Extra: A Semente da Germinal (1)
A multidão em marcha, os gritos furiosos, as chamas ardentes, a atmosfera de fervor.
As bandeiras de Gollum tremulavam sob a densa fumaça negra.
“Queremos a verdade!”
“Abaixo a tirania de Gollum!”
“Entreguem todos os envolvidos da organização Mimok!”
“Fora! Fora!”
A praça diante do edifício do governo de Gollum estava tomada por uma massa de gente. Incontáveis rostos contorcidos pela fúria, cartazes erguidos ao alto, braços agitados com força. O clamor desordenado da multidão rasgava os céus.
Diante do prédio governamental, fileiras de guardas fortemente armados permaneciam em posição. Seus rostos estavam sérios, os escudos antimotim erguidos para formar uma linha de defesa, resistindo repetidamente ao empurrão e ao impacto da multidão. O som abafado das colisões era constante.
Cacos de vidro quebrado, cartuchos vazios, latas amassadas, faixas pisoteadas e sujas de pegadas cobriam o chão. Fogueiras ardiam, espalhando cinzas ao vento como flocos de neve. Marcas negras de queimaduras e manchas de sangue coagulado misturavam-se no pavimento, exalando um cheiro acre e repulsivo.
Devido aos sucessivos ataques da organização Mimok, o governo de Gollum intensificou seus controles. Durante um tempo, muitos acreditaram nessas medidas, mas então surgiram informantes revelando os bastidores: as ações de Mimok tinham, na verdade, a anuência do próprio governo de Gollum. Quando essa farsa foi exposta, uma onda de revolta varreu o país. Sentindo-se enganadas, multidões foram às ruas em protesto e manifestações, um cenário que já se prolongava por vários dias.
A maré da opinião pública era avassaladora, e o governo de Gollum já não conseguia mais suportar. A situação fugira de controle. Naquele momento, um grupo de forças civis de resistência protestava diante do edifício do governo, avançando diretamente contra a sede do poder. Nenhuma autoridade de alto escalão ousava se expor naquele turbilhão.
No meio da multidão, o corpo magro e esguio de Sean era empurrado de um lado para o outro, quase perdendo o equilíbrio. No entanto, suas mãos seguravam firmemente o mastro de uma bandeira, erguendo a bandeira nacional de Gollum enquanto gritava slogans a plenos pulmões junto com a multidão.
Seu cabelo, que não via água há dias, estava endurecido em mechas oleosas. Veias azuladas saltavam em seu pescoço tensionado. Seu rosto jovem e bonito estava distorcido pela fúria, a expressão abatida, mas tomada pela excitação do momento.
“Sean… Sean!”
Os gritos ao redor eram ensurdecedores, tornando impossível ouvir qualquer coisa com clareza. Só depois que seu nome foi repetido sete ou oito vezes, cada vez mais próximo, Sean finalmente percebeu que alguém o chamava. Ele virou a cabeça na direção da voz.
Um jovem baixo e robusto forçava caminho através da multidão, avançando com esforço, empurrando com os ombros e curvando a cintura. Seu rosto rechonchudo estava coberto de suor. Ele segurava um pequeno embrulho contra o peito, e atrás dele vinham alguns outros jovens da mesma idade, todos empurrando-se para chegar até Sean.
“Mag, o que vocês estão fazendo aqui? Suas famílias não eram contra vocês participarem dos protestos?”
Os olhos de Sean se arregalaram ao ver o jovem atarracado. Seu tom estava carregado de surpresa. De tanto gritar, sua garganta ardia como se estivesse rasgada, e sua voz saía rouca e áspera.
Aqueles jovens eram seus vizinhos, amigos de infância, companheiros inseparáveis nos tempos de brincadeira. No entanto, por conta da oposição ferrenha de suas famílias, eles não haviam conseguido participar das manifestações organizadas pelos civis revoltados de Gollum.
A única razão pela qual Sean estava ali era porque perdera os pais muito cedo. Sem ninguém para impedi-lo, ele se jogara na luta movido por uma paixão ardente.
“Heh, viemos escondidos!”
Mag soltou uma risada abafada e abriu uma pequena fresta no embrulho. Dentro, havia um cantil militar verde, já desgastado com a tinta descascando, alguns pacotes de comida instantânea e um punhado de proteções esportivas, como munhequeiras e cotoveleiras.
Sem pedir permissão, Mag pendurou a alça do embrulho nos ombros de Sean e, sem dar chance para protestos, arrancou a bandeira de Gollum das mãos dele.
Sean tentou puxá-la de volta por reflexo, mas as mãos firmes e robustas de Mag não se moveram nem um centímetro. Incapaz de recuperar a bandeira, ele franziu o cenho, surpreso.
“O que você está fazendo?”
“O que mais seria? Vou ficar aqui no seu lugar, balançando essa bandeira e gritando. Além disso, seu cheiro de suor já tá me dando enjoo! Olha pra você, há quanto tempo não descansa? Vai lá comer alguma coisa e tirar um tempo pra respirar. A gente segura as pontas por aqui”, Mag disse, como se fosse óbvio, já levantando a bandeira e se juntando à multidão no coro de protesto.
“Abaixo a tirania!” ele berrou animado, acompanhando os gritos da multidão.
Sean suspirou, exasperado.
“Aqui tá um caos, vocês não precisavam ter vindo…”
“O que você tá falando? Você pode vir, mas a gente não? Quem não quer lutar por Gollum? Se não fosse por nossas famílias nos segurando, já estaríamos aqui desde o começo.” Mag fingiu indignação, erguendo a voz. “E justamente porque tá um caos, viemos te vigiar. Você acha que a gente não te conhece? Quando você se empolga, esquece completamente as consequências. Olha esse seu corpinho de graveto, não tem medo de ser atropelado pela multidão? Se a gente não viesse, e algo acontecesse com você, como ficaríamos?”
Sean abriu a boca, hesitante.
“Mas e suas famílias…?”
“Ah, chega de papo furado! Agora você tá preocupado? Por que não pensou nisso antes de se jogar no meio do protesto?” Mag deu um tapa firme no ombro de Sean e abriu um sorriso desleixado. “Se você teve coragem de vir, por que a gente não teria?”
O coração de Sean se apertou, e ele fungou discretamente.
“Vocês são uns desgraçados… Isso tá me deixando com vontade de chorar…”
“Para com isso! Somos irmãos, não vem com essa de agradecimento, que me dá gastura.” Mag ergueu o polegar, batendo no peito com confiança e arqueando as sobrancelhas. “Fica tranquilo, você é nosso caçula, e eu te protejo.”
Os outros amigos riram ao ouvir isso e bagunçaram o cabelo de Sean. Ele sempre fora o mais frágil do grupo, e por isso, Mag e os demais sempre o tratavam como um irmão mais novo, protegendo-o o tempo todo.
O peito de Sean foi tomado por uma onda quente de emoção, e seus olhos começaram a arder.
Ele havia perdido seus familiares muito cedo, e os amigos de infância eram as pessoas mais próximas que lhe restavam. Todos compartilhavam os mesmos ideais e o mesmo fervor juvenil. Sentir a preocupação genuína deles aqueceu seu coração e pareceu reabastecer suas energias, afastando um pouco o cansaço acumulado.
“… Certo. Então eu deixo isso com vocês. Vou sair um pouco para recuperar o fôlego.”
Ele pressionou os lábios secos e rachados, sem mais insistir em recusar a gentileza dos amigos, e acenou com firmeza.
“Vai logo, vai logo.”
Mag acenou displicentemente, já voltando a se empolgar com os gritos da multidão.
Sean sorriu, ajustou o embrulho nos ombros e se preparou para se esgueirar para fora da multidão.
Mas no instante seguinte—
Um som agudo e estridente rasgou o ar. As sirenes de ataque aéreo começaram a uivar, reverberando por toda a cidade!
Woooo—Woooo—
O protesto cessou num instante. Tanto os manifestantes quanto os soldados postados diante do edifício do governo congelaram. O pânico os pegou de surpresa. Os gritos cessaram, os guardas baixaram ligeiramente suas defesas, e centenas de olhares se voltaram para o céu, confusos e apreensivos.
“O que está acontecendo?!”
Sean e seus amigos também ficaram alarmados, trocando olhares confusos enquanto varriam o ambiente ao redor.
Então, um som cortante veio de longe—
Um assobio estridente, crescente, veloz.
Olharam para cima.
No céu, trilhas de fumaça surgiram abruptamente. Linhas cortavam o firmamento, descendo em disparada, rumo aos edifícios distantes.
Um segundo de hesitação.
Então—
BOOM!
O estrondo de uma explosão tomou conta do mundo!
A explosão violenta detonou uma onda de choque que varreu ruas e vielas como um furacão enfurecido. O impacto percorreu tudo em seu caminho—vidraças estilhaçaram simultaneamente em toda a cidade!
As pupilas dilatadas da multidão refletiam a muralha invisível da onda de choque que se alastrava. No instante seguinte, uma torrente de destroços, fragmentos e escombros foi arremessada contra a praça, derrubando as pessoas como folhas secas ao vento. Gritos de dor e terror se misturaram ao estrondo ensurdecedor.
Sean foi jogado ao chão com brutalidade, seu corpo deslizando metros sobre o concreto áspero. Seu braço e coxa foram arranhados até sangrar, e um filete quente de sangue escorreu de sua testa, turvando sua visão em um dos olhos. Seu cérebro pulsava como se tivesse sido golpeado por um martelo, fazendo o mundo girar sem controle. Um zunido agudo dominava seus ouvidos, e um aperto sufocante se instalou em seu peito, trazendo náusea e vertigem.
Ele ergueu a cabeça com dificuldade, os olhos arregalados de puro horror.
A cidade à sua frente não era mais a mesma.
Explosões despedaçavam edifícios, que desmoronavam em montes de destroços. Chamas colossais dançavam violentamente, devorando o céu, enquanto densas colunas de fumaça negra se erguiam como cogumelos radioativos.
“Um… Um ataque aéreo?! São mísseis?!”
O choque atravessou o rosto de Sean. Era inacreditável.
O terror se espalhou instantaneamente pela praça. Tanto os manifestantes quanto os soldados em frente ao edifício do governo estavam atordoados, seus rostos congelados em puro pavor.
E então—
No horizonte, pequenas silhuetas escuras surgiram no céu.
Caças.
Uma esquadrilha inteira de aviões de combate avançava a toda velocidade, rumo ao edifício do governo de Gollum. Suas fuselagens refletiam o brilho das chamas, e, à medida que se aproximavam, o emblema do país de Raylen se tornou visível, reluzindo à luz das explosões.
O silêncio foi quebrado por um grito histérico:
“CORRAM!!”
“ATAQUE INIMIGO!!”
A praça foi tomada pelo caos absoluto. O pânico dominou a multidão. Cartazes de protesto foram descartados sem hesitação, voando pelo chão. Pessoas empurravam e pisoteavam umas às outras, desesperadas para escapar. Muitos caíam e eram engolidos pela massa em fuga, desaparecendo sob a maré humana.
Sean, paralisado pelo choque, sentou-se no chão, boquiaberto.
Os pés da multidão se aproximavam—ele ia ser pisoteado!
Mas, no último segundo, uma força brutal o agarrou pelo ombro e o puxou para cima.
Era Mag, coberto de sangue, ninguém sabia de onde ele havia surgido.
Com um empurrão feroz, ele lançou Sean para longe do centro da debandada, rugindo com uma fúria desesperada:
“O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AINDA PARADO?! CORRE, AGORA!!”
A mente de Sean estava desconectada da realidade, mas seu instinto de sobrevivência assumiu o controle. Ele girou nos calcanhares e saiu correndo junto à multidão, os braços movendo-se automaticamente.
Só depois de percorrer uma grande distância, o choque começou a se dissipar. Ele recuperou parte da lucidez e se virou para procurar Mag e os outros.
Mas era tarde.
No meio da fuga desesperada, eles haviam se separado na multidão.
Zuuuumm—
Um novo assobio cortante veio do céu.
Sean olhou para trás e sentiu o estômago despencar.
Os caças de Raylen estavam quase em cima do edifício do governo de Gollum.
E então—
Mísseis foram lançados.
Cada um deixou um rastro de fogo ao se desprender do ventre metálico das aeronaves.
Os projéteis cruzaram o céu e colidiram contra o edifício do governo.
BOOM! BOOM! BOOM!
Explosões consecutivas dilaceraram a estrutura.
Luzes flamejantes consumiram o prédio enquanto colunas de fumaça e fogo se erguiam ao céu. Os destroços voaram por toda parte.
E então—diante dos olhos de todos—
O edifício do governo de Gollum desmoronou.
A estrutura colapsou sobre a praça destroçada, engolida pela poeira e pelos escombros.
Nos olhos arregalados de Sean, refletia-se uma última imagem aterradora:
A bandeira de Gollum, queimando ferozmente no meio do incêndio devastador.
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