão como um rio fino e escuro. Meu corpo não suportava mais. Meus olhos não conseguiam se manter abertos. Eu estava prestes a desmaiar.

    — Não… NÃO! É pra você ficar acordada! — gritou Lillix, frustrada, chutando o chão com força. — Se você apagar, onde fica a graça?! COMO EU VOU ME DIVERTIR ASSIM?!

    Eu nem conseguia mais responder. A dor era tão violenta que eu só pensava em uma coisa: arrancar minha própria perna para acabar com aquele sofrimento.

    Por quê…? Por que isso tá acontecendo comigo…?
    Achei que, depois de tudo, eu teria uma vida melhor. Estava com o Lucas, com a Aiza… eles estavam virando minha família. Achei que eu ia poder viver em paz, me tornar forte… e retribuir tudo que Kael e Lucas fizeram por mim.

    Mas agora…

    Agora parecia que tudo ia acabar.
    Que eu ia morrer.
    Ou pior: ser arrastada de novo pra um inferno sem fim.
    Esse mundo, que por um breve momento teve cor… agora voltava a ser preto e branco.


    Então, de repente, algo mudou.

    O silêncio foi quebrado por um som cortante — VUUUSH! — o som de algo rasgando o ar com violência.

    As árvores balançaram. Os pássaros, que estavam escondidos, voaram assustados em todas as direções.

    Lillix parou. Seu sorriso morreu. Ela ficou imóvel, com os olhos arregalados e o corpo tenso. Virava a cabeça de um lado pro outro, tentando entender o que estava prestes a acontecer.

    E então…

    KAEL.

    Ele surgiu como um raio.
    A espada em punho.
    O rosto transformado pela raiva.
    A velocidade dele era inacreditável e mesmo Lillix não teve tempo de reagir.

    — HAAAAAH!! — ele gritou, desferindo um golpe direto contra ela.

    Mas Lillix, mesmo surpresa, conseguiu se defender no último instante. Correntes se multiplicaram ao redor de seu corpo, se unindo em frente a ela e formando um escudo de metal negro — CLANG!

    O impacto do golpe de Kael foi tão forte que o chão tremeu. Ele saltou para trás, se reposicionando. E sem hesitar, desapareceu num piscar de olhos, e reapareceu ao meu lado.

    CHAC!
    A espada dele cortou a corrente do meu tornozelo como se fosse feita de papel.
    E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me pegou no colo.

    Os olhos dele… estavam queimando. Raiva, culpa, dor.

    — Me desculpa, Laila… — disse ele, com a voz grave e trêmula. — Eu… eu não consegui te proteger. Mas agora eu tô aqui. Vai ficar tudo bem. Descansa. Só… descansa. Eu cuido dela agora.

    Eu só consegui balançar a cabeça, assustada demais, fraca demais, com a dor latejando na minha perna quebrada. Mas mesmo com a dor… me senti segura.


    Ele deu um salto tão alto que o mundo pareceu desacelerar por um instante. O vento cortava meu rosto, os braços dele firmes como rocha me seguravam com tanta delicadeza que, por um momento, esqueci da dor. Quando alcançamos um galho grosso de uma árvore colossal, ele me colocou ali com um cuidado quase reverente, como se eu fosse feita de vidro, como se qualquer toque mais forte pudesse me despedaçar.

    Kael ajoelhou-se diante de mim, os olhos presos nos meus. Havia algo neles… algo que me fez esquecer do caos por um instante. Não era apenas coragem, era uma promessa silenciosa. Uma determinação feroz.

    Kael pega um pequeno frasco de poção do bolso esquerdo com a mão trêmula e me mostra.

    — Laila, beba isso. Não vai ajudar muito, mas vai regenerar suas feridas um pouco… pelo menos o suficiente pra você conseguir andar, fique calma, Laila. — disse ele com uma voz tensa, os dentes cerrados entre a irritação e a preocupação. — Eu vou acabar com isso rápido e já volto. Vou te levar para um mago de cura. Não fica assustada… Vai ser rápido. Eu prometo.

    Fique calma, Laila. — disse ele com uma voz tensa, os dentes cerrados entre a irritação e a preocupação. — Eu vou acabar com isso rápido e já volto. Vou te levar para um mago de cura. Não fica assustada… Vai ser rápido. Eu prometo.


    No instante em que ele disse essas palavras, um som profundo e grave ecoou pela floresta. Começou baixo… e então ficou ensurdecedor. As árvores atrás de Kael começaram a ruir, uma a uma, como dominós de madeira antiga. Mas não eram pequenas. Eram troncos enormes, tão grossos que dois homens juntos mal dariam conta de abraçar um. Ainda assim, caíam com facilidade assustadora, como gravetos fracos diante de uma força invisível e brutal.


    E então, lá embaixo, ela apareceu.

    Com um sorriso doentio e excitação sádica, Lillix olhava Kael. Suas correntes dançavam ao seu redor, vivas como serpentes famintas. Uma após a outra, elas começaram a se entrelaçar, formando uma corrente grotesca, grossa, quase do tamanho do tronco de uma daquelas árvores que havia destruído.

    Mas Kael não recuou.

    Ele se manteve firme, o olhar impassível. E então… desapareceu.

    Num piscar de olhos, estava no chão, frente a frente com a mulher ensandecida. Os olhos dele se cravaram nos dela, frios como lâminas no inverno.

    — Quem é você? E o que quer? — perguntou Kael com uma voz baixa e cortante como aço. — Se responder… sua morte será rápida. Eu prometo.

    Lillix gargalhou alto, debochada.

    — Hahaha! Muito engraçado, garanhão. — cuspiu ela com escárnio. — Sou Lillix, a Carrasca. Vim capturar a garota… e matar quem tirou a vida do filho do meu chefe. Nunca falhei em uma missão. Nunca.

    Kael inclinou a cabeça levemente, como se não estivesse nem um pouco impressionado. Seus dedos apertaram o punho da espada com firmeza. Ele apontou a lâmina diretamente para ela, o semblante agora tomado por uma fúria contida.

    — Tudo tem uma primeira vez, Lillix, “a Carrasca”… — disse ele com desprezo. — Esse nome é irônico, não é? Já que você vai morrer hoje.

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