Índice de Capítulo

    Cerberus atacava com uma fúria metódica, explorando todas as vantagens que suas habilidades podiam lhe oferecer. Movia-se como um vendaval imprevisível, os punhos e pés atingindo de todos os ângulos. Seu poder de Lentidão fazia os movimentos de Dante parecerem pesados e demorados, enquanto ele mesmo parecia fluir com uma graça mortal, auxiliado pelo Incremento de Velocidade. Contudo, para sua frustração, Dante não parecia tão afetado quanto deveria. O velho sempre encontrava uma brecha, uma abertura quase impossível no ritmo das ofensivas.

    Quando Cerberus tentou acertar um soco direto, Dante reagiu com precisão cirúrgica. Ele girou o punho de Cerberus no sentido contrário, torcendo-o com um movimento que fez os ossos estalarem de forma ameaçadora. Antes que pudesse ser dominado, Cerberus pisou com força no chão. A energia de seu impacto ergueu um bloco maciço de concreto entre eles, criando uma explosão de ar que empurrou ambos para trás. O bloco, no entanto, não suportou a pressão, rachando em pedaços enquanto Dante recuava com passos calculados.

    Cerberus girou sobre si mesmo, e antes que os fragmentos do concreto tocassem o chão, sua habilidade mudou novamente. Uma onda de gelo emergiu do solo, estendendo-se como dez braços gélidos que se contorciam em direção a Dante, cada um se movendo como uma serpente faminta. O velho respondeu de imediato, recuando com passos largos para a ponte de metal. Ele sabia que aquele ambiente mais restrito poderia trabalhar a seu favor.

    Assim que Dante alcançou uma distância de cinco metros, Cerberus estendeu a mão, e o ar ao redor pareceu congelar. Os flocos de neve, antes suaves e quase imperceptíveis, pararam no ar, como se o tempo tivesse sido interrompido. Em seguida, eles se transformaram em agulhas brilhantes, cada uma apontada diretamente para Dante.

    Com um gesto abrupto, Cerberus liberou sua energia. As agulhas voaram como uma tempestade mortal, assobiando enquanto cortavam o ar. Mas antes que pudessem atingir seu alvo, Dante bateu a palma da mão com força contra o próprio peito. O impacto reverberou como um trovão, e uma onda de choque explodiu para fora dele, desfazendo as agulhas de gelo em uma nuvem de pó brilhante.

    Cerberus permaneceu imóvel, com a mão ainda erguida, observando a cena com uma mistura de irritação e fascínio.

    — Sabe o que significa limitação, Dante? — Sua voz ecoou com uma calma fria, quase sarcástica. — É entender que, sem poder chegar perto de mim, você não passa de uma formiga.

    Dante ergueu os olhos, estreitando-os ligeiramente. Seu semblante não mostrava raiva, mas algo muito pior: desprezo. Ele deu um passo adiante, esmagando o gelo sob suas botas como se fosse nada.

    — Limitação, garoto? — Sua voz era grave, quase como o rolar distante de um trovão. — Limitação é o que você impõe a si mesmo. Você está aí, escondido atrás de truques e habilidades, achando que é invencível. Mas sabe de uma coisa? Eu não sou uma formiga. Eu sou o cara que pisa nelas.

    Cerberus franziu a testa, mas não teve tempo de responder. Dante avançou com uma velocidade que desafiava o peso de seus anos, fechando a distância entre eles como um raio.

    No instante em que Dante entrou no domínio do gelo, o ar ao redor pareceu congelar completamente. O mundo se transformou em uma câmara glacial, cada floco de neve suspenso no ar como um artefato imóvel de uma obra de arte mortal. As paredes da prisão de gelo se ergueram em torno dele, grossas e intransponíveis, com camadas que refletiam a luz da tempestade em um brilho opaco. Cerberus finalmente sentiu que estava no controle. Era aqui, neste espaço absoluto, que ele derrotava seus oponentes. Aqui, ele os fazia sucumbir ao desespero.

    Ele esperava ver o medo nos olhos de Dante, aquele brilho desesperado de quem percebe que a morte está próxima. Mas não encontrou nada disso. Não havia sequer um lampejo de dúvida no velho homem, apenas um olhar fixo e imperturbável, quase como se estivesse entediado.

    — Está olhando pra onde, rapaz? — Dante disse, sua voz carregando um divertimento só dele.

    Antes que Cerberus pudesse reagir, o punho de Dante avançou. Ele golpeou as paredes de gelo com uma força brutal, atravessando não apenas uma, mas cinco camadas sólidas como se fossem vidro fino. O som da explosão ecoou como uma onda de choque, os fragmentos reluzindo como estrelas cadentes ao redor deles.

    Cerberus conjurou uma espada glacial em um instante, surgindo à sua direita com precisão letal. Mas Dante já estava em movimento. Ele girou o corpo em um arco fluido, desviando por um fio de cabelo. O velho saltou com agilidade surpreendente, agarrando-se ao teto da câmara glacial com uma mão. Seu outro braço brilhou com uma energia incandescente, deixando um rastro fumegante enquanto ele atacava de cima.

    Cerberus mal teve tempo de reagir. Ele rolou para trás, escapando por pouco do golpe que destruiu uma seção inteira do teto. O gelo começou a derreter em resposta ao calor da energia de Dante, transformando-se em torrentes de água que caíam em cascatas pelo espaço fechado. O corpo de Cerberus respondeu de imediato, sua habilidade adaptativa convertendo o gelo ao redor em água líquida e, em seguida, em correntes pulsantes que dançavam ao seu comando.

    Dante aterrissou com força, girando o corpo em uma cambalhota que o levou diretamente para a posição de Cerberus. Sua perna se ergueu em um arco perfeito, atingindo o pescoço do adversário com uma força esmagadora. Cerberus foi jogado ao chão, sentindo o impacto reverberar por todo o seu corpo.

    Antes que pudesse se levantar, Dante já estava sobre ele, sua mão fechando-se ao redor do braço de Cerberus com uma força que parecia capaz de arrancá-lo do corpo. Cerberus reagiu instintivamente, sua habilidade ativando no último segundo. A água ao redor se solidificou em correntes massivas, serpenteando em direção a Dante com a intenção de prendê-lo.

    O grito de dor de Cerberus ecoou pela câmara improvisada, um som gutural e áspero que misturava agonia e desespero. As poças de água ao redor, alimentadas pelo gelo derretido, responderam à sua angústia, transformando-se em correntes líquidas que serpentearam pelo chão como criaturas vivas. Elas agarraram Dante, enlaçando suas pernas e puxando-o para trás com uma força quase irresistível.

    Dante continuou segurando o braço de Cerberus, os músculos do velho tensionados como cabos de aço. Mas algo mudou. O braço de Cerberus, que ele tentava arrancar, endureceu e brilhou em uma transformação súbita, cristalizando-se em uma estrutura translúcida e iridescente. Dante sentiu a mudança e, por um breve instante, sua mão foi repelida por uma superfície cortante e rígida.

    Cerberus, ofegante, aproveitou o momento. Sua habilidade reagiu instintivamente, reforçando a defesa enquanto ele recuava o braço para perto do corpo, gemendo em alívio e surpresa. O cristal substituíra completamente a carne, reluzindo sob os relâmpagos que iluminavam a tempestade lá fora.

    As correntes de água, agora reforçadas por uma corrente maior e mais densa, se ergueram como uma onda violenta e se chocaram contra Dante. A força do impacto finalmente o fez soltar Cerberus.

    — Voe! — Cerberus rosnou, sua voz carregada de determinação e fúria.

    A tempestade parecia responder ao comando. Um vento feroz se ergueu, unindo-se às correntes, formando um turbilhão que capturou Dante. Ele foi lançado para cima, como se uma mão invisível o tivesse agarrado e arremessado. As correntes chicotaram seu corpo no ar, impulsionando-o ainda mais alto.

    Dante sentiu o ar rarefeito e o frio cortante da tempestade enquanto subia em uma trajetória incontrolável. Ele girava desajeitadamente, tentando estabilizar seu corpo contra as forças avassaladoras que o lançavam como um boneco de pano. O impacto veio como um trovão abafado. Seu corpo colidiu contra a lateral de um prédio, o som de concreto se estilhaçando ecoando pela noite. Ele continuou subindo até bater no topo da estrutura, a cinquenta metros do chão, onde finalmente parou.

    Cerberus observou a cena de baixo, seus olhos arregalados enquanto tentava recuperar o fôlego. Ele apertou o braço cristalizado contra o peito, engolindo em seco. Sabia que, se não tivesse reagido a tempo, aquele velho teria arrancado seu braço de verdade. O pensamento o fez estremecer.

    E ele sentiu o peso de sua exaustão enquanto tentava se equilibrar. Cada movimento era um lembrete do impacto devastador sofrido. Ele fechou os olhos por um momento, concentrando-se na aura verde que ressurgia ao seu redor. Era um brilho pulsante, quase tranquilizador, enquanto seu corpo começava a se regenerar. Feridas fechavam, hematomas desapareciam, e o vigor retornava.

    Porém, algo estava errado. Quando tentou girar o pescoço para aliviar a tensão, uma pontada o fez engolir em seco.

    — Ainda dói… — murmurou, movendo o ombro para frente e para trás, tentando testar a mobilidade. — Deve ser o tempo de reparação.

    — É, deve ser sim.

    A voz de Dante cortou o ar como um trovão. Cerberus girou rapidamente, mas não rápido o suficiente. O punho de Dante já estava lá, colidindo com força devastadora contra seu abdômen. O impacto roubou todo o ar de seus pulmões, e antes que pudesse reagir, o velho homem deslizou para o lado e aplicou um gancho certeiro de baixo para cima. O golpe encontrou o queixo de Cerberus, que endureceu como metal em resposta, mas isso não foi suficiente para amortecer a força.

    Cerberus foi lançado para cima, seu corpo girando descontroladamente no ar. Ele subiu mais de trinta metros antes de perceber que não estava sozinho. Abrindo os olhos com dificuldade, viu Dante acima dele, segurando-o pela roupa como se fosse um peso bem leve. A tempestade ao redor rugia, mas Dante parecia inabalável, seus olhos fixos no homem que segurava.

    — O que está fazendo? — Cerberus perguntou, sua voz desafiadora apesar da posição vulnerável.

    — Estou te dando o que você quer tanto. — Dante respondeu, com um tom calmo, quase cruel. Ele parou sua ascensão abruptamente, agora quase cem metros acima do solo. O vento soprava feroz, a tempestade parecia se intensificar ao redor deles, mas Dante não desviava o olhar. Ele puxou Cerberus para mais perto, encarando-o de frente.

    — Vou te jogar dentro do seu aquário favorito.

    A Energia Cósmica ao redor de Dante explodiu em um clarão, como um sol nascendo em meio à escuridão da tempestade. O poder que emanava dele era esmagador, quase tangível. Cerberus tentou reagir, invocando suas habilidades — água, fogo, gelo, qualquer coisa que pudesse reverter a situação. Mas era inútil. Tudo o que ele criava era repelido pela presença esmagadora de Dante, dissipando-se no ar como fumaça ao vento.

    Cerberus sentiu o desespero começar a tomar conta, mas havia algo no olhar de Dante que o prendia. Não era ódio, nem raiva. Era uma determinação implacável, uma força que parecia maior do que qualquer habilidade ou técnica.

    O trovão rugiu ao redor deles, e a tempestade parecia assistir em silêncio, como se o próprio céu esperasse que ele fizesse aquilo.

    — E então, está pronto para conhecer o que tanto jurou defender?

    Cerberus engoliu em seco. Ele não estava blefando. 

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