Capítulo 48 – sorte
Capítulo 48 – sorte
— Lillix, por que não desviou?! Não seja burra em momentos como esse! — gritou Kael, seus olhos flamejando em pura fúria. Ele cerrava os punhos com tanta força que seus dedos estalavam, e seus músculos tremiam de raiva.
Lillix apenas sorriu de lado, zombeteira, mesmo com sangue escorrendo entre seus dedos enquanto pressionava a mão contra o ferimento aberto na barriga.
— Não enche o saco, seu monte de músculos ambulante… — cuspiu ela. — Eu fiz isso de propósito. Queria mostrar que, no fim das contas, você não passa de uma história velha. Uma sombra do que já foi. Tira sua fama e sua lenda, e só sobra um velho fracassado. Sua honra foi jogada no lixo há muito tempo.
As palavras perfuraram Kael mais do que a lâmina de qualquer inimigo.
Seus olhos se estreitaram. Sua respiração ficou mais pesada. E então ele sumiu.
Um instante.
Foi tudo que ele precisou.
Kael apareceu diante dela como um borrão negro, a escuridão que envolvia sua espada vibrando com energia maligna. A lâmina crepitava como se estivesse viva, faminta, consumida por uma aura sombria e sufocante.
Ele ergueu a espada para decapitá-la, o golpe seria certeiro.
Mas no último instante… um machado colossal cortou o ar em um trovão metálico.
O impacto desviou Kael de seu alvo e o forçou a recuar.
— Tsc… — ele rosnou ao se afastar, girando no ar e caindo com elegância felina.
O machado de Kurogami cravou-se no chão com um som surdo, estremecendo o campo de batalha.
Sem perder tempo, Kurogami investiu, como um touro em fúria, os músculos tensionados ao máximo, as veias saltando nos braços. O ar ao redor parecia se comprimir com cada passo dele.
Mas Kael… apenas sorriu.
Ele se ajoelhou lentamente, cravando sua espada no chão. A lâmina desapareceu entre a terra, mas não houve som de impacto.
Ao invés disso… a escuridão escorreu da lâmina como se fosse um líquido vivo. Rápida. Fria. Aterrorizante.
Linhas negras se espalharam pelo solo em todas as direções, como raízes crescendo em velocidade absurda, rachando o chão e rompendo a realidade.
— O quê…?! — murmurou Lillix, dando um passo para trás.
— Algo tá errado… — rosnou Kurogami, parando de correr no exato momento em que uma das linhas passou por seus pés.
Um segundo depois, o chão se abriu.
E os dois começaram a afundar.
Lentamente.
Assustadoramente.
Como se o solo os tivesse engolido. Como se a terra estivesse faminta.
— O que… o que é isso?! — rosnou Kurogami, olhando ao redor. Seu corpo já estava submerso até o abdômen, completamente preso.
— Eu… não consigo sair! — gritou Lillix, debatendo-se em vão.
Kael ergueu a cabeça.
Seus olhos agora brilhavam num vermelho profundo e hipnotizante, como brasas em meio à noite.
— Vocês foram pegos pela minha técnica… Raízes do Abismo. — disse ele, com a voz rouca e sombria. — Tudo que é tocado por ela… desaparece deste mundo. O que está abaixo da cintura de vocês… já não existe mais aqui. Foi levado para outro lugar… um lugar onde nada vive. Onde não existe som, nem luz. Um vazio absoluto. Lá, a única coisa que reina… sou eu. E a minha escuridão.
Os olhos de Lillix arregalaram. Pela primeira vez, o medo era genuíno.
Kael começou a caminhar lentamente até Kurogami. Cada passo era pesado, como um tambor de execução.
— Você vai me matar, não é? — perguntou Kurogami, a cabeça abaixada, o machado cravado no chão.
— Sim, — respondeu Kael com frieza. — Você pediu isso.
— Então que assim seja. — Kurogami ergueu os olhos, desafiador, com um sorriso feroz no rosto. — Não existe morte mais honrada do que cair pelas mãos de uma lenda viva. Se for pra morrer… que seja por você, Lança do Vazio.
A lâmina negra se ergueu.
O silêncio dominou tudo.
Kael estava pronto para finalizar Kurogami ali mesmo.
Mas então…
— Nossa… eu não faria isso se fosse você. — disse uma voz vinda do alto, descontraída, sarcástica, como se estivesse falando sobre o clima.
Todos olharam para cima.
Sentado num galho alto, pernas balançando no vazio, estava ele, o homem estranho. O mesmo de mais cedo.
Chapéu de mágico, um sorriso largo e irônico no rosto, e uma moeda girando entre os dedos.
— Nossa, isso foi INCRÍVEL! — exclamou ele, aplaudindo como se tivesse assistido a um espetáculo. — De verdade, que luta sensacional! Tanta emoção, tanto drama, nossa… eu mal consegui ficar quieto!
Kael o encarou, olhos ainda vermelhos como brasas, mas agora com certa confusão.
— Quem é você? — perguntou em tom baixo e ameaçador.
O homem desceu do galho com leveza, como uma folha tocando o chão. Seu sorriso era desconcertante.
— Ah, é verdade… onde estão meus modos? Eu sou… — ele parou, coçou a cabeça como se tivesse esquecido algo importante. — Ops. Eu… não sei! — disse, soltando uma risada. — Hilário, né? Qual é o meu nome mesmo? Talvez eu lembre… se você soltar os dois.
Ele apontou para Lillix e Kurogami com um dedo brincalhão, como se tudo aquilo fosse só um jogo.
O silêncio voltou a pairar.
Mas agora, era um silêncio diferente.
Um silêncio quebrado pela dúvida.
Pelo mistério.
Pela presença de alguém que não devia estar ali… mas estava.
Kael inclinou levemente a cabeça para o lado, seus olhos vermelhos fixos no estranho. A lâmina ainda gotejava escuridão, vibrando em antecipação.
— Entendi… — disse Kael, sua voz baixa e carregada de desprezo. — Você é amigo deles.
Ele deu um passo à frente. — Então não importa quem você é… porque você vai morrer agora.
O homem estranho sorriu largo.
— Nossa, sério mesmo? — disse ele, rindo como se tivesse ouvido a melhor piada do dia. — Você me fez até arrepiar, cara! Que frase de impacto… me diz, você ensaiou ela antes de vir pra cá? Hahaha!
Kael não respondeu. Só apertou o punho da espada com mais força. A aura ao seu redor escureceu ainda mais, como se a própria luz estivesse sendo sugada de onde ele pisava.
Mas o estranho parecia completamente despreocupado.
Com um gesto teatral, tirou o chapéu de mágico da cabeça e o segurou com uma das mãos. Com a outra, puxou de dentro do chapéu três dados antigos.
Começou a girá-los entre os dedos com agilidade surpreendente, como um truque de mágica que apenas ele conhecia.
— Você pode até tentar me matar, — disse ele, os olhos brilhando de diversão enquanto fitava Kael. — Mas te garanto uma coisa… você não vai conseguir.
Os dados dançavam entre seus dedos, emitindo um leve brilho rosado. Cada giro deixava um rastro de energia no ar, como se ele estivesse moldando alguma coisa.
— Sabe por quê? Porque meu destino… está nos dados. — O sorriso dele se alargou. — E eu… sou um cara sorte. —
Kael deu mais um passo à frente. A terra sob seus pés rachou com o peso da escuridão que o envolvia.
— Você fala demais… — disse ele.
O estranho estalou os dedos, e os três dados pararam no ar, flutuando diante dele.
— E você fala pouco. Somos opostos, percebe? — disse ele com sarcasmo. — Mas não se preocupe… vai ser divertido ver até onde sua lenda aguenta antes de virar estatística.
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