Ato 3 — O Protagonista — Capítulo 141
Aura pesada, mundo pesado… perante aquele homem, a gravidade pareceu se curvar apenas por sua presença; real, assim como a do príncipe, mas ainda mais densa.
Consolidada era sua vontade, e estava ali, de pé. Mas Kevyn não cedeu e se manteve firme, frente a frente ao apóstolo da sabedoria.
— Eu era um grande amigo dele, sabia? — disse o homem.
Em silêncio, o garoto não recuou; sua guarda estava alta, seu cabelo arrepiado como o de quem sabia o perigo à sua frente.
Os feixes de luz transcrevendo sua grandeza, Tsushite caminhou em direção ao caminho de pedras enquanto dizia:
— Venha, me acompanhe.
Ainda quieto, o príncipe seguiu-o de punhos firmes. Desenrolando como papel, os passos leves até a planície trouxeram um assunto muito interessante da boca daquele sujeito:
— Daniel realmente era alguém de se formigar meus punhos. Quando lutava, usava todo o ambiente, algo que eu nunca consegui muito bem… ainda mais para o meu poder.
Tagarela, continuou:
— Imagino que você, príncipe dos dragões, deva entender o quão surreal era ele, não é? Você foi ensinado por ele, não é? Diga-me! Você, por acaso, tem algo a mostrar?
Nada falou.
— Entendo… você realmente diz tudo com seu rosto belo… aposto que todos devam invejar sua beleza, ou temer seus olhos tão lindos. Não vejo nada de especial em você, sinceramente… além desses olhos nojentos, essa heterocromia que me faz revirar o estômago! Arhg!
Um arrepio subiu pelo corpo de Kevyn; ele queria muito fazê-lo calar a merda da boca.
— Arh… tudo bem, eu entendo… já conversamos bastante, não é?
Ele parou. O silêncio tomou o campo como uma neblina invisível, enquanto seus olhos, ocultos pela máscara, encaravam o garoto à distância. Por um instante longo e estático, a estática pareceu fluir pela energia que emanava. Por um instante longo e estático, nenhum dos dois se moveu; dois mundos colidindo em silêncio.
Tsushite então desviou o olhar, cansado. Lentamente, revirou os olhos por trás da máscara, como que procurando respostas nas nuvens, mas debochando e não ligando para nada do que estava realmente acontecendo.
O vento soprou.
Frio, cortante e melancólico. Por mais de toda aquela não intromissão, um vento passou entre os cabelos brancos do apóstolo, fazendo-os dançar contra o céu pálido. Aquele corpo gélido se chocou com o calor invisível das auras ali presentes. Dois polos de existência forçando o mundo a respirar com dificuldade.
Um encontro sufocante.
Cansado do silêncio, da ausência de respostas e do peso crescente entre cada batida de segundo, Tsushite levou a mão até o próprio peito, respirando para saber se realmente estava vivo ou já tinha sido morto. Seu gesto foi contido, quase involuntário. Os dedos roçaram a roupa como se sentissem algo latejar sob ela; dor, cansaço ou lembranças.
As sobrancelhas se franziram lentamente. Um suspiro escapou e, com ele, virou o rosto, como quem desiste de conversar com o destino.
— Kevyn, você conhece a história do Calamith exilado que caça outros de seu clã?
Cerrando os olhos, o menino respondeu: — Eu não reconheço sua máscara, mas ouvi histórias sobre você, usuário de duas energias.
Ficando de frente para ele, o homem sorriu por trás da máscara e perguntou: — E o que você acha de mim?!
— Suas ações são totalmente desnecessárias.
Quebrado, Tsushite começou a rir e respondeu na ponta da língua: — E as suas são necessárias?! Black Room!
A situação surpresa fez o príncipe arregalar os olhos. Como ele havia descoberto? Ele errou em alguma coisa?
Só havia um jeito de ele saber daquilo, e era…
— VOCÊ LEU A CARTA?!!!
— Ah, aquilo? — Sorriso. — Claro, eu rasguei e d–
Tão rápido quanto o som, Kevyn apareceu na frente do homem com seu punho colado em seu rosto. Vendo os olhos dele tão arregalados, o apóstolo riu e defendeu o punho sem qualquer dificuldade.
— Previsível.
Bufando, o garoto, que ao menos saiu de seu lugar de verdade, cerrou os olhos com o máximo de sua ira e respondeu:
— Claro, claro.

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