Capítulo 133 — Em torno da Destruição mundial
Ao atravessar a porta da forja, um calor silencioso o envolveu; não apenas físico, mas talvez até sua alma o sentisse.
As paredes de madeira escurecida absorviam cada eco de seus passos, enquanto o cheiro metálico do lugar preenchia seus pulmões, como se despertasse algo adormecido dentro de si.
O ar vibrava com uma energia quase viva, densa, mas, na verdade, era a forja contaminada pela mana e energia do próprio príncipe.
Kevyn caminhava com propósito, mas, em seu olhar, havia mais do que uma pura determinação: reverência. À sua frente, no centro de todo o local, flutuava o presente — talvez promessa — que ele forjaria para sua amada.
A espada pairou no ar, girando lentamente, como se dançasse no espaço. Imensa, bela e inacabada. Ainda não era arma, era sonho. A luz tênue do ambiente refletiu sobre sua superfície, revelando os contornos de sua lâmina incompleta.
Misturas além da capacidade ancestral da forma: dourado e quente, o ouro vivo. Entrelaçado a ele, adamantina fria e imune ao tempo. Mas, além dessas duas potências, uma moldura escura e fosca de titânio caiu do céu como estrela morta a outro propósito.
Kevyn parou diante da espada. Diante do destino que ele mesmo escolheu forjar. Sobre a lâmina suspensa, repousavam três barras de cada um dos metais sagrados, perfeitamente equilibradas, como se esperassem a aprovação do próprio mundo, que seu rei as trouxesse sentindo naquele mundo distorcido.
Então, ele respirou fundo.
Sem hesitar, passou as pontas dos dedos sobre as bordas das barras. No instante em que o fez, milhares de cortes começaram a rasgar a fina pele de seus braços. O sangue escorreu em linhas suaves, tingindo sua pele como tinta sobre o papel. Não havia dor, apenas entrega.
Do centro da espada, uma chama azul se ergueu, como se respondesse à sua oferta. Fogo silencioso que dançava sem consumir, sem destruir, como alma exposta ao véu do mundo.
Kevyn a abraçou. Suas mãos, agora cobertas de sangue quente, mergulharam diretamente na chama, atravessando o calor com fé cega, mas sem se queimar. Seus dedos tocaram o metal em fusão; os três fragmentos, as três barras sagradas, se derretiam, como se sua essência se curvasse ao bel-prazer do príncipe.
Os metais fundiram-se não apenas à lâmina, mas à própria alma do garoto. A espada pulsava agora com uma luz própria, viva, respirando. Era mais do que uma arma: era um fragmento de quem ele era, de tudo que seria, de tudo que não ousava dizer em palavras.
E ali, na penumbra quente da forja, entre sangue, metal e memória, nasceu um presente silencioso: promessa selada em aço.
“O sangue é uma substância vital… então, sua integridade em uma arma é incompreensível. Por mais que o livro não fale nada além disso, meu sangue carmesim pode mudar algo”, pensou, parando as chamas e movendo a lâmina apontada para baixo. Os metais escorriam e pingavam, mas, no momento em que tocavam a bigorna, retornavam à arma.
— Hora de lapidar.
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Após concluir a forja, Kevyn foi para a cozinha e preparou o almoço com calma. Pouco depois, Gabriel apareceu para fazer uma visita e aproveitar a refeição. A tarde seguiu tranquila, e ele e Night aproveitaram para treinar juntos, focando em melhorar suas habilidades.
Assim, pararam para descansar na grama da planície. Um do lado do outro, o príncipe deitou a cabeça no ombro dela e sorriu ao ver seu rosto.
— Night, você pode me contar um pouco sobre seus olhos? — Ele jogou a perna por cima dela e a abraçou.
Não sentindo desconforto pelo toque dele, a garota se aconchegou e respondeu: — É a minha apologia… sou apóstola da morte, eu vou ser a próxima deusa da morte.
Surpreso, ele sorriu de nervoso e perguntou: — Q-quê?! Deusa?! C-como assim?!
— Você não queria me conhecer? Essa sou eu.
Sem reação, o garoto apalpou o cabelo dela, suas costas e suas coxas. — Deusa? Você? Divina? Hã?! Tipo, hã?!
Corada, Night esfregou o rosto no peito dele e se segurou. — E-eu sei que você não deve tá acreditando, mas eu não sou uma deusa, sou apóstola.
— Ainda assim! Deuses existem? Tipo… deuses?
Com delicadeza, a garota se afastou do abraço, como quem solta algo precioso com relutância. Seus movimentos eram suaves, tímidos, como se estivesse tentando esconder o turbilhão de sentimentos que lhe dançavam internamente.
Sentou-se ao lado dele, dobrando as pernas com graça contida, e começou a enrolar uma mecha de cabelo no dedo, distraidamente, mas carregada de nervosismo e doçura. Um rubor suave tingiu suas bochechas, espalhando calor em contraste com a brisa fresca que soprou ao redor.
O garoto, ainda com o coração desacelerado do momento anterior, a observou por um instante, os olhos revelando uma mistura de encantamento e dor. Respirou fundo, tentando se situar naquela nova calma, e então se sentou ao lado dela — o silêncio entre os dois, tão presente quanto o próprio ar.
O vento dançava pelo campo aberto, brincando com os fios soltos do cabelo de ambos, enquanto a grama, baixa e dourada pela luz suave da tarde, se curvava. O mundo pareceu parar, como se reconhecesse a importância daquele momento.
Olharam-se. Primeiro com cautela, depois com mais firmeza. Era como se buscassem, um no outro, alguma certeza muda do que não há palavras — sensações destoantes que trouxeram amargor, trouxeram amor.
De repente, Night franziu os lábios. Seus olhos brilharam com algo indefinido e, então, num impulso espontâneo, esticou o braço para ele com o dedo firme e expressão indecifrável. Sua voz surgiu baixa, mas clara, cortando o silêncio como uma lâmina densa:
— Você… eu mataria tudo em volta se não fosse… fosse… você! Vo-você anula minha apologia. Você tem algo além da essência da vida, você me mantém sob controle…
Após todas aquelas afirmações, o silêncio tomou. “Essência da vida?”, Kevyn pensou e encarou o chão. Assim, ele voltou seu olhar para ela e perguntou:
— Como você sabe disso?
O tempo parou.
“Tic.” Night agarrou o garoto e jogou-o contra o chão. Seus olhos vibrantes canalizaram; ela reprimiu seus desejos e respondeu:
— Kairós me disse.
“Tac.” O mesmo silêncio tomou, mas o príncipe aceitou aquela resposta. A feição da demônio mudou e se tornou mais calma.
“Tic.” Sentando-se em cima dele, ela semicerrou os olhos, com as sobrancelhas baixas.
— Eu… preciso de você, você é meu mundo, minha lótus… sabe? Kukuku… não me abandona… por favor. — Ela deitou a cabeça no peito dele e o abraçou.
— Eu não vou, nunca irei. — Kevyn levou a mão até a nuca dela e acariciou seu cabelo.
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