Capítulo 26.2 – A Peste

Chloe abriu os olhos com dificuldade ao som da porta batendo. Margaret, que esteve ao seu lado a noite toda, viu o Duque se aproximar e se retirou silenciosamente. Damien se aproximou de Chloe, cujo rosto estava tão pálido que mal podia ser distinguido do lençol, e umedeceu os lábios secos.

“Como você está?” (Damien)

Os olhos semicerrados se fecharam e se abriram lentamente. O olhar em seus olhos castanhos estava meio desfocado, e não havia energia na voz que escapava de seus lábios.

“Tive um sonho… sobre minha mãe.”

Enquanto engolia a saliva seca, a garganta de Damien tremeu ferozmente.

“Até agora, só ouvia… a voz dela… foi a primeira vez… até que acordei. Eu… também era feliz…”

O som da respiração ofegante e agitada de Chloe era como o som de sua alma se esvaindo. Veias azuis surgiram na mão branca de Damien enquanto segurava o frasco.

“Quando era criança… ela escolheu muitas amor-perfeitos azuis na beira do rio… para mim…”

“Não me diga.” (Damien)

“A mim… ela me deu.”

Os lábios pálidos e ressecados de Chloe se curvaram em um sorriso. Ao olhar para seu rosto sorridente, apesar de estar suando profusamente e se contorcendo de dor, Damien podia sentir vividamente o fogo que queimava dentro dele. As brasas de raiva que surgiam em seu estômago pareciam queimar todo o seu corpo.

“É da mesma cor que seus olhos… a cor dos olhos do meu filho é… será como você…? Ou me pergunto se se parecerá comigo…? Eu…”

Ela ofegou por ar.

“Minha mãe me disse… você a avisou?”

Damien não pôde ouvir mais. Depois de se aproximar da mulher em um estado de confusão entre sonho e realidade, abriu a tampa do frasco de remédio.

“Você terá que se esforçar para verificar isso, Chloe.” (Damien)

A raiva como lava quente explodiu no peito de Damien enquanto segurava as costas de Chloe. Seu corpo magro era como o peso de uma pena, não diferente de um travesseiro. Com o corpo flácido, ela virou repentinamente a cabeça e perguntou.

“O que é isso…? É remédio?”

“Beba.” (Damien)

Quando Damien parou de falar, levou o frasco à boca, Chloe balançou a cabeça por reflexo para evitar e se inclinou para o lado. Damien cuspiu baixinho, vendo-a tremer como um cervo diante do som de um tiro.

“Você tem que beber, Chloe.” (Damien)

“… não gosto.”

Os olhos de Chloe, percebendo a situação, voltaram a se focar. Damien umedeceu os lábios e suspirou.

“Não quero ser forçado a te dar isso para beber. E se as mesmas palavras saírem da minha boca mais uma vez, você será obrigada a tomar esse remédio.” (Damien)

“Não tomarei nenhum remédio que prejudique o bebê.”

“Se você não beber isso, vai morrer.” (Damien)

Os lábios secos de Chloe deixaram escapar um murmúrio autocrítico. Sua cabeça balançou vigorosamente de um lado para o outro.

“Não posso.”

“Não. Você tem que fazer isso.” (Damien)

“… não posso.”

“Acha que é o dever da Duquesa morrer depois de menos de um ano de casamento?” (Damien)

Os olhos de Chloe brilharam em seu rosto pálido.

“Como pode me dar veneno diretamente para matar nosso filho!”

Seus olhos, prestes a entrar em colapso a qualquer momento, brilhavam com loucura. Damien achou que era melhor assim. Inicialmente, sentiu que ela não conseguia distinguir a diferença entre sonho e realidade, e pensou que não seria estranho que deixasse o mundo imediatamente, então se sentiu bastante aliviado ao vê-la entrar em razão e gritar.

“Pense nisso, Chloe. Se não tomar este remédio, existe uma alta probabilidade de que se reúna com sua mãe no céu. As chances de sobrevivência são extremamente escassas.” (Damien)

“Se eu tomar este remédio, meu filho morrerá.”

“A amostra é absurdamente pequena para ter certeza disso. Você também sabe disso, não sabe?” (Damien)

Damien não ignorou os olhos de Chloe. Ele segurou firmemente seu olhar confuso.

“Mantenha a cabeça erguida e pense com calma. Definitivamente há pessoas que não deram à luz prematuramente mesmo depois de tomar este remédio. As crianças também nasceram sem nenhum problema. Mas e se você morrer antes disso? É como se nem desse a chance de nascer ao filho que carrega no ventre.” (Damien)

“Ah…”

Lágrimas brotaram dos olhos de Chloe. Damien a olhou diretamente, segurando em suas mãos as lágrimas que escorriam do queixo.

“Está bem, Dona?”

“Aguente firme.” (Margaret)

A Sra. Dutton suspirou enquanto mexia a massa.

“Ficar absorta em algo ajuda a esquecer.”

“Parece tão normal que é meio estranho.” (Margaret)

Margaret baixou a voz, um pouco preocupada. A Sra. Dutton suspirou profundamente e piscou.

“Quando vejo a empregada no quarto de lavar trocando as fronhas úmidas todos os dias, meu coração se aperta ao imaginar como a Dona está se sentindo por dentro.”

“Eu preferiria que ela ficasse com raiva ou expressasse sua tristeza.” (Margaret)

“Ao ver que você precisa ser solene até em momentos como este, não sei se a vida de uma aristocrata é particularmente boa.”

Quando o mordomo apareceu, as duas pararam de falar. Paul as olhou e as advertiu com uma expressão séria.

“Margaret, quando vai levar o chá para a sala?” (Mordomo)

“Agora mesmo.”

Margaret, segurando uma bandeja de prata, saiu apressadamente da cozinha em direção à sala. Chloe estava perdida em pensamentos na sala, olhando pela janela.

“Minha Senhora.” (Margaret)

“… Margaret.”

Chloe, percebendo a presença com atraso, virou a cabeça.

“Não está com frio? Quer que eu coloque mais carvão?” (Margaret)

“Você poderia, por favor?”

Chloe sorriu levemente para ela. Depois de perder um filho devido à epidemia, Chloe se sentia um pouco diferente do que antes. Claro, depois de passar por algo tão grave, seria estranho se as pessoas não tivessem mudado, mas Margaret estava um pouco arrependida.

“Minha Senhora.” (Margaret)

“Sim.”

“Se houver algo que eu possa fazer, farei qualquer coisa, então não se preocupe, apenas me diga. Além de mim, todos os outros servos neste castelo pensam o mesmo. É óbvio… porque é a anfitriã deste castelo.” (Margaret)

“Você é uma pessoa muito agradável, Margaret.”

Chloe falou suavemente para ela.

“Quando eu estava deprimida, sei que você ficou ao meu lado e cuidou de mim. Não consegui te agradecer adequadamente por correr esse risco.”

“Sou a donzela exclusiva da Duquesa. Fiz o que tinha que fazer.” (Margaret)

“Claro que não deveria ser assim no mundo.”

Havia apenas sinceridade em suas palavras. Diante de Chloe sussurrando gentilmente, Margaret, de alguma forma emocionada até as lágrimas, enxugou os olhos com as costas da mão.

“Enquanto eu trabalhava como ajudante de cozinha, todos os dias só ouvia reclamações sobre onde estava minha mente. Mal tinha tempo para levantar ao amanhecer e pentear o cabelo enquanto aprendia a assar bolos corretamente.” (Margaret)

“Gostei do fato de você estar sempre bem arrumada. Mesmo no baile mais formal de Swann, nunca vi uma dama com o cabelo tão bonito quanto o seu. Então, pensei que você era a pessoa perfeita para me ajudar naquilo que eu não sabia.”

Margaret piscou rapidamente algumas vezes, fechou os olhos vermelhos e tentou sorrir.

“Me avise quando estiver pronta para ir a Swann.” (Margaret)

Este inverno foi uma estação caótica não apenas para a Casa Thisse, mas para todo o Reino. Estava claro que a situação era séria, já que mesmo aqui, rumores se espalharam de que o clima em Swann estava incomum.

Passara uma semana desde que a Sra. Dutton reclamara que o trem para Swann estava em greve e eles estavam com problemas para conseguir suprimentos.

Johannes, que fugira para as redondezas quando a epidemia atingiu Thisse, voltara ao palácio quando a situação se acalmou e realizou uma cerimônia de coroação apressada, com apenas alguns clérigos de alto escalão reunidos.

No meio do descontentamento dos cidadãos decepcionados com o Rei, que buscava apenas uma maneira de sobreviver em vez de tentar acalmar a epidemia, o Duque recebia telegramas diários dos nobres da capital. Margaret, a donzela, percebeu que algo sério estava prestes a acontecer e que o Duque precisava partir imediatamente para Swann, mas Chloe não podia ignorar isso.

“Também gostaria de ir ao teatro em breve.” (Margaret)

Margaret sorriu brilhantemente, e Chloe a olhou.

“Você ainda não desistiu do seu sonho de se tornar atriz, não é?”

“Alguém tão tímida como eu pode se tornar atriz?” (Margaret)

“Vou te apoiar da primeira fila do palco, onde você estará como a personagem principal.”

“Não sei quando esse dia chegará.” (Margaret)

Enquanto Margaret sorria timidamente, a presença do Duque foi ouvida através da porta.

“Então, me chame quando estiver pronta.” (Margaret)

Quando a donzela deixou o chá e saiu silenciosamente, o silêncio se instalou na espaçosa sala. Chloe serviu o chá, olhando em silêncio para Damien, que estava sentado no sofá à sua direita. A água quente pingava em uma xícara de chá de alta qualidade, e o aroma perfumado do chá flutuava pelo nariz.

“Quando seu corpo estiver mais estável, seria melhor partir para Swann.” (Damien)

“Sim. Entendi.”

Damien ficou em silêncio por um momento diante da resposta tranquila de Chloe. Chloe sorriu um pouco para Damien, que a observava desconfiado.

“Era pleno inverno quando vim aqui pela primeira vez, e também é inverno quando vou embora.”

“…” (Damien)

“Acho que vou lembrar de Thisse como o inverno.”

Eram palavras que pareciam implicar algo. Damien abriu a boca e a encarou fixamente.

“Você deve ter experimentado as quatro estações de Thisse. No entanto, o inverno parece ter sido o mais marcante.” (Damien)

“É verdade.” Chloe o encarou diretamente e inclinou sua xícara de chá. “Foi terrivelmente longo.”

Uma luz brilhou nos olhos de Damien. Tadak! Houve um leve som de madeira empilhada caindo na lareira. Chloe encheu sua xícara de chá vazia com um toque elegante, então virou a cabeça para a janela onde brilhava o sol de inverno. Entrecerrou os olhos enquanto olhava para a paisagem de Thisse, onde os bétulas de cor marrom-acinzentado estavam cobertos de neve.

“Fico feliz. O inverno em Swann não é tão longo quanto o de Thisse.” (Damien)

“Eventualmente, você derrubará o atual Rei e tomará o lugar dele, não é?”

“Contanto que não haja incidentes.” (Damien)