Índice de Capítulo

    Antes de entrar no barco, Kevyn esperou por alguém. Vestido da maneira mais bonita que conseguiu, ele pensou: “Eu adorei roubar as roupas do Daniel, ahá! Nunca vão superar meu sobretudo gigante!”. Ao longe vinha uma linda e patética garota, ela se aproximou ofegante e então gritou:

    — Bom dia!

    — Você… bom dia. Eu vou sair pra Lycky e em breve eu volto, tudo bem?

    Aycity avançou e abraçou-o, suas mãos trêmulas tocando as vestes do jovem o fizeram sentir proximidade, mas, com receio, ele não a abraçou de volta ao ver lágrimas em seu rosto.

    — Por quê?

    — Hm?

    A garota apertou Kevyn com tudo e começou a chorar de verdade. — Por que você tem estado distante?! Eu não quero te perder!

    Vê-la daquela forma despertou os verdadeiros sentimentos do príncipe, que a abraçou e curou seu corpo diversas vezes. Toque gentil e solene do futuro rei dos dragões, a cura gera êxtase, um momento como comer o prato mais delicioso.

    Abjuração não deveria curar fome.

    Abjuração não deveria curar a sede.

    O choro de Aycity se fortaleceu, suas lágrimas manchando as roupas do príncipe, que não se importou e apenas cuidou ainda mais de seu corpo.

    — Está tudo bem, Aya, estou aqui, eu te chamei para entender isso.

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    Um olhar neutro, o elfo ferreiro sentiu já ver aquela menina, mas não era agradável para sua cabeça. Ao longe, Daniel e Night observaram. O homem encarou sua pupila e perguntou:

    — Você não sente ciúmes daquilo?

    A demônio balançou a cabeça em negação e respondeu: — Ela é minha aluna e eu conheço os sentimentos do Kevyn, ele não sabe ao certo o que acha dela ainda, chega a ser impressionante.

    — Você está manipulando as coisas, sei bem como é, e com certeza é minha melhor aluna. — Ele sorriu.

    A espada chutou o chão de levinho e assobiou. — Ah… é? Kuku… amo ele e não deixaria que o machucassem.

    — A não ser por benefício próprio, não é?

    — Eh… kukuku…

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    — Prometa…

    Assustado, Kevyn arregalou seus olhos e encarou Aycity que se agarrou às roupas dele e se escondeu em seu sobretudo.

    Um calor frio e carregado de emoção. Um amor mórbido que traz a sensação de afastamento. Afastado, caiu sobre o chão. O sobretudo do menino se viu com neve, assim como os cílios da menina.

    O contato de seus olhos, a aproximação repentina e o quase toque de seus lábios pelo receio da patética garota que não conhece os próprios sentimentos.

    Gelo?

    O mesmo que congela e traz sensações tão boas.

    — Prometa me resgatar, eu, um príncipe sem coroa. Princesa dragão, quero que saia do seu castelo para me tirar de minha prisão não física.

    A respiração dela contra sua, contaminada pelo gelo, o tempo pareceu parar, mas se reverteu e passou tão rápido que foi como uma eternidade no lado de fora.

    Aycity recuou e abaixou a cabeça. Ela esperou por uma resposta ruim, mas ouviu o contrário mais uma vez:

    — Se for necessário, eu vou tirar você da pior escuridão. Por enquanto, aguarde por mim. — Ele levou seu rosto e tocou seus lábios até os cílios congelados da patética garota.

    Um beijo não excitante pode neutralizar a mente de qualquer pessoa. Gesto leve e fugaz, lindo e capaz. Um príncipe dragão que ama e demonstra que, mesmo tantas o amando, ele daria seu coração de maneira leve.

    Um coração inocente que não aprendeu a cair. Uma alma gélida sem entender o seu destino. E uma decadência profunda que os faria nunca esquecer desse momento tão solene.

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    Finalmente, indo em direção a Lycky, na frente do barco, Daniel conversou com Night mais uma vez. Com seu cigarro na boca, o elfo assoprou uma leve nuvem de fumaça e então perguntou:

    — Você ajudou aquela garota a despertar sua mana? Fico orgulhoso, mas você sabe que o que planejou não vai necessariamente funcionar, né?

    A garota olhou-o de maneira morta e sorriu: — Óbvio que vai, eu manipulei tudo de maneira perfeita.

    — Tudo bem, mas e se não for?

    — Não é óbvio? Eu vou só aceitar esse fato… eu acho…

    Do outro lado, Humbra e Kevyn estavam olhando o horizonte quase infinito de água mais uma vez, assim como sempre fazem.

    O general treinou por todo esse tempo com Face Eater, então foi normal o afastamento com seu mestre. Entretanto, agora era um bom momento para conversar.

    — Como têm estado? — perguntou o garoto.

    — Bem… tenho treinado bastante, mas e você?

    — Assim como você, saiba que eu e a Night sabemos o que vocês ficam fazendo na floresta.

    O esqueleto olhou para seu rei e riu. — Claro, nossas lutas são ótimas, não são?

    — Sim, sim.

    Os ossos tendem a durar por milhares de anos, sendo destruídos apenas pela pressão da terra, que, na verdade, os transforma em petróleo.

    Quem carrega o que não se destrói e sim se transforma, não sabe o que é o verdadeiro terror de os ver quebrados.

    Quanto mais o tempo passou no barco, o esqueleto refletiu mais sobre o seu ser. O normal desses momentos entre eles, mas uma pergunta surgiu em meio às dúvidas infinitas:

    — Meu rei, eu consigo morrer?

    — Talvez se você virar migalhas, mas eu consigo te reestruturar caso isso aconteça. Não se preocupe com isso, seu Deus não deixará você quebrar. — Kevyn ergueu sua mão aos céus e se espreguiçou.

    — Entendo… obrigado.

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    Ao anoitecer, o barco chegou a Lycky, as luzes dos postes, o céu nevado, a mente em branco. No momento em que o príncipe dos dragões deu um passo para fora do barco, ele lembrou do que iria fazer.

    Um suspirar gelado atrás de um engolir de saliva. O garoto virou a cabeça para trás e fechou os olhos. De repente, alguém tocou suas costas, impossíveis de não se reconhecer, a pessoa o levou para a frente e continuou o empurrando levemente.

    O garoto deixou ser levado, mas, incomodado, virou o rosto emburrado.

    — Kukuku… você está com raiva? Já que não quer ser empurrado, me carregue então! — Night riu e se jogou nas costas do garoto. — Você está quase da minha altura, não pode não, viu? Vou te dar um cascudo para diminuir sua altura!

    Kevyn segurou as coxas dela e começou a carregá-la. — Isso não funciona, não.

    Logo atrás vinha Daniel e Humbra. O elfo olhou para os dois jovens e sorriu por um momento. “Você é muito boba, não acho que tudo isso seja necessário para torná-lo seu, pequena espada”, pensou e olhou seu relógio de pulso. “Faltam duas horas”.

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    Chegando no castelo do rei de Lycky, Kevyn passou pela porta e ali foi a primeira vez que o mundo viu o príncipe dos dragões de Seyfu.

    Os olhares o cercando, algo que chama tanta atenção, um garoto com heterocromia de cabelo branco. O medo o cercou, jovem de nevado, algumas de suas mechas viraram negras pelo nervosismo.

    Todos os líderes mundiais o encaram, um demônio monocromático, uma mulher de olhar carmesim, velho homem elfo com olhos arco-íris, um santo anjo de terno.

    Com uma garota demônio com olhar morto em suas costas, Kevyn deu outro passo e todos viraram seus rostos e voltaram a suas conversas casuais. Night então desceu e disse:

    — Está tudo bem, estou aqui! — Sorriu.

    — Ah! Ok…

    Daniel veio logo atrás e conduziu o garoto e sua espada em direção a uma mesa. — Vamos, eu já achei onde sua mãe está.

    Em poucos passos, uma visão incrível. Astéria de vestido e Klei com seu sobretudo de costume. Ao se aproximarem, três cadeiras os aguardavam, vendo aquilo, Humbra tocou as costas de seu Deus e entrou em sua alma.

    Logo, os recém-chegados se sentaram nas cadeiras e também sobre a mesma mesa, estavam Améli e Aradam. A chefe das empregadas olhou para seu “filho” e então falou:

    — Boa noite! Como foi a viagem?

    Daniel respondeu: — Foi ótimo, vejo que todos estão bem, só não gostei da recepção, eles olharam muito para o garoto.

    Kevyn olhou para todos na mesa e sorriu pela família estar toda reunida.

    — Sim, achei bem estranho também, inclusive, a Nick viajou para a universidade, não é? Fico feliz por ela — disse Astéria.

    O homem elfo confirmou: — Ela estava bem animada quando foi, melhor coisa que ela fez, ainda é muito nova.

    Klei então disse: — Oh! Hoho, vejo que a espada está aqui!

    Night olhou para o vampiro e sorriu: — Feliz com a minha presença?! Sinta-se livre para admirar minha força!

    Astéria ergueu levemente a cabeça. — Ei… Kevyn, por que não vai falar com a Kelly? Ela estava procurando por você.

    O garoto olhou para sua mãe e acenou com a cabeça. — Hm… tá bom, eu vou lá rapidinho. Mas antes, pai, adivinha quem tem habilidades novas?! — Ele se levantou de sua cadeira e cruzou seus braços com uma feição de orgulho.

    O pai do jovem sorriu e respondeu: — Habilidades novas? Depois quero que me mostre todas.

    Kevyn acenou para todos da mesa e riu enquanto ia procurar Kelly. No mesmo instante em que tomou uma distância, Night se levantou e olhou para todos da mesa.

    — Sinto muito, preciso ir ao banheiro. — Ela foi atrás do garoto.

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    Em meio a dezenas de pessoas, o príncipe de longe viu a princesa com um lindo vestido banhado a folhas de ouro. Ele aos poucos passou pelas pessoas que estavam entregando seus presentes a ela e, após minutos, de frente para Kelly, um silêncio.

    A mana do garoto fluiu em frenesi, seu coração palpitou e ele então viu as amigas de sua amiga. Por vergonha, sua garganta não conseguiu soltar o que queria, ele não podia simplesmente falar, não é?

    A princesa percebeu seu nervosismo e então se levantou da cadeira onde estava. Uma empregada então veio em seu lugar e ela puxou o príncipe para um lugar mais calmo da festa.

    — Ei, ei… o que aconteceu?! — ela gritou e balançou os braços dele.

    — Não nada, apenas… quero falar algo…

    Mais uma vez o silêncio, Kelly aguardou pela fala do pequeno dragão, mas ele ainda pareceu nervoso. Algo como uma tensão percorreu até a garota, que ansiosa ficou.

    Ao longe, Night observou.

    Kevyn abriu a boca, mas nada saiu, ele a fechou e franziu seus lábios enquanto abaixava a cabeça. A mecha negra se tornou mais intensa e mais partes do seu cabelo se tornaram negras.

    Com toda sua coragem, ele ergueu sua cabeça e então disse:

    — Kelly… eu quero namorar você.

    Seus olhares então se cruzaram e se fixaram. Entretanto, da princesa, nenhuma surpresa. Algo que lhe foi dito mais cedo trouxe um alívio tão grande que a fez sorrir.

    Sem entender, o príncipe arregalou seus olhos, o medo de algo que nem conhecia acontecer surgiu, o tempo pareceu desacelerar para si, como um buraco negro, tudo parecia estar sendo puxado para uma singularidade.

    Todavia, algo se reverteu quando ele ouviu a voz da princesa. De maneira leve, ela levou a mão até o peito, inclinou a cabeça e respondeu:

    — Eu… Kelly Voidness, tenho como concubino, ninguém. Entretanto, foi-me dito que me casaria com alguém. Para minha infelicidade, só hoje eu descobri o nome dessa pessoa, mas para minha surpresa, eu já sabia o rosto dela… a pessoa com quem eu me casaria é você, Kevyn Calamith. Pelo contrato de seu pai, Klei Greimor, nós dois estávamos oficialmente noivos.

    Em meio às dezenas de pessoas, Night arregalou seus olhos. “Como? Como eu não previ isso?”, sua surpresa então se tornou um ódio profundo e, mesmo com seus olhos arregalados, ela direcionou todo seu ódio naquela garota ao longe. “Você não ia recusar?! Como pôde? Sua MALDITA!!!!”.

    Mas…

    Ela sabia a verdade.

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