O grupo descia a margem do rio, sendo guiados por Stalker, que andava a passos longos e rápidos pelo chão coberto de cascalho.

    — Temos que ser ligeiros, antes que eles descubram sobre aqueles três lá atrás — disse Stalker, sem virara para trás. 

    — Estou indo o mais rápido que consigo, mas nesse terreno fica difícil — disse Aline, que ainda mancava devido o ferimento na perna. 

    — Qualquer coisa eu posso te carregar até a entrada — disse Vidal da boca para fora, se arrependendo logo em seguida.

    — Humm… — Aline parou de repente, levando a mão até o local do ferimento em sua perna e virando-se em direção a Vidal logo em seguida. — Você aguenta me levar até lá? E se o caminho for muito longo?

    — Relaxa, não se preocupa com isso — disse Vidal, agradecendo a neblina e a escuridão por esconder sua cara vermelha de vergonha. — Qualquer coisa eu revezo com o Poti — disse o jovem vigilante de forma descontraída, dando uma risada tímida.

    — Certo — disse Aline, se agarrando nas costas de Vidal e cruzando seus braços em volta do pescoço do parceiro vigilante. — Só toma cuidado para não me derrubar no chão, tá certo.

    — Pode deixar, hahaha… — disse Vidal, tentando disfarçar a vergonha evidente com uma risada forçada.

    Maycon e Poti seguiam na frente, tentando acompanhar o ritmo do híbrido. 

    — Chegamos longe, não é? — indagou Maycon, quebrando o silêncio entre os dois. 

    — … — Poti encarou o parceiro por alguns segundos, como se tentasse interpretar o que ele quis dizer com aquilo. — Sim, chegamos, e vamos até o fim.

    — Sim, é claro… é claro — disse Maycon, com um tom de voz cansado. — Olha, eu sei que isso é inusitado, mas eu queria te pedir um favor.

    — Hump! — Poti se engasgou com a própria saliva com tamanha supressa. — Po-pode falar. 

    — Se alguma coisa acontecer comigo, quero que você cuide da Aline, pode ser? — disse Maycon, com um tom sério que Poti tinha visto poucas vezes durante o tempo que trabalharam juntos.

    — Do que você tá falando? — perguntou Poti, em uma explosão de nervosismo e medo. — Para de falar besteira!

    — Eu tô falando sério! Desse vez, pelo menos… — disse Maycon, olhando no fundo dos olhos de Poti, revelando sua feição carregada de dúvidas e medo. — Esse é provavelmente a missão mais perigosa que realizamos em anos, talvez em toda a vida, e eu tive o azar dela aparecer bem na hora que minha irmãzinha vira uma vigilante. Eu prometi a ela que a trataria como uma de nós, uma vigilante, e não como minha irmãzinha indefesa que precisava de ajuda para pegar um biscou no topo da prateleira há uns bons anos atrás, mas eu não posso simplesmente ignorar o perigo real que estamos lidando aqui.

    — Então por que não deixamos toda essa merda para trás e vamos embora dessa cidade maldita. Nem precisamos dar uma desculpa, apenas diríamos a verdade: que o inimigo descobriu nossa presença antes do previsto e que a disparidade entre nossas forças e as deles eram grandes demais para continuar a missão sem o risco real de toda a equipe ser morta — disse Poti, agarrando no ombro de Maycon, fazendo-o parar de caminhar. — Nossas vidas valem mais que isso, cara.

    — Ei, por que vocês pararam? — indagou Stalker, virando-se de costas apenas para ficar em silêncio ao ver a situação entre os dois vigilantes veteranos.

    Um silêncio mórbido rodeou os dois vigilantes por alguns bons segundos que pereceram horas. Os dois se encaravam nos olhos, como se tentassem decifrar o que cada um pensava. Stalker podia sentir a áurea de tensão entre aqueles dois, e isso fazia ele sentir um frio na espinha.

    — Não é apenas nossas vidas que estão em jogo, meu amigo, você sabe disso — respondeu Maycon, desviando o olhar e virando-se em direção ao híbrido até ser parado novamente por Poti, que segurou o ombro do parceiro com firmeza. 

    — Pense nisso — disse Poti, com um pesar na voz. 

    — Eu já pensei — respondeu Maycon, voltando a encarar Poti. 

    Vidal e Aline, que vinham logo atrás do resto do grupo, presenciaram o final da discussão entre Poti e Maycon, ficando ambos confusos sobre o que aconteceu.

    — Algo de errado? — indagou Vidal.

    — Não, não tem nada de errad… — Maycon interrompeu a sua própria fala ao ver que sua irmã estava sendo carregada por Vidal. — Que porra é essa?

    — Ah… eh que… — Vidal começou a gaguejar tentando achar uma resposta para dar para Maycon.

    — Minha perna estava doendo muito, e para não atrasar o grupo, Vidal se ofereceu para me levar até a entrada do ninho — disse Aline, da forma mais simples possível, sem demonstrar qualquer sinal de vergonha.

    — Hum… entendi… — disse Maycon, com um tom de voz desconfiado. — Só toma cuidado onde você põe a mão, garoto. — Maycon virou as costas e continuou seu caminho.

    Vidal, com o rosto vermelho como tomate devido à situação constrangedora, olhou para Poti, tentando achar algum apoio emocional, apenas para encarar a feição fechada e carregada de preocupação do seu parceiro vigilante. 

    “Tem algo de errado…” pensou Vidal, imaginando diversas possibilidades do que haveria acontecido entre Poti e Maycon. Enquanto estava distraído, ponderando sobre o assunto, Vidal seguiu o resto do grupo até a entrada secreta do ninho.

    — Chegamos, é aqui — disse Stalker, parando de repente.

    — Não estou vendo entrada nenhuma — disse Maycon, olhando ao redor a procura de algum sinal do acesso que o hibrido havia falado tanto. 

    O lugar estava tomado pela mata, que só não havia crescido no cascalho da margem do rio. Do lado direito de Maycon, havia uma grande elevação, que se tratava de uma encosta tomada pela vegetação, sendo impossível ver qualquer coisa além do mato, principalmente naquele ambiente neblinoso e escuro. 

    — Eu disse que esse lugar não é usado há anos, não disse? — indagou o Hibrido.

    — É, disse sim — respondeu Vidal, agachando-se para permitir que Aline descesse de suas costas. 

    — Foi uma pergunta retorica, garoto — respondeu Stalker, enquanto xeretava o mato no pé da encosta, a procura do cano.

    — Certo, chega de corpo mole — disse Maycon, sacando o facão. — Vamos procurar o cano de esgoto o mais rápido possível. — Maycon ergueu a lâmina negra no ar, golpeando o matagal em seguida. 

    O resto do grupo se uniu ao parceiro vigilante e começaram a procurar por sinais do acesso ao ninho pelo mato alto. Vidal usou de suas habilidades para mudar o formato de seu bastão de madeira para formar uma espécie de foice, cortando uma grande parte do matagal apenas com um golpe. 

    — Aqui, achei, está aqui! — berrou o hibrido, com a voz carregada de animação e, ao mesmo tempo, alivio. 

    Os vigilantes foram correndo até Stalker, que dava pulos de animação. Maycon foi o primeiro a chegar, dando de cara com uma parede de vegetação, sentindo uma decepção profundo que rapidamente se transformou em raiva. 

    — Sem brincadeiras, não se lembra, lagartixa? — indagou  Maycon, agarrando o pescoço de Stalker, que esbugalhou os olhos com a ação repentina do vigilante.

    Aline, que vinha logo atrás do irmão, presenciei a cena entre Maycon e Stalker, apenas para ignorá-los e voltar sua atenção ao cenário, procurando algum sinal do cano.

    Poti e Vidal foram os últimos a chegarem, voltando sua atenção a Maycon, que agora estrangulava o hibrido com as duas mãos.

    — Cansei de seu joguinho, lagartixa! — esbravejou Maycon, usando de toda sua força para apertar a garganta do híbrido, que se debatia suspenso no ar. 

    — Maycon, já chega! — berrou Poti, segurando os braços do parceiro veterano, tentando fazer ele largar Stalker, mas sem sucesso. — Vidal, me ajude aqui.

    O jovem vigilante, que procurava algum sinal de Aline, voltou sua atenção a Poti, correndo para ajudar o parceiro vigilante a desvencilhar Stalker das mãos duras como de pedra de Maycon.

    Aos som dos grunhidos do híbrido, Aline se embrenhou mato adentro a procura do acesso ao ninho. Devido ao clima e a vegetação alta, a visibilidade era quase zero, então a jovem vigilante foi avançando na mata com ambos os braços esticados para frente.

    Com passos firmes e cuidadosos, Aline caminhou poucos metros até uma de suas mãos tocar em uma estrutura de metal fria e rugosa. Após se aproximar mais, pode ver com clareza a forma cilíndrica do cano, que estava completamente enferrujado.

    — Aqui, seus idiotas! — berrou Aline, com um sorriso estampado no rosto. — Eu achei a entrada.

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