Capítulo 62 — Por que o perdoei?
Ao amanhecer de uma quinta, Kevyn despertou e, ao abrir seus olhos, viu a completa escuridão, algo que nem tua visão alcançou.
Uma voz conhecida soou: — Bom dia, meu pequeno.
O garoto reconheceu a voz de seu próprio pai, mas algo ainda parecia errado… o porquê de seu progenitor estar coberto pela escuridão o confundia.
Não vendo o rosto de Klei, Kevyn se levantou e ergueu sua mão em direção às sombras. “Por que é tão denso? Ele não está aqui?”, pensou, após tocar o nada.
— Posso te fazer uma pergunta sincera? — perguntou o homem.
Ainda sonolento, o garoto esfregou seus olhos e disse enquanto bocejava: — Ahhh~ claro, claro.
— Você ainda guarda rancor?
Por um instante, Kevyn parou e retirou lentamente a mão das pálpebras. Um olhar seu voltou para a escuridão e, com suas pupilas enfim iluminando as sombras, o menino respondeu: — Eu não te odeio… não mais.
— Entendo, isso já diz muito.
Um momento se passou e a escuridão desapareceu. Kevyn então deu um passo à frente, refletiu sobre tudo o que seu pai lhe fez e continuou até sair de seu quarto.
O garoto desceu as escadas e tocou a maçaneta da porta, mas ele não conseguiu abrir, sua mão não conseguia se mexer. Quieto, ele a soltou e caminhou em direção à escada.
Ao tentar subi-la, ele tropeçou e, antes de bater a cara, ele conseguiu girar seu corpo e bater de costas contra os degraus, onde ficou deitado enquanto sua mente pairava.
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Arh! Por que eu preciso ser tão medíocre? Sério que eu sou tão fraco assim? Por que ele acha que vai se redimir comigo? Ele… se redimiu?
Aos meus 2 anos, eu lembro que a minha primeira memória foi matar um coelho… mas… não foi sem querer ou de propósito. Eu me lembro de ter sido obrigado por aquele homem.
Em uma época em que a minha mãe era quase inexistente, eu lembro que a escuridão me cercava a cada minuto, cada segundo… penetrando não só minha alma como uma maldição, mas também como marcas na minha pele que só foram desaparecer quando meu olho arrancado se recuperou.
Eu fui cortado, mutilado… minha mente por uma grande parte do tempo esteve em pedaços… mas, minha única salvação foram aquelas duas… eu sinto tanta sua falta.
Quando meus braços eram enfaixados todos os dias, você estava sempre preocupada e, comparado com aquela dor… essa maldição não é nada.
A Nick me chamou de fraco, você não, mas de todos os dias que aquele homem me obrigava a fazer o mesmo… eu não consigo esquecer das histórias que Améli contava.
Assim como uma espada que me ensinou a tirar vidas más, aquele homem me ensinou a matar animais, como um carnívoro que mata filhotes para poder se alimentar, mas sem motivo algum.
Desde que minha mãe começou a fazer pequenas aparições, por mais de ser fria e impiedosa, me trouxe conforto, eu talvez tenha sido injusto com ela.
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Pode ser que tenha sido apenas 1 ano… mesmo que tenha sido tão pouco tempo, eu ainda vivenciei e lembro de tudo… como eu perdoei aquele homem?
Por que perdoei a pessoa que mais me fez sofrer?
Eu posso perdoar?
Todas às vezes que me machucou, de todas que me prenderam naquela escuridão, naquele lugar… aquele maldito quarto escuro…
Fome… para toda vez que eu não matasse.
Sede… o que senti quando não bebi o sangue dos que eu tirasse a vida.
Dor… de todas as vezes que tentei o confrontar.
Por que eu o perdoei? Será que ele realmente mudou? Arh! Eu preciso focar, eu preciso focar!! Em breve, eu vou enfrentar aquela que também me ensinou a matar.
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Kevyn se levantou da escada e, com um breve suspirar, caminhou até a porta. O garoto agarrou a maçaneta e, após respirar profundamente, lentamente a abriu.
Podendo ver o céu quase amanhecendo, ele saiu enquanto olhou para a lua que ficava o ano inteiro no céu à noite. “Será que é preciso deixar o passado pra seguir o presente?”.
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Nota — O que acharam do cap em primeira pessoa? Talvez eu esteja escrevendo algo nesse meio e esteja fazendo um pequeno teste aqui.
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