Índice de Capítulo

    — Curioso, diz ser eu, mas enxergo apenas mais um mentiroso.

    Incomodado, Kevyn cruzou seus braços e desviou o olhar para longe daquela escuridão.

    Um leve inclinar de cabeça, Reaper olhou-o com seriedade e o respondeu:

    — Mais um mentiroso, assim como você?

    Rápido contato visual e raiva nos olhos do garoto. — Mentir? 

    — Verdade.

    — Se sabe tanto, quem sou eu? Reaper- …quem sou? Quem é você se sou eu?

    Tão ²complacente, o homem encarou o campo tão lindo e verdejante. Preso em uma fração do tempo onde sentia já ter visto tantas vezes. — Como me chamou mesmo?

    — Reaper…

    — Kevyn, se você sou eu, você também é um ¹ceifador, mas como somos um reflexo, entenda que sempre nos vemos mais imperfeitos do que somos de verdade.

    Abaixando sua cabeça, o menino lacrimejou e uma só lágrima escorreu pelo seu rosto até tocar sobre a mesa. — Eu não sei se quero ser um assassino.

    — Pensei já ter aprendido isso… Meu pequeno, você se sente mal em matar quem faz mal a um outro alguém? 

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    Fazendo comida, Night encarou sua própria mão. “Aquela mulher em meu sonho, protetora da alma? Que estranho”, suspirou e ouviu um leve toque na porta.

    Indo atender, lá estava Gabriel, sempre sendo inconveniente. “Por que aparece tanto?”, ela pensou e fechou a maçaneta no mesmo instante enquanto dizia:

    — Vai embora.

    Do outro lado, ele bateu na porta e gritou: — Star! Eu só quero conversar um pouco!!!! 

    Por meio de um leve suspiro, a garota voltou e abriu a abertura. Uma breve troca de olhares e logo em seguida dele foi dito:

    — Eu poderia ficar até o maninho acordar? Quero conversar com ele. — O lorde juntou a ponta de seus dedos indicadores. 

    — Não. — Ela franziu sua testa.

    — Vamos fazer assim, vou ficar por 10 minutos, se ele não acordar nesse tempo, eu vou embora.

    Ao ouvir as palavras dele, Night levou sua mão até o queixo e pensou: “Hmmm existe uma possível chance, tudo bem”, ela suspirou e respondeu:

    — Tudo bem.

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    — Não confunda calma com frieza — disse Reaper.

    — Eu sei, mas se eu não manter isso, não sei se serei aceito. — De face tão serena, o garoto inclinou sua cabeça e olhou para o chão da sala escura.

    Se levantando, o homem se aproximou de seu protegido e levou sua mão até sua bochecha. O erguer da cabeça de Kevyn para olhá-lo nos olhos.

    — Você tem as mesmas pupilas de alguém apático em querer viver, então como seu sonho é querer viver?

    — Viver sem propósito tornou minhas pupilas vazias? Eu quero viver por mim, não me esconder, eu deixei quem eu era e me tornei um monstro que todos têm medo, eu não quero ser temido…

    — Você não está desamparado, muito menos sem família Kevyn, você tem a Night.

    Mais lágrimas.

    — A Night? — Sua voz tremeu e um leve choro veio e trouxe devaneio para sua cabeça. — Ela não… 

    A falta de palavras tornou a frase tão completa quanto se fosse realmente terminada.

    — Mas em algum momento você já conversou com ela sobre isso? — disse o protetor do jovem.

    Em silêncio, o garoto abaixou sua cabeça, mas Reaper forçou-o a erguer-la mais uma vez.

    — Eu… não… consigo. — Desviou o olhar.

    O homem soltou o rosto dele e voltou até sua cadeira. De olhos fechados, ele suspirou e voltou a abri-los.

    — Tudo bem, quero que saiba algo bem importante… ela nunca vai perceber. Mas tirando isso, quais poderes você vai querer? Você tem dois poderes.

    — Eu vou querer a manipulação de ferro e vou querer melhorar o… tem alguma ideia?

    — Você não vê ninguém usando sua mana de maneira recorrente, mas recomendo… guardar por enquanto.

    — Tudo bem, muito obrigado.

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    O abrir de seus olhos, o teto. “Sinto cheiro de comida… família, namorar deveria significar isso?”, Kevyn se levantou e caminhou até o andar de baixo.

    •••

    Irmão mais velho, esperando na mesa, olhou para o mais novo e piscou duas vezes com um sorriso em sua face.

    Mesa arrumada, tantas cadeiras e tão poucas pessoas para comer, mas um sentimento de… família surgiu no peito do príncipe. “É um recomeço, mesmo depois de tanto perder”.

    — Bom dia, branco das neves!!! 

    — Boa tarde… irmão.

    Gabriel se arrumou na cadeira e, alegre, afirmou: — Ei! Querem vir me assistir lutando contra o lorde Nolysses número dois?!

    Sem entender, o casal inclinou a cabeça.

    — Querem ou não? — Suspirou.

    — Por mim, tudo bem. — O garoto se aproximou do fogão e, já que sua amada estava lá, aproveitou para apoiar nela.

    — Ei! Eu não sou apoio… — reclamou Night.

    — Quem é o lorde número dois? — Se apoiou ainda mais.

    Irritado, o lorde tossiu duas vezes, encarou a garota com raiva, ajeitou seu cachecol e respondeu:

    — É o Zeo, seu tio.

    A demônio percebeu o olhar e decidiu deixar o príncipe. “QUEBRE! QUEBRE GABRIEL!”, um breve mexer de panelas, o desligar das bocas do fogão e então ela abraçou o jovem e franziu a testa para Gabriel.

    Sem reação, o homem levou seus cotovelos sobre a superfície da singela mesa. Tão sereno, ele suspirou, querendo bater nela.

    — O Zeo lutando? Isso é algo que eu gostaria de ver! — Kevyn sorriu.

    — Imagino que sim, mas? Quando vocês vão parar de se agarrar na minha frente? — Semicerrou seus olhos.

    A garota se intrometeu: — Não estamos nos pegando, seu pervertido!

    — Quê?! Agora eu sou o pervertido?! 

    — Calado! 

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    Logo após almoçarem em uma união completamente instável, a família que Kevyn aceitou ser a sua não era tão unida.

    Por mais disso, tudo correu bem e Gabriel passou o dia com eles. Dado à noite, como prometeu, eles iriam ver o confronto dele, contra Zeo.

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    ¹ Ceifador — “Reaper”, do inglês significa ceifador.

    ² Complacente — Ser indulgente, ter atitude de autossatisfação.

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