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    — Sua forma de fazer as coisas é irreal e completamente desastrosa. — Dalia encarava Dante na sala. Apenas os Oficiais presentes. Ela carregava o olhar severo, um que adquiriu depois que o Comandante Sergi havia saída do Campo de Teste. — Nunca dentro da Capital pode haver esse tipo de regime. Independente do que for falado, você deve abaixar a cabeça para os Oficiais. Quando quiser fazer algo, peça permissão. Quando quiser ir adiante, peça permissão. Sempre deve haver uma ordem antes do ato, entendeu?

    Dante concordou em postura. Não esperava que fosse tomar uma bronca antes do começo da sua primeira missão. Porém, os outros também posicionavam os braços para trás, e com a cabeça erguida. Ninguém se mexia além da Oficial.

    — Quantas vezes preciso dizer? Ordens são feitas para serem seguidas. — Dalia parou diante Dante e o fitou. — Acha que precisa me defender? Acha que não sei que eles falam pelas minhas costas? Esse é o peso que eu tenho que suportar, não você, nem ninguém.

    — Senhora, eu…

    — O que eu disse sobre falar, seu idiota? — Dalia endureceu o olhar na hora. — Não importa quantas vezes eles digam algo sobre as pessoas que compõe esse esquadrão, ninguém deve se mexer sem minha autorização.

    As mãos de Dante se afrouxaram enquanto ele aceitava essa ordem.

    — Minha honra ou orgulho se devem por minhas ações — disse Dalia. — Então, se contente em apenas concluir a missão. Agora, vão para o estábulo. Irei conversar com o Comandante Sergi para ver o que ele quer. Dispensados.

    Ela não disse mais nada. Apenas saiu andando do quarto, fechando a porta atrás de si.

    Os demais relaxaram depois que ela saiu, e seus rostos voltaram ao normal. Nem parecia que tinham tomado uma saraivada de sermões.

    — Parabéns pela primeira merda feita — disse Tecno lhe dando um tapa nas costas. — É sempre bom começar errando aqui dentro da Capital. Se fosse lá fora, ela não iria ser tão leviana.

    — Dalia foi bem tranquila dessa vez. — Freto entregou um copo de água para eles. — Quando foi comigo, ela mandou eu roçar cerca de dois campos na fazenda. Foi bem complicado.

    Crish deu uma risada dele.

    — Bons tempos te ver capinando um lote.

    Pelo menos, Dalia tinha sido leviana. Essa frase deixou Dante um pouco confuso. Por que ela pegaria leve com ele sendo o que tinha sido feito foi além de uma simples luta? Ele destratou um Oficial, pelo menos um pouco de raiva ela teria.

    E nenhuma punição?

    — Não fique se questionando muito. — Tecno esperou Freto e Crish saírem pela porta, e ele foi o último esperando por Dante. — A senhora sabe o que faz. E pelo que parece, ela deve gostar de você. Ontem foi um dia bem complicado para algumas pessoas, mas James Rodd sempre detestou Dalia por muitas coisas.

    — Muitas mesmo — completou Crish.

    Dante saiu e começou a segui-los. Freto virou-se para ele, ainda caminhando e ergueu um dedo.

    — Da primeira vez que James e ela se enfrentaram, ele perdeu feio. Mas, eles nem chegaram a lutar. A senhora mandou ele se ajoelhar e pedir perdão, e ele fez sem hesitar.

    Os três riram juntos.

    — Foi uma boa luta.

    Dante não queria perguntar sobre a habilidade dela. Ordenar as pessoas a fazerem coisas seria incrivelmente poderoso. Quem poderia se opor a ela? Dante mesmo sentia que seu corpo era pressionado contra a Energia Cósmica, mas nunca fez nada contra.

    A ideia era surreal.

    — Depois da derrota, James espalhou um boato de que a habilidade dela era de um demônio — explicou Tecno. — Depois disso, tudo se tornou um caos pra gente. Infelizmente, tem muito preconceito sobre habilidades ainda. Algumas que são além da compreensão ou do motivo de terem sido dadas a algumas pessoas. E claramente, isso é um problema para a Capital.

    — Que tipo de habilidade é essa? — perguntou Dante.

    Eles passaram para um corredor mais largo e saíram em frente a um dos portões da muralha. Nem pareciam que tinham andado bastante, os corredores pareciam sempre se encurtar quando estavam juntos.

    O estábulo era feito completamente de madeira, saindo da tonalidade de pedra e ferro ao redor, das casas e lojas. Até mesmo tinha uma ferraria, outros soldados passavam em seu tempo de lazer, mas também moradores comprando enxadas e algumas pás.

    Tecno apontou adiante, para seguirem reto.

    — Estamos falando de habilidades que consomem mais do que apenas Energia Cósmica. — E sorriu de canto para Dante. — Não precisa se preocupar. É muito raro de encontrarmos esse tipo de gente. Mas, se a gente topar com eles por ai, espero que possa nos ajudar.

    Dante concordou firme.

    — Pode deixar que vou fazer eles comerem terra.

    Freto e Crish assentiram, não muito sorridentes. Parece que isso é mais sério do que eu imaginava.

    Quando eles se aproximaram do estábulo, viram os cavalos relinchando e balançando de um lado para o outro. O cuidador segurava a rédea de dois deles, mas os cavalos não faziam o que ele mandava. Batiam com a pata na terra e giravam com agressividade.

    — Que merda, nos deram os recém-adestrados.

    Tecno se aproximou levantando os braços para o cuidador.

    — Ei, Luigi. O que houve? Cadê os nossos cavalos?

    — Ah, senhor Tecno. — Luigi abaixou a cabeça na hora, seu rosto suava, e também tinha uma grande decepção no rosto. — Eles pegaram os cavalos de vocês, senhor. Aquele bastardo e sua gangue de soldadinhos de chumbo.

    — Quem fez isso?

    Luigi cuspiu pro lado.

    — James Rodd, senhor. Aquele vermezinho veio aqui mais cedo e disse que vocês não precisariam dos cavalos. Ele estava com aquele homem, da mesma laia.

    Tecno suspirou e chamou os demais. Ao se aproximarem, o Oficial apontou para trás.

    — Não vamos a lugar nenhum se os cavalos não ficarem tranquilos. Se James sabia da nossa missão, ele também sabe para onde vamos. Temos que pegar antes de Dalia voltar.

    Freto e Crish foram adiante e pegaram as rédeas. Puxavam com pouca força, tentando não machucar o animal. Dante pegou a rédea de um deles, e encarou o cavalo puxando de um lado para o outro, tentando se soltar.

    Ele segurou a rédea com força e deu um puxão para baixo. O cavalo veio a frente, batendo uma perna na outra, e parou com a sua cabeça baixa. Sua mão repousou no pelo do animal, e deu dois tapinhas entre as orelhas.

    — Bom garoto. Não vou te machucar, está bem? — Dante largou a rédea e foi para a lateral. Pôs o pé no suporte de ferro, e jogou o peso, subindo e passando a outra perna. Sentou na sela, e pegou a rédea novamente, a trazendo para sua cintura. — Bom garoto.

    Os três pararam para ver Dante montado e reclinado a frente.

    — Como que tu fez isso? — perguntou Tecno ainda segurando a rédea.

    — Aprendi com minha mãe. Ela sempre gostou de andar a cavalo. O animal só precisa saber que pode confiar em vocês. Deem uma puxada mais forte, e quando ele abaixar a cabeça, mostrem respeito.

    Freto e Tecno fizeram e os cavalos relincharam, Dante riu e avisou que foi forte demais. No entanto, Crish puxou com mais leveza, e recebeu uma reverência baixa do seu. Ela fez carinho nele com graça e subiu rapidamente.

    Depois de outras tentativas, Tecno e Freto conseguiram montar nos seus. Dante esperou que algum deles tomasse a dianteira e guiasse. Crish foi quem deu os primeiros passos com a montaria, saindo rua afora.

    No meio do caminho, soldados passaram por ele e saudaram os Oficiais. Dante foi o único que recebeu um olhar de desdenho, e mostrou seu sorriso debochado. Começaram a trotar para o portão norte, onde uma torre de guarda do tamanho de três casas pairava sobre ele. Quanto mais perto, maior parecia. Dante estimou e não soube dizer quanto tempo eles deveriam ter demorado para montar e construir.

    Era enorme, maior do que sua casa no vilarejo em umas dez vezes.

    — A senhora está mais a frente nos esperando.

    Eles se aproximaram do imenso portão. Do lado de fora, a grama se estendia até onde os olhos enxergavam. As árvores balançavam com o vento fraco, e as montanhas bem longe carregavam o verde em toda sua estrutura.

    Dante ficou maravilhado. No vilarejo, ele nunca foi além dos limites permitidos por seu pai. Sempre quis explorar o mundo, era uma das suas vontades. No entanto, aos poucos, o desejo da criança morreu para focar nos treinos brutais que começavam ao amanhecer e terminavam com o céu noturno.

    Prestes a sair para sua primeira missão, ele lembrou de seu pai. Queria saber o que ele pensaria se visse todo aquele verde.

    — Parecem prontos — foi o que Dalia disse antes de subir em seu cavalo. — Não temos muito tempo. Faremos a coleta dos seis minérios que solicitaram. Voltamos no dia seguinte. Dante vai carregar três, coloque três no seu cavalo para não ter problemas com locomoção.

    — Sim, senhora.

    Dalia encarou o terreno lá fora. Dante esperou que ela fosse, mas o cavalo não saiu do lugar. Ela está hesitando?

    — Senhora — Tecno a chamou —, podemos ir?

    Ela escapou dos próprios pensamentos.

    — Devem. Vamos.

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