Índice de Capítulo

    Assim, Kevyn passou o dia no bar do Jere-

    Corte.

    — Cadê a carta?

    — É essa aqui, senhor Tsushite! — Um velho homem caminhou em direção a um mascarado, levando um envelope em suas mãos. Ele se curvou e a entregou.

    Com a delicadeza de quem manuseia um segredo antigo, o coordenador recolheu o pedaço de papel, efêmero como um suspiro ao vento oeste.

    Seus dedos, envoltos de uma luva como o tecido mais suave, roçaram a superfície da carta com uma calma solene, enquanto, num gesto quase simbólico, ajustava a coroa sobre a cabeça; gesto que restaurava a ordem de sua presença incabível.

    O vento soprou de maneira tardia, como se reconhecesse o momento. Seus cabelos voavam ao redor da máscara que ocultava sua verdadeira face, conferindo-lhe um aspecto quase mitológico; um rei, não de verdade, mas aquele destinado ao seu próprio protagonismo.

    Sem hesitar, ele despedaçou a carta entre os dedos com uma lentidão cruel, rasgando suas bordas como quem profana algo sagrado, causando sacrilégio para enxergar sua essência.

    Os fragmentos revelaram manuscrito à mão; palavras impregnadas de uma pureza quase infantil. Porém, carregadas de revelações sombrias, onde a luz das descobertas se chocava contra a lama da realidade: O mundo, a carne, degradação. Silenciosa de tudo que é vivo.

    Mas não se enjoou. De maneira solene, continuou.

    Com um olhar opaco, serpentinas para seu trazer, desprovido de emoção, deixou que os pedaços rasgados da carta escorrerem de seus dedos até o chão, como breves e singelas… folhas mortas sem sentido ou propósito.

    Em seguida, pisou sobre com naturalidade, esmagando letras e sentimentos sem menor hesitação.

    Brevemente irritado, mas sem irritação; uma cólera que não queimou, mas congelou. Em seu tom, havia algo imparcial, como o julgamento de uma entidade acima do bem e do mal. Viu, nos fragmentos daquelas palavras, o absurdo.

    Mentiras, intenções pívias, meras coadjuvantes.

    E ali, permaneceu, sem sequer perder sua postura tão acima, com o vento ainda brincando em seus cabelos como se o mundo não pudesse resistir ao seu palco tão longo, para a queda de máscaras.

    — Maldito Calamith.

    Renovado em sua natureza, por uma força invisível estava a carta; renovada, intacta, purificada em sua essência como se nunca houvesse sido tocada por luvas pútridas.

    Assim, retornou suavemente até à palma do homem. O papel no instante em que ele repousou seus dedos agora nus para sentirem o grafite, a caneta.

    Cujo seus cabelos grisalhos mostravam sua idade, denunciou todos os invernos que presenciou. Ele abaixou a cabeça, não por submissão a um falso rei, mas por um respeito involuntário diante do que se revelou.

    À frente do pobre senhor, o coordenador da situação mantinha-se ereto, envolto de um manto branco de um anjo recém caído, a pelagem negra envolto de seu pescoço enquanto seu cabelo se misturava com aquela pútrida roupa que embolsou seu corpo. Sendo levado pelo vento invisível, fios do tempo, carregados por tanto poder.

    Foi então que, com os olhos ocultos por sua máscara impenetrável, ele leu o nome do manuscrito na carta:

    “Nyvek Ryan.”

    O nome vociferou em sua mente como um presságio. Ele piscou. Algo naquele arranjo soava… cármico.

    “Se inverter fica Kevyn, Ryan significa… o que era mesmo?”, sua mente não buscou respostas de ninguém além de si. A dúvida encaminhou por instantes antes de se desfazer em meio ao vento.

    Sem palavras, soltou a carta para o homem, permitindo que fosse levada pelo até seu condenado destino.

    Com passos ainda firmes, mas silenciosos, o grande mascarado se afastou do recinto mundano, inepto com medidas tão inválidas ao seu ser profano. Tão aquém de sua estrutura. Avançou por um corredor inóspito onde seus passos tênues não podiam ser escutados pelos ouvidos mortais.

    Mas o peso de uma falha: brecha rara em sua sabedoria, rachadura para o declínio final em seu orgulho ancestral.

    Era incômodo como reconhecer um erro tão cômodo. Assim, carregou como verdade: “Até Deuses tropeçam afinal…”.

    Com o espírito envolto de um pesadelo inigualável, permitiu-se errar. Sem arrependimento, se responsabilizou.

    E ali, entre corredores de puro vazio e pensamentos tão filantrópicos, falou consigo mesmo com a calma de quem conhece os ciclos da eternidade; aqueles que carrega na mão como poder absoluto, serpente que devora o mundo, Ourobion:

    — “Mesmo o mais alto entre os montes pode esconder sombras em sua base… e talvez este seja apenas o começo de um novo declive”. Ryan reverbera como o príncipe que é; “pequeno rei”, mas ainda tão alto. Meu senhor conduz sua glória, você realmente se escondeu bem, Kevyn Calamith! Hahahahah!

    ❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍

    De volta em casa pela noite, Kevyn caminhou até a forja e ergueu sua mão até Kind, que estava sobre a bigorna. “O Jeremy cozinha até que bem, agora eu só preciso terminar aquilo”.

    Passo por passo, ele caminhou até se aproximar o bastante, criando um martelo com sua mão esquerda; um movimento de cima para baixo foi feito até tocar a arma, explodindo em fogo a bigorna.

    — Seja perfeição!

    Corte

    “Eu estou cansado”, levando a mão até o pescoço, após tanto trabalho Kevyn tentou se botar no lugar. “Kind terminada e essa espada também”, olhou para uma claymore inteiramente de adamantina.

    Brevemente, o garoto se levantou e então empunhou a katana e a guardou em sua bolsa dimensional. “Hora de dormir”, ele recolheu a outra arma e então saiu da forja.

    Subindo as escadas, ele chegou em seu quarto, agora só. Assim, tomou banho, deitou-se e…

    De volta àquela escuridão.

    — Vejo que muita coisa aconteceu, está chovendo de novo.

    Aquela mesa, aquele homem, seu cabelo negro, seus olhos verdes. Reaper parecia triste com a tristeza de Black Room.

    Vendo-o tão apático, Kevyn viu a mesa entre eles, sua visão permaneceu naquela sala escura enquanto a do Black refletia um campo de rosas muito além do que o garoto era.

    Após segundos em silêncio, o príncipe o perguntou:

    — Por que me trouxe aqui?

    — Você tem seis poderes, o que fará?

    Olhares trocados para que nesse mundo haja, era certo que Kevyn estava quebrado, mas sua fúria era muito maior do que qualquer tristeza.

    Reaper viu rosas em chamas, e com todo aquele sentimento, não poderia ser dito em palavras a verdadeira sensação.

    — Tenho algum poder para despertar? — perguntou o jovem.

    Usando a mesa de apoio para seus cotovelos, Black juntou seus dedos e respondeu: — Manipulação de terra, areia, terra, magma, madeira, vapor, vento, diamante e fumaça.

    Vendo-o desistir de esconder combinações e poderes que ele desconhecia, o menino franziu os lábios em sorriso leve.

    Surpreso, o guardião arregalou seus olhos e pôde ver a chuva parar. Reflexivo, o mundo caminhou para que pudesse ser visto.

    — Eu quero melhorar a manipulação de fogo três vezes, a de água duas e o sangue com o restante. Enfim, você acha que essa é uma boa ideia? — inclinou a cabeça.

    Suspirando, o homem olhou tudo enquanto pensava antes de responder com um sorriso: — Parece promissor, mas lembre-se que é muito difícil conseguir poderes.

    — Foi você quem disse que é melhor ter um poder forte do que vários.

    — É que você prova o contrário.

    — Hm?

    — Sua inteligência e criatividade me surpreendem bastante, mostre mais para mim, hehehe — sorriu e se espreguiçou para continuar: — Mostre ser além do que um dependente em poderes, faça como Améli ensinou.

    — Mas como eu faço isso?! Olhe para o mundo em volta! — Animado e desconcertado, ele jogou suas mãos para o alto, indo para trás na cadeira.

    — Sabia que o homem considerado mais forte do mundo não usava seus poderes por piedade?

    Curioso, Kevyn o encarou em silêncio.

    — Treine, Kevyn, se precisar, treine o dobro; você ainda tem um potencial que vai demorar alcançar, não quero retomar suas memórias, mas seus pais não são nem de longe fracos.

    — Não sei se entendi certo. — Desviou o olhar.

    Se levantando, Reaper riu e ergueu sua mão até o peito, segurando seu colar de coração acorrentado. Virando seus olhos para o príncipe de forma metódica, respondeu:

    — Hehehe! Meu pequeno, você tem um grimório, desenvolva técnicas, melhore, amplifique, vá, e seja muito além do que qualquer um!

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