A empregada me levou até a carruagem, e ao vê-la de perto, fiquei impressionado. Era uma carruagem magnífica, com detalhes dourados e azul-escuro, puxada por belos cavalos pretos com mechas brancas. No entanto, uma dúvida surgiu em minha mente: já estava de noite, então como chegaríamos tão rápido ao castelo? Ele deveria estar muito longe.

    Decidi perguntar à minha mãe.

    — Mãe, tenho uma dúvida… Como vamos chegar tão rápido ao castelo? A festa já deve estar quase começando… ou talvez já tenha até começado. — Perguntei enquanto observava o pôr do sol desaparecer no horizonte, dando lugar a uma noite clara e bela, pontilhada por estrelas que começavam a cintilar timidamente.

    Minha mãe me olhou com um sorriso confiante e respondeu:

    — Lucas, vamos até a cidade mais próxima e usaremos a Porta de Portal.

    Aquilo me pegou de surpresa. Eu já havia lido muitos livros na biblioteca, mas nunca tinha ouvido falar de uma “Porta de Portal”.

    — Nunca ouvi falar disso, mãe.

    — É claro que não, bobo. — Ela riu, um som suave e reconfortante. — Essa tecnologia foi inventada um pouco depois do seu nascimento e só recentemente começou a ser disponibilizada para uso público. Mesmo assim, ainda existem poucas instaladas.

    — Então vai demorar para chegarmos na cidade e usá-la? — Perguntei, curioso, enquanto meus olhos percorriam a paisagem ao redor, onde as sombras das árvores começavam a se alongar.

    — Não muito. Levaremos cerca de uma hora até a cidade mais próxima que tem uma.

    Uma hora?! Que droga… Vai demorar bastante.

    De repente, meu pai se aproximou de nós. Ele era um homem alto e imponente, com ombros largos e uma postura que transmitia autoridade. Sua voz grossa ecoou no ar noturno.

    — Luiza, precisamos ir logo para não nos atrasarmos ainda mais. — Ele disse, seu tom carregado de urgência.

    Minha mãe assentiu, seu rosto refletindo a seriedade da situação.

    — Você tem razão, Rike. Vamos, Lucas, entre rápido! — Ela me apressou, gesticulando para que eu subisse na carruagem.

    Subimos na carruagem, e assim a viagem começou. O ambiente dentro do veículo ficou pesado, todos pareciam apreensivos. Até Aiza, que normalmente era falante, estava quieta… mas não por muito tempo.

    — O que vamos fazer no castelo mesmo, tia Luiza? — Ela perguntou com sua voz fina e irritante, quebrando o silêncio que pairava no ar.

    Minha mãe já havia explicado várias vezes, como ela podia esquecer?

    — Estamos indo para a festa que acontecerá no castelo hoje, Aiza. — Respondeu minha mãe pacientemente, embora eu pudesse perceber uma leve tensão em sua voz.

    — Mas por que vai ter uma festa, tia?

    Boa pergunta… Nem eu sabia o motivo exato.

    — É para anunciar uma notícia muito importante, algo que ninguém sabe ainda.

    Que notícia poderia ser tão importante assim?

    Antes que minha mãe pudesse continuar, meu pai interrompeu.

    — Luiza, não precisa mentir para a Aiza. Ela faz parte da família, pode contar a verdade.

    Minha mãe suspirou fundo, como se estivesse aliviada por finalmente poder falar.

    — A festa é para anunciar que sua mãe adotiva, Ayesha, se tornará a nona rainha do reino.

    Aquilo me pegou de surpresa.

    — Mas por que isso é um segredo, mãe?

    Ela hesitou por um momento, mas então respondeu:

    — Porque meu pai… o rei… está doente. Ele não tem muito tempo de vida e quer que Ayesha se torne a nova rainha em vez de nossa irmã mais velha, Navia. Como a primogênita, Navia deveria assumir o trono, mas nosso pai acredita que Ayesha é a melhor escolha, mesmo sendo a mais nova entre nós três.

    Meu pai completou:

    — Mas Ayesha não quer ser rainha. Ela é uma das guerreiras mais poderosas do reino e prefere continuar lutando. Por isso, o rei pretende pressioná-la a aceitar a coroa durante essa festa.

    Que família complicada… Uma festa inteira só para isso? Parece exagero, mas deve ser coisa de gente rica.

    Continuamos a viagem, e enquanto meus pais discutiam sobre suas discordâncias em relação à decisão do rei, fui ficando cada vez mais entediado. O sono foi se apoderando de mim, e antes que eu percebesse, acabei adormecendo.


    BUMMM!

    Um estrondo violento me despertou.

    — O que está acontecendo?! — Perguntei assustado, enquanto ouvia mais explosões e gritos ao redor.

    Olhei pela janela e vi algo aterrorizante: já estávamos na cidade, mas ela estava em chamas. As ruas estavam tomadas pelo caos, pessoas corriam desesperadas, gritando. O cheiro de fumaça e queimado invadia o interior da carruagem, fazendo-me tossir.

    O que diabos estava acontecendo aqui?!

    Virei-me para perguntar à minha mãe, mas ao olhar ao redor, percebi algo assustador…

    Eu estava sozinho na carruagem.

    O pânico tomou conta de mim. Onde estavam todos? O que estava acontecendo?!

    Levantei-me e abri a porta rapidamente. Assim que saí, testemunhei uma cena horrenda: um homem foi brutalmente assassinado diante dos meus olhos por uma figura mascarada. Ele vestia um manto negro e usava uma máscara demoníaca, com chifres retorcidos e uma expressão grotesca.

    Meu coração disparou. O homem mascarado lambeu o sangue da lâmina de sua espada antes de colocar a máscara novamente. Então, ele virou-se em minha direção e começou a caminhar lentamente.

    Ele me viu.

    Eu ia morrer… de novo.

    O desespero tomou conta de mim, e sem pensar duas vezes, virei-me e corri o mais rápido que pude.

    — SOCORROOOO! — Gritei, mas meus gritos se misturavam ao caos da cidade.

    Corri, corri sem olhar para trás, até que, de repente, tropecei em algo e caí no chão. Minha cabeça bateu com força, mas tentei me levantar rapidamente… até que vi no que eu havia tropeçado.

    O corpo de uma mulher.

    Ela estava completamente desfigurada, sua cabeça destruída e um dos braços arrancado. O sangue escorria pelo chão, formando uma poça escura que refletia o brilho das chamas ao redor.

    Meus olhos se arregalaram, e minha respiração ficou irregular. O medo me dominou.

    O mascarado estava cada vez mais perto. Agora ele caminhava devagar, como se estivesse saboreando o momento.

    Tentei me mover, mas meu corpo estava paralisado. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e o desespero me fez gritar novamente.

    — MÃEEEE! SOCORRO!

    — PAI!

    — ALGUÉM ME AJUDAAA!

    Mas ninguém veio me salvar. Fiquei caído no chão, implorando por ajuda, enquanto os passos do mascarado se aproximavam cada vez mais.

    Então, um som cortante ecoou pelo ar.

    Abri os olhos a tempo de ver meu pai coberto de sangue, segurando sua espada. O mascarado estava caído no chão, sua máscara quebrada ao meio, revelando um rosto pálido e sem vida.

    Meu pai correu até mim e me pegou nos braços, suas mãos tremiam. Sua voz imponente desapareceu, dando lugar ao tom aflito de um pai desesperado.

    — Me desculpa, meu filho… Me desculpa por não ter chegado antes.

    Atrás dele, Aiza também estava ali, assustada. Sem perder tempo, meu pai nos segurou e começou a correr.

    — Lucas, vou levar você e Aiza até a Porta de Portal. Quando atravessarem, devem ir direto ao castelo e contar tudo o que aconteceu aqui!

    — E você? E a mãe?!

    O olhar dele ficou sombrio, como se carregasse um peso enorme.

    — Pai… onde está minha mãe?

    Ele não respondeu de imediato. Apenas me olhou com dor nos olhos.

    — PAI, ME RESPONDE!

    — Sua mãe está ferida, Lucas… gravemente ferida. E… há algo que eu ainda não havia contado. Sua mãe está grávida.

    A revelação me atingiu como um soco.

    — Então vamos ajudá-la! Pai, por favor!

    Chegamos até a grande estrutura da Porta de Portal. Símbolos antigos brilhavam em sua superfície, emitindo uma luz azulada que pulsava como um coração. Assim que meu pai se aproximou, um redemoinho azul surgiu dentro dela, criando um vórtice que parecia levar a outro mundo.

    — Está ativada. Lucas, pense no castelo e atravesse rápido!

    Mas antes que pudéssemos entrar, vários mascarados surgiram, correndo em nossa direção.

    Meu pai nos colocou no chão, pegou sua espada e sussurrou:

    — Adeus, meu filho…

    E então, ele avançou para lutar.

    — NÃO, PAI! NÃO FAÇA ISSO!

    Decidi correr até ele, mas Aiza me segurou e, sem hesitar, me empurrou para dentro do portal junto com ela.

    O mundo ao nosso redor desapareceu.


    A sensação de estar sendo puxado através de um túnel de luz e sombras foi avassaladora. O ar parecia vibrar ao meu redor, e uma sensação de frio intenso percorreu meu corpo. Quando finalmente pisei em solo firme, estávamos em um lugar completamente diferente.

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