Capítulo 49: Kanao
“Me espanca e depois tenta me recrutar?”, ela questionou em fúria, sua expressão distorcida sem dúvidas causaria medo… se não fosse pelo fato de estar constantemente cuspindo sangue.
Isso acabava retirando qualquer efeito dissuasivo que poderia ter, talvez restando somente a pena que a situação dela poderia trazer para os outros.
“Talvez não seja a melhor, porém certamente é a forma mais rápida de obter respeito.” Lucian sorriu, mesmo que não conseguisse impor respeito, ainda poderia impor medo.
“Hahaha não posso dizer quer esteja errado”, Mayu riu enquanto seu sangramento lentamente parava.
Sendo um ghoul que cresceu na pobreza, ela sabia muito bem que o poder era o único meio de obter real respeito dos outros, e da mesma forma, neste mundo os fracos são intimidados.
Fossem ghouls ou humanos ele estavam o tempo todo se “alimentando” daqueles que eram mais fracos seja fisicamente, psicologicamente e financeiramente.
“Nunca estou errado, nem quando erro.” Lucian agachou-se e então pegou um pouco do sangue que se espalhava pelo corpo dela, logo levando-o até a boca.
‘Simplesmente o jeito mais eficiente de analisar o sangue’, pensou enquanto observava atentamente as células constituintes do sangue de Mayu, obtendo um pouco de informação da interação entre os dois tipos diferentes de células rc presentes, ‘E o sangue dela é bem saboroso…’
Ser um demônio é bem divertido, afinal traz vários poderes sobrenaturais muito interessantes, inclusive o de consumir suas vítimas para se fortalecer.
Seguindo um impulso evolutivo, quanto mais nutritivo for o “alimento”, maior o estímulo ao paladar – portanto, saboroso comprova o poder e o potencial possuído por Mayu.
Embora também seja possível um sabor agradável sem que o indivíduo seja poderoso e vice-versa.
“Dizer isso mostra só que você é muito teimoso, não acho que servir de subordinada iria ser agradável”, ela retrucou, completamente desinteressada com o fato de Lucian bebendo seu sangue.
Com o tempo, coisas desse tipo simplesmente deixam de afetar.
“O que também significa que eu não vou desistir mesmo que você rejeite.” Ele sorriu, segurando levemente o queixo dela, “E eu posso ser teimoso, afinal, sou capaz de esmagar sua cabeça com uma única mão.”
Lucian então apertou levemente, exercendo uma leve pressão na mandíbula dela. Pena que Mayu não pensou o mesmo, conforme sentia seus ossos quase se quebrando.
“Vai quebrar…”, ela disse fracamente, praticamente incapaz de mover a boca.
“Claro que não!” Lucian a soltou, levantou-se e olhou para Tsukiyama que parecia estar chapado: “Espero que possamos continuar nossa cooperação por um longo tempo.”
Não dando tempo para que alguém respondesse, ele logo desapareceu, entrando no castelo infinito.
“Como foi a ‘negociação’ com o Tsukiyama?”, Shinobu perguntou assim que o viu, levantando-se de sua cadeira.
“Tudo ocorreu perfeitamente, não demorará muito para que ele fique viciado.” Lucian sorriu maliciosamente, “Mas por que me chamou?”
“A Kanao quer encontrá-lo.”
“Ela demorou pra pedir isso.”
“Também acho, mas você sabe como ela é: tem grandes dificuldades em tomar decisões.”
Kanao não possuía nenhum grande desejo ou obsessão, de forma semelhante aos outros caçadores de demônios, ela possuiu o objetivo de matar demônio e proteger as pessoas, porém por um motivo bem diferente – nenhum de seus familiares havia sido morto por demônios, a única coisa que a fez se juntar foi ter sido adotada por Shinobu e Kanae.
Com o tempo, ver as pessoas que sofreram por causa dos demônios a fez desenvolver sentimentos contra eles, mas não chegando ao mesmo nível dos outros.
E eventualmente ela iria treinar e se tornar uma caçadora de demônios ao mesmo tempo que o Tanjiro.
‘Ou, pelo menos, não no presente momento.’
Se Lucian não tivesse aparecido, ela provavelmente seguiria o mesmo percurso da obra original, porém no presente momento, Kanao ainda não é muito diferente da casca vazia que era quando Shinobu e Kanae a encontraram.
‘Assim como ela não tem nenhum desejo que possa ser usado, também não é contra os demônios. A única coisa que pode ser usada… é a ligação que ela possui com a Shinobu.’
Após isso ele começou a andar: “Vamos! Vou conversar com ela.”
“Você também demorou para tomar uma decisão, três segundos inteiros pensando no assunto.” Shinobu brincou enquanto o acompanhava.
“Claro, se é importante para você, é importante para mim.” Lucian orgulhosamente vangloriou-se, demonstrando sua nobre personalidade.
“Eu queria acreditar em suas palavras, mas acho que tem uma grande probabilidade de você estar querendo algo de mim.” Ela levantou uma de suas sobrancelhas e expressou suas dúvidas.
“Você me conhece tão bem, sempre estou querendo algo.” Ele sorriu olhando para o belo rosto dela. Percebendo a intensidade do olhar de Lucian, Shinobu corou, sentindo-se constrangida.
Felizmente, seu constrangimento logo se foi quando chegaram ao quarto/cela de Kanao, o que não demorou mais do que alguns segundos, considerando que o quarto veio até eles.
Este é um dos benefícios do castelo infinito, não importa o quão “longe” esteja, é possível chegar ao destino em um piscar de olhos.
Claro, isso só ocorre caso alguém esteja operando o castelo para reorganizar as salas e corredores de uma forma conveniente.
‘Inegavelmente o castelo infinito se tornou melhor desde que eu juntei meus poderes a ele.’
Shinobu abriu a porta e anunciou sua chegada: “Kanao, estamos entrando!”
Ao entrarem viram Kanao sentada na cama, seu rosto inexpressivo enquanto olhava para o nada, como se não tivesse emoções.
O infeliz resultado dela e seus irmãos terem sido maltratados por seus pais durante anos, até que os irmãos morreram e ela foi vendida como escrava.
Depois de todo esse sofrimento ela acabou se quebrando por dentro.
“Se bem que não é difícil convencê-la… é difícil para a Shinobu, ela não conseguiria colocar a Kanao em ‘perigo’, por isso deseja que eu fale com ela”, pensou Lucian, percebendo qual poderia ser a motivação de Shinobu.
É quase impossível que Kanao recuse, mas se ela aceitar meramente por ser um pedido de quem a controla, Shinobu não conseguiria conviver com isso.
‘Dilemas morais são muito irritantes.’
Ignorando isso, ele aproximou-se dela e começou a utilizar alguns dos argumentos mais preguiçosos que tinha: “A Demon Slayer Corps foi destruída, seu único parente está entre os demônios, então porque você não se junta também? Se quiser pode jogar a moeda.”
“… O que aconteceu com as outras da mansão da borboleta?”, Kanao perguntou, expressando um traço quase imperceptível de preocupação.
“Assim como os outros que não morreram no ataque elas ainda estão vivas, mais especificamente, não tiveram nenhum ferimento”, Lucian respondeu honestamente, afinal o pessoal da mansão da borboleta não representava nenhum perigo e Shinobu não queria que elas morressem, então não havia motivo para matá-las.
“Obrigado. Coroa eu vou embora, cara eu fico.” Ela então pegou uma moeda de seu bolso e a jogou para cima, pegando-a quando começou a cair.
Deixando que essa decisão tão importante fosse tomada por um simples objeto inanimado.
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