Capítulo 13: Lâmina e Punho
Com impulso, Crosu se lançou cortando adiante. Dante desviou a cabeça e segurou seu braço. Os olhos do velho ficaram alarmados, eram de metal. Frio e sólido, e no entanto, Crosu o puxou girando completamente.
Crosu usou o impulso novamente das suas pernas, e tentou um corte seco, mas o velho se abaixou. Atreveu a atacar rotacionando os braços, numa chuvarada de lâmina, rápido e veloz. E o velho recuava com dois passos para os lados, saindo sem fazer alarde nenhum.
Ele é um recruta? Liana tem certeza disso?
A pior das esquivas dele foi uma perfeita sincronia de pés. Dando uma leve escapada, sem movimentos desperdiçados. Poderia não ser tão bom quanto Hugo ou Liana em defender, mas esse cara, Crosu estava certo de que ele conseguia ser tão rápido quanto.
— Achei que estivesse vindo me atacar para matar, moleque. — Dante mostrou um sorriso de lado. O charuto ainda queimava no canto direito da boca. Ele puxou e abaixou o braço. — Era você quem estava lá em cima ou tem mais algum, hein?
— Isso importa? — Crosu ganharia tempo. Levar a luta para o sul e depois sudeste. — Se preocupe com o que está na sua frente.
O velho deu uma risada e balançou a cabeça.
— Se é uma luta que você quer, então, te darei uma.
Crosu piscou e o velho havia sumido. A noite poderia até mesmo esconder sua presença, mas aquela movimentação foi de um fantasma. Uma pressão nas suas costas, ele sentiu no instante seguinte. Fez um giro completo com o braço, as cinco lâminas rasgaram o ar e não o encontraram.
— Está olhando pra onde?
Um soco de cima pra baixo. Crosu foi lançado de novo contra a grama, e arrastou-se por alguns metros. Sentiu o maxilar endurecer, e ao abrir a boca, um dos seus dentes caiu. O golpe não tinha sido pra matar, então, o velho estava se contendo.
Liana tinha errado. Claramente estava errada.
— Coloque mais força — disse Dante o chamando para levantar. — Não está vendo que está sendo surrado por um velho?
Sem perder a cabeça. Sem deixar ele me afetar. Sem morrer.
— Certo. Se você não vem, então eu vou de novo.
Num passo rápido, Dante encurtou a distância e ergueu os punhos. Crosu respondeu com um golpe em linha reta, na direção do queixo. No entanto, viu o velho abrir uma das mãos e repeliu seu braço antes mesmo de acertar. Foi como um disparo no ar, sem ao menos encostar. E o outro braço, o segurou pelo ombro, e sentiu um chute na perna.
Crosu rodou antes de bater seu peito no chão. E soltou um gemido quando seus dedos foram pisados pelo velho. Nem foi um pisão firme, mas ele era pressionado como se houvesse montanha em cima.
— Você ataca de uma maneira bem merda. O que está tentando fazer? Apenas me deixar ocupado?
Essa era a intenção. Liana precisava somente pegar os cristais. E voltaria em segurança. Crosu não precisava fazer muito. Se os soldados viessem para confrontá-lo, então Liana só precisaria fazer a volta.
Era pra ser assim. Então, por que ninguém estava ali para vê-lo? Apenas o velhote estava presente. Por que ninguém tinha vindo?
— Parece um pouco decepcionado. — Dante abaixou e ficou cara a cara com ele. — Já parou pra pensar que esse pode ser seu último dia vivo? Sério, você sai no meio da noite, mira em um acampamento cheio de Oficiais e leva como brincadeira.
Crosu puxou a mão e se lançou para longe, no meio da escuridão. Ficou observando Dante o encarar. Os olhos dele brilhavam na mesma tonalidade que a camisa que usava por baixo da farda, pareciam roxos, fortes.
A Energia Cósmica dele não era forte, tanto que não surtia efeito estar perto ou não. Eram os movimentos que Crosu tinha certo receio. Eram sincronizados, o ângulo e a simetria. Se errasse, como fez das outras vezes, era punido.
E isso o atormentava ali mesmo. Se esse velho estivesse me levando a sério, eu já estaria morto.
O que indicava apenas uma coisa.
— Sua patente, qual é? — Crosu segurou os próprios braços. O aço foi se tornando azulado, um azul bem frio, e sua pele do rosto recebeu um pequeno risco, crostas finas de gelo foram se formando. — Eu não quero acreditar que vou usar minha habilidade em um velho ou em um soldado qualquer. Mesmo se eu morrer, quero acreditar que levei alguém forte comigo.
— Está preocupado em morrer lutando contra alguém forte? — Dante fez uma careta e negou. — Não sou um soldado. Sou um Recruta. Acredita em mim? Mas, se a sua preocupação era morrer para alguém, então essa pessoa seria mais forte do que você de qualquer maneira, não é? Morrer é perder. Você teme a morte, jovenzinho?
Que força bruta era essa na postura? Crosu tremia só de ver o velhote abrindo e fechando a mão. Não precisou nem mesmo de dez minutos, todos os seus instintos o alertavam sobre o perigo que corria.
Não era pela situação, nem pelo lugar em questão, era o homem. Ele causava arrepios em Crosu apenas por existir.
Enquanto do outro lado, Dante suspirava com tédio. Achei que ele fosse ser mais forte do que isso. Se eu capturasse um desses delinquentes e levasse como prisioneiro, a senhora Dalia poderia ganhar algum crédito.
O jovem ficou de pé. O braço dele estava azulado, assim como uma parte do seu rosto. Deveria ser a habilidade dele, dava para sentir a Energia Cósmica também se modelando ao redor. Se fosse algo no sentido de acertar o inimigo, não daria certo.
— Se você é um Recruta, então vou fazer questão de te levar comigo. Não aceito morrer para a ralé da capital.
Dante ficou emocionado pelas palavras dele.
— Isso foi muito gentil da sua parte.
E avançou como uma bala. As lâminas da mão de Crosu giravam e tentaram o acertar, mas brandindo o braço e espalmando seus ataques para a lateral, nenhum deles o encontrou. Dante continuou o fitando, testando a velocidade do inimigo aumentar consideravelmente quando sua perna subiu.
Dante manteve a postura e mexeu a cabeça, então abaixou deixando a mesma perna passar por ele, e socou em linha reta. Crosu bambeou e tentou se colocar de pé, mas quando girou, Dante o segurou pelo braço metálico e o puxou. Empurrou o cotovelo contra seu rosto, jogou o braço dele para o lado, abrindo a defesa e espalmando em linha reta.
Crosu não entendia mais o que estava fazendo. A posição de seu ataque sempre foi bem detalhada. Suas lâminas cortavam qualquer coisa que se aproximava, e mesmo que perdesse, sua velocidade… então, o velho era superior a ele em tudo?
Recebeu mais um soco rápido no rosto. Teve seu cabelo puxado e uma cotovelada diante na bochecha. Tentou brandir o braço, mas sentiu um aperto e um chute subir no estômago. A perna do velho subiu acima de sua cabeça e ele pisou com força completamente.
O golpe foi certeiro. Crosu caiu desmaiado.
Tecno e Freto surgiram pelas suas costas. Dante abaixou cutucando o jovem, mas sem reação nenhuma. Eu devia ter batido um pouco mais fraco, parece que ele não era tão forte assim. Dante deu de ombros, achou errado no final das contas.
— Já pegamos a outra — avisou Tecno. — E esse ai, deu trabalho?
— Nada. — Dante ficou de pé e o cutucou novamente com a sola. — Parece que bati forte demais. Melhor amarrar ele e colocar lá atrás.
Dante virou e abriu os braços. E sentiu a Energia Cósmica se expandir na mesma hora em suas costas. O som do aço tintilando. O rosto dos dois a sua frente se contorcendo, e suas bocas prestes a gritar. Dante esticou a perna para trás, acertando o joelho de Crosu e subiu com outro chute em seu peito, jogando para trás.
O rapaz caiu arrastado na grama, dessa vez com bastante sangue na boca.
— Estranho. — Dante não se alterou observando o estado do rapaz caído. — Achei mesmo que tinha feito ele dormir.
Tecno e Freto ainda esperavam uma reação do desconhecido no chão.
— Tem certeza dessa vez, velhote? — perguntou Tecno. — Não quero mais surpresas nessa madrugada.
Dante deu uma risada alta e puxou o charuto da boca.
— Parem de ser molengas. Ele é um pivete. Olha só como está todo jogado. — Pela primeira vez depois da luta, viu os braços metálicos estáticos. — Mas, esse negócio que ele usa é maneiro. Como que é o nome?
— São Próteses de Batalha — explicou Freto se aproximando. — É bem raro de encontrar, ainda mais fora da Capital. Não sei se é uma boa ideia reter ele como prisioneiro. Dizem que essas próteses fazem o usuário sofrer uma dor imensa.
Dante não discordou. Ao ter pisado nos dedos afiados, viu a feição de dor que o rapaz emitiu. E nem tinha feito força ou usado sua habilidade. Foi apenas um pisão normal. Esperou mais soldados chegarem, incluindo Dalia e Rutteo.
A Oficial mandou que o inimigo fosse levado preso, esperando que o corpo passasse por ele. Ela e Dante se encararam, mas nada disseram um ao outro. Ela havia partido sem ao menos agradecer.
Tecno mais uma vez lhe deu um tapinho no ombro.
— Está tudo bem, velho. Nós sabemos que você derrubou ele.
Dante bufou e tragou o charuto mais uma vez. E quem disse que me importo com a glória de derrotar um moleque catarrento?
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