Capítulo 46 — Constantemente perdido.
Passo por passo, Kevyn percebia que ninguém se aproximava dele. “Por algum motivo isso faz muito sentido”, pensou, ao ver um homem na mesma calçada simplesmente se enfiar no beco de tanto medo.
“Kevyn, isso é por causa dos seus olhos, você esqueceu das suas lentes e o seu nariz tá sangrando!” Disse Night, repreendendo-o.
Tímido, o garoto desviou o olhar por um momento. “Maldita indução do medo, a culpa não é minha, que humanos são tão mentalmente fracos!”, pensou e tirou outro par de lentes da bolsa dimensional.
Adentrando uma padaria, ele acabou esbarrando em alguém e, sentindo um leve arrepio, ele recuou e disse:
— A-ah! Desculpa…
Se virando para ele, aquela pessoa se revelou ser uma garota. Mostrando um olhar esmeralda, ela disse: — Sem problema.
Vendo um sombrio cabelo longo quase cacheado e seu vestido também escuro, Kevyn não conseguiu tirar seus olhos dela e, após alguns segundos e perceber o que estava fazendo, ele desviou o olhar.
A garota, aparentemente de mesma idade, apenas ignorou e terminou sua compra, mas antes de sair, ela olhou para ele uma última vez e perguntou:
— O que aconteceu?
Olhando-a, o garoto disse: — E-eu… tô perdido.
— Onde você mora?
Tímido, Kevyn não conseguiu fazer contato visual e juntou suas mãos, respondendo-a: — Eu moro com Daniel, o ferreiro.
Neutra, ela percebeu a timidez dele e se aproximou um pouco. — Você é filho dele?
— Bem… não… ele é tipo um tio.
A desconhecida pegou uma das mãos dele e saiu da padaria. — Vai ficar tudo bem, eu vou te levar lá.
Totalmente em choque, Kevyn ficou um tanto vermelho. — A-ah! Mu-muito obrigado.
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Após algumas horas andando juntos, eles enfim chegaram a um caminho de pedras que adentrava para a floresta.
Já quase escurecendo, e podendo ver a lua ao horizonte, Kevyn se preocupou com ela, mas apenas pensou: “A gente ficou horas andando, ela me trouxe até em casa…”, se sentindo um pouco culpado, ele teve uma ideia.
Ao andarem pelo chão de brita, após alguns galhos quebrados, eles enfim chegam na frente da ferraria. A desconhecida então se virou, sorriu e disse:
— Chegamos… agora você pode soltar minha mão.
— Ei! Foi você quem pegou ela primeiro! — falou, soltando, mas logo riu e continuou — enfim, obrigado, Aycity.
A garota voltou a ficar neutra e apenas saiu andando. — Você não deveria confiar em estranhos, não faça isso de novo.
Acenando, Kevyn sorriu e se despediu: — Tá bom! Na próxima vez, eu vou te chamar de novo!
Vendo-a partir, ele sentiu uma mão em seu ombro e, ao dar um leve pulo, enxergou Daniel com um leve sorriso em seu rosto.
— Primeiro dia aqui e já arrumou uma namorada?!
Franzindo sua testa, o garoto confrontou-o: — Ei! Calma lá! Ela só me ajudou!
Esfregando o cabelo do garoto, o elfo perguntou: — O que aconteceu para ela te ajudar?
— Eh… eu encontrei um demônio real, ele me deu um soco, eu me perdi e ela me ajudou. — Fez um joinha com um sorriso bobo.
Quieto, o ferreiro soltou uma risada e acendeu um cigarro enquanto ria. — Hehe! Você é idêntico a ela, todo fudido! Vai tomar seu banho, moleque, eu vou fazer comida — disse e entrou para casa.
Antes de entrar, Kevyn mandou Humbra para escoltar a garota.
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Ao amanhecer de mais um dia, Daniel caminhou em direção ao quarto de seu aluno, ao ranger da madeira a cada passo, ele abriu a porta do quarto de maneira silenciosa e se aproximou do garoto.
Olhando-o de cima, o homem ergueu sua mão e… gentilmente deu um soco no estômago de Kevyn enquanto gritava:
— Tá na hora de acordar, princesinha!!! Achou que ia tirar férias?! Não, não!!! — Vendo-o espumando pela boca, Daniel percebeu que talvez tenha dado um soco forte demais. — Que caralho…
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Um vento suave ventilava o rosto de Kevyn, que dormia de pé sobre a grama do quintal, enquanto Daniel explicava de maneira séria:
— Vou te ensinar o básico. No combate corpo a corpo, você deve saber usar seus golpes e desenvolver um tipo de luta próprio para poder surpreender seu oponente.
— Entendi… como… eu faço isso? — Ainda dormindo.
— Observe os estilos de outras pessoas, veja como eles lutam, como combinam seus ataques, essa é sua nova missão. Quando você aprender seus estilos de luta corpo a corpo e também, de espada, vou começar a te ensinar de verdade.
Após tudo que ouviu, Kevyn abriu um de seus olhos, por estar sem lente, seu olhar brilhava com a escuridão do amanhecer. — Que horas são agora?
— 4:30 da manhã.
O garoto então se espreguiçou, abriu seus dois olhos e sorriu. — Tudo bem, vou fazer tudo que puder.
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Sobre o chão gramado da planície, Kevyn estava sentado sobre uma pedra enquanto segurava o caderno dado por Mind. Nele, havia ilustrações que o próprio desenho de outro livro de artes marciais.
Depois de um certo tempo, ele se levantou e percebeu que: “Não dá! Não dá pra só refazer o que tá ilustrado!”, frustrado, ele encarou Night.
“O quê? Você quer minha ajuda?”, perguntou, ao perceber estar sendo encarada.
“Sim, eu… não sei o que fazer”.
“Hm… por que você não tenta fundir as artes marciais que você desenhou?”, brilhou uma vez.
Analisando, o garoto concordou com a cabeça e então respondeu: “Isso parece fazer sentido, obrigado”.
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Ao chegar do meio-dia, com seu cabelo negro, Kevyn desferia diversos chutes em uma árvore do quintal de casa.
Fundindo Taekwondo com capoeira e capoeira com caratê, aos poucos a árvore era despedaçada pelo enxame de chutes.
Sentado sobre a porta de casa, Daniel observou o garoto enquanto tomava café e pensava: “Ok, ele tá só fundindo tudo, uma hora ele vai perceber que isso não é o bastante e nem o que ele quer e vai inovar em alguma coisa”.
Atravessando a árvore com um soco, Kevyn sorriu e, ofegante, ele expirou profundamente e pensou: “Eu consegui! Mas… não dá pra fazer isso numa batalha real”.
Sentando-se debaixo da árvore, o garoto olhou para sua arma e disse em um tom baixo:
— Você não me ajudou…
De repente, Daniel foi arremessado da porta e caiu de cara no chão ao lado do garoto. Com dois pratos em suas mãos, Nick se aproximou de Kevyn e lhe ofereceu um deles, enquanto dizia:
— Come um pouco.
Aceitando o prato, o menino observou ela deixar o prato com o ferreiro, que acabara de levantar, e se sentou para almoçar.
Por um momento, Kevyn encheu sua colher de comida e, de maneira reflexiva, pensou: “tudo parece bem… eu tô finalmente levando isso a sério”, levou a colher até a boca, degustando-se de sua refeição.
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