Capítulo 64: Touka transformada
Existem diferentes tipos de processos da transformação em um demônio.
Se a transformação ocorrer de forma voluntária, ela será mais rápida e suave, o indivíduo nem mesmo perderá a memória ou pelo menos é assim que Lucian faz. Ele não tinha certeza se os poucos demônios que Muzan transformou que mantiveram suas memórias foram propositais ou acidentais.
Por outro lado, quando a pessoa é transformada a força, a resistência contra a transformação é bem maior e a perda de memória é basicamente garantida.
A força e habilidades que o indivíduo possui também afetam o processo da transformação, o que faz o tempo variar, tomando Kokushibo como exemplo – a transformação dele demorou três dias para ser concluída.
Apesar dele ser a exceção entre as exceções…
Mas a velocidade da transformação pode variar de alguns segundos até dias.
E através de algumas coisas que Lucian observou, o aumento de poder que cada um experimentar também é muito afetado por isso: humanos no auge da normalidade tornam-se demônios com exatamente 1 BP, o que é quase insignificante, considerando que eles já possuíam alguma vitalidade.
Embora dizer “a força de cem pessoas” seja algo muito abstrato, afinal, uma pessoa sedentária possui um porte físico muito diferente de alguém que se engaja em exercícios de alta intensidade regularmente, mas pode-se dizer que virar um demônio concede ao indivíduo “a força de um pessoa e meia”, ou talvez duas.
Enquanto isso, para aqueles que haviam praticado uma técnica de respiração o resultado era muito diferente, chegando a ter níveis iniciais de 100 BP.
Tratando-se de questões sensoriais, muitas coisas afetam a dor sentida: a resistência que o corpo e/ou a mente estão fazendo contra a transformação e o quão radical o processo está sendo.
O melhor exemplo de transformação radical é aquela na qual o corpo da pessoa passa por mutações mais rápido do que pode aguentar e acaba colapsando de dentro para fora.
Por fim, outro fator é a vontade de Lucian, que é capaz de afetar como o processo será.
Agora você pode estar se perguntando o porquê o capítulo foi iniciado desta forma, e o motivo é simples: Touka está passando por essa transformação agora mesmo.
Incentivada por uma vontade de se “integrar” com a sociedade, ou mais especificamente, continuar próxima de sua amiga Yoriko. Embora algo como comer a comida feita por sua amiga possa parecer insignificante, ainda era algo que importava para ela. Afinal, comer é uma necessidade para todos os seres vivos e receber comida acaba sendo especial.
Incentivada pela conversa que teve com seu irmão que a “abandonou”. Por lembrar-se de seu pai que acabou deixando-os sozinhos, tudo graças a fraqueza deles.
Incentivada pelo medo de perder um amigo, o que apenas reforçaria a ideia de que ela acabará ficando sozinha.
Incentivada pela vontade de resgatar seu amigo que foi sequestrado por uma maléfica organização porque ela não foi capaz de impedir que isso acontecesse.
Juntando tudo ela chegou a uma conclusão: ela quer poder, não, ela precisa de poder!
Não importa se ela chegou nessa conclusão sozinha ou se Lucian a influenciou, tal pensamento estava correto.
Si vis pacem para bellum.
Se quer paz, prepare-se para a guerra.
O poder é necessário não importa o objetivo, seja ele conquistar fama, riqueza, autoridade, terras ou simplesmente proteger as coisas e pessoas que você preza.
Como um homem uma vez disse: “Precisamos de uma bomba nuclear não para jogar nos outros e sim para impedir que joguem em nós.”
O desejo pela paz não pode impedir o acontecimento de conflitos, mas o poder pode encerrá-los. Ou melhor, caso o poder seja suficientemente grande, a simples intimidação causada por ele faz com que os conflitos nem mesmo comecem.
Infelizmente, nem ela, nem a Anteiku possuem esse poder.
Portanto, Touka será a primeira ghoul que Lucian transforma em um demônio.
“Essa sensação é tão estranha…”, Touka não pôde deixar de murmurar enquanto sentia como se algo estivesse se movendo por suas veias.
Graças aos avisos de Lucian, ela não ficou particularmente preocupada com isso, até mesmo esperava coisas bem piores e por isso avisou seus conhecidos, preparada para ficar um tempo em casa.
Mas não demorou muito para que o alívio que sentia se desvanecer e quando suas preocupações concretizaram-se.
A sensação que antes era leve, agora intensificava-se a cada instante e embora não fosse dor, o formigamento em todo o seu corpo a fazia sentir um desconforto além de qualquer coisa que ela já havia sentido.
Era como se algo dentro dela impedisse que o sangue circulasse corretamente e cada nervo estivesse sendo comprimido.
A sensação de fraqueza que percorria todo o seu corpo foi gradualmente impedindo que ela ficasse em pé, obrigando-a a passar o dia inteiro deitada na cama.
E após longas trinta horas passando pelo processo de transformação, finalmente obteve o que deveria obter – os poderes e habilidades pertencentes aos demônios.
Os seus cinco sentidos, que originalmente já eram poderosos por ela ser uma ghoul, tornaram-se mais poderosos. Sua força física cresceu enormemente, mas não tanto quanto sua velocidade, que já era rápida. O mesmo com sua regeneração, que agora poderia lidar facilmente até mesmo com os ferimentos mais graves.
Porém, o mais notável foi a estamina infinita que a transformação lhe proporcionou, a maior deficiência de sua kagune e método de luta eram que ela se esgotava rapidamente, mas agora… Ela sentia que poderia disparar rajada após rajada de ataques sem ficar cansada.
Instintivamente abrindo sua kagune de forma semelhante a asas, ela não pôde deixar de se maravilhar:
“É como se o poder preenchesse cada centímetro do meu corpo… E finalmente são duas asas.”
Suas grandes asas balançavam freneticamente, como uma intensa chama carmesim ansiando por destruição. Essas asas agora estavam maiores dos que antes, e maior tamanho significa maior alcance.
E tendo esses novos poderes em mãos, é claro que ela ficou ansiosa para testá-los, mas seu quarto não é um lugar adequado para isso.
Afinal, ela acabaria destruindo muitas coisas no processo de testar e se acostumar aos seus novos poderes. Por isso ela guardou sua kagune, saiu de seu quarto e logo correu para um “campo de treinamento”.
Ou seja, ela desceu para o complexo de túneis construídos por ghouls no subsolo de Tokyo, o mesmo lugar onde ela e Yomo ajudaram Kaneki a treinar.
Estando em um lugar onde não precisava se preocupar com quantas coisas seriam destruídas, ela desdobrou sua kagune o máximo possível e começou a disparar uma grande quantidade de projéteis de rc cristalizado.
As asas que antes fluíam, endureceram-se, virando cristal e com um movimento das asas vários fragmentos dessas asas foram disparados para frente.
A quantidade disparada era tão densa quanto a chuva, e todos sabem o quão letais esses fragmentos são, afinal, eles quebraram facilmente a kagune de Tsukiyama, que possui uma koukaku, a kagune com a maior defesa entre os quatro tipos.
E não se esqueçam, ukaku costuma estar em desvantagem contra as kagunes tipo koukaku. Essa desvantagem baseia-se no fato de que lançar esses projeteis faz com que o rc se esgote muito rapidamente, impossibilitando que a luta continue por muito tempo, enquanto a alta defesa do koukaku impede que ele perca rapidamente, mas a situação inverteu-se na luta da Touka contra o Tsukiyama.
E graças ao fato de ter se transformado em uma demônio, Touka não possui mais esta desvantagem, pois agora seu rc estava se regenerando tão rapidamente quanto esses projeteis eram lançados.
O que significa que seus ataques poderiam continuar por horas a fio, de forma ininterrupta, sem dúvidas tornando-a um adversário altamente perigosa.
Esse é o motivo pelo qual Lucian expressou preferência às kagunes tipo ukaku, elas se encaixam muito bem com as características possuídas pelos demônios.
“O que aconteceu?” De repente uma voz soou atrás dela, assustando-a um pouco, mas logo ficou aliviada ao ver quem havia se aproximado.
“Nada aconteceu”, Touka respondeu para Yomo um pouco evasiva.
“Sim, algo aconteceu. O Kaneki foi sequestrado e logo depois disso você ficou ‘doente’, e quando se ‘recuperou’ correu até aqui para ‘treinar’. E sua kagune… Ela está diferente.” Yomo imediatamente negou as palavras de Touka, destacando o que estava errado.
“Lucian me ofereceu algo… E eu decidi aceitar”, Touka disse enquanto retraía sua kagune.
“Entendo… Espero que não se arrependa. Eu estou disponível se precisar de ajudar.” Ouvindo essa resposta, Yomo assentiu levemente antes de se virar para ir embora. Claro, mesmo que sua reação não revelasse muito, ele estava preocupado com Touka.
“Eu também espero não me arrepender.” Touka colocou a mão em seu coração, um tanto reflexiva.
Ela não sabia se havia tomado a decisão certa, mas esperava descobrir que não estava errada, ainda mais porque ela sentia como se houvesse algo enrolado envolta de seu coração.
E não no sentido figurado, ela podia sentir como se algo estivesse se enrolando fisicamente em seu coração.
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