Índice de Capítulo

    Com todos retornando à sala, Rey foi até Kevyn que, com a cabeça sobre sua mesa, estava dormindo.

    “Ele pegou no sono fácil… como que eu acordo ele?”, pensou, vendo que ele não tinha orelhas humanas. “Isso é muito estranho, ele definitivamente não é humano”. Cruzando seus braços, gritou:

    — Kevyn! Acorda!

    Com todos os alunos olhando-os, Kevyn levemente ergueu a cabeça, abrindo minimamente seus olhos, levantando suas orelhas de gato e dizendo: — Oi… eu tava… descansando os olhos.

    Juntando suas mesas, Rey sentou-se, perguntando: — Cara, qual é a das suas orelhas?

    — Minhas… orelhas? — Lembrando que não existiam tantos meio animais na região, ele se espreguiçou e, finalmente abrindo totalmente seus olhos, encarou-o, dizendo: — Assim como os gatos, minhas orelhas têm 32 músculos e podem girar a 180 graus.

    Colocando a mão no queixo, disse: — Então… você é gato, só que humano?

    — Bem… segundo a biologia, sim, mas, ao mesmo tempo, não. Eu não costumo usar minhas orelhas como uma forma de expressão ou dizer como eu me sinto, isso vem muito da cultura felina, mas pelo o que minha antiga mestra me disse, é algo mais instintivo do que cultural. — Movendo as orelhas como forma de demonstração.

    — Por isso que você sempre deixa elas dentro do seu cabelo?

    Abaixando-as, respondeu: — Sim, mas e você?

    Sorrindo, Rey cruzou seus braços. — Eu sou um meio anjo — disse, apontando seu polegar para si.

    — Um meio anjo… é a primeira vez que vejo um!

    Voltando a sua postura normal, coçou sua bochecha envergonhado. — Sinceramente, não é lá grande coisa…

    Após tanto conversarem, o quadro estava cheio para copiarem.

    Virando-se e interrompendo-os, o professor, franzindo sua testa e juntando suas sobrancelhas, gritou:

    — Por acaso já copiaram?! Vocês sequer sabem qual é a matéria?!

    Cruzando seus braços, Kevyn tirou a lente de um de seus olhos, ao mesmo tempo que Rey, erguendo seu queixo, o confrontou: — Óbvio, essa matéria é muito fácil!

    — Ah! É?! Qual é então?!

    Com seus olhos semicerrados, disse em um tom mórbido: — Notação científica.

    Após olhar nos olhos do garoto, sentiu um frio em sua barriga e, suando, virou-se para a parede pensando: “O que foi isso de repente?”. Engolindo seco, o professor falou: — E-está correto! Muito bem, podemos continuar a aula.

    Recolocando sua lente, Kevyn sorriu para Rey, mostrando seu polegar.

    Fazendo joinha de volta, sem entender, apenas sorriu, percebendo que seu novo amigo definitivamente não era normal.

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    Ao final da aula, quem veio buscá-lo foi seu pai e, encarando-o, Kevyn estava esperando levar um sermão.

    Com um chapéu idêntico ao do garoto, só que maior, Klei olhou para os lados, se agachou e disse:

    — Esse é meu garoto! Tem que botar medo, espancar eles mesmo! Hehehehe, vamos para casa, vem. — Virando-se, esperou-o segurar sua mão.

    Pegando a mão dele e voltando para casa juntos, ainda tentando processar, pensou: “Eu espero não estar atrapalhando os estudos do Rey”. Cabisbaixo.

    “Ele parece triste, não gostou dos meus elogios?”, pensou, olhando para o garoto, dizendo: — Fez algum amigo?

    Desviando o olhar, respondeu: — Sim, mas… eu não sei se é legal ser meu amigo.

    Tirando seu chapéu e pegando-o pelo braço, colocou-o sentado em seu pescoço. Segurando suas pernas, disse: — Se fossemos da mesma idade, talvez seríamos bons amigos, não acho que somos tão diferentes, somos?

    Deitando seu queixo sobre o topo da cabeça de Klei, respondeu: — Você teve uma mãe sem emoções?

    Sorrindo, levemente respondeu: — Não, ela era boa… boa até demais.

    Pensou: “Aqui em cima é tão alto… isso é ser alto?”. Percebendo, deu leves socos em seu pai: — Ei! É bem diferente!

    Rindo, Klei debochou: — Hehe, sua mãe te ama, seu cabeçudo, ela só não sabe o que sente… ou como agir… ou falar também.

    Dando uma leve risada, desviou o olhar. — Entendi.

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    Chegando na mansão, Klei saiu novamente, ao mesmo tempo que Kevyn almoçou e ficou na biblioteca, lendo e finalmente terminando seu livro favorito.

    Com lágrimas em seus olhos, pensou: “Esse livro é simplesmente magnífico”. Batendo a contracapa na mesa e se levantando, perguntou, olhando para Night: — O que você achou? Bom, mediano ou ruim?

    Segundos se passaram e, brilhando uma vez, alguém invadiu a biblioteca com um chute na porta, gritando:

    — Kevyn! Como foi lá?!

    Rindo, olhou para a porta, reconhecendo a voz de Aradam: — Não te falaram nada?

    Cruzando seus braços, ela se aproximou, dizendo: — Falaram que você quase causou um traumatismo craniano… fora ter assustado um professor.

    — Eu fiz um amigo também.

    Rindo, Aradam bagunçou o cabelo do garoto, dizendo: — Você larga de ser bobo.

    — Ele gritou comigo, achando que eu não sabia o que era notação científica. — Entrelaçou os dedos, cabisbaixo.

    “Deve ser frustrante ter que ver as mesmas matérias de novo… eu entendo”, pensou se agachando e fazendo contato visual com ele, dizendo: — Eu entendo que a gente aprendeu todas essas matérias e tals, mas tenta pelo menos copiar, só pra não ter nenhum problema.

    Desviou o olhar: — Tá bom.

    — Que tal… treinarmos um pouco? — Com um sorriso perverso, ela deu um peteleco no garoto.

    Colocando a mão sobre o lugar acertado, emburrado, disse: — Eu vou, mas já vou avisando que não vou deixar você me derrotar tão fácil!

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    Ao meio do campo, os dois se encararam em silêncio. Transformando sua kusarigami em uma foice, Aradam perguntou:

    — O que você pretende?

    — Hm? Como assim?

    — Já concluiu os estudos, em breve vai fazer seus cinco anos… vão faltar só quatro até ser adulto. Imagino que tomará alguma decisão, não?

    “Eu… tenho que tomar uma decisão? Isso…”. Relutante, perguntou: — Não é minha mãe quem decide essas coisas?

    Quieta, Aradam suspirou, lembrando: “Ele não tomou sequer uma decisão até esse momento. Não é como se fosse culpa dele, a maioria das coisas só acontecem”. Encarando-o nos olhos, respondeu com um pouco de esperança: — Vamos com mais calma… você disse que iria para a universidade, né?

    — Sim! Eu pretendo rever a Mind.

    — Tá vendo, você tem um objetivo, mas você vai lá só para isso?

    — Ah… eu não me imagino querendo evoluir mais a minha mana, mas talvez eu estude um pouco mais.

    “Ele ainda não encontrou um motivo pelo qual lutar, é muito novo ainda… mas eu já sei”. Sorrindo, ela apontou sua foice para o garoto, dizendo: — Você será rei, esqueceu?

    Coçando a cabeça. — Ah… mas eu realmente preciso?

    Suspirando, Aradam jogou sua foice no garoto, que rapidamente rebateu-a com Night.

    Sem perceber, sua mestra estava bem à sua frente. Recebendo um soco em seu rosto, Kevyn foi arremessado pela arena, mas caiu de pé, arrastando seus pés pela grama.

    Com raiva em seu rosto, Aradam respondeu: — Você não consegue ver sua própria importância?

    — Minha importância? Eu não fui usado apenas para parar uma guerra?! — Franzindo sua testa, o garoto fechou seus punhos.

    Recuperando sua foice, caminhou em direção a ele, dizendo: — Você não acha que está sendo egocêntrico demais? Você não vai mudar porra nenhuma! Não é assim que as guerras funcionam, você foi apenas um dos motivos dela ter parado!

    — Se é assim, pra que serve eu estar vivo ou não? Acha que é fácil saber que sou apenas um encosto?!

    Um forte vento cintilou sobre seus cabelos e, percebendo as palavras do garoto, a raiva de Aradam se transformou em um rosto prestes a chorar.

    — Se não quer ser um encosto, por que você mesmo não decide pelo o que sua vida serve? — Retomando a compostura, seu olhar negro se tornou vermelho e, ficando de pé na frente do garoto, ela terminou: — As únicas coisas que sobram são cicatrizes e dor. Se hoje eu só tenho um dos meus olhos, significa que isso foi uma punição de ter deixado meus companheiros morrerem… por ser fraca. — Fechando seus olhos, lágrimas escorreram pelo seu rosto.

    Vendo a pessoa que considerou inabalável chorar, sem conseguir falar, Kevyn apenas desviou a cabeça, fechando cada vez mais seus punhos.

    Percebendo que acabou falando demais, Aradam abriu seus olhos e pôs a mão sobre a cabeça do garoto, dizendo:

    — Eu imagino que… não ter um sentido te machuque, mas se você não aceitar sua realidade e querer encontrar em si, seu objetivo. Talvez… quando você o encontrar, seja tarde demais. — De olhos semicerrados, ela viu a mão do garoto sangrando.

    Se forçando mais, Kevyn começou a chorar, mas finalmente conseguindo olhá-la nos olhos, gritou: — Eu vou proteger quem amo!

    Sorrindo, Aradam abraçou-o. Chorando, Kevyn retribuiu.

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    Após se acalmarem, Kevyn estava com as mãos enfaixadas e ambos estavam se encarando com suas respectivas armas.

    — Por favor, não fique se machucando.

    — Foi… sem querer. — Desviou o olhar por um segundo, mas em seguida voltou.

    Girando sua foice, Aradam gritou sorridente: — Se anime, não é todo dia que eu mesma te treino!

    Erguendo sua cabeça, respondeu empunhando Night com firmeza: — Tudo bem!

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