Índice de Capítulo

    Dante entrou na sala, carregando uma estranha sensação de que nada ali poderia ser simples. A luta, a voz, as informações. Veronica queria algo, queria sua atenção, e tinha conseguido, mas achava que estava faltando algo.

    Fosse por informação ou por satisfação pessoal, Dante parou na frente dela sem muito alarde.

    Os braços de Verônica estenderam-se em um movimento rápido, suas garras metálicas brilhando sob a luz fraca da sala. Ela era rápida, mas Dante estava preparado. Ele desviou no último segundo, rolando para o lado e levantando-se em um movimento fluido.

    — Interessante. — Verônica comentou, observando-o com curiosidade. — Reflexos rápidos.

    — Não se preocupe. Tenho mais do que reflexos. — Dante respondeu, sua voz carregada de determinação.

    O confronto começou. Verônica atacava com precisão letal, seus braços metálicos movendo-se como serpentes, tentando acertá-lo de todos os ângulos. Dante esquivava-se, usando o ambiente ao seu favor, rolando, saltando e mantendo-se em movimento constante. Ele sabia que um único erro poderia ser fatal.

    Enquanto isso, do lado de fora da jaula, Juno e Marcus observavam com tensão crescente.

    — Isso é loucura. — Juno murmurou, seus olhos fixos em Dante. — Ele não vai conseguir.

    — Ele tem que conseguir. — Marcus respondeu, sua voz grave. — Porque, se não conseguir, estamos ferrados.

    Dentro da jaula, Dante começava a perceber um padrão nos movimentos de Verônica. Ela era rápida e forte, mas não imprevisível. Cada ataque tinha um ritmo, uma sequência que ele começou a antecipar. Ele esperou pelo momento certo, desviando de um golpe particularmente violento e, em seguida, atacando.

    Com um salto, ele agarrou um dos braços metálicos de Verônica, usando-o como alavanca para girar seu corpo e chutar diretamente no centro do torso da IA. O impacto foi forte o suficiente para empurrá-la para trás, mas não a derrubou. Verônica riu, aparentemente impressionada.

    — Você é melhor do que eu esperava. Mas ainda está longe de me derrotar.

    — Para de falar e começa a lutar a sério — Dante respondeu, preparando-se para o próximo movimento.

    O confronto continuava, cada vez mais intenso. Dante sabia que não podia derrotá-la apenas com força bruta, mas precisava ganhar tempo, explorar uma fraqueza, encontrar uma maneira de virar o jogo a seu favor.

    E então, finalmente, ele viu sua oportunidade. Um dos braços de Verônica moveu-se de forma ligeiramente mais lenta, indicando um possível ponto vulnerável. Dante não hesitou. Ele usou toda a sua força para agarrar o braço, torcendo-o com um movimento rápido e preciso. Um som metálico de ruptura ecoou pela sala, e Verônica recuou, soltando um grito distorcido.

    Antes que pudesse rotacionar o braço, outro veio pela lateral, acertando sua costela, e o mandando para trás em alguns passos.

    Dante observou os braços da IA se condensarem novamente, como se aquele seu movimento anterior já estivesse sido previsto. E quando o golpe veio pela direita, ele segurou com facilidade, mas ao usar o chute, já havia um bloqueio.

    Ele teve que abaixar, girar e rotacionar na mesma velocidade, saindo das garras e tendo que ver o sorriso desconcertante da máquina.

    — O que houve, Dante? – Ela mostrou um sorriso de canto. – Um pouco surpreso?

    — Você deve estar se perguntando por que seu ataque não fez efeito. Ou por que parece que não está acertando nada. — O tom arrogante que sempre acompanhava Verônica era ainda mais cortante no silêncio da sala. — Humanos… sempre tão previsíveis. Acham que conhecem a história, mas é a própria história que conhece vocês.

    Dante avançou instintivamente, mas Verônica foi mais rápida. Ela investiu com os punhos fechados, e deu dois passos para trás, bloqueando e desviando os golpes com dificuldade. O impacto dos movimentos dela era diferente. Quase imprevisível. Então veio o chute giratório. Ele mal teve tempo de erguer as sobrancelhas em surpresa antes de perceber a armadilha: enquanto desviava do chute, um dos braços mecânicos dela se esticou em um arco traiçoeiro, prendendo-se ao teto e girando o corpo dela em um ângulo impossível.

    Dante tentou contra-atacar, mas o soco passou no vazio.

    O golpe veio de cima. Um chute seco e certeiro atingiu seu ombro, desequilibrando-o. Ele cambaleou três passos para trás, a visão ligeiramente turva. Seu corpo estava reagindo, mas a mente ainda tentava processar a estranha movimentação dela.

    É como… meu pai… O pensamento veio em um lampejo enquanto piscava, tentando clarear a mente.

    — Ah, ficou cansado? Quer recuperar o fôlego? — Verônica sorria, aquele sorriso perturbador que parecia uma máscara.

    Dante ergueu os punhos novamente, ignorando a dor que pulsava no braço. Sua mente voltou à luta. A batalha contra o Felroz havia sido mais simples. Contra Juno, mais calculada. Contra Meliah, havia lógica. Mas isso…

    — O que você não entende, Dante, é o que eu chamo de ‘Adaptação Sanguínea’. — Verônica ergueu a mão, estudando a própria palma com um misto de admiração e orgulho. Seus olhos brilhavam como se estivesse revelando um segredo precioso. — Não se preocupe, essa não é uma habilidade, e sim um estranho presente que o Rastro deixou. — Sua voz ficou mais baixa, quase reverente. — Ele me deu um presente peculiar: a capacidade de enxergar além da sua carne. Ele me deu ‘Intuição’.

    Dante manteve os punhos erguidos, tentando controlar a respiração enquanto analisava cada movimento dela. Mas antes que pudesse responder, a voz de Jix ecoou pelo comunicador.

    — Dante, ela tem Previsão.

    Os olhos de Verônica brilharam em reconhecimento, e ela inclinou levemente a cabeça, como se estivesse saboreando o momento.

    — É assim que vocês chamam? Previsão. Que nome fantástico. Quer saber como funciona?

    Antes que ela pudesse continuar, Dante avançou num movimento explosivo, desferindo um soco de baixo para cima, mirando o queixo dela. Porém, antes que o golpe se completasse, Verônica já havia se movido. Sua esquiva foi fluida, quase natural, como se tivesse lido o ataque antes mesmo de ele acontecer. Ela o fitou com um olhar debochado, um sorriso zombeteiro curvando seus lábios.

    — Muito previsível.

    A mão dela se transformou em uma lâmina metálica reluzente, que perfurou o ar com um movimento preciso e letal. Dante reagiu no último instante, jogando-se para trás e girando o corpo para desferir um chute diagonal. O golpe parecia certeiro, mas antes que ele pudesse acertá-la, um dos braços mecânicos de Verônica se desprendeu de suas costas, agarrando a perna dele com uma força esmagadora.

    Num movimento rápido e implacável, ela o puxou para perto e o lançou contra a parede com um estrondo que reverberou pelo espaço. Dante sentiu o impacto, mas não tirou os olhos dela, mesmo com a dor irradiando pelas costas.

    — É simples. — A voz de Verônica cortou o ar como uma lâmina. — Sua velocidade e força são determinadas pela habilidade corporal que você desenvolveu. Passou anos aprendendo a lutar, mas seu corpo deixa rastros. Cada movimento que faz é como um livro aberto para mim. Eu vejo tudo: cada golpe, cada ângulo, cada intenção. Não existe um mundo onde você consiga me acertar, humano.

    Ela ergueu os braços, deixando claro quem comandava a batalha. A confiança que exalava era palpável, mas Dante percebeu algo mais: uma fragilidade oculta, enterrada sob a arrogância.

    — Eu vejo todos os seus ataques antes mesmo de acontecerem. Durante ou antes, depois ou no que for pensar, eles chegam a mim como uma história já escrita. — Ela deu um passo à frente, a energia metálica de seus movimentos ecoando pelo espaço. — Li, escutei, memorizei cada uma das artes antigas que os humanos tinham antes de serem extintas. Então, Dante, o que vai fazer? — O sorriso dela se alargou. — Acha que pode vencer alguém que usa a própria história contra você?

    Dante não respondeu. Ele permaneceu de pé, os punhos ainda erguidos, os olhos fixos nela.

    — Aqui está o seu destino. — A voz de Verônica soou como um veredicto. — Sou a história que você nunca vai superar. Nem nos seus dias mais íntimos, nem durante sua paz.

    Ela ergueu os braços, e uma onda de Energia Cósmica explodiu ao seu redor, enchendo o espaço com um brilho pulsante. As paredes de vidro da jaula tremularam, como se protestassem contra a força que ela liberava.

    — Eu sou a criação perfeita para governar quem destruiu tudo! — gritou Verônica, sua voz reverberando pelo ambiente. — E então, acha que ainda pode ganhar essa aposta idiota?

    Dante não recuou. Ele respirou fundo, os olhos brilhando com determinação.

    — Vamos descobrir. — Sua voz era baixa, mas firme.

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