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    Sentada no sofá da sala, Night ficou em posição fetal e com um peso enorme na consciência. Som de passos foi ouvido, Daniel vinha pelas escadas com um rosto nebuloso.

    Ele desceu e se aproximou do sofá enquanto se sentava e encarava o chão. Após um silêncio, o elfo tocou as costas da demônio e disse:

    — Mal. Você foi muito mal.

    — Desculpa…

    O ferreiro tirou sua mão dela e cruzou seus braços. — Não sou eu quem deve se desculpar. Imagina só, a pessoa com quem você passou anos conversando. Dias, semanas, meses. Não tentava te tornar servo, não abusava de você, assediava, fazia coisas que você acredita ser somente para adultos e namorados.

    — Eu não… abusei dele.

    — Convenhamos, Night. Você com certeza faria isso, se, claro, já não tentou.

    Apenas em silêncio ela ficou. Daniel suspirou e não fazia ideia de como explicaria para Astéria. Se Klei soubesse, mataria a garota, mesmo que a sua rainha tentasse matá-lo antes.

    O elfo jogou seu corpo para trás e escorou sua cabeça no sofá.

    ❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍

    Enrolado em sua coberta, Kevyn, com seus olhos marejados, não sabia o que pensar, o que fazer. “Eu não fiz nada de errado? Daniel, mas ela… eu não sei, por quê?”.

    Dá escuridão, um homem de terno negro surgiu e se aproximou do pequeno garoto. “Ainda somos parecidos, eu vejo”, pensou Klei, que se aproximou e se sentou ao lado de seu filho.

    — Garoto, diga-me.

    — Eu não sei…

    — Então o que sente?

    — Não sou o suficiente.

    Klei estalou o pescoço e o perguntou: — Ela disse que você é?

    — Não… sei…

    — Então o que ela disse?

    — Ela perguntou se eu não ligo pros sentimentos dela.

    O homem olhou para seu filho embrulhado. — Ela disse conseguir ouvir o que você pensa? Ler suas memórias? Suas emoções?

    — A-ah… sim. Mas… como você sabe?

    — Não se importe com os detalhes. Não se importe com isso. Olha, se quiser uma dica que vai te ajudar, não se importe com isso. Aproveite e cuide dela. Lembre-se do que eu te disse, sua espada é uma extensão de você, então… dê atenção.

    — Mas…

    — Você é novo, né? Não é um adulto, nem… sabe o que as coisas significam e… tá tudo bem, siga seu coração. Seu pai entende esse sentimento, é o que mais entende, na verdade.

    Em silêncio, Kevyn se descobriu com a coberta e encarou seu pai. Os dois fizeram contato visual e Klei puxou-o para perto e o abraçou.

    Surpreso, o garoto quieto ficou e apenas aceitou o acolhimento.

    — Kevyn, podemos fazer uma promessa?

    — Ah… claro.

    — Se eu fizer algo horrível, me odeie até o final, ok?

    Quieto, o príncipe e seu pai mais uma vez fizeram contato visual. O olhar de dor de seu pai marcou o garoto. Algo que nunca esqueceria, o fez responder: — Eu nunca parei de te odiar.

    Klei abriu um enorme sorriso e começou a rir. — Tudo o que eu queria ouvir. A minha última lição, Kevyn, se quiser ficar mais forte, vai precisar abrir mão das pessoas que mais ama. Claro, você provavelmente vai aprender isso com a vida — disse e logo se desmanchou na escuridão.

    Kevyn bateu sua cabeça contra o colchão da cama e encarou o teto. Um momento de despersonalização, sua mente em branco ficou e, ele pode se enxergar.

    Algo como um reflexo invertido pairou, ele iria ficar em breve, seu corpo estava fraco e seu nariz um pouco entupido. Como um vampiro fica doente? Ele quase não estava bebendo sangue e Night tomou o dele.

    Uma leve pulsação o príncipe sentiu, corado e ofegante, ele se contorceu pela cama até se cobrir com a coberta de novo. “Que dor de cabeça”.

    ❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍

    Dado o amanhecer da sexta, Kevyn não levantou da cama pela manhã. Daniel então foi até o quarto e, quando entrou, viu o príncipe literalmente soltando leves chamas pela boca.

    Ofegante, o garoto estava queimando em febre. Ao ver seu mestre, ele tentou falar:

    — Me… desculpa… nyão consegui ir trabalhar…

    Surpreso, o homem se aproximou e colocou sua mão sobre a testa dele. Estava tão quente que a palma queimou. — Aí! Quantos graus você está?! Ah… tudo bem.

    Daniel saiu do quarto e foi até o banheiro procurar por um termômetro. Ele achou. “Será que isso vai aguentar?”, pensou e voltou até o quarto de seu aluno.

    De olhos fechados, o príncipe cobriu seu corpo com a coberta.

    — Você está sentindo frio? — De maneira calma, o elfo perguntou e se aproximou da cama.

    — Muito… — Kevyn abriu suas pálpebras para encarar seu mestre.

    — Pode se sentar? Preciso que coloque o termômetro debaixo do braço. — Daniel criou uma cadeira através da madeira e se sentou em frente à cama do garoto.

    Após olhar para um lado, olhar para o outro… o príncipe se apoiou na cama e tentou se sentar. Na primeira vez, ele falhou e bateu a testa na cabeceira da cama. Na segunda, ele conseguiu, mas sentia como se fosse partir em dois.

    Daniel, neutro, esticou a mão e esperou-o pegar o termômetro.

    Tonto, o jovem piscou duas vezes e tentou pegar a ferramenta. Ele falhou e acabou passando reto até a mão do elfo, assim, tentou mais uma vez e errou de novo.

    “Ele não está bem, definitivamente”, pensou Daniel, que bocejou e viu as diversas tentativas falhas de seu aluno. “Os olhos de energia não vão ajudar, com certeza só vão piorar a situação dele, eu imagino”.

    Após tanto falhar, o garoto franziu sua testa e virou a cabeça em descontentamento. O ferreiro sorriu e pôs rapidamente o termômetro debaixo do braço dele.

    — É, você está totalmente inútil.

    Irritado, Kevyn encarou-o e respondeu: — Ei! Nyão estou inútil! Apenas… um pouco tonto.

    Por um momento, Daniel imaginou Astéria doente e tão frágil. Logo ele largou sua imaginação e coçou sua cabeça. “Ah! Isso não é legal. Vou precisar ficar cuidando dele?”, pensou o ferreiro, que suspirou.

    Após alguns segundos, o termômetro apitou e, retirando a ferramenta debaixo dos braços do príncipe, o elfo se surpreendeu. “Como assim 37 graus? Isso é tipo… uma temperatura normal, será que é só a testa que está quente? Hmmm”, coçou a cabeça de novo.

    — Kevyn, qual é a sua temperatura normal?

    — Ahm? Normal? São uns 21 graus…

    “21? Como eu nunca reparei nisso? Pera… ELE ESTÁ COM HIPOTERMIA???!!!!”.

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