Capítulo 32.1 – A Tutora de Gwyneth
Ao sul do Principado de Carter. Gwyneth, uma cidade acolhedora em uma ilha ao longo de um rio extenso, era um refúgio para os nobres endinheirados escaparem do frio do inverno. A pequena vila, com uma vista encantadora para o mar e o rio, também era conhecida por sua produção de vinho, e Sophie era filha de um fazendeiro com uma vinícola famosa na região.
A garotinha, que havia sido meio que ignorada pelos pais desde muito jovem por ter quatro irmãos mais novos um atrás do outro, tentava chamar a atenção dos pais sempre causando acidentes em casa. Stella, a anfitriã da vinícola, estava ainda mais agitada porque seus dois últimos filhos eram gêmeos.
“Se não fosse pela Claire, nossa Sophie já poderia ter saído de casa e dado à luz a gêmeos.” (Stella)
“Sophie tem apenas dez anos…”
“É exatamente isso que estou dizendo.” (Stella)
Stella deu beijos nas duas bochechas da envergonhada tutora e agradeceu de coração. Stella, com cabelos negros e cacheados, era tipo um exemplo da mulher no Principado de Carter, conhecido pela galera ser fervida. Ela era daquelas que tem muita paixão, fala de verdade e é simpática, mas vira uma figura explosiva quando está naqueles bafafás com o marido.
“Claire, agora você tá ligada na brutalidade dos caras nesse país, né? Se eles gostam de uma mina, começam com o beijo logo de cara. Sério… uf… se eu não tivesse me perdido feito uma tonta aos vinte anos, não teria batido na porta daquele fazendeiro suado…” (Stella)
Ouvindo a história de amor meio constrangedora de Stella, a tutora sorriu de boa.
“Por causa disso, ela deu à luz a tantas crianças fofas, então é algo bom.”
“Claire, quero que você fique aqui até Sophie crescer. Se outros ouvirem, vão dizer que minha ganância é exagerada.” (Stella)
“Só tô grata que você cuide bem de mim.”
Mesmo quando a viu pela primeira vez, depois de ter vindo por causa de um anúncio no jornal, Stella estava preocupada. Pela forma como falava, parecia ser de fora, e ela não tinha certeza se conseguiria lidar bem com a Sophie, que é toda marrenta.
Não estava com uma aparência muito boa, mas o fato de suas pernas parecerem um pouco desconfortáveis também a incomodou. No inverno do ano passado, o tutor que acabara de começar a trabalhar saiu chorando, então ela não queria apagar o fogo nem em caso de emergência, e Stella agora a considerava como um salva-vidas.
Comparada com as mulheres bem desenvolvidas do Principado, a tutora, que tem um corpo miúdo, parecia que poderia ser derrubada com um único golpe. No entanto, como se tivesse feito algum tipo de mágica ou vivido duas vidas, ela lidava com Sophie, que era curiosa e imatura, como se estivesse vendo direto para o coração dela.
“Agora vai começar a esquentar de novo, mesmo que você tenha aguentado uma vez no ano passado, o verão é meio difícil, né? Além do calor escaldante, chove sem aviso várias vezes ao dia.” (Stella)
“De jeito nenhum.”
A tutora balançou a cabeça e sorriu para Stella. Ela parecia tão bonita que era natural que sempre pedissem para apresentá-la através do marido. Vendo que ela nunca respondeu às ofertas e as evitava em silêncio, Stella só conseguia se perguntar se ela já havia sido profundamente ferida pelo amor.
“Eu gosto mais do verão do que do inverno.”
“Por algum motivo especial?” (Stella)
“… só me faz lembrar da minha infância.”
“O lugar de onde a Claire vem era parecido com esse?” Stella piscou e perguntou vagamente.
“Talvez.”
Vendo sua relutância em falar do passado, Stella mais uma vez pressentiu que a bela tutora tinha uma grande ferida no coração.
No momento certo, chegou a carruagem para ir à igreja. Sophie, que tinha sido autorizada a entrar na igreja algum tempo atrás, já estava vestida com suas melhores roupas e esperava animada.
“Você sabe por que a Sophie, que era como um pequeno demônio, se tornou tão devota?” (Stella)
“Hmm. Talvez ela tenha se inspirado na maneira como a Mestra Marimo rezava.”
“Oh? Sophie odiava a Marimo por ser uma chorona medrosa?” (Stella)
Stella abriu bem os olhos e a tutora sibilou, baixando a voz.
“O mundo das crianças é mais complexo do que os adultos podem imaginar.”
A carruagem saiu da mansão de dois andares e seguiu por uma estrada rural. Uma brisa trouxe o aroma das flores sobre o carruagem aberto, onde três mulheres estavam sentadas lado a lado.
“Uau. Um novo missionário foi designado para a igreja… estão fazendo um alvoroço porque é uma pessoa muito boa. Disseram que é estrangeiro…” (Stella)
Stella virou a cabeça enquanto contava a história de um novo missionário de um país vizinho, depois ficou em silêncio.
Ver Claire com os olhos fechados e o rosto agitado pelo vento devido ao balanço da carruagem a fez sentir como se estivesse em outro lugar. Cabelos castanhos suaves flutuavam sob seus ombros. Stella escondeu seu sorriso ao ver a fofa Sophie sentada ao seu lado, que assim como ela, cruzou as pernas e olhou na mesma direção da tutora, fechando suavemente os olhos.
As esposas ao redor não esconderam suas preocupações e inquietações pelo fato de ela ter sido contratada como tutora, sendo alguém sobre quem não tinham certeza de sua origem ou antecedentes. Alguns diziam que ela poderia ser uma ladra, outros expressavam preocupação absoluta de que ela poderia seduzir o marido de Stella, Ricardo.
No entanto, após observá-la por um ano, Stella chegou a uma única conclusão. Ela deve ter contratado a melhor tutora de Gwyneth. Claire não era apenas tranquila e sincera, mas também uma jovem versátil. Sua postura era ereta e elegante, como se tivesse recebido lições de artes liberais a vida toda, e até sua personalidade que não pretendia saber tudo, mesmo sabendo algo, era completamente do agrado dela. Era inimaginável que ela se colocasse em posição de gerar rumores com os servos. Apesar de parecer um cervatillo fofo por fora, ela era perfeita em sua habilidade de rejeitar com calma e firmeza os avanços agressivos dos homens do Principado.
Claramente, ela era uma funcionária contratada, mas havia algo em Claire que impedia que a tratasse mal. A esse ritmo, parecia que Sophie poderia se tornar uma dama culta, e não seria estranho mesmo se a enviassem para o palácio.
O céu, que estava limpo desde a manhã e não mostrava sinais de chuva, rapidamente escureceu a oeste e ficou negro. De repente, assim que sentiu as gotas de chuva, colocou a cobertura na carruagem, e assim que a colocou, a chuva começou a cair torrencialmente.
“É o começo!” (Stella)
Stella gritou e Chloe sorriu. Enquanto segurava a mão de Sophie na carruagem agitada e ouvia o som da chuva batendo no toldo, uma lembrança que ela queria esquecer invadiu sua mente. A emoção do dia em que dançou sob a chuva de verão.
Mas não era Swanton onde ela estava. Agora, Chloe estava no extremo sul do Principado de Carter, uma nação insular longe do porto de Windsbury.
Quando ela se lembrou disso, percebeu o quão longe havia se afastado dele.
“Chloe. Meu amor.”
Como se ouvisse sua voz, Chloe fechou os olhos e os abriu. ‘Já se passou mais de um ano desde o dia em que parti, queimando todas as lembranças, mas quando ainda penso em sua voz, os pelos da minha pele se arrepiam sozinhos.’
A decisão de Chloe de deixá-lo completamente foi no mesmo dia em que Damien rejeitou seu pedido de divórcio, esmagando-a à sua maneira.
Na verdade, desde o momento em que descobriu seu segredo em uma noite tempestuosa, a ruptura poderia ter sido predestinada. Mas devido ao bebê em seu ventre, Chloe perseverou. Mesmo no momento em que Damien a beijou nos lábios como se nada tivesse acontecido e falou de amor, ela suportou uma e outra vez.
Mesmo que seu marido a traísse, ela pensava que enquanto tivesse o filho, estaria bem. Para ser honesta, Chloe até estava disposta a dar sua vida por aquele filho. Por isso, ela conseguiu suportar todos esses momentos dolorosos, mas quando perdeu o filho, não teve mais forças para suportar.
Enquanto se recuperava na cama, Chloe bordava com as mãos e fazia planos em sua cabeça. Também tinha em mente que Damien não concederia o divórcio facilmente. Mas até o final, ela tinha um fio de esperança.
Pensava que, se Damien a respeitasse pelo menos um pouco, a deixaria ir no momento de se despedir, se desculpar e pedir perdão.
As falsas esperanças de Chloe foram despedaçadas. O que preencheu os olhos azuis de Damien não foi arrependimento, mas raiva e desejo. Foi a arrogância de que ele nunca poderia ser rejeitado.
A paciência de Chloe se esgotou naquele momento. Tudo o que ela tinha pensado foi colocado em ação imediatamente. Ela estremeceu, mas não foi de medo, mas de antecipação. O primeiro desejo falso em sua vida de infligir completa desesperação a alguém a comoveu.
Chloe finalmente escapou da Casa Thisse, nua e sem bagagem. Se Eliza, que percebeu seu plano antecipadamente, não tivesse embalado roupas e comida em sua bolsa e entregado a ela, teria passado fome e frio com roupas rasgadas por quatro dias no caminho da estação de Thisse para Windsbury.
[“Alice, estarei esperando por você no escritório de correios de Windsbury no dia da morte de nossa mãe.”]
Cobrindo-se com um vestido preto entregue por Eliza, quando chegou ao escritório de correios em Windsbury, não era Alice, mas um estranho a esperando. Enquanto tentava fugir, a pessoa que a pegou disse que Alice a estava esperando, usando um idioma estrangeiro. Como ela não acreditava, mostrou a carta escrita pela própria Alice e o precioso cabelo de Alice que havia sido cortado com uma fita.
Ela não pôde deixar de notar que era o cabelo que Chloe havia penteado e tocado várias vezes. Agarrou as pertences de Alice e seguiu o estranho até o vapor. Foi na capital do Principado de Carter que se encontrou novamente com Alice, que ela pensava estar vivendo com uma cigana.
“… irmã.” (Alice)
A roupa de Alice segurando a criança era linda, e o lugar onde ela vivia também era. Foi apenas por um momento que Chloe soltou um suspiro úmido no momento em que viu o encantador bebê que havia começado a andar.
Era difícil acreditar que Eddie, a quem Alice amava, não era um cigano, mas Erno de Carter, o herdeiro oculto do Principado de Carter. Mas o que era ainda mais surpreendente era que a Alice havia sido proibida de sair da vila particular de Erno no ano passado e estava vivendo como sua amante oculta. Um homem que nem mesmo tinha rompido com sua noiva.
“Alice. Você está bem?”
“Não. Quero matá-lo. Queria poder morrer toda vez.” (Alice)
O rosto de Alice, que partiu em busca da felicidade, era diferente do passado, quando era ativa e cheia de curiosidade. Ainda era bonita, mas havia uma complexidade escura nos olhos que Chloe nunca tinha visto antes. Chloe não podia repreender Alice porque sabia que ela não merecia. Simplesmente não conseguia entender por que as irmãs tinham que lidar com essa desgraça, e isso doía.
Alice rejeitou a oferta de Chloe de ir embora com a criança. A razão era que ela ainda amava o homem. Embora o odiasse tanto, odiava-o o suficiente para querer matá-lo.
Chloe, avisada previamente por ela, arrumou rapidinho a casa de Swann e logo escreveu uma carta para a tia Talbot, que estava dando a volta ao mundo com o pai, que havia partido de Verdier. Pediu para ela esperar fora do país até que tudo se acalmasse. Graças ao homem de Alice, que já não era cigano, teve sorte de enviar secretamente dinheiro suficiente para a conta da tia Talbot.
Chloe pediu que ela não se surpreendesse, acontecesse o que acontecesse, mas informou ao pai, que provavelmente estava nervoso, sobre a situação atual entre ela e Alice. Sinto muito, a jornada em busca da felicidade está um pouco difícil, mas espero que ele coloque o coração nas palavras e consiga acreditar nas filhas.
E após recusar o pedido de Alice para ficar com ela, Chloe deixou a luxuosa vila escondida na floresta. Chloe não queria se afastar de sua única irmã, mas não podia ficar.
Era apenas difícil suportar ver Alice, que havia dito odiar o pai da criança, ‘esperando’ nervosamente sua visita. Se viu refletida em Alice. Odiar e amar ao mesmo tempo. Era natural para Chloe, que não conseguiu suportar a lacuna e saiu correndo.
“Professora?” (Sophie)
“Oh, desculpe. Sophie.”
Sophie a olhou, retirou a mão e a segurou com força. Chloe piscou e sorriu. Estava perdida quando chegou pela primeira vez a Gwyneth, onde não conhecia ninguém, mas felizmente encontrou pessoas que a tratavam como família e conseguiu viver confortavelmente.
Mesmo vivendo sob o nome de sua falecida mãe, sempre teve o coração de que deveria viver com gratidão pela calorosa recepção das pessoas sinceras. Além disso, Sophie lhe lembrava a infância ativa de Alice desde o primeiro encontro, então se deram bem.
“Professora, no que estava pensando?” (Sophie)
Sophie puxou seu braço e sussurrou como se estivesse contando um segredo.
“Não estava pensando em nada. Apenas estava ouvindo a chuva.”
“Espero que não chova.” (Sophie)
“Por quê?”
“Quando você ouve o som da chuva, parece que a professora está prestes a chorar.” (Sophie)
Chloe olhou para Sophie, que estava mais atenta do que no ano passado, e em vez de responder, tentou sorrir alegremente.
“As pessoas choram mesmo quando estão felizes.”
“Hein, sério?” (Sophie)
“Você não chorou, Sophie, quando conheceu o Robin em seu aniversário no ano passado?”
Sophie assentiu com a cabeça como se finalmente concordasse, Se lembrando de como chorou no dia em que Stella deu um filhote de cachorro de presente.
Chloe tomou uma decisão no balançante carruagem. Ela lia as notícias de Swanton sem falta, mas não houve nenhum incidente especial com a família real. Quando Chloe leu sobre o funeral no jornal, sentiu uma mistura de emoções que não conseguia descrever. O desaparecimento completo de sua existência no mundo de Damien significava seu sucesso, mas agora que pensava que estava morta em seu mundo, sentia que algo desmoronava lentamente em seu coração.
Ao ouvir a chuva cada vez mais forte no teto da carruagem, Chloe apagou todas as memórias do festival de verão de sua mente.
‘Minha vida recomeçou aqui. Vou ligar para meu pai, construir uma casinha e viver em paz como antes.’ Chloe pensou que estava tudo bem. ‘Muitas coisas aconteceram, mas cheguei até aqui com segurança, e meu caminho futuro será pacífico, se não aventureiro.’
‘Aliás… por que a carruagem não se move?’
“Desculpe! A roda traseira da carruagem afundou profundamente na poça!” (Cochero)
Quando o cocheiro levantou a voz preocupado, Stella se tocou na cabeça.
“Ai, Claire. Sinto muito.” (Stella)
“Está tudo bem. Fico feliz de ter trazido um guarda-chuva com antecedência. Sophie, obrigada.”
A Chloe não se importou e levantou a saia. A igreja estava bem à frente delas, e não havia nada que não pudessem fazer a pé. Era aventura o suficiente para aproveitar. Sophie, que segurava a mão de Chloe enquanto descia da carruagem, pulava animada.
“Oh…”
O problema era que havia mais de um ou dois poças criadas pelas chuvas torrenciais. O córrego em frente à igreja transbordou para o caminho, formando um pequeno rio. Alguém moveu apressadamente as pedras rolando no aterro para criar vários degraus, mas as rochas pareciam perigosas porque não estavam alinhadas.
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