Capítulo 128 — Yakuza
Pegando-se de surpresa, Kevyn deu um leve pulo para trás. Com a venda ainda cobrindo seus olhos, ele se manteve atento, os sentidos aguçados preenchendo o vazio decaído pela visão.
Diante dele, a voz do homem soou firme, carregada de uma elegância que impunha suavidade e respeito sem esforço algum. Ainda processando, Kevyn respirou fundo, tentando recuperar a compostura.
Então, num gesto travado, assentiu com a cabeça, os movimentos robóticos mais pesados do que deveriam, e respondeu com a seriedade que a presença do estranho exigia:
— Prazer, Yakuza…
— Hehe, você tem ficado famoso, tem que tomar cuidado, viu? — disse o homem.
Com passos tranquilos, no entanto, carregados de presença, o príncipe aproximou-se e acomodou-se em um dos bancos próximos ao balcão.
Movimentos elegantes e, finalmente, naturais. Poucos instantes depois, Yakuza o acompanhou, desleixado e sorridente.
Do outro lado, Jeremy observou os dois com certa curiosidade.
Seus olhos enxergando muito mais do que o convencional, vendo cada detalhe com perfeição, acostumados a ler mais do que as palavras revelam.
Enquanto secava um dos copos com o pano branco, já gasto pelo uso, inclinou-se levemente para a frente.
Pois assim, colocou o copo sobre a bancada com um toque tênue e, finalmente, quebrou o silêncio com a voz rouca e firme de quem sabe muito mais do que o destino prova.
— Esse é Michael Yakuza. Diferente de você, ele não se importa muito com identidade. Ele se satisfaz apenas com o trabalho bem-feito — comentou Jeremy, com um sorriso sutil e quase enigmático.
— Eu nunca disse que não estou satisfeito — retrucou Kevyn, franzindo a testa.
— Não, não, kukuku… não estou falando que você reclama — riu com uma risadinha abafada e continuou: — Estou explicando o que os difere, apenas isso.
— Entendo…
Através de um gesto rápido, o ruivo puxou uma pilha de papéis debaixo de seu balcão e os espalhou sobre a frente deles. Logo, organizou e disse:
— Enfim, tenho uma missão para vocês. Alvo: uma máfia chamada Alcapone. — Seus olhos dourados brilharam por um momento.
Yakuza ergueu levemente a mão, direto ao ponto:
— Detalhes, por favor.
— Ah, claro. Estão na nossa lista por retirar dinheiro de pequenos comerciantes, cobrando por uma “proteção” e serviços que nem existem. Além disso, estão causando tumulto no lado oeste da cidade.
— Mais alguma coisa? — indagou o príncipe.
— Hmm… claro, claro, mas nada muito além. Estão abusando do pouco poder que têm. Essas máfias de hoje em dia adoram explorar gente pobre e, ironicamente, tornam-se mais miseráveis.
— Típico — Michael assentiu.
— É, é. — Kevyn também concordou, pegou os cartazes e começou a sair. — Vamos, temos muita gente pra matar.
Yakuza permaneceu por um segundo, vendo seu parceiro indo. Sem dizer nada, tirou algumas moedas e pagou por duas bebidas.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
— Ei! Espera!
Ainda no beco, o príncipe viu-o saindo pela porta desesperado. Ele ficou e esperou por ele, aquele medo o fez sorrir.
— A-ah… hehe, então você não é tão sombrio quanto eu pensava, pensei até ser mais velho — Michael sorriu enquanto escondia as bebidas.
— Mais velho? Deve ser normal pensarem isso, mas sim.
— Quantos anos você tem?! — ele levantou as sobrancelhas, esperando por uma resposta concreta. Afinal, estava bem curioso quanto à Black Room.
— Idade… provavelmente você deve ser mais velho, eu tenho seis anos — seguiu em frente, enfim saindo do beco.
— Seis?! — gritou, mas, percebendo ele indo, foi logo atrás. — Você mata desde quando? É muito, muito novo!
Em meio a poucas pessoas, os dois conversavam, horário ainda cedo para qualquer assassino, mas era o suficiente. O asfalto, a calçada, os carros, tudo tão tênue.
Despreocupado, Kevyn localizou o primeiro alvo nos papéis que carregava. Medindo o caminho mais rápido, seus olhos vagaram por toda a rua com precisão enquanto seguia para o local designado.
— Faz um tempo… — murmurou para si mesmo, mas alto o bastante para que Yakuza notasse. O príncipe então virou o rosto, encarou-o de relance e acrescentou em um tom mais firme: — Preste atenção. Temos exatamente seis minutos para chegar até a praça. Vamos correr. Não me perca de vista.
— É pra já! — sorriu.
No mesmo momento, os dois correram, o garoto se limitou para que Yakuza pudesse o acompanhar, seguindo até a praça e vendo várias pessoas por ali.
Enquanto o homem suspirava, o jovem levantou sua venda para rapidamente verificar todos os rostos e achar o alvo.
— Vamos, mas tente não parecer suspeito — resguardou seus olhos pela venda e começou a caminhar em direção ao mafioso.
— Tudo bem — o seguiu.
Passo a passo, eles se aproximaram. Perto o bastante, Kevyn ergueu suas orelhas felinas para ouvir a conversa dele com uma outra pessoa.
Vendo aquela ação, Michael deu um pulo para trás e gritou:
— Vo-
No entanto, foi interrompido no mesmo momento por Black, que tapou sua boca para, então, ouvir a conversa:
“Hoje é o dia da reunião, será que vai ter bolo?”, disse o alvo principal até agora.
“A gente não é uma seita, no máximo vai ter bebida”, reclamou a outra pessoa com ele.
“Mas vai ser às nove, deveria pelo menos ter uma janta, não concorda?”, suspirou o procurado.
Pegando as informações que queria, Kevyn soltou seu parceiro.
Ainda surpreso, Michael disse: — Você é um demi-humano!
— A-ah… sim, eu sou… — escondeu suas orelhas e se arrastou até um banco próximo.
Vendo-o se sentar, Yakuza se aproximou e perguntou:
— Não vamos matá-lo?
— Ainda não, pelo que eu ouvi, a máfia inteira vai se reunir, então vai ser mais fácil pra gente esperar.
— Hm? Esperar até quando?
— Nove da noite, no caso… — olhou para o relógio ao centro da praça e continuou: — faltam duas horas até lá.
Após um tempinho em silêncio, tipo, dois segundos, Yakuza suspirou e ofereceu um dos seus refrigerantes ao garoto.
— Aí, bebe, eu balancei um pouco enquanto vínhamos aqui… mas, até bater a hora, vamos conversar.
Room aceitou o presente e sorriu enquanto falava: — Claro.
— Então, qual vai ser o plano? — Michael se sentou ao lado dele.
— Plano? — inclinou a cabeça.
— É, tipo, como a gente vai entrar lá?
— Não é só… entrar e matar todo mundo? — virou a cabeça para o outro lado.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.