Capítulo 111 — Eu sou você?
— Curioso, diz ser eu, mas enxergo apenas mais um mentiroso.
Incomodado, Kevyn cruzou seus braços e desviou o olhar para longe daquela escuridão.
Um leve inclinar de cabeça, Reaper olhou-o com seriedade e o respondeu:
— Mais um mentiroso, assim como você?
Rápido contato visual e raiva nos olhos do garoto. — Mentir?
— Verdade.
— Se sabe tanto, quem sou eu? Reaper- …quem sou? Quem é você se sou eu?
Tão ²complacente, o homem encarou o campo tão lindo e verdejante. Preso em uma fração do tempo onde sentia já ter visto tantas vezes. — Como me chamou mesmo?
— Reaper…
— Kevyn, se você sou eu, você também é um ¹ceifador, mas como somos um reflexo, entenda que sempre nos vemos mais imperfeitos do que somos de verdade.
Abaixando sua cabeça, o menino lacrimejou e uma só lágrima escorreu pelo seu rosto até tocar sobre a mesa. — Eu não sei se quero ser um assassino.
— Pensei já ter aprendido isso… Meu pequeno, você se sente mal em matar quem faz mal a um outro alguém?
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Fazendo comida, Night encarou sua própria mão. “Aquela mulher em meu sonho, protetora da alma? Que estranho”, suspirou e ouviu um leve toque na porta.
Indo atender, lá estava Gabriel, sempre sendo inconveniente. “Por que aparece tanto?”, ela pensou e fechou a maçaneta no mesmo instante enquanto dizia:
— Vai embora.
Do outro lado, ele bateu na porta e gritou: — Star! Eu só quero conversar um pouco!!!!
Por meio de um leve suspiro, a garota voltou e abriu a abertura. Uma breve troca de olhares e logo em seguida dele foi dito:
— Eu poderia ficar até o maninho acordar? Quero conversar com ele. — O lorde juntou a ponta de seus dedos indicadores.
— Não. — Ela franziu sua testa.
— Vamos fazer assim, vou ficar por 10 minutos, se ele não acordar nesse tempo, eu vou embora.
Ao ouvir as palavras dele, Night levou sua mão até o queixo e pensou: “Hmmm existe uma possível chance, tudo bem”, ela suspirou e respondeu:
— Tudo bem.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
— Não confunda calma com frieza — disse Reaper.
— Eu sei, mas se eu não manter isso, não sei se serei aceito. — De face tão serena, o garoto inclinou sua cabeça e olhou para o chão da sala escura.
Se levantando, o homem se aproximou de seu protegido e levou sua mão até sua bochecha. O erguer da cabeça de Kevyn para olhá-lo nos olhos.
— Você tem as mesmas pupilas de alguém apático em querer viver, então como seu sonho é querer viver?
— Viver sem propósito tornou minhas pupilas vazias? Eu quero viver por mim, não me esconder, eu deixei quem eu era e me tornei um monstro que todos têm medo, eu não quero ser temido…
— Você não está desamparado, muito menos sem família Kevyn, você tem a Night.
Mais lágrimas.
— A Night? — Sua voz tremeu e um leve choro veio e trouxe devaneio para sua cabeça. — Ela não…
A falta de palavras tornou a frase tão completa quanto se fosse realmente terminada.
— Mas em algum momento você já conversou com ela sobre isso? — disse o protetor do jovem.
Em silêncio, o garoto abaixou sua cabeça, mas Reaper forçou-o a erguer-la mais uma vez.
— Eu… não… consigo. — Desviou o olhar.
O homem soltou o rosto dele e voltou até sua cadeira. De olhos fechados, ele suspirou e voltou a abri-los.
— Tudo bem, quero que saiba algo bem importante… ela nunca vai perceber. Mas tirando isso, quais poderes você vai querer? Você tem dois poderes.
— Eu vou querer a manipulação de ferro e vou querer melhorar o… tem alguma ideia?
— Você não vê ninguém usando sua mana de maneira recorrente, mas recomendo… guardar por enquanto.
— Tudo bem, muito obrigado.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
O abrir de seus olhos, o teto. “Sinto cheiro de comida… família, namorar deveria significar isso?”, Kevyn se levantou e caminhou até o andar de baixo.
•••
Irmão mais velho, esperando na mesa, olhou para o mais novo e piscou duas vezes com um sorriso em sua face.
Mesa arrumada, tantas cadeiras e tão poucas pessoas para comer, mas um sentimento de… família surgiu no peito do príncipe. “É um recomeço, mesmo depois de tanto perder”.
— Bom dia, branco das neves!!!
— Boa tarde… irmão.
Gabriel se arrumou na cadeira e, alegre, afirmou: — Ei! Querem vir me assistir lutando contra o lorde Nolysses número dois?!
Sem entender, o casal inclinou a cabeça.
— Querem ou não? — Suspirou.
— Por mim, tudo bem. — O garoto se aproximou do fogão e, já que sua amada estava lá, aproveitou para apoiar nela.
— Ei! Eu não sou apoio… — reclamou Night.
— Quem é o lorde número dois? — Se apoiou ainda mais.
Irritado, o lorde tossiu duas vezes, encarou a garota com raiva, ajeitou seu cachecol e respondeu:
— É o Zeo, seu tio.
A demônio percebeu o olhar e decidiu deixar o príncipe. “QUEBRE! QUEBRE GABRIEL!”, um breve mexer de panelas, o desligar das bocas do fogão e então ela abraçou o jovem e franziu a testa para Gabriel.
Sem reação, o homem levou seus cotovelos sobre a superfície da singela mesa. Tão sereno, ele suspirou, querendo bater nela.
— O Zeo lutando? Isso é algo que eu gostaria de ver! — Kevyn sorriu.
— Imagino que sim, mas? Quando vocês vão parar de se agarrar na minha frente? — Semicerrou seus olhos.
A garota se intrometeu: — Não estamos nos pegando, seu pervertido!
— Quê?! Agora eu sou o pervertido?!
— Calado!
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Logo após almoçarem em uma união completamente instável, a família que Kevyn aceitou ser a sua não era tão unida.
Por mais disso, tudo correu bem e Gabriel passou o dia com eles. Dado à noite, como prometeu, eles iriam ver o confronto dele, contra Zeo.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
¹ Ceifador — “Reaper”, do inglês significa ceifador.
² Complacente — Ser indulgente, ter atitude de autossatisfação.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.