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    Dante avançou pelo terreno coberto de neve e água, com Jix em suas costas e o restante do grupo logo atrás. Cada passo parecia ecoar o peso das escolhas que estavam prestes a fazer. Ele sentia o olhar de Marcus e Juno sobre si, e mesmo sem dizerem nada, sabia que ambos confiavam nele, apesar de suas constantes provocações.

    A voz misteriosa ainda ressoava em sua mente. Aquela mulher sabia mais do que qualquer um ali, e isso o incomodava. Quem era ela? E por que sabia tanto sobre a Pedra Lunar e a Energia Cósmica? Mais importante: como ela os encontrou?

    — Você acha mesmo que ela vai ajudar? — perguntou Juno, agora caminhando ao lado de Marcus, que parecia ainda mais desconfiado.

    — Não acho que ela está interessada em ajudar — respondeu Dante, sua voz firme, mas calma. — Mas acredito que ela tem algo que precisamos. E se for uma armadilha, melhor lidarmos com isso agora do que deixá-la solta para nos encontrar desprevenidos.

    — Você gosta de complicar as coisas, hein? — Marcus balançou a cabeça. — Primeiro Felroz, agora isso. Qual é o próximo? Dragões?

    — Espero que não — disse Dante com um sorriso cansado. — Já temos problemas o suficiente.

    Ao se aproximarem do antigo Centro de Pesquisa, o ar parecia ainda mais pesado. A estrutura abandonada estava coberta por uma camada de gelo, com partes do teto desmoronadas e janelas quebradas. Uma sensação de desconforto percorreu o grupo. Mesmo Juno, sempre energética, parou de brincar e começou a observar ao redor com mais seriedade.

    — Estamos sendo observados — murmurou Jix, ainda apoiado em Dante. — Ela quer que a gente saiba disso.

    — Eu sei — Dante respondeu. — Vamos continuar.

    Ao entrar no prédio, o silêncio era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo som de seus passos na neve acumulada e pelo vento que soprava pelas frestas. As paredes estavam cobertas de marcas estranhas, como se algo tivesse arranhado e queimado o concreto. No centro do salão principal, um terminal de controle piscava com uma luz fraca, como se os convidasse a interagir. Mas, não era a luz de quem tinha energia elétrica, era de quem tinha Energia Cósmica.

    — Isso é pior do que eu imaginei — Marcus comentou, apontando para as marcas. — Parece que um bando de Felroz passou por aqui.

    — Ou algo pior — acrescentou Juno, apertando os punhos.

    Dante se aproximou do terminal, hesitando por um momento antes de ativá-lo. Assim que o fez, a mesma voz feminina ecoou novamente, desta vez mais próxima, quase sussurrando:

    — Vocês são corajosos. Ou estúpidos. Talvez os dois.

    Eles pararam de caminhar, olhando para a parede que se abriu, caindo aos pedaços. Dante viu a luz do painel se locomover na mesma direção do lugar destruído, cheio de marcas e poeira. Não era a melhor das ideias, mas era a única até então.

    — Vai nos dizer o por quê nos quer aqui? — Dante perguntou abertamente a voz. — Sei que destruí sua casa, mas se for uma armadilha, pode ter certeza de que não sou muito apreciador.

    — Idiota. — A voz repetiu com a mesma intensidade. — Sei que não é um homem normal, mas também não deixaria que viesse apenas para passear pelos meus corredores. Eu sou a dona do Centro de Pesquisa agora que ninguém mais está aqui para cuidar. O que procuram, o que sua amiguinha Vick deixou vazar na rede morta, eu sei de tudo. A comida, o abrigo, tudo.

    Dante deu uma risada.

    — Então, se eu for até aí e te dar uma bela…

    — Dante — cortou Jix. — Não é necessário ficar ofendido por causa de uma voz. Vamos pegar a comida e saímos. Se ela pudesse e fosse forte o suficiente, já estaria aqui para nos confrontar. Mesmo os Felroz juntos não deram conta, alguém que se esconde não é necessário de xingar.

    Juno e Marcus nada disseram. Dante apenas respirou fundo e começou a seguir. Eles desceram as escadas, frias e úmidas, os degraus eram largos, o corredor também. Assim que chegaram ao fundo, avistaram uma porta de metal maciça.

    Os dedos de Dante tocaram o frio metal.

    — Acha que dá pra quebrar? — perguntou Juno criando uma pequena fagulha para iluminar ao redor. — Não tem nada aqui pra abrir.

    Marcus também negou do outro lado.

    — Claro que dá.

    Os dedos dele ganharam uma coloração roxa, e ele enfiou por dentro do ferro, entortando o material em cinco lados diferentes, e quando fechou a mão, girou o braço. Os pinos grossos do portal se soltaram por dentro em um estopim, e Dante empurrou a porta, abrindo sem muita dificuldade.

    Dentro, eles pararam não muito distantes da porta. Havia prateleiras em larga escala, em um cômodo tão enorme quanto o hall de entrada no piso superior. E ficaram abismados pela quantidade de enlatados.

    Marcus pegou um deles, dando uma bela verificada e ficando surpreso.

    — Isso aqui tem um vencimento daqui a dez anos. — Ele levantou a cabeça, olhando para os outros itens, enfileirados em quase cinco prateleiras erguidas, e recheadas para trás também. — Todos eles tem data de vencimento para dez anos.

    A validade era importante porque não precisava pelo problema de limpeza que Clara e Simone faziam com mais duas pessoas no abrigo. Demorava mais de duas semanas, o que era necessário ter uma provisão de duas semanas inteiras antes de usar o que estava sendo verificado.

    — Com tudo isso, estaríamos com estoque para anos — concluiu o atirador, mais distante. — Velhote, nós precisamos disso.

    — Ah, ah. — A voz misteriosa soou mais uma vez. — Parece que vocês estão cada vez mais tentados a levar minha preciosidade. Isso aqui é meu, tudo é meu. Mas, vocês podem me escutar.

    — Podemos — respondeu Dante. — O que você quer?

    — Ah, sua amiga Vick ficaria desapontada em saber. Mas, eu sei bastante. Muito mais do que vocês dois velhinhos, mais do que a menina do raio e o atirador com uma lembrança dolorosa do pai. Eu sei de algo que vocês querem, e sei de algo que podem me dar. Eu darei a comida se puderem vir até mim, eu quero olhar vocês, quero poder conversar, quero poder dialogar mais.

    O pedido dela mais deixava os quatro em dúvida. Dante, no entanto, deu uma risada.

    — Então, nós vamos levar a comida. Se quer nos ver, me diga onde está.

    — Além dessas paredes, mais a frente, está uma porta. Lá, encontraram respostas para perguntas. Sigam as instruções.

    Mais uma vez, o brilho amarelado surgiu em seus olhos, guiando até uma parede sem prateleiras. Uma porta se abriu, fazendo os tijolos e concreto se quebrarem completamente.

    — Ainda não gosto dessa ideia dela ficar nos levando para onde quer — disse Jix, pressionado. — Podemos pegar a comida e sair.

    — Não. — Dante obrigou todos a encararem-no. — Ela sabe de Vick, sabe de nós, e sabemos porque estamos aqui. Tenho certeza de que ela sabia quando viemos a primeira vez, sabia da situação do abrigo e agora está nos obrigando a ir até lá. Tenho quase certeza de que ela precisa da gente.

    — E nós precisamos dela? — Marcus o olhou de lado. — Não quero saber se ela é uma pessoa ou não, tenho certeza que se fizermos o que ela mandar, vamos estar próximo de um confronto. Você ainda não se recuperou, e não sabemos com o que estamos lidando.

    Dante sorriu.

    — Claro que sabemos. Vamos em frente, temos tempo sobrando.

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