Capítulo 12.2 – O dever da Duquesa
“O que está acontecendo, Chloe?” (Priscilla)
Lady Priscilla, que estava tomando chá enquanto Eliza servia ao lado da ensolarada janela, olhou para cima e a viu.
“Tenho algo para te contar.”
“Ah, sério? Venha aqui e sente-se.” (Priscilla)
Ao vê-la caminhar cuidadosamente com sua bengala, Priscilla escondeu sua confusão e piscou para Eliza.
“Eliza, por favor, vá ajudá-la a caminhar.” (Priscilla)
“Não, está tudo bem fazer sozinha.”
Depois de recusar a ajuda, Chloe caminhou lentamente sobre o tapete de lã e se sentou em uma cadeira.
“Tão logo você chegou aqui, se trancou no estudo e foi surpreendente que não saíssem por três dias. Posso ver a semelhança com Damien dessa forma. Mesmo esse garoto não nota o amanhecer quando está concentrado em algo.” (Priscilla)
Chloe abriu os lábios enquanto observava Eliza, a serva, que lhe servia chá na xícara.
“Você se importaria de se retirar, Eliza?” (Chloe)
Priscilla sorriu e acenou com a mão.
“Eliza tem sido a serva desta casa desde que dei à luz. Sem Eliza, esta casa não funcionaria, então não há nada que ela não possa ouvir. Diga-me. O que está acontecendo?” (Priscilla)
Chloe hesitou em responder por um momento. Porque não poderia fazer isso na frente do personagem principal do assunto que estava prestes a mencionar agora. Além disso, a história não era algo agradável de se falar.
“Lamento. Ainda não estou familiarizada com todos nesta mansão.”
“Estarei lá fora, senhora.” (Eliza)
Priscilla franziu o cenho quando Eliza, que era perspicaz, tentou escapar por conta própria.
“Não, você não precisa sair. O que está acontecendo com você? Por que está agindo de forma tão incomum?” (Priscilla)
Depois de respirar fundo, Chloe secou secretamente o suor da mão. Priscilla estava sempre com Eliza ou com sua outra donzela, exceto quando estava dormindo. Chloe só pôde se encontrar em particular com ela no primeiro dia, seu primeiro e último encontro na sala de estar.
“Pensei se deveria dizer algo, mas acredito que seria correto.”
“O que você quer tanto falar comigo?” (Priscilla)
Chloe, de fato, estava angustiada nos últimos três dias. Houve momentos em que ela pensou que seria melhor esperar que o Duque chegasse à mansão. Até que ela recebeu um telegrama dele esta manhã.
[“Querida Duquesa de Thisse,
Como se sentiu ao chegar ao Castelo dos Abedules? Não tenho dúvidas de que está cumprindo seu dever como Duquesa.
Espero que não me desaponte.
De Damien”]
A breve carta parecia uma advertência para ela. Não, era uma advertência, sem dúvida. Ela não queria fazer nada que pudesse ser repreendido por ele. Chloe finalmente abriu a boca com um olhar determinado.
“Há um vazamento nas finanças do castelo.”
“Do que está falando? Eliza, me sirva mais chá.” (Priscilla)
Priscilla franziu as lindas sobrancelhas e riu como se estivesse estupefata. Não houve mudança na expressão de Eliza enquanto segurava a chaleira. Chloe abriu a boca novamente com calma.
“O dinheiro está definitivamente vazando por esse buraco.”
Uma pessoa que pudesse ler os livros de contabilidade perceberia se olhasse com um pouco de atenção. Não foi até a morte do Duque antecessor, William, durante a guerra, que alguém começou a brincar com as finanças do Castelo dos Abedules. Coincidiu com a saída do Sr. Floyd, que atuou como assistente e mordomo, bem como administrador do castelo, e o momento em que Eliza, a dama de honra, assumiu o papel de mordomo.
“Manter um castelo deste tamanho não é fácil.” Priscilla balançou a cabeça como se fosse insignificante.
“Sim, é verdade. Por isso, é necessária uma gestão mais meticulosa.”
Mas o livro de contabilidade que Chloe viu estava longe de ser meticuloso. A quantia de dinheiro gasta em fontes desconhecidas também aumentou.
“Não está claro em que o dinheiro foi gasto, a soma dos impostos arrecadados do povo da terra está incorreta e a quantidade de vinho no armazém é diferente do que está escrito. Suspeito que haja um livro-caixa duplo. Não há conta para os candelabros de prata e utensílios.”
Chloe fechou a boca quando Priscilla levantou a mão silenciosamente.
“Eliza, por favor, se retire por um momento.” (Priscilla)
Chloe engoliu com dificuldade, ciente do rosto pálido de Eliza. Infelizmente, Priscilla havia deixado todas as finanças deste castelo para a donzela principal, e era evidente que ela não se importava nem um pouco.
“Não teria sido melhor falar sobre isso quando estivéssemos a sós?” (Priscilla)
Priscilla franzia a testa e a olhava com um olhar cansado. Em vez de expressar ressentimento, Chloe finalmente inclinou a cabeça.
“Sinto muito, mas acredito que devemos demitir Eliza, a donzela principal, e Robinson, o responsável pelo estábulo.”
“E quanto a Robinson agora?” (Priscilla)
“Porque devem ter usado uma carroça para levar as coisas roubadas. Não há como ela ter feito isso sozinha.”
Priscilla suspirou, pressionando as têmporas com ambas as mãos.
“Eliza esteve ao meu lado desde que dei à luz Damien, e Robinson liderou o Castelo dos Abedules por gerações desde seu pai.” (Priscilla)
“Por isso e muito mais, a infidelidade deles é imperdoável.”
Cada vez que Chloe conectava suas palavras com uma voz pequena, mas clara, o rosto de Priscilla piorava gradualmente.
“Eliza é a serva mais antiga desta família, que eu mesma escolhi. Não podemos discutir sua demissão de ânimo leve.” (Priscilla)
Priscilla mordeu suavemente o lábio enquanto se enxugava com um lenço o suor da testa. Chloe percebeu que Priscilla também estava ferida pela infidelidade de sua serva próxima. Chloe supôs que ela, que deixou Swann, se casou e se mudou para o extremo norte, não teria muitas pessoas em quem confiar, mas não podia fingir não saber, mesmo depois de ver claramente a falta de lealdade diante de seus olhos.
Além disso, se ela percebesse que, após o retorno do Duque, a infidelidade de seus servos foi muito além de seu conhecimento… chloe não queria imaginar o que aconteceria depois disso.
“Tenho certeza de que confiou em Eliza por muito tempo.”
“É apenas uma questão de confiança? Quando William morreu, ela foi a pessoa que ficou ao meu lado, preocupada que até mesmo meu único filho voltasse como um cadáver.” (Priscilla)
“Se ela valorizasse seu coração, a serva Eliza não teria sido capaz de tocar na riqueza equivalente a um quinto dos custos de administração anual do castelo às suas costas. Por isso, não posso perdoá-la.”
Chloe continuou a falar calmamente, franzindo a testa com cuidado.
“Uma vez que um buraco se forma, ele fica cada vez maior. Se deixarmos isso passar, senhora, as transgressões dos servos só aumentarão, e isso nunca será bom para a casa Thisse.”
Longe de se deixar convencer, quanto mais Chloe falava, Priscilla ficava cada vez mais irritada. Originalmente, ela era alguém que reagia emocionalmente quando sua própria opinião era refutada, e o problema era que Chloe não teve tempo suficiente para conhecê-la.
“Por que você insiste em tornar minha vida difícil trazendo à tona essas coisas?” (Priscilla)
“Não teria sido mais problemático se eu demitisse arbitrariamente sua amada serva?”
“Você tem um lado que cansa um pouco as pessoas.” (Priscilla)
“Peço desculpas.”
Priscilla olhou para Chloe, que se desculpou em voz baixa, com uma expressão triste em seu rosto quando Chloe apontou as falhas.
Além disso, qual é o nome que você está me chamando? Acabou de se casar, mas parece que é uma estranha.” (Priscilla)
“Então, me permitirá chamá-la de mãe?”
“Isso também é desconfortável.” (Priscilla)
Chloe olhou para Priscilla, que virou a cabeça e depois fechou os olhos por um longo tempo antes de abri-los. Este breve momento com ela foi mais cansativo do que os últimos três dias que passou enterrada nos livros no estudo.
“Sai. Quando Damien chegar, discutirei este assunto com ele. Damien não pode ser tão cruel a ponto de dispensar a própria babá.” (Priscilla)
Chloe piscou em silêncio por um momento e pensou que ela estava delirando e que Priscilla devia ter outro filho com o mesmo nome.
“Não tenho apetite. Terá que jantar sozinha.” (Priscilla)
“Enviarei a comida para o seu quarto.”
“Não tenho apetite.” (Priscilla)
“Entendo que não queira jantar comigo, mas se sua saúde estiver comprometida, o Duque ficará muito preocupado.”
Priscilla finalmente elevou a voz para ela.
“Você não poderia ficar quieta por um tempo sem responder?” (Priscilla)
Chloe não sabia se deveria responder ‘sim’ nesta situação ou se deveria manter a boca fechada. Nenhum dos dois parecia satisfazê-la, então ela apenas inclinou a cabeça em silêncio e Priscilla fez um gesto cansado, ordenando que ela saísse. Foi um som agradável de ouvir.
No Castelo dos Abedules, já se passaram quatro dias desde que a Duquesa jantou sozinha. Foi depois que Lady Priscilla começou a comer em seu quarto.
“Você precisa de mais alguma coisa, pequena senhora?” (Servo)
O servo, que servia a comida, perguntou do lado. Foi educado, mas o tom endurecido não pôde ser disfarçado. Chloe negou com a cabeça e sorriu.
“Vou chamá-lo se precisar de algo, pode sair.”
Queria ficar à vontade enquanto comia. As cabeças de veado empalhadas e as espingardas penduradas por todo o salão decorado em tons avermelhados já a estavam incomodando, então ela não queria acrescentar mais nada.
“Claro.” (Servo)
Chloe, sentindo a boca seca, umedeceu a garganta com um gole de água. No dia em que acusou a serva de Priscilla e o cuidador do estábulo de infidelidade, os rumores pareciam já ter se espalhado entre os numerosos servos do Castelo dos Abedules.
Os servos cochichavam baixinho sempre que ela passava, e alguém suspirava abertamente atrás dela enquanto coxeava. Chloe tentou ganhar cada vez mais confiança, mas não era fácil suportar a crescente solidão.
‘Deveria escrever uma carta amanhã.’
Chloe sentia falta do castelo de Verdier, que deixara para trás. Queria ouvir o riso de seu pai e queria ver Alice. Também sentia falta de Grey, que sempre aparecia silenciosamente quando ela precisava.
Tadak. Tadak!
Na enorme sala de jantar onde só ela ficou, a lareira crepitava e o som da lenha queimando era ouvido.
‘Quanto tempo devo viver assim?’
Estava previsto que o Duque chegaria amanhã, mas era óbvio que sua presença a faria se sentir mais desconfortável em vez de ajudá-la. Chloe refletiu por um momento sobre quem seria mais difícil de lidar para ela, se o Duque ou sua mãe. Olhou atentamente para a carne seca no prato e os legumes frios, e murmurou, espetando um garfo nos feijões.
“Ambos estão discordando.”
‘A família Thisse parece ter um talento excepcional para fazer os outros se sentirem desconfortáveis. Tanto o Duque Thisse, que empurra as pessoas com intenções óbvias, quanto sua mãe, que esquece o que acabou de dizer como se estivesse movendo a palma da mão, ambos são o tipo de pessoas com as quais Chloe acha difícil lidar.’
Chloe balançou a cabeça para afastar esses pensamentos, depois recuperou a compostura e se concentrou em comer. Foi quando pensou que suportar era a melhor defesa que poderia ter e cortou a carne dura com todas as suas forças.
Pum! A porta pesada se abriu e a vela sobre a mesa balançou com a súbita rajada de vento. A empregada envergonhada falou com urgência.
“Pequena Senhora, recebemos uma mensagem dizendo que o Duque chegou. Vamos, prepare-se…” (Empregada)
No momento em que Chloe, que segurava um garfo e uma faca como se estivesse lutando contra um grande pedaço de carne diante dela, franziu as sobrancelhas no meio de sua testa, um homem com uma cabeça maior que a empregada entrou em seu campo de visão.
“Muito tempo sem vê-lo, Sua Graça.” (Empregada)
Quando a empregada se afastou, surpresa, Chloe agora podia ver claramente Damien. A neve não derretida caiu do colarinho de seu casaco preto.
“Esposa.” (Damien)
“Duque.”
Assim que Chloe, que recuperou tardiamente o bom senso, se levantou de sua cadeira, a voz surpresa de Priscilla foi ouvida.
“Damien, meu filho. Você deveria ter enviado uma mensagem! Ouvi dizer que não chegaria até amanhã à tarde.” (Priscilla)
Priscilla, que estava em trajes íntimos, não estava preparada para a súbita aparição de seu filho. Damien sorriu enquanto a abraçava levemente.
“Vim um dia antes porque estava com saudades de minha mãe.” (Damien)
“Ah, pare de dizer palavras tão frívolas.” (Priscilla)
Enquanto acenava com a mão, o rosto de Priscilla estava cheio de um sorriso brilhante como o de um lírio.
“Estou com fome porque vim com pressa, então quero comer primeiro.” (Damien)
“É claro, isso é compreensível. Meu filho, está cansado? Não foi difícil vir até aqui?” (Priscilla)
“De jeito nenhum. Provavelmente bebi todo o álcool que serviram na primeira classe…” (Damien)
“Hehehe.” (Priscilla)
As sobrancelhas imaculadas de Chloe, ao ver Damien brincando com Priscilla, se juntaram um pouco mais no centro. À primeira vista, mãe e filho pareciam muito unidos.
É claro que ela já sabia que Lady Thisse amava terrivelmente o filho. No entanto, Chloe sentiu uma certa sensação de traição por parte do Duque, que tratava sua mãe com tanta normalidade e carinho, como um cavalheiro educado de qualquer família.
‘Não posso acreditar que alguém que sabe sorrir tão gentilmente possa ser tão retorcido por dentro!’
“Diga à Sra. Dutton que prepare a refeição. Se apresse com os pratos favoritos do Duque.” (Priscilla)
“Não. Acho que já há comida suficiente, então traga apenas outro conjunto de pratos.” (Damien)
No momento em que o Duque deu ordens ao servo, um silêncio momentâneo envolveu o salão. Enquanto todos os servos observavam, Priscilla rapidamente quebrou o silêncio.
“F-filho. Esta mesa ainda não está pronta.” (Priscilla)
“De jeito nenhum. A Duquesa parece já estar comendo.” (Damien)
Priscilla não teve tempo de se desculpar quando viu a mesa. O Duque se sentou no final da longa mesa de jantar, que parecia levar dez passos para andar de uma ponta a outra, e clicou a língua para Priscilla.
“Mãe, por favor, sente-se também.” (Damien)
“Damien, não ia jantar porque não estava com apetite.” (Priscilla)
“Não te disse para não pular as refeições?” Damien negou com a cabeça e clicou a língua.
“Não sabes o quanto me importo com tua saúde, mãe. Vamos.” (Damien)
Priscilla já não conseguia falar e foi forçada a se sentar ao lado do Duque. Quando o servo, cujo rosto ficou cinza, trouxe dois conjuntos de louça, a refeição começou com uma atmosfera estranha.
“Esposa, sentiu algum desconforto enquanto eu estava fora?” (Damien)
O Duque pegou a comida no centro e perguntou a Chloe.
“Não. De jeito nenhum.”
“Sério?” (Damien)
A cabeça dissecada da fera na parede atrás do Duque e as duas espingardas cruzadas ao redor dele pareciam se encaixar como se fossem um único corpo. Chloe engoliu em seco com dificuldade, sentindo que era um espetáculo onde se podia dizer com certeza quem era o dono deste castelo.
“Todos são tão amigáveis que me sinto confortável…”
“Maldição.” (Damien)
Chloe não conseguiu terminar de falar. Isso porque Damien, que estava cortando e mastigando carne grudada no osso, largou a faca. Chloe congelou imediatamente.
“Chamem o médico.” (Damien)
“O quê?” (Servo)
“Quer que eu repita?” (Damien)
Quando o servo deu alguns passos para trás surpreso, Priscilla abriu muito os olhos e perguntou.
“O que está acontecendo, Damien? Por que está chamando o Sr. Brown de repente a esta hora da noite?” (Priscilla)
“Como médico da casa Thisse, ele não cuidou bem da saúde da minha mãe, então vou chamá-lo e matá-lo agora mesmo.” (Damien)
“Filho, estou bem! Do que está falando!” (Priscilla)
Priscilla negou veementemente e acenou com a mão, mas o rosto de Damien apenas ficou mais e mais sério.
“Não posso acreditar que minha mãe comeu esse tipo de comida e não reclamou. É possível fazer isso sem ter sérios problemas com o paladar?” (Damien)
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