Capítulo 6 - O Contrato de Casamento
O terceiro dia da manhã prometida pelo Duque amanheceu. Era o último dia para dar uma resposta à proposta de casamento. Chloe se arrumou sem hesitar e, após cumprimentar o Visconde, que ainda estava na cama, deixou o castelo para trás, deixando seu pai cheio de preocupações.
O Duque Thisse tinha castelos por todo o reino como se estivesse colecionando. Um deles era uma vila à beira-mar, a três horas de carruagem do território de Verdier. Chloe abriu suavemente as cortinas da carruagem rangente e olhou para fora.
Ao meio-dia, as ondas azuis começaram a aparecer no lado direito da carruagem, que corria pelo caminho da montanha. A vila do Duque Thisse ficava no topo de um penhasco íngreme. Chloe segurou suavemente suas mãos suadas na carruagem que estava diminuindo a velocidade.
“Você marcou um encontro?” (Mordomo)
O mordomo, que parecia ser o zelador da vila, perguntou em um tom cortês, mas distante. Chloe levantou um pouco mais a cabeça, dando força à mão que segurava a bengala.
“Sou Chloe, a filha mais velha da família Verdier. Por favor, diga ao Duque que vim para responder à proposta de casamento feita por ele.”
“Por favor, espere aqui um pouco.” (Mordomo)
Chloe, que ficou em uma sala sem ter para onde se esconder devido à intensa luz do sol, tentou relaxar.
Caw, caw, caw, caw!
Todas as janelas estavam escancaradas no espaçoso salão do primeiro andar da tranquila vila, onde ela podia ouvir o grasnar das gaivotas de algum lugar. As cortinas flutuavam graciosamente. Ao olhar para o mar refletindo a luz do sol, Chloe pensou por um momento como seria maravilhoso se tudo fosse um sonho.
“O Duque ordenou que você espere um momento.” (Mordomo)
Chloe, perdida em seus pensamentos, voltou à realidade com as palavras do mordomo.
“Enquanto espera, gostaria de trazer um pouco de chá e petiscos?” (Mordomo)
“Está bem, obrigada pela gentileza.”
Não estava com fome e preocupada que suas mãos tremessem e derrubassem a xícara de chá. Depois de um longo tempo de espera que superou sua recusa em tomar chá e deixou as costas rígidas, o mordomo reapareceu e a conduziu até o Duque.
“Por aqui.” (Mordomo)
Contrariando as expectativas de Chloe de que ele a estaria esperando em seu escritório ou estudo, o mordomo a levou até a sacada no topo da vila. Enquanto lutava para subir as escadas, o som das ondas azuis batendo no penhasco a cumprimentou primeiro. Era uma paisagem pitoresca, mas esse não era o problema.
“A proposta de casamento foi tão agradável a ponto de você vir pessoalmente dar seu consentimento?” (Damien)
Sentado em uma cadeira longa feita de vime torcido, o Duque não tinha a atitude formal de um nobre ao receber convidados. Sua pele sem camisa estava bronzeada pelo sol escaldante do meio-dia, dando-lhe um tom de chá escuro. Como um gato aproveitando o sol, ela acreditaria mesmo que ele estivesse totalmente vestido enquanto bebia água suja.
“Pensei que não era um assunto leve para ser transmitido em uma carta.”
Ele fez um gesto com a mão como se estivesse zombando de seus modos educados usando seu vestido mais limpo e carregando um chapéu e uma sombrinha.
“Peguei alguma doença contagiosa?” (Damien)
“… do que você está falando de repente?”
“Se não, se aproxime e fale. Inimigos geralmente se sentam à mesa de negociações.” (Damien)
Sentindo algo inchando em seu coração, Chloe se aproximou dele. Embora houvesse um toldo branco onde ele poderia descansar do sol, o Duque estava sentado onde a luz solar caía sem sombra.
“Sente-se.” (Damien)
Chloe franziu a testa um pouco e perguntou com os olhos. Isso porque não havia lugar para sentar, exceto nas cadeiras longas onde ele se recostava completamente.
“Venha e sente-se ao meu lado.” (Damien)
“Estou bem.”
“Você está recusando meu pedido?” (Damien)
A brisa forte do mar soprou a fita de seu chapéu sob seu pescoço. Depois de engolir com dificuldade sua saliva, Chloe conseguiu se sentar na cadeira baixa como ele ordenou. Até sentiu a ilusão de que o corpo quente do homem ao seu lado estava transmitindo calor.
“A ferida continua se abrindo.” (Damien)
Chloe, que estava olhando para frente, finalmente virou a cabeça para examinar a ferida em seu braço. Quando estava longe, não podia ver devido ao brilho do sol em seus olhos, mas de perto, a ferida estava realmente vermelha.
“Você viu um médico?”
“Não.” (Damien)
Quando Chloe o olhou desaprovadoramente, o Duque pegou o frasco de remédio que estava ao seu lado e entregou a ela.
“Já que você está aqui, despeje isso.” (Damien) O Duque sorriu para ela.
“…”
“O Duque não tem mãos?… é o que sua cara está querendo dizer.” (Damien)
Ela com certeza ficaria envergonhada se fosse pega. Chloe desviou os olhos dele e rapidamente pegou o frasco de remédio. Assim que despejou o remédio, algo fervilhou lentamente na ferida infectada. Chloe franziu involuntariamente a testa diante da visão dolorosa.
“Pronto.” Chloe colocou o frasco de remédio ao seu lado e abriu a boca depois de hesitar. “Não é bom se o suor entrar na área machucada.”
Gotas de suor escorriam da parte superior brilhante de seu corpo.
“Mesmo no verão, a propriedade da Mansão Thissse tem uma temperatura bastante agradável, então não consigo aproveitar esse tipo de luz solar.” (Damien)
O Duque acrescentou, como se estivesse tentando ler a mente de Chloe enquanto ela lutava para entender por que foi trazida aqui.
“É bom porque eu gosto da sensação de estar aquecido da cabeça aos pés.” (Damien)
Chloe mal podia esperar para chegar ao ponto antes que sua pele queimasse.
“Qual é o motivo da recusa?” (Damien)
‘Há realmente algo como ler mentes?’ O Duque pulou todos os procedimentos de uma vez e perguntou qual era o cerne do problema. Chloe se virou um pouco para ele e esticou o peito. De agora em diante, como a filha mais velha da família, ela teria que resolver tudo. Teria sido bom se estivesse em um lugar mais formal do que aqui, mas na verdade, não estava em posição de discutir nada.
“Porque há um problema com minha irmã mais nova.”
“Que problema?” (Damien) O Duque a olhou diretamente com seus olhos brilhantes. “Se não fosse pelo desaparecimento repentino de sua irmã, eu definitivamente teria que me casar.”
Chloe lutou para recuperar o fôlego diante dele, que casualmente cuspiu as palavras cruéis que lhe ocorreram. Ela já havia antecipado que ele não era um oponente tranquilo de qualquer maneira.
“Antes de dizer a verdade, posso fazer uma pergunta?”
“Pergunte.” (Damien)
Chloe abriu a boca sem evitar o olhar do Duque, que olhava diretamente para sua presa.
“É por minha causa que o Duque quer se casar com minha irmã?”
“O que você quer dizer?” (Damien) Perguntou o Duque, parecendo perplexo.
“Não gosto de mim, então perguntou por minha irmã e se ofereceu para se casar com ela.”
“Me pergunto como você chegou a esse tipo de pensamento.” (Damien)
“Me pergunto se você tem a intenção de se envolver com minha família e provocar minha ruína total e completa.”
O Duque riu alto. “Ha, ha, ha” Chloe nem se moveu, ouvindo o som alto da risada do Duque, junto com o som das ondas do mar batendo no penhasco.
“Também foi assim para mim. Não estou ansioso para me casar com qualquer mulher do mundo.” (Damien)
O Duque levantou as sobrancelhas e falou sem hesitar.
“A garota não está delirando demais? Não posso acreditar que você pense que eu me casaria com a filha de um aristocrata de baixo escalão que só tem dívidas para assediar uma mulher que nem está em boa forma.” (Damien)
“Sim, você está certo. Eu também não acredito.”
“Sabe que é surpreendentemente engraçada?” (Damien)
“Não.”
Chloe estava séria o tempo todo, mas estava ainda mais séria neste momento.
“Então… você ama minha irmã mais nova?”
“Você me parece um romântico que acha que um casamento nobre deve ser baseado no amor.” (Damien)
“Então, só há uma razão pela qual o Duque propôs casamento.”
“Qual seria?” (Damien)
“O Duque deve ter algo que quer ao se casar com nossa família. Algo que não é fácil de contar aos outros.”
Fuuuu, chuc, plum…! Novamente, as ondas bateram com força no penhasco, deixando para trás espuma branca, e o vento soprou com força. A fita solta se soltou e seu chapéu voou para algum lugar. Ao ver o cabelo de Chloe fazendo cócegas em suas bochechas, o Duque falou um pouco mais baixo.
“Continue.” (Damien)
O riso em seu rosto tinha desaparecido completamente. Chloe sabia que esta era uma aventura única na vida. Mas não havia outra maneira senão esta. Uma rata encurralada pode não ser capaz de matar uma serpente, mas pelo menos pode morder a cauda.
“Se o Duque tem que se casar com uma família humilde que supera as noivas mais destacadas do reino por alguma razão, honestamente acho que não importa quem seja a outra pessoa. Não…”
As últimas palavras que praticou interiormente várias vezes saíram um pouco mais lentas e duras.
“Não seria melhor ter que se casar com uma mulher com falhas óbvias, que ninguém daria uma segunda olhada?”
O Duque levantou lentamente os lábios enquanto a observava. Sua boca secou instantaneamente diante do olhar de seus olhos brilhantes com curiosidade. Chloe umedeceu os lábios com a língua sem perceber, e o Duque, erguendo as sobrancelhas, acrescentou.
“Por exemplo, você, que perdeu o uso de uma perna?” (Damien)
Bum, bum! Havia a ilusão de uma dor aguda na parte inferior da perna que deveria ter estado adormecida. Chloe pensou que era uma sorte o sol escaldante cegá-la. Porque poderia dar uma razão para sua expressão distorcida de desprezo.
“Se eu não pudesse usar ambas as pernas, teria sido mais perfeito me tornar a noiva do Duque…?”
No momento em que o Duque a agarrou pela nuca, ficou escuro diante de seus olhos. ‘O que é isso?’
Foi depois que o Duque mordeu dolorosamente seu lábio que ela percebeu sua situação.
Chloe tremeu sem fechar os olhos e se perguntou se o mundo acabaria, se sentiria o mesmo que agora? No momento em que seus lábios se abriram por si só, a boca do Duque a invadiu à vontade, seu coração batia forte como se fosse explodir. O interior da boca do Duque que ela sentiu diretamente estava muito mais quente que o sol ardente. Ela estava sufocada e prestes a desmaiar.
“Respire.” (Damien)
O Duque agarrou sua cabeça e sussurrou com um olhar ardente, empurrando seu nariz arrogante em sua bochecha. Somente então Chloe respirou com dificuldade. No entanto, as palavras não saíram corretamente. Seus lábios vermelhos e úmidos tremeram suavemente.
“O que diabos você está fazendo?”
“Suas palavras têm muitos espinhos, então eu me perguntava se era o mesmo com sua língua. Mas é totalmente o oposto.” (Damien)
O Duque segurou sua bochecha com sua grande mão, esfregando os lábios com o polegar, que acabara de dominar. Uma voz muito baixa fez cócegas em seus ouvidos.
“Quero saber se posso ter um herdeiro agora.” (Damien)
Algo explodiu no coração de Chloe. Ela o empurrou para trás tão forte quanto pôde, então o acertou com força em sua bochecha imaculada e escultural.
“Plaf!”
Ela ouviu um som de explosão como o choque de uma onda, mas o Duque não ergueu os olhos. Apenas um lado de sua pele branca tinha um leve rubor. Foi só quando Chloe sentiu que suas palmas queimavam que percebeu que não era um sonho.
“Aaahhh… aaahhh…”
O Duque sorriu para ela e ela mal respirou fundo porque não sabia o que fazer nesta situação ridícula.
“Aprenda os conceitos básicos de negociação novamente, senhorita Chloe Verdier.” (Damien)
Ao tocar a pequena campainha, o mordomo, que estava esperando em algum lugar, apareceu rapidamente. Chloe tentou se recompor e secou os lábios com os olhos lacrimejantes. Não queria mostrar uma aparência desarrumada, mas seu coração ainda batia como se fosse explodir, e sentia que estava prestes a desmaiar a qualquer momento.
“O convidado vai partir. Despeça-se bem.” (Damien)
Com uma clara ordem de demissão, Chloe saiu da vila como se estivesse fugindo, ignorando uma despedida cortês ao Duque. Se pudesse correr, correria. Grey, que estava esperando em frente à carruagem, correu com a testa franzida enquanto a via se aproximando mancando e arrastando as pernas.
“O que está acontecendo?” (Grey)
“Vamos voltar, Grey. Vamos.”
A carruagem que retornava rangia de maneira incomum. Como se estivesse com febre, todo o seu corpo queimava. Chloe fechou os olhos, sentindo a mesma sensação que quando esteve gravemente doente há três anos. A sensação de desespero ao deixar seu bastão a seguiu novamente.
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