Capítulo 112.5 — Disparidade de Nível.
— O jeito que eles lutam e usam os poderes é interessante — disse Kevyn, sentado à beira da arquibancada para a arena.
— A luta passou um segundo só agora, do que você tá falando? — perguntou Night, sem sequer saber do que ele estava falando.
— Tô usando meus olhos, é mais fácil de ver a luta assim.
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Ao olho nu, velocidade extrema veio a se chocar os dois lordes, poderosa onda de choque, mas não o bastante para sequer partir o chão.
Com ambos os braços na jogada, o nível da luta finalmente se elevou. Gabriel avançou com um soco de esquerda, perfeitamente bloqueado por seu oponente, que respondeu em seguida e tentou um gancho, mas desviado foi com uma cambalhota rápida, seguida por um chute de baixo para cima.
Por um triz, Zeo não teve seu queixo acertado. De pé, seu adversário ajeitou seu cachecol e com calma retornou à postura de combate mais uma vez.
Dessa vez, o dragão avançou com brutalidade. Um chute logo após um soco, em sequência outro ataque com o outro braço. Em um movimento contínuo, ele manipulou cordas afiadas, tentando dilacerar seu oponente.
Todos os ataques foram desviados pelo loiro. Mas quando o nylon cortante se aproximou, ele ergueu a mão envolta em escuridão e, com um gesto preciso, o lançou para outra dimensão.
Zeo não demonstrou surpresa. Seus olhos permaneciam frios. Com a precisão de um predador acostumado depois de tantas batalhas, abaixou-se num movimento súbito, desferindo uma rasteira enquanto seu oponente ainda erguia o braço, tentando antecipar as cordas. Eram muitos movimentos ao mesmo tempo, mas nada impossível para o rei do combate corpo a corpo. Para ele, aquilo era apenas mais uma dança no caos da luta.
Deixar-se levar pela rasteira fora sua jogada desde o início. Seu corpo foi lançado ao vento, mas não sem controle. Com maestria, ele manipulou o ar, e o impulso da queda, girou com velocidade. E então, como um trovão, desferiu um soco ascendente, vindo de cima e mirando direto na face de seu adversário.
— Xeque — disse Gabriel.
Com um sorriso enorme, Zeo continuou a fala: — Mate.
Desfeito em seu próprio poder, tudo foi manipulado pelo maestro mais experiente. Aquele acertado pelo loiro não era nada além de um clone feito do nylon do dragão. Assim, a surpresa do homem de cachecol transpareceu pela primeira vez em luta após cair em um truque tão súbito. Ele não iria deixar-se levar outra vez.
Mas tudo se torna restrição.
Por suas veias, corre o sangue de um demônio. Quente, selvagem, indomado e controlado para nada. Pois a glória que um dia poderia justificar sua existência, foi arrancada como se fosse apenas um erro. Não há redenção quando a apologia do próprio nascimento foi roubada.
Tanto problema para o pobre Gabriel, mas mesmo seus tormentos, não se comparam diante a tragédia do segundo lorde mais poderoso. Se equiparar ao fardo de ser filho da linhagem terciária da dinastia dos dragões, e ainda assim ser visto como maculado?
No fim, se tornar mais forte que aquele um dia protegeu a família real e, mesmo assim, ser menosprezado pelo reino que tanto protege. Aquele que nasceu. Um mestiço. Um nome sussurrado com desprezo entre corredores dourados. Um rosto ignorado em retratos de família.
E mesmo assim, ultrapassou aquele que um dia foi o escudo da realeza, o guardião lendário Daniel, o orgulho de toda uma geração. QUE TAMBÉM MESTIÇO ERA?!
Mas o reino, ingrato e cego, ainda o olha como uma cicatriz mal curada. Aquele que nasceu para proteger… e foi esquecido por aqueles que jurou proteger. Esse é Zeo? Não, afinal, jurou estar ao lado do futuro rei dos dragões, aquele que na platéia está o vendo com olhar crítico, o seu rei que tem sangue maculado, e ainda está de pé mesmo após ver tudo cair.
Quem é ele, se mesmo alcançando seus objetivos, cai perante a falácias? Não era hora para isso.
✶⊶⊷⊶⊷ Restrição ⊶⊷⊶⊷✶
⊶⊷ S̸̫̀u̶̟͌b̷̘͘ȍ̸̪r̸̥̈́d̶̬̓ḯ̸̪n̴̹͌a̶̪͑-̵̘̈́s̶̲̿e̶̗̋⊶⊷
⊶⊷ A DECADÊNCIA ESCARLATE ⊶⊷
Com o rasgar de sua blusa, o corpo do dragão foi rasgado por cordas que lhe trariam mais poder. O suor escorria junto ao sangue entre os músculos, e em seus olhos ardiam o fogo de sua vontade. Era mais que esforço, era ritual. Era mais que dor, era sacrifício. Seu esforço e a liberação, demonstrar ao seu rei que era capaz.
Ele se ergueu não apenas como guerreiro, mas como oferenda viva ao trono que jurara servir. Pois ali, no limite do corpo e da alma, sua única vontade era provar ao seu rei, que mesmo renegados, eram dignos. Que a força não vinha do sangue puro, mas da vontade inquebrável de ser visto. De ser aceito. De ser lembrado.
◦╳╳╳╳╳╳╳╲ Restrição ╱╳╳╳╳╳╳╳◦
╳╳╳ Coração da morte ╳╳╳
O cachecol dançava ao vento quando as escleras de Gabriel escureceram. Ele venceria aquela luta mesmo que seu corpo fosse o preço.
Mas após tanto drama, num rápido avançar, os punhos colidiram. A pressão explodiu no ar, mas ambos eram fortes o suficiente para resistir. trocando golpes em uma sequência feroz, cada ataque defendido ou desviado com precisão além do humano, era como se só suas imagens deixadas fossem possíveis.
Conforme a dança de seus corpos, mais latentes e velozes eram seus golpes. ondas de choque no ar ao redor, sem mais se conterem, porém, mesmo assim o chão não rachava do sob seus pés.
Assim um vislumbre, um erro mínimo, uma hesitação quase imperceptível. Mas para Zeo, aquilo foi tudo. Com todos os seus cálculos, quebra-cabeças em sua mente calculou todas as mediantes, o exato momento da morte, ele avançou, encontrando espaço entre a guarda de seu inimigo.
Num choque de socos que explodiu o ar, os dois vieram em constante movimentação. Gabriel atacou com precisão cirúrgica, cada golpe um planeta inteiro quebrando sobre suas mãos, cada esquiva um milagre de instinto. Porém, Zeo era uma tempestade controlada, cada defesa um convite, cada passo recuado, uma armadilha disfarçada.
Os punhos trocaram calor, deslizou pelo ar como lâminas. Os músculos tremeram sob a pressão, o som seco dos impactos ecoou como tiros abafados. Cada soco vinha com uma promessa de fim. E mesmo assim, nenhum deles recuou.
Zeo roçou o chão com a ponta dos pés, girando, desviando, devolvendo. Assim como uma dança. Os fios de nylon, invisíveis à primeira vista, vieram junto entre seus dedos como marionetes à espera da ordem final. Eles se arrastaram discretamente, como predadores, sondando o campo de batalha em busca de uma abertura.
Gabriel avançou com um direto. Zeo agachou-se como a sombra do homem de cachecol, e assim rebateu com um gancho reto. Os punhos se chocaram, faíscas saltaram do atrito. A vibração percorreu seus braços como trovões vivos e por um nanosegundo, desapareceram, mas retornaram para o continuar frenético.
Mais dois milhões de golpes, três bilhões. Uma rodada que Zeo evitou por milímetros. No entanto, um impacto que viria a quebrá-lo, acertado, e diretamente em seu abdômen. O ar foi arrancado. Mas ele resistiu? Um chute rasteiro impossível de bloquear. Gabriel recuou, e por um instante, UM ÚNICO INSTANTE! sua base cedeu. O pé deslizou, o quadril girou meio centímetro a mais do que devia e errado teria.
Entretanto, foi o suficiente.
Zeo lançou os braços para frente como se rasgasse o próprio ar, e os fios, agora visíveis, serpenteiam como predadores libertos. Eles se enroscaram nos tornozelos de Gabriel, apertando como grilhões. Os olhos de Zeo brilharam. O MOMENTO!
O erguer para um último soco, não pelo dano, mas para selar o destino. E então, com um puxão brutal para o lado, Gabriel foi arrastado pelo desequilíbrio, girando no ar como uma marionete com os fios puxados por um mestre cruel.
Foi ali, naquela brecha cruel, que o dragão despertou.
Um cruzado de esquerda veio com a força de um mundo colapsando. O impacto estalou não só os ossos de Gabriel, como os do próprio homem em seus últimos momentos de consciência, lançando-o como um boneco contra a parede invisível da própria derrota.
Mas Zeo não havia terminado.
As cordas ainda presas ao corpo de Gabriel o puxaram para baixo como se quisessem arrastá-lo ao inferno. E enquanto o corpo decadência, Zeo ergueu o punho, pesado, carregado, MONSTRUOSO. Um instante depois, ele desceu.
O impacto rasgou o silêncio. O chão explodiu em estilhaços de pedra e poeira; o primeiro trinco se espalhou como um grito na grama tão resistente. E então vieram as chamas.
Célebres e Carmesim.
Elas surgiram junto às cordas, consumindo tudo ao redor. O segundo impacto não foi apenas destruição, foi julgamento. A terra indestrutível se abriu, o peito de Gabriel queimou sob a fúria carmesim. Carne, terra, honra. Tudo sendo incinerado sob o peso do ataque do lorde.
No entanto…
“Tic”, Gabriel parou o tempo.
“Tac”, mesmo ferido, aquilo não o faria ceder. O homem loiro saiu do punho do dragão e, de pé, o encarou com tanta tristeza.
“Tic”, Não seria mérito seu ganhar a luta desse jeito, ao com um golpe fatal, covardia és. E não era isso que Gabriel era.
“Tac”, De costas, ele escondeu sua boca e nariz em sua capa e… pensou: “Zeo, reconheço sua tremenda força, essa luta mostrou não só para mim, como você é tão forte, quanto ainda devo melhorar meu combate. Você é o dragão mais forte que eu enfrentei”. Tempo retornando, enfim o fim da batalha.
Uma nuvem de fumaça cobriu a arena por um momento e, com uma enorme e decadente pressão, a poeira se apagou.
De pé, o lorde, e ajoelhado, outro lorde, mas uma nova presença estava lá…
— Você lutou muito mais do que eu poderia esperar… mesmo inconsciente, ainda se mantém de pé? … Zeo. — De cabelo branco, mesmo por um momento, Kevyn chegou na arena, e usando o sangue carmesim, o corpo inteiro do dragão recuperou, até seu braço perdido.
Assustado, Gabriel se levantou e encarou seu irmão. — Quando você chegou aqui?!
Cabelo agora negro novamente, o menino virou o rosto e no mesmo instante voltou até sua amada.
“Entendi”, o loiro balançou a cabeça em negação e sorriu. “Por mais de você querer tanto, eu não vou deixá-lo virar rei, Zeo”.
Mesmo após toda a batalha, a figura do dragão permaneceu de pé, Imparável, erguido contra o próprio limite. Seu corpo, agora curado, trouxe as marcas das cordas não como restrição, mas como cicatrizes eternas, trilhas que jamais se fecharão, lembranças gravadas na carne de batalhas que o tempo não ousaria tirar do agora, terceiro lorde Nolysse mais forte.
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