História Paralela Especial – 4.3 Nunca diga adeus

“Simplesmente acho que é uma sorte que Sua Majestade tenha se apressado em encarar a realidade. Pelo menos, você não nega o fato de que é o Rei.” (Chloe)

“Você deixa as pessoas meio loucas.”

“É mesmo?” (Chloe)

Chloe sussurrou, sorrindo levemente como uma vela que poderia se apagar ao menor vento. Seu rosto tremia um pouco. Demorou um pouco mais para Damien perceber que a mão que tocava o rosto de Chloe estava tremendo.

‘Droga.’

Damien apertou mais a mão. ‘Pensando bem, eu nunca tinha tocado o corpo de uma mulher primeiro. No entanto, instintivamente me aproximei do corpo desta mulher.’

“Você diz que me casei com você.”

“Sim.” (Chloe)

‘Se for assim, isso claramente é uma memória condicionada aprendida pelo meu corpo.’

“Porque eu te amo?”

“… sim.” (Chloe)

Damien estava confuso. ‘Se eu amava essa mulher, mesmo que só um pouco, o que significa esse sentimento?’

Ele estava irritado com Chloe, que o olhava com uma expressão sem vida, como se estivesse olhando para um estranho. Estava cheio de sentimentos conflitantes, queria fazê-la chorar alto e, ao mesmo tempo, queria abraçá-la forte e fazê-la olhar apenas para ele.

Damien fez outra pergunta a Chloe com a voz trêmula.

“Amar você é algo bom ou ruim para mim?”

Chloe não respondeu por um momento, então abriu a boca lentamente.

“Para Sua Majestade, que agora perdeu a memória…” (Chloe)

“…”

“Acho que é terrível.” (Chloe)

Olhando para a mulher que ainda não chorava, Damien finalmente sentiu a ilusão de ver seu rosto chorando bem na sua frente. Isso porque, em sua mente, apareceu claramente a imagem de um rosto triste, com lágrimas rolando sem fazer barulho.

“Ah…”

Damien franziu a testa. Começou a sentir dor de cabeça. Ele arfou e segurou seus cabelos dourados. Chloe, que rapidamente notou seu estado, se levantou, o sentou no sofá e falou com urgência.

“Vou chamar um médico. Espere aqui um momento.” (Chloe)

Então, antes que Damien pudesse dizer algo, ela se virou. Damien se afundou no sofá e arfou ao vê-la desaparecer, mancando, com suas pernas desconfortáveis. ‘Sinto que minha cabeça vai explodir. Não, não consigo respirar, sinto que meu coração vai explodir.’

‘O que é isso? Droga! O que é isso?’

“Ahhh!!”

Só depois que Chloe ficou sozinha em seu quarto, ela desabou. Assim que fechou a porta e dispensou as servas, caiu no chão e seu rosto se molhou silenciosamente com lágrimas.

“Meu amor.”

Mesmo agora, ela não conseguia esquecer o som da voz dele sussurrando de uma forma incrivelmente doce. Mas quando ele acordou depois do acidente, Damien já não era mais seu marido. Porque o único sentimento que ele mostrava em seu rosto ao olhar para Chloe era raiva.

‘O que eu deveria fazer agora…?’

Chloe estava perdida em seus pensamentos, encostada na porta, sem sequer limpar seu rosto molhado de lágrimas.

Agora, ela tinha que se preparar para o pior. Todo o seu corpo tremia de medo ao pensar no que aconteceria se as memórias de seu marido não voltassem. Lábios molhados e uma nova e pesada respiração iam e vinham.

Chloe respirou fundo e continuou pensando.

O Rei não terá nada com que se preocupar. Embora as memórias de Damien estivessem congeladas no passado, de forma alguma ele era uma pessoa tola. A julgar pela breve conversa que tiveram, a ambição já havia brotado em seu coração.

Além disso, estava claro que, enquanto houvesse súditos leais e Weiss o assistisse, ele poderia desempenhar com grande esmero os deveres de Rei depois de um curto período de adaptação.

O próximo eram os filhos.

Ela disse às crianças que o pai delas estava sofrendo as consequências de uma queda de cavalo, mas não sabia quanto tempo essa desculpa duraria. Anna, que era perspicaz, parecia já ter adivinhado o que estava acontecendo, e havia uma grande chance de que Declan, que era introspectivo, também soubesse, mas fingisse não perceber. Pela primeira vez, se sentiugrata por sua filha mais nova, Julia, ainda ser pequena.

“… tudo vai ficar bem.”

Chloe murmurou como se estivesse rezando. Quando mencionou as crianças, a reação de Damien não foi tão ruim. As crianças também não se afastarão do pai, que mudou um pouco. Embora seu papel cresça nesse meio tempo, Chloe acredita no caráter dos filhos que ela e Damien criaram com amor.

No final, o maior problema era a própria Chloe.

“Ha…”

Chloe secou as lágrimas de seu rosto corado com as mãos. Damien provavelmente a amava desde a primeira vez que a viu na guerra. Então, para Damien, de dezessete anos, ainda era um futuro distante.

A expressão em seu rosto quando ele perguntou ‘se realmente se casou com alguém como ela’ foi de surpresa, e foi sincera, sem o menor traço de exagero.

Do ponto de vista de Damien, não era algo difícil de entender. Pelo contrário, era natural que ele não gostasse. Um homem que tinha tudo se apaixonou por uma manca anônima de uma humilde família nobre. Talvez ele se sentisse envergonhado de suas próprias decisões.

Mas Chloe não escondeu o fato de que Damien a amava. Ela não podia fazer isso. O marido que ela conhecia não era do tipo que mantinha ao seu lado uma esposa de fachada, e era alguém que preferia manter seu poder sob controle a ter como esposa a filha de alguém que alcançou feitos na guerra.

Acima de tudo, o que eles viveram foi um ‘amor’ que ninguém podia negar. Esse fato e seu orgulho foram as únicas razões pelas quais Chloe permaneceu ali.

“É natural que Sua Majestade, que perdeu a memória, esteja confuso.”

Chloe murmurou em voz alta. Mas por mais que repetisse isso, havia uma diferença entre entender com a cabeça e aceitar com o coração. Quando Chloe lembrou de Damien gritando de dor, sentiu como se seu coração estivesse despedaçado novamente.

Chloe soluçou, enterrando o rosto entre as mãos. Ela não existia mais na mente do homem que amava e a quem tinha dado tudo. Como deveria lidar com essa situação?

‘Quanto tempo eu chorei?’

Chloe se levantou com os olhos e a boca completamente vermelhos. Mancando, se sentou em frente ao espelho e se olhou. Pensou e repensou em si mesma e no homem que amava por um longo tempo.

Na manhã seguinte, a companheira de Damien, Chloe Von Thisse, finalmente chegou a uma conclusão.

“Eu não posso te aceitar como minha esposa.”

Essas foram as primeiras palavras do Rei quando visitou Chloe, que estava tomando café da manhã sozinha. Chloe levantou a cabeça e olhou para ele.

“Você já tomou café da manhã?” (Chloe)

Damien puxou uma cadeira e se sentou diretamente em frente a ela.

“Ainda não. Mas quando olho para o seu rosto, acho que não vou conseguir comer direito.”

“Oh, não. Se você tentar fazer isso, será um grande problema. Vou mandar preparar a comida separadamente.” (Chloe)

Era difícil ler as emoções no rosto de Chloe enquanto ela assentia calmamente. Damien engoliu em seco enquanto a observava, impassível.

Embora ele tentasse deliberadamente começar uma discussão, a mulher nem sequer se abalou. Ainda assim, parecia que havia um pouco de ressentimento e tristeza em seus olhos quando ela o olhou pela última vez ontem, mas será que isso foi apenas uma ilusão?

Damien franziu o cenho enquanto a via se levantar da cadeira. O sol estava muito brilhante hoje. O cabelo da mulher parecia tão macio quanto a pelagem de um cervo, e ele sentiu a necessidade de tocá-lo.

‘Espera. O que estou pensando agora?’

Damien mordeu o lábio e olhou para Chloe.

“Onde você vai?”

“Você não disse que não conseguiria comer depois de olhar para o meu rosto?” (Chloe)

“Mudei de ideia. Pode haver ocasiões em que precisaremos comer junto com algum general inimigo.”

Quando ele levantou a mão, o servo trouxe de volta os pratos como se estivesse esperando por isso. Por um momento, o único som era o tilintar dos pratos enquanto a mesa do café da manhã era montada na aconchegante varanda ao ar livre.

“Weiss me contou. Eu transformei este lugar no palácio real enquanto perdi a memória.”

Damien quebrou o silêncio e abriu a boca.

“Sim, você fez.” (Chloe)

Enquanto Chloe respondia em voz baixa, uma pergunta surgiu no rosto de Damien.

“Entendo que você não quis usar a localização de Johannes como meu novo lar, mas não entendo por que este lugar não foi expandido.”

O Castelo das Rosas foi preservado quase sem mudanças nos últimos 18 anos, desde que ele perdeu a memória. Dada a sua personalidade, ele teria tornado o palácio muito mais esplêndido do que o palácio de Johannes.

“Sua Majestade quis que ficasse assim.” (Chloe)

“Por quê?”

“…” (Chloe)

“Responda.”

“Disse que tinha muitas lembranças com a esposa para destruí-lo.” (Chloe)

A faca de Damien, que estava trocando de prato, parou por um momento. Tardiamente, ele percebeu por que Chloe hesitou em responder, engoliu em seco e tentou acalmar sua expressão.

“Eu não posso te aceitar como minha esposa.”

“Você já disse isso.” (Chloe)

“E essa é a sua única reação?”

Os olhos azuis de Damien brilharam intensamente. Chloe colocou a mão embaixo da mesa e segurou novamente sua mão fria.

“Você me reconhece como a Rainha deste país?” (Chloe)

“Eu reconheço.”

Ao ver Damien responder de forma obediente, Chloe perguntou em voz baixa:

“Por quê?” (Chloe)

“Fiquei sabendo de eventos importantes que ocorreram através de Weiss. Eu disse a ele para deixar de lado os sentimentos pessoais entre a Rainha e eu e me informar apenas sobre as suas habilidades em assuntos políticos…”

A ponte do nariz alta de Damien se franziu ligeiramente. Chloe olhou para o rosto dele com um olhar suave e pensou que o jovem Damien tinha muitas mais expressões do que tem agora.

“Você é uma Rainha perfeita para a Nação.”

O rosto dele se contorceu em um sorriso cínico, parecendo mais rebelde.

“Então é só isso. Estou satisfeita com isso.” (Chloe)

A resposta de Chloe de alguma forma fez o estômago de Damien revirar. Também o incomodava a sensação de que a energia nos olhos dela se esvaía enquanto ela o olhava antes.

“O que você faria se eu dissesse que não a aprovo?”

“Eu tentaria voltar para casa.” (Chloe)

Chiiing!

Chloe piscou surpresa com o som agudo. Damien tinha deixado cair o garfo ruidosamente sobre o prato.

“Casa?”

Uma faísca acendeu nos olhos azuis de Damien. Ele perguntou novamente, sem entender por que estava de repente tão zangado.

“Onde fica sua casa?”

“Eu iria para Verdier.” (Chloe)

Chloe acrescentou em voz baixa, olhando para Damien que estava sem fôlego.

“Se você me expulsasse da posição de Rainha.” (Chloe)

Ou seja, Chloe disse que até havia considerado a possibilidade de ter que renunciar ao seu posto durante o dia. Embora ela não fosse de seu agrado, Damien nem sequer tinha pensado em expulsá-la, e isso de alguma forma o deixou ainda mais irritado.

“… por que eu te amava?”

A mão de Chloe parou por um momento.

“…” (Chloe)

Ela levantou lentamente o copo d’água, umedeceu os lábios e piscou. O rosto do homem que perguntou ‘por que a amava?’ era extremamente cruel. Na noite anterior, ela repetiu para si mesma inúmeras vezes que já deveria estar acostumada, mas ainda assim, era demais.

Chloe olhou para ele e sorriu, sentindo como se seu coração estivesse sendo partido em mil pedaços. E então, disse o que havia preparado. Para a pessoa que ela tanto amava e por quem ainda era apaixonada.

“Se você não consegue se lembrar de mim, então me esqueça.” (Chloe)

Dezenas de milhares de coisas que ela fez com ele passaram pela sua mente. A festa em Thisse onde chovia. Um café onde comeram bolo juntos. A imagem de Damien quando foi buscá-la no Principado, e até mesmo o seu rosto sorrindo para ela enquanto ela se escondia no armário, mesmo enquanto ele era arrastado ensanguentado.

“Parece que não te importaria se eu te esquecesse.”

Damien franziu o cenho, e Chloe o encarou diretamente. No final, uma única lágrima escorreu silenciosamente por seu rosto.

“Porque eu lembro.” (Chloe)

“… importa se a outra pessoa não te lembra? Mesmo se ela disser que não te ama?”

“Eu posso viver a vida inteira só com minhas lembranças amorosas. Recebi tanto amor, um amor transbordante.” (Chloe)

Ela se levantou da cadeira e colocou ambas as mãos sobre a mesa, fazendo um som forte.

“Você seria feliz vivendo assim…? Sozinha para sempre, com um amor que não pode ser correspondido?”

Os olhos de Damien vacilaram enquanto ele perguntava, como se realmente não conseguisse entender. Chloe riu com lágrimas escorrendo pelo rosto.

A mesma pergunta daquele dia se repetiu em lugares e momentos diferentes. Damien realmente não mudou.

“Sim. Viver assim é a minha felicidade.” (Chloe)

Incapaz de olhá-lo por mais tempo, Chloe se levantou primeiro. Ao vê-la mancar, Damien voltou a sentir uma estranha sensação de derrota e dor no peito. Seu corpo se moveu mais rápido do que ele pensava. Ele caminhou até Chloe e a fez virar.

“Não vire as costas para mim primeiro.”

Damien rosnou, quase como se estivesse ordenando.

“Então, Sua Majestade pode me deixar ir primeiro.” (Chloe)

“Você disse que era minha esposa. Nesse caso, não é seu dever ajudar seu marido?”

“Foi Sua Majestade quem disse que não podia me aceitar como sua esposa.” (Chloe)

Quando Chloe apontou a contradição, Damien ficou sem palavras. Mas isso durou apenas um instante. Ele então curvou descaradamente os cantos da boca e falou em um sussurro.

“Eu revogo isso. Parece que você é bastante útil, então não seria uma má ideia mantê-la como minha esposa, em vez de algum outro idiota.”

Chloe franziu as sobrancelhas e mordeu o lábio. Damien perguntou de novo, vendo o olhar frio em seus olhos.

“Por que você está me olhando assim?”

“Sua Majestade, há uma coisa na qual você está enganado.” (Chloe)

Os olhos de Damien se estreitaram ao ouvir as palavras de Chloe.

“Eu também reconheço Sua Majestade como Rei, mas não estou disposta a aceitá-lo como meu marido.” (Chloe)

“… o quê?”

“Porque meu marido não é um garoto de 17 anos que cospe veneno, mas sim um homem de verdade que sabe confessar seus verdadeiros sentimentos.” (Chloe)

Chloe terminou de falar com o rosto sem expressão e esticou os braços. A campainha sobre a mesa fez um barulho metálico estrondoso! Damien se assustou e deu um passo para trás enquanto via os servos entrarem no espaço vazio.

“O café da manhã terminou, preparem o chá para Sua Majestade.” (Chloe)

Chloe deu a ordem em voz baixa e saiu da varanda ao ar livre sem hesitar por um momento.

“… hah.”

Damien respirou fundo com os lábios levemente abertos. Seu coração batia forte, sua cabeça girava, e ele sentia como se um fogo estivesse queimando em seu estômago. A pequena campainha que Chloe tocou ainda ressoava e tremia levemente.

Damien não conseguia se acalmar. Era o começo de um mal de amores do qual ele nem sequer estava consciente.

“Sua Majestade, a Rainha.” (Servo)

Chloe levantou a cabeça tranquilamente ao ouvir as palavras cautelosas do servo. A serva que estava penteando seu cabelo deu um passo para trás.

“O que aconteceu?”

“Sua Majestade tem uma pergunta urgente para fazer…” (Servo)

Chloe suspirou suavemente enquanto olhava para o servo que parecia sem palavras. Já fazia uma semana. Damien a estava chamando no meio da noite, pouco antes de ela adormecer. Ele revisou os livros do palácio real escritos pelo escriba durante os últimos 18 anos, porque havia mais de uma ou duas coisas que o deixavam desconcertado.

“Diga a ele que eu me prepararei e irei vê-lo em breve.”

“Isso é realmente necessário?” (Damien)

Ao ver Damien invadindo o quarto de Chloe, o servo e a serva rapidamente deram um passo para trás.

“Sua Majestade, se esperar um momento, eu…”

“Há alguém neste reino para quem eu deveria esperar?” (Damien)

Chloe mordeu o lábio enquanto via o Rei cruzar seu quarto como se fosse dele e se sentar na cama.

“Podem nos deixar a sós, por favor?”

Os empregados se retiraram como se já estivessem esperando pela ordem suave de Chloe. Chloe tentou falar calmamente com Damien, que tinha invadido seu quarto no meio da noite e a olhava descaradamente.

“Se me avisar com antecedência quando vier, eu não receberei Sua Majestade despreparada.”

“Eu não sei como eu era aos trinta e cinco anos, mas agora não quero me vestir com roupas formais e enfrentar meus súditos. E ainda mais neste momento.” (Damien)

“… súditos?”

“Então, devo te chamar de esposa?” (Damien)

Damien torceu os lábios de forma sarcástica.

“… não.”

Chloe sentia que a cada dia ficava mais difícil lidar com ele. Ela tentava evitar ao máximo encontrá-lo, já que suas memórias ainda não haviam retornado, mas não tinha talento para vencê-lo, pois ele usava o fato de ser o Rei para pressioná-la.

“Sobre o que está curioso hoje?”

Damien olhou irritado para o livro que segurava e então o entregou a ela. Chloe olhou para a página que ele abriu.

“Durante a guerra com o Principado, passei quinze dias na propriedade dos Verdier.” (Damien)

“…sim.”

“Você disse que o território do seu pai ficava aqui. A menos que haja dois Verdier neste país.” (Damien)

“Isso mesmo. É a minha cidade natal.”

Respondeu Chloe, limpando a garganta. Quando ela pensava no seu primeiro encontro com ele, não conseguia evitar que seu coração batesse forte. No momento em que fez contato visual com ele pela primeira vez através da janela, não poderia ter previsto a situação atual.

“Acho que essa foi provavelmente a primeira vez que te conheci.” (Damien)

Damien cruzou os braços sobre a cama e a olhou com uma atitude arrogante. Chloe se sentou em uma cadeira um pouco distante dele e manteve a distância. Damien, que havia voltado a ser um garoto de dezessete anos, tinha uma aparência um tanto rude e sem polimento, que não era familiar para Chloe.

“Sim, foi.”

“Como você me seduziu?” (Damien)

As bem-cuidadas sobrancelhas de Chloe se uniram entre seus olhos. Damien balançou levemente a cabeça e acrescentou:

“Tudo bem, me diga honestamente. Estou muito curioso sobre a história não registrada por trás disso.” (Damien)

“Por que Sua Majestade acha que eu o seduzi?”

“Então fui eu que fiz?” (Damien)

A voz de Damien baixou tranquilamente um tom. Chloe instintivamente sentiu seus pelos se arrepiando e se preparou. O fato de que ele tinha o mesmo rosto e a mesma voz não significava que o garoto à sua frente voltasse a ser seu marido.

“Eu me apaixonei por você e te convidei para a minha cama? Usando meu poder?”

“…” (Chloe)

“Me responde.”

“Não.” (Chloe)

Chloe respirou fundo, negando suas palavras. Damien perguntou com uma expressão de desgosto no rosto.

“Você mesma disse com sua própria boca. Fiz de tudo para te ter nas minhas mãos. Então… me diz, qual número eu fiz?”

“Você armou uma cilada.” (Chloe)

Damien levantou os olhos diante da resposta de Chloe. Chloe continuou, olhando nos brilhantes olhos azuis dele.

“Sua Majestade me fez pegar sua mão e me agarrar a ela por mim mesma.” (Chloe)

“Se agarrar a mim?”

“Com força.” (Chloe)

Damien umedeceu os lábios, respirou fundo e soltou o ar. Nos últimos dias, ele tem chamado Chloe por todo tipo de desculpa. Os registros nos livros de história são escassos, ele precisa de explicações sobre as crianças que ainda nem conhece, e Chloe sempre aparece quando ele ordena que venha atendê-lo por dores de cabeça, mas sua expressão lembra a de uma vaca sendo levada contra a vontade para o matadouro.

Mesmo assim, ela se agarrou desesperadamente a ele.

“Você não tem orgulho?”

“… não é possível.” (Chloe)

Um brilho sutil apareceu nos olhos de Chloe. Tanto antes quanto agora, Damien era um homem que tinha um talento especial para mexer com suas emoções.

“Bem, parece que você realmente manteve a cabeça erguida diante de mim.”

A cabeça de Chloe inclinou-se para baixo. Ela baixou o olhar, mas Damien parecia saber, sem precisar ver, o que ela estava fazendo agora. As mãos dela sobre os joelhos estavam cerradas em punhos e tremiam. Ao vê-la mal conseguindo suportar a situação, o estômago de Damien voltou a esquentar, como se alguém tivesse acendido um fogo.

“Agora entendo por que me dei ao trabalho de cavar um buraco e armar uma cilada, em vez de atirar em um cervo com a perna ferida.”

“… por que faria isso?” (Chloe)

Chloe não conseguiu conter a dúvida e perguntou em voz baixa. Damien a olhou fixamente por um momento e finalmente respondeu.

“Para te domesticar, colocando uma coleira em você.”

“…” (Chloe)

“Quis cortar todas as suas saídas ao redor, para que você ansiasse pelo meu toque.”

“…” (Chloe)

“Embora pareça que você está enlouquecendo de tanto ódio, acho que deve ter valido a pena ver que você não tem outra escolha a não ser colocar seu rosto em minhas mãos.”

Damien se levantou e observou, divertido, enquanto o rosto de Chloe se contorcia.

“Parece que estou com febre. Verifique.”

“… vou chamar a serva.” (Chloe)

“Não, faça você mesma.”

Chloe não teve escolha a não ser se aproximar dele. Memórias que ela achava ter esquecido voltaram de repente. Quando ela se lembrou de como Damien era o melhor do mundo em provocá-la, sentiu raiva de novo.

“Então, por favor, me desculpe.” (Chloe)

Depois de soltar o ar com força, Chloe levantou suavemente o cabelo dele e tocou sua testa. Os dedos finos de Chloe se surpreenderam um pouco. Ela achava que era mentira, mas o corpo dele estava realmente quente.

“Sua Majestade, você realmente está com febre…” (Chloe)

Chloe fechou a boca. Isso porque seus olhares se entrelaçaram no ar. Suas orelhas ficaram vermelhas.

“Dói.”

Damien a olhou e franziu levemente a testa. Chloe não conseguiu se mexer, enquanto observava sua expressão com um olhar apagado. Porque ela se lembrou de Damien, olhando para ela um dia e dizendo sem vergonha a mesma coisa.

“Dói. Chloe.”

O nariz alto dele estava inclinado em um ângulo. Uma respiração quente e áspera tocou sua bochecha. Chloe, movendo os cílios, piscou e olhou para ele. E então seus olhos se cravaram no olhar dele, que a observava fixamente.

O que se revelava nos brilhantes olhos azuis dele era um desejo com o qual ela estava familiarizada, mas que ao mesmo tempo era um pouco diferente. Não havia espaço para esconder seu desejo de devorá-la atrás de um sorriso. Damien segurou um lado do rosto dela, surpreso. Uma voz instável, como uma folha tremendo sob gotas de chuva pesada, roçou suas cordas vocais.

“Mesmo agora, não sou o seu marido?”

“… ha!” (Chloe)

Damien, que foi de repente empurrado antes que seus lábios se tocassem, olhou para ela com uma expressão estranha. Chloe endireitou as costas e abriu a boca com o rosto todo vermelho.

“Por favor, vá embora.” (Chloe)

‘O que eu estou fazendo? Quase beijei ele’, pensou ela, com o arrogante Damien de dezessete anos, que nem sequer se lembra dela. Seu coração batia forte.

“Agora você está me dando ordens?”

Damien franziu o cenho enquanto encarava Chloe, que nem sequer conseguia olhar nos olhos dele.

“Por favor. Para de me insultar, não faz eu te odiar ainda mais!” (Chloe)

A cor sumiu do rosto esculpido de Damien e depois voltou. Ele mordeu o lábio, olhou para Chloe e se levantou de repente. O robe dele balançava forte enquanto cruzava o quarto com passos largos. Boom! Chloe sentiu todas as forças saírem do seu corpo enquanto olhava para a porta que se fechava com estrondo.

Damien foi rejeitado.

Como o único filho do Ducado, ele sempre viveu como um herdeiro da família real e nunca tinha experimentado rejeição em nenhuma situação. A questão de ser aceito no quarto real, que era o único ponto de conflito, não levou a uma conclusão que convencesse as partes.

Mas Damien foi completamente rejeitado. E isso, pela pessoa que ele tentou beijar pela primeira vez.

“Merda…”

Mesmo soltando palavrões, o sentimento horrível não desaparecia. Ele cobriu os olhos ardentes com o dorso da mão.

Era como se uma vergonha indescritível estivesse subindo pelo seu corpo.

Depois de sair furioso do quarto de Chloe Verdier três dias atrás, Damien parou de procurá-la. Isso porque ele não conseguia se livrar do choque de ser rejeitado. Mesmo que caísse de um cavalo, não se sentiria mais envergonhado do que isso.

“Mas por que você nem mostra a cara?”

Murmurou Damien, olhando para o teto do seu escritório com os olhos vermelhos. Desde que parou de procurá-la, não teve mais a chance de ver Chloe Verdier. Às vezes, passava deliberadamente pelo espaço pessoal dela, mas não conseguiu ver nem um fio de cabelo, porque ela estava muito ocupada naquele palácio não tão espaçoso.

“Eu também reconheci Sua Majestade como Rei, mas não estou disposta a aceitá-lo como meu marido.” (Chloe)

‘Impertinente.’

A mulher que disse isso na frente dele, que sentia que sua cabeça ia explodir porque todas as memórias dos últimos 18 anos haviam desaparecido, foi realmente ousada.

Damien voltou seu olhar para o retrato pendurado na parede do escritório. Seus olhos frios fixaram-se na família real curtindo um piquenique no jardim. — ‘A pessoa desenhada ali claramente sou eu, mas não gosto porque não se parece em nada comigo.’

‘Além disso, por que Chloe Verdier está sorrindo alegremente ao meu lado?’ — Ao olhar para o sorriso caloroso que ela nunca lhe mostrou, Damien sentiu vontade de rasgar o retrato em pedaços.

“Ha…”

A febre subiu de novo. Damien afundou nas costas da velha cadeira e levantou o queixo. Ele não era um ser insignificante que dependia do prazer, e certamente não estava no nível de assediar descuidadamente uma mulher que não gostava. Mesmo quando seus colegas da academia militar falavam sobre damas nobres e começavam a se deliciar com fantasias de baixa qualidade, ele ria deles e dizia para pararem com essas coisas patéticas.

“Estou ficando louco.”

Ele se sentia como se estivesse possuído por um demônio. Seu corpo reagia de forma diferente das palavras que dizia e da sua vontade, e apareciam imagens distorcidas na sua cabeça das quais ele não conseguia se livrar, por mais que tentasse controlar seus pensamentos. Tudo isso fazia Damien sofrer.

Pum!

A mão que batia levemente no braço da cadeira parou, e Damien apertou o punho. Ele abriu lentamente os olhos fechados.

Se ele olhasse para o problema que o preocupava agora, sem evitá-lo, era uma mulher chamada ‘Chloe Verdier.’ Damien voltou a pensar no que ele realmente queria dela.

Bastaria arrancar a espinha irritante, mas ele mesmo não queria se livrar de Chloe, nem fazê-la desaparecer da sua vista.

Ele só queria possuí-la.

As cordas vocais de Damien tremeram violentamente. Ele se lembrou do que disse a Chloe há pouco tempo, quando a chamou para seu escritório, cansado de uma montanha de papelada.

“Sua Majestade ainda tem muito a aprender. Mas lembre-se disso: Sua futura Majestade fez todas essas coisas brilhantemente.”

Damien ainda se lembrava claramente do olhar nos olhos dela depois de dizer essas palavras. O que se refletia no rosto vagamente sorridente da mulher era um anseio vago que irritava quem olhava.

“Por que faz essa cara quando a pessoa em questão está bem na sua frente?”

E assim que falou, aquela expressão desapareceu imediatamente. — ‘Quando penso naqueles olhos que pareciam cobertos por água fria, meu interior se agita de novo.’